sábado, 25 de dezembro de 2010

Seu desejo em 2011

Minha sobrinha-neta, Maria Luiza, de 2 anos, ganhou do Papai Noel um livro que vinha com um kit fada: saia de tule lilás, tiara de 'brilhantes' e... uma varinha de condão que, ao ser projetada para frente, como que para realizar um desejo, fazia um barulhinho assim:

Blimblimblimblimblum!...

Maria Luiza percorreu a casa brandindo a varinha pra lá e pra cá, encantada com o barulhinho. Quando cansou-se dela, tomei-a pra mim. Já tinha bebido algumas cervejas e a inspiração pode se manifestar à vontade.

- Mamãe, o que você deseja em 2011? - perguntei a minha mãe.

- Pernas boas e fortes!

- Pernas boas e fortes para a mamãe em 2011!... - blimblimblimblimblum!

Assim, eu também percorri a casa perguntando às pessoas os seus desejos e brandindo a varinha: blimblimblimblimblum!

Alguns não sabiam o que pedir. Um rapaz de Brasília estava em dúvida quando a esposa respondeu por ele:

- Um novo plano de carreira!

- OK! - Blimblimblimblimblum!

Outros eram vagos ou filosóficos.

- Eu quero paz para o mundo...

- Quero não desejar mais...

Mas eu era enfática:

- Tem que ser algo prático!

Minha sobrinha Rafaela, mãe da Maria Luiza, captou bem o espírito da coisa:

- Quero trabalhos bons e bem remunerados! (Ela é atriz)

Blimblimblimblimblum!

E Jaci, a babá que ajudou a criar os meus sobrinhos, e que depois os ajudou a criar os filhos deles, e que perdeu sua filha única esse ano:

- Quero um homem bom, corajoso, um companheiro!

É isso aí, Jaci. Em frente!

Blimblimblimblimblum!

E vocês, qual é o seu desejo para 2011?

Blimblimblimblimblum!


Natal

Um dos filmes mais impressionantes que já vi foi Sonhos, do cineasta japonês Akira Kurosawa - esse, sim, um camarada que dialogava com os mistérios entre o céu e a terra.

No primeiro episódio, uma criança infringe uma regra e as conseqüências são terríveis. Ela terá que caminhar além do arco-íris e interceder por sua vida, caso contrário, pagará com a morte.

A criança ouve o desafio e sai caminhando, serena, em direção ao arco-íris. O episódio termina aí e ficamos sem saber o resultado. Não por acaso, acho, esse conto visual ilustrava o pôster do filme, na época, e também ilustra a capa do DVD.

Na noite de 24 de dezembro, eu me lembrei desse conto e o compreendi como nunca. Havia, também, um desafio: minha mãe, pela primeira vez em 5 anos e após ressuscitar do Reinos dos Mortos, participaria da festa de Natal na casa da minha sobrinha Rafaela. Em cadeira de rodas, com enfermeira e tudo o mais, mas viva e lúcida.

O problema é que não havia táxis especiais para cadeiras de rodas disponíveis nesse dia. Eles evaporaram! Resultado: teríamos que colocar a vovó dentro de um táxi comum - tarefa hercúlea, pois ela pesa mais de 80 kg e não é uma pessoa 'fácil'.

Bolei um plano. Peguei meus filhos e os presentes e levei-os, primeiro, à casa da Rafaela. Depois, saí pelas ruas vazias de gente e de carros, sozinha, em busca de um táxi.

Nessa hora, lembrei o episódio de Sonhos. Eu sou com aquele menino, seguindo na vida com uma missão sem saber como ou quando ou se conseguirei cumpri-la. Mas em frente, com alegria e fé.

Abaixo, nós com a vovó já na instalada festa.


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Estou em Buenos Aires!



Desculpem o chá de sumico, mas umas pequenas férias me fizeram voar... Volto neste fim de semana para contar as coisas bonitas que vi e vivi, com fotos e tudo o mais.

Beijos!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Queridos amigos

O ano vai chegando ao fim e é hora de finalizar ciclos e descansar, para recomeçar em 2011 com energia renovada.

Esse foi o terceiro ano da Pausa do Tempo. Com o crescimento e a expansão de Shahid Produções Culturais - graças a Deus - não tive o mesmo empenho e disponibilidade para alimentar o blog e comentar os posts dos outros. Mas nem sempre dá para fazer tudo o que desejamos, temos que escolher Ou isto ou aquilo, como expressa tão bem em versos Cecília Meirelles, em um de seus poemas mais famosos.

Compartilho com vocês meus planos para 2011 em relação ao blog: devo continuar escrevendo pelo menos uma vez por semana, como venho fazendo nos meses mais recentes; vou terminar de organizar os melhores textos e publicá-los em um livro. Ainda não tenho detalhes, mas vou lhes manter informados, podem estar certos disso.

Quando tudo estiver definido, meu plano é encerrar A Pausa do Tempo... E me dedicar a outro tipo de criação escrita. Ou começar outro blog, quem sabe?

Agradeço a todos que me leram e continuam lendo nesses três anos, e aos que chegam por acaso a todo momento. E vamo que vamo!

Ou isto ou aquilo, de Cecília Meirelles

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa estar
ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Beijos em todos!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Sobre o Rio de Janeiro

Eu moro no Rio desde que nasci. Nunca morei em outro lugar. São muitos verões de praia e cada canto da cidade tem uma história gravada na minha memória.

Atualmente, todos os amigos que vivem em outras cidades ou países estão preocupados: como tem passado esses dias? Você e sua família estão em segurança? Trato de tranquilizá-los, pois moro no pedaço privilegiado da cidade, a Zona Sul, onde a violência respinga de vez em quando, mas nada parecido com o que acontece atualmente nas comunidades do Complexo do Alemão.

Sobre o estado atual de coisas, reproduzo dados impressionantes publicados em reportagem na Folha de S. Paulo domingo passado:

  • O tráfico emprega na cidade do Rio de Janeiro cerca de 16 mil pessoas, ou seja, gera tantos empregos quando a Petrobrás na capital Fluminense.
  • O faturamento desse comércio é da ordem de R$ 633 milhões por ano - o mesmo que o setor têxtil no Estado.
  • Mais de 100 toneladas de drogas são vendidas por ano, o que equivale a cinco vezes mais do que o total de apreensões anuais feitas pela Polícia Federal em todo o país.
  • O Complexo do Alemão representa a principal fonte de renda do mercado de drogas hoje no Rio, com faturamento anual de R$ 8 milhões.
  • O Governo Estadual gastou com segurança, ano passado, R$ 4,096 bilhões e calcula precisar de mais R$ 4 bilhões para estender o projeto das UPPS de 13 para 40 comunidades existentes no Rio, nos próximos anos.

Os dados são de pesquisa do economista e professor do Ibmec-RJ, Sérgio Ferreira Guimarães.

Quem entende um mínimo de Economia sabe que o dinheiro tem leis próprias. Ele não obedece ao nosso querer, do contrário, não existiria pobreza no mundo. Aonde vai parar essa economia das drogas? Existe uma oferta, existe um mercado. É essa realidade que precisa ser enxergada, para que medidas realmente efetivas possam ser tomadas, de acordo com a realidade.





quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Sir Paul McCartney

Não sou fã dos Beatles, mas sou uma mulher feliz porque, no domingo à noite, liguei a TV na hora em que a Globo exibia os melhores momentos do show de Paul McCartney, realizado horas antes no estádio do Morumbi, em São Paulo.

Sir Paul chegou àquele ponto da trajetória em que virou meio santo. Apesar de toda a sua História, de todas as realizações, de todo o talento e toda a ovação do público, esse homem mantém a humildade, a delicadeza e a doação características de um sêr elevado.

A cortesia dele para com o público era tocante: falou em português o tempo inteiro, agradeceu à equipe que realizou o show, à banda e ao público: "And now, we (ele e a banda) would like to thank you, and you, and you..." E apontava a platéia.

Eu me emocionei quando ele se sentou ao piano e tocou e cantou sozinho Let it be. Porque Mr. Paul, como todos nós, passou maus bocados na vida: perdeu a amada esposa Linda cedo, de câncer; casou-se com aquela modelo maluca, sem uma perna, que todo mundo pensou que era gente boa, mas que meteu-lhe um processo na justiça e quis levar-lhe um pedaço dos bens. As notícias escandalosas foram a festa dos paparazzi e tablóides de fofocas no mundo inteiro durante muito tempo.

Acho que ele, sabiamente, deixou tudo isso ir, tudo isso ser. Let it be. Por isso conseguiu manter a atitude amorosa e de doação para com as pessoas.

Vida longa! a Mr. Paul McCartney, o artista mais gentil e amoroso que tive a oportunidade de conhecer nos últimos anos. Abaixo, um dos clímax do show de domingo: Live and let die.


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Receita para encontrar o Amor

Existe receita para encontrar o Amor? Sim, não, várias!... Cada um tem a sua.

Toda vez que encontro uma pessoa feliz no amor, costumo perguntar: Como você o (a) conheceu? O que precedeu esse encontro? Assim, vou colecionando lindas histórias de amor, permanentes fontes de inspiração.

Outro dia, em uma mesa de mulheres, várias amigas deram suas receitas. Uma delas, bem interessante, eu já fiz: anotar em uma folha de papel todas as qualidades do amor que deseja encontrar. Pode exagerar: lindo, honesto, rico, fiel... Tudo de bom. Assim, a intenção estará feita e Ele Lá Cima irá julgar e mandar aquilo que é do nosso merecimento. Dá certo!

Eu tenho a minha receita para encontrar o Amor. É a seguinte: é preciso ter cara-de-pau. Perder o medo de se ferir. Não deu certo? Levou um fora? Tome um tempo para o luto - não pode ser muito tempo - e tente novamente.

É claro que a gente tem que fazer o dever de casa: a cada fracasso, avaliar o que deu errado, o que poderia ter feito melhor ou diferente. Para aprender. Afinal, tudo que acontece é para nosso aprendizado. Como diz a terapeuta e escritora Anna Sharp no meu livro Encontros com Deus:

"Trato de aprender logo as lições que a vida me apresenta pra que não retornem mais".

Ter cara-de-pau é condição primordial para encontrar o Amor. O medo de se ferir faz a gente empacar e se fechar. A cara-de-pau nos faz continuar acreditando que é possível ser feliz.




domingo, 14 de novembro de 2010

A verdadeira idade

"Em minha mente eu tenho 18 anos".

A frase foi dita pelo ator Bruce Willis em uma das entrevistas para divulgação do filme Red (Retired Extremely Dangerous = Aposentados extremamente perigosos), em cartaz no Brasil, e me agradou muito... Porque a verdadeira idade é aquela que a gente sente que tem.

Uma grande amiga foi ao Carnaval e, no meio da folia, conheceu um rapaz 15 mais novo. Ficou quieta, mas, lá pelas tantas, veio a pergunta fatal:

- Quantos anos você tem?

Minha amiga, que é muito sincera e não sabe mentir, respondeu a verdade:

- Trinta e nove anos.

- Ah...

A diferença de idade não atrapalhou o romance aquela noite, mas ela sentiu que o rapaz começou a olhá-la de modo um pouco diferente...

Quando ouvi essa história, aconselhei:

- Na próxima vez, em vez de dizer a idade que consta na carteira de identidade, pergunta pra ele: quantos anos acha que eu tenho? O que ele responder, você diz: essa é a minha idade.

Minha amiga ainda relutou um pouco, mas concordou: a verdadeira idade reside em nosso coração. E se reflete no exterior.

Essa semana, após ler a frase do Bruce, vi na rua uma senhora de uns 70 anos vestida com jeans, camiseta e tênis Nike. Cabelos curtos, corpo magro, coluna ereta. Movimentava-se com uma agilidade... Pensei: é isso que eu quero para mim!

A minha verdadeira idade, hoje, é uns 24 anos. E a sua?


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Olhar o céu à noite

Durante certo período morei em uma casa e nunca ia dormir sem, antes, me deitar na varanda e observar o céu noturno. De preferência com todas as luzes apagadas.

Olhar o céu à noite muda a nossa perspectiva sobre vários aspectos da vida. A começar sobre o próprio céu. Uma vez, acompanhada de um amigo nessa observação, ele me disse:

- Valéria, já tentou olhar o céu não como um plano sobre as nossas cabeças, mas sim como algo infinito mesmo? Se tirássemos uma reta de onde estamos agora em direção ao céu, não iria parar nunca, não teria fim.

É...

Outra coisa: ao observar o céu atentamente, descobrimos novas estrelas, bem pequenininhas, brilhando lá longe. Um olhar mais rápido não nos permite enxergá-las. É preciso estar relaxado e atento ao mesmo tempo.

A prática da observação nos permite ver não apenas estrelas cadentes, ocasionalmente, mas também as diferentes posições das estrelas no espaço, umas mais próximas, outras mais distantes da Terra e da gente.

Além dessa observação física das estrelas etc, o hábito de olhar o céu noturno nos obriga a refletir sobre a nossa pequenez, a pequenez dos nossos problemas, quem somos e para onde vamos, a nossa finitude - diante da infinitude do universo e das estrelas (se bem que até elas têm fim um dia, né?)

Recomendo a todos a terapia de olhar as estrelas alguns minutos, todos os dias antes de ir dormir, mesmo morando em apartamento. Basta esticar o pescoço para fora da janela e dar uma espiadinha.

A recomendação vale até para quem pensa com uma das Cobras do Veríssimo (abaixo).




sábado, 30 de outubro de 2010

Amor ou paixão?

Conversando com uma amiga ao telefone, a pergunta me surpreendeu:

- Você está apaixonada?

Refleti um pouco e respondi, cautelosa:

- Paixão me lembra uma coisa ansiosa, tipo ficar grudada ao telefone esperando ele ligar. Então, não estou apaixonada, não. Estou amando.

- Mas nem um friozinho na barriga???

Desconversei. E fiquei pensando: deveria estar sentindo o tal friozinho? Mas o que eu sinto é uma sensação de calma e plenitude que me faz sentir inteira e preenchida. Isso, para mim, é estar amando.

Passou o tempo e as respostas foram chegando.

Uma resenha do livro Sociedade excitada (Ed. Unicamp), de Christoph Türke, em que ele disserta sobre a enxurrada de estímulos que recebemos a todo instante, o que nos torna "viciados" em sensações fortes fazendo o cotidiano parecer pálido e enfadonho. O desafio, segundo o filósofo, é tentar criar espaços de reflexão em meio a essa torrente.

Uma conversa com minha cunhada, a atriz e preparadora de atores Camilla Amado - também filósofa a essa altura da vida, pelo menos, é assim que os artistas que trabalham com ela a consideram. Outro dia, batendo papo ao telefone sobre um assunto qualquer, ela soltou:

- Felicidade é estar em paz.

Expus a ela a questão do Amor X paixão e ela completou:

- Valéria, na paixão não há paz.

A questão se esgotou para mim.

E para vocês, o que é melhor ou mais desejável, Amor ou paixão?



segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Inspiração

Eu sou o senhor do meu destino
Sou o capitão da minha alma

Esse é um trecho de um poema que serviu de inspiração a Nelson Mandela para que se mantivesse lúcido e firme ao longo dos 27 anos que passou trancafiado em uma cela em Robben Island, Cidade do Cabo, trabalhando nas minas de sal. Isso antes de ser eleito presidente e governar a África do Sul de 1994 a 1999, dando fim ao apartheid.

No filme Invictus (disponível em DVD), dirigido por Clint Eastwood, Mandela (Morgan Freeman) convoca François Pienaar (Matt Damon), capitão do da seleção de Rugby da África do Sul para uma reunião. O time está na pior e o povo africano torce sempre pelos adversários estrangeiros - uma distorção que reflete o ódio entre brancos e negros, resultado de décadas de apartheid.

- O que pode fazer seus rapazes acreditarem que são melhores do que são? - pergunta o presidente ao capitão do time. - Vou lhe dar uma dica: inspiração. Então, vou lhe dar de presente um poema...

Lembro de uma vez em que li no jornal sobre uma exposição de pinturas que Nelson Mandela havia feito na prisão ou logo após ser libertado, não sei ao certo. Eram lindas aquarelas com imagens marinhas em cores suaves. O jornalista perguntou:

- Mas o senhor passou 27 anos preso numa cela em que mal dá para abrir os braços. Como pode pintar imagens tão bonitas enquanto estava sofrendo tanto?

Ao que Mandela respondeu:

- Mas a prisão serviu para que eu aprendesse coisas muito importantes: a paciência, a esperança, o valor da liberdade... As pinturas são um reflexo dessas descobertas.

Se uma pessoa sobre a Terra serve para mim como inspiração, essa pessoa é Nelson Mandela.

Quem quiser saber mais, assista Invictus. Vale!


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Querer mudar

Fico comovida quando vejo uma pessoa querendo mudar, disposta a isso. O que ela tem já não serve ou não basta. É preciso "uma comida diferente, com maior variedade e quantidade", como no conto sufi A história de Mushkil Gushá - procure no Google e poderá ler, se quiser.

Recentemente, dois amigos compartilharam comigo o desejo de mudar. A necessidade de mudar, melhor dizer.

Por que as coisas não estão dando certo?

O que é preciso fazer para que dêem certo?

Um primeiro sinal, louvável, da consciência de que não é o mundo que está errado, mas talvez nós é que precisemos nos moldar e nos adaptar ao mundo.

Dou o maior apoio moral aos amigos que querem mudar. Dou força, incentivo, digo que procurem ajuda - pois muitas vezes a gente, sozinho, não consegue. Eu acredito em terapia!

E vamo que vamo!


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Cariocas e gaúchos

Sempre achei cariocas e gaúchos seres muito parecidos. São abertos a um bom papo com um desconhecido, têm sempre um sorriso no rosto e adoram pegar sol.

Após a Feira de Caxias do Sul fui visitar meus parentes em Porto Alegre - parte da minha família por parte de pai é de lá. Fomos beber chope no mercado municipal, emendamos nos bares da Cidade Baixa e na terça-feira de manhã, um lindo dia de feriado com céu azul límpido, fui passear no Parque da Redenção. É a praia dos gaúchos de Porto Alegre!

O parque é enorme e fica no centro da cidade. Parece que toda a população vai para lá: famílias inteiras fazendo piquenique, gente andando de bicicleta, uma área só para as brincadeiras com cachorros, todos correndo livremente e brincando de "pegar a bolinha". Tem também atrações como um minizôo com macacos, araras, jabutis e um pavão lindíssimo. Lagoa onde se anda de pedalinho com peixes e tartarugas enormes.

Uma manhã tão alegre e luminosa, com a alegria dos gaúchos me contagiando e me alegrando!

Voltei para casa cantarolando a velha música do Kleiton e Kledir, que o meu pai - gaúcho de Cruz Alta - adorava e cantarolava sempre.

Deu pra ti
Baixo astral
Vou pra Porto Alegre
Tchau!

Quando eu ando assim meio down
Vou pra Porto e bah! Tri legal
Coisas de magia, sei lá
Paralelo 30

Alô tchurma do Bonfim
As gurias tão tri a fim
Garopaba ou Bar João
Bela dona e chimarrão

Que saudade da Redenção
Do Fogaça e do Falcão
Cobertor de orelha pro frio
E a galera do Beira-Rio

Abaixo, o Parque da Redenção.




domingo, 10 de outubro de 2010

Ler é iluminar-se

A 26º Feira do Livro de Caxias do Sul (RS), de 1º a 17 de outubro de 2010, acontece na Praça Dante Alighieri, no Centro da cidade. É uma praça pequena e a feira também é pequena - comparada a outras por esse Brasil a fora. O grande barato é o trabalho de promoção da leitura que é realizado na cidade e redondezas ao longo de todo o ano, e que tem seu ápice neste evento.

São vários os projetos da Secretaria de Cultura de Caxias do Sul para plantar a semente do gosto pela leitura na população: Gangurus da Leitura, Bibliotecas comunitárias, Malas de Leitura, Tapete Mágico, Passaporte da Leitura e outros. Todos tem como base a familiarização com os livros - pegar, manusear, experimentar - e o suporte de especialistas para incentivar as pessoas a ler por conta própria.

O resultado, eu vejo nessa feira, que é como uma caixa de jóias: as pessoas vêm, param nas barracas (algumas munidas de seus chimarrões), examinam os livros, compram. Os bate-papos com autores são de excelente nível: público numeroso, concentrado, fazendo perguntas pertinentes.

Neste sábado (9/10), foi a vez do Reinaldo, da Casseta & Planeta, apresentar seu livro de cartuns sobre escritores famosos, Noites de autógrafos (Desiderata). Domingo (10/10), Guilherme Fiuza falou sobre Bussunda, a vida do Casseta (Objetiva).

Um 'viva!' a coordenação do Programa Permanente de Estímulo à Leitura (adoro a palavra 'permanente' no nome oficial do programa), que empreende esse importante trabalho em favor do livro, da leitura e das pessoas - principais beneficiadas - em Caxias do Sul.

Abaixo, dois cartuns do livro do Reinaldo para alegrar vocês.

sábado, 2 de outubro de 2010

Da série "O futuro do livro"

Amigos, esse texto é a capa do site Shahid (http://www.shahid.com.br/) essa semana. Mas resolvi compartilhar com vocês porque o assunto interessa a todos nós, blogueiros que sonham ser escritores. Aguardo seus comentários. Beijos, obrigada.



***



Smashwords – A maior plataforma de auto-publicação e distribuição de ebooks dos Estados Unidos

Mark Coker parece ter pouco mais de 40 anos. Usa calça cáqui meio amarrotada e camisa xadreza de mangas curtas. Seu jeito de falar é direto, sem rodeios. Sua apresentação em PowerPoint tem apenas frases, gráficos e poucas imagens – nada de cores ou efeitos. Esse homem aparentemente comum é o fundador e mantenedor da plataforma de auto-publicação e distribuição de ebooks que mais cresce atualmente nos Estados Unidos: Smashwords (http://www.smashwords.com/ )

Em uma hora de palestra na Casa do Saber (RJ), no dia 30 de setembro, Mark não mencionou a palavra “papel” uma vez sequer quando se referiu ao futuro dos livros. Falou, sim, no impacto das novas tecnologias para editoras e livrarias. E mostrou números significativos do crescimento desse mercado – e de sua própria ferramenta, o Smashwords – defendendo que “No futuro, os autores vão determinar o que será publicado e os leitores vão determinar o que será lido".

Abaixo, um breve resumo em tópicos da palestra de Mark, que veio ao Brasil a convite da Singular Digital (http://www.singulardigital.com.br/) – braço da Ediouro para impressão de livro sob demanda/digitais.

What´s an ebook? It´s a different way to enjoy a book”.

O computador (PC) ainda é o principal leitor digital hoje no mundo.

Ebooks podem oferecer uma experiência melhor de leitura porque, entre outros motivos, as letras podem ser aumentadas quanto o leitor quiser; são mais baratos que os livros impressos (nos Estados Unidos, um título em hardcover custa U$ 35 e a versão em ebook, U$ 10).

Uma breve história do livro: a escrita nas grutas de Lascaux, França; os monges copistas, na Idade Média (que detinham o poder sobre o conhecimento); a prensa de Gutemberg (que torna possível a impressão e distribuição massiva de livros); as editoras como conhecemos hoje. Segundo Mark, a relação de poder continua, só que em vez dos monges, são os editores que decidem: quem merece ser publicado? Quais lançamentos terão investimento em promoção e marketing? Quais livros o público irá ler?

But then internet happened and... Pow!” – Mark mostra o cartum de um alce com os olhos arregalados prestes a ser atropelado.

Mais e mais clientes estão comprando on line porque: os preços são mais baixos; conveniência/conforto; maior perspectiva de visualização/seleção de títulos – pois as livrarias também têm sua cota de poder e decidem quais livros serão expostos nas bancadas.

Em 2009 foram publicados mais ebooks nos Estados Unidos, do que livros impressos.
Eu acredito que, no futuro, ebooks serão mais comprados e mais lidos que o livro impresso”.

Um autor da Smashwords vai ganhar 20 mil dólares este mês – isso representa a receita de um ano a ser ganha por um autor de livro impresso nos Estados Unidos”.

As editoras estão cada vez mais seletivas e não querem assumir riscos. Estão tendo dificuldade em se adaptar às mudanças porque seus custos são altos e querem preservar os preços altos de seus produtos.

Ao mesmo tempo, com a democratização dos livros, há uma explosão de conteúdo disponível, o que nos leva a perguntar: o que merece ser lido? Resposta de Mark: “No futuro, os autores vão determinar o que será publicado e os leitores vão determinar o que será lido".

Algumas dicas que o gestor da Smashwords dá às editoras: desenvolver estratégias de longa cauda e nunca dizer ‘não’ a um autor; agregar o self-publishing ao seu negócio; dizer ‘sim’ ao relacionamento com novos e improváveis autores; desenvolver os talentos brasileiros (Mark ficou impressionado com a predominância de autores de língua inglesa traduzidos nas livrarias que visitou no Rio de Janeiro); transferir o risco da publicação ao autor; os autores que apresentarem boa performance, estes, sim, merecem investimento.

Por Valéria Martins

sábado, 25 de setembro de 2010

Coisas que lembram pessoas

Meu pai era um intelectual que vivia cercado de livros, revistas e jornais. Mas todo sábado e domingo de manhã ele se dedicava ao jardim.

Era um jardim imenso, em terreno inclinado, difícil de cultivar. Ele mesmo tratou de construir jardineiras em patamares e as enchia de flores. Todo mês de maio viajava à Europa e trazia de lá montes de pacotinhos com sementes. No jardim do meu pai, só entravam plantas que dessem flores. Nada de folhagens.

Por causa disso, sempre que vejo flores - silvestres, em um canteiro, em um jardim, no mato - eu me lembro do meu pai. É uma forma linda, delicada e alegre de lembrar do meu pai.





Da mesma forma, lembro da minha avó Violeta toda vez que como uma sobremesa gostosa. Ela era cozinheira de mão cheia, mas gostava mesmo de fazer doces. Não ligo para doces, gosto mais do sabor salgado. Mas quando vou a algum almoço ou jantar e a sobremesa é deliciosa, lembro da vovó. É uma forma gostosa e afetuosa de lembrar dela.

E vocês, quais coisas boas lembram pessoas queridas?



sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Porque o Amor é lindo...

... porque ele dissolve a rigidez, faz surgir pontes no meio do nada, cria um amálgama onde tudo se harmoniza e se recria.

E assim, numa segunda-feira à noite, quando todos dormem e se preparam para o longo dia de trabalho na manhã seguinte, o casal sai para passear...

Uma longa conversa em mesa de mar

Uma janela aberta com vista para o céu

Lua crescente

Música vibrante

E o Amor tornando tudo mais brilhante, aconchegante e feliz.



sábado, 11 de setembro de 2010

O poder da palavra

A menina vem andando pela rua e, em direção contrária, vêm dois meninos; um deve ter 8 anos e o outro, menorzinho, uns 6. O mais velho tem a pele do rosto manchada. Ao passar por ela, fala:

- Me passa o celular ou eu vou te esfaquear.

Esfaquear - atacar com faca.

A menina diz 'Não" e atravessa a rua correndo. Do outro lado, duas mulheres que passeiam com seus cachorros a acolhem.

- Vão embora, seus moleques! Vão para a igreja rezar! - grita uma delas.

Mas eles já sumiram.

Os meninos eram crianças pequenas, não eram fortes, um safanão os atiraria longe. Apesar da ameaça, não havia faca à vista. Mas o poder da palavra...

- ... eu vou te esfaquear!

As mãos da menina ainda tremem.



terça-feira, 7 de setembro de 2010

Não pode desistir

Leio o perfil do empresário brasileiro Sérgio Habib, 52 anos, maior distribuidor de automóveis da marca Citroën no mundo, e fico sabendo que antes de se tornar "o Midas do setor automotivo", como é chamado na reportagem, afundou duas vezes. A primeira quando abriu uma rede de fast food em São Paulo, que fechou em menos de um ano. A segunda após investir R$ 15 milhões em uma sociedade com o estilista Ocimar Versolato, que faliu. Fico pensando: "E se, após o segundo fracasso, ele tivesse desistido?"

Assisto ao bom filme de rock The Runaways, disponível em algumas locadoras, sobre a trajetória de Joan Jett, cantora e compositora de músicas que tocam até hoje nas rádios como I love rock n roll e Crimson and Glover. Fico sabendo que antes de estourar ela naufragou no auge do sucesso de sua banda anterior, The runaways, porque a vocalista - uma junkie de 15 anos, simplesmente saltou fora do barco. Joan foi ao fundo do pântano, mas... Ressurgiu com os Blackhearts. Pensei que ela fosse desistir.

Recebo um telefonema de uma amiga me contando que a filha, que namorou durante anos um cara que não trabalhava e a menosprezava, terminou o relacionamento e vai se casar com outro: um jovem estrangeiro, no Brasil para fazer mestrado. As famílias já se conheceram e o casório será em maio do ano que vem, com vestido branco e tudo. Sabendo o quanto essa amiga sofreu e rezou para (ela é catoliquíssima), brinco:

- Mas o tanto que tu rezaste para isso acontecer, hein? Demorou, mas foi!

E ela:

- Pois é, Valéria. As coisas demoram, mas acontecem. Temos que rezar e esperar. Não pode é desistir!

O poder da síntese dessa minha amiga é incrível...

Abaixo, Joan Jett and The Blackhearts: I love rock n roll!


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Ler devagar

Após slow food e slow travel, slow reading. Trata-se de um movimento iniciado por intelectuais europeus que propõe ler devagar e atenciosamente um livro inteiro, do início ao fim.

Pensei que somente quem trabalha no mercado editorial andasse lendo vários livros ao mesmo tempo, sem terminar nenhum. Fazemos isso porque o trabalho exige e se fôssemos ler cada um dos livros que nos chega às mãos, não faríamos mais nada. Mas fico sabendo, através de artigo no caderno Sabático, do Estado de S. Paulo, publicado sábado passado, que se trata de uma epidemia.

O fato é que internet encolheu a nossa capacidade de concentração e leitura de longos textos. Claro como água. Apesar do slow reading, acho que não tem como voltar atrás. Me dá uma tristeza: as novas gerações serão capazes de ler os grandes - e volumosos - clássicos? Crime e Castigo, Grande sertão veredas, Os miseráveis? Um amigo diz: "Mas esses, pouca gente leu até hoje, e vai continuar sendo assim". Será?

Em março desse ano, subi ao Bairro Alto, em Lisboa, debaixo de chuva torrencial, em busca de uma livraria que todo mundo indicou: Ler devagar. Cheguei lá em cima e, sozinha na paisagem desolada encoberta de nuvens e água, descobri que a livraria havia mudado de lugar. Pior: nenhum dos comerciantes a quem perguntei sabia a nova localização da livraria.

Voltei para casa molhada e desenxabida. Sinal dos tempos.


sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Mulheres, comida e Deus

Estou lendo um livro muito sincero, de auto-ajuda, da norte-americana Geneen Roth: Mulheres, comida e Deus (Ed. Lua de Papel). Ela fala às mulheres que têm problemas graves de peso e vivem na montanha-russa de engordar e emagrecer. Não vivo esse drama, mas aprecio muito os bons livros de auto-ajuda porque, invariavelmente, servem não somente a um propósito mas se aplicam a outras áreas da vida com a intenção de nos fazer melhorar.

Entre muitos assuntos, Geneen fala sobre a importância de viver o sofrimento - quaisquer que sejam os motivos - até o fim, com a cara e a coragem. O impulso de fugir do sofrimento causa as obssessões: por comida, sexo, drogas. Porém, isso é um comportamento mecânico - no passado, quando éramos crianças pequenas e muito vulneráveis, fomos feridos e desenvolvemos mecanismos de fuga, porque não havia outra forma de se defender. O problema é que crescemos e não descartamos esses mecanismos, e eles ficam se repetindo continuamente. Como evitar? É preciso aprender a encarar a vida como ela é, sem o filtro das obssessões.

Difícil? Sim. Mas a grande vitória é perder o medo de sofrer. Saber que, apesar das piores tragédias, conseguimos sobreviver. Isso nos faz plenos de potência, vitoriosos, invencíveis. Já pensaram?

E aí ela vai mais longe, ensinando que o fio condutor que nos faz atravessar os piores momentos e ainda ser capazes de colar os cacos e seguir adiante é algo chamado... Deus.


segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Um lugar

É lá que eu quero ficar
Quando esta etapa acabar
E a outra começar

Lá onde a quietude e a paz remetem à Eternidade
Onde o vento quase não sopra
E quando o faz, é suave.

Lá onde o tempo pára
E podem passar os anos e os séculos
E tudo continua igual
Embora em constante movimento.

Lá onde o silêncio é o tamborilar das gotas nas folhas
O canto distante de um pássaro
E um regato correndo longe das vistas da gente.

Lá onde se vê a dança silenciosa das árvores
E uma moça sentada na grama em profundo contato consigo.

E um jarro com lindas rosas começando a murchar
Como que para nos lembrar
De que a qualquer momento
Pode ser hora dessa etapa acabar
E a outra começar

É lá que eu quero ficar.



quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Valeu, André!

Tinha acabado o evento na Off Flip, os escritores com os quais trabalho davam autógrafos e, vendo que estava tudo em ordem, me levantei para ir embora. Surgiu na minha frente a capa de um livro e ouvi a voz:

- Eu também quero um autógrafo. Você pode autografar para mim?

Levantei os olhos e vi um homem de uns quarenta anos, pele e cabelos claros, óculos, sorriso simpático no rosto:

- Sou leitor do seu blog.

Entre surpresa e atordoada, perguntei:

- Mas onde você conseguiu isso? (O livro Encontros com Deus foi publicado em 1997, ou seja, séculos!)

- Na internet - ele respondeu, como se fosse óbvio. Para mim, não era.

Começamos a conversar e eu soube que ele se chama André, mora em Taubaté e vai à FLIP todos os anos, aproveitando para passear pela região antes e depois do evento.

- Lembro de um post em que vc contou que deu de cara com uma cobra aqui perto, na Praia do Sono.

Eu não me lembrava desse post.

Assinar um livro na FLIP, onde sou conhecida como agente e produtora - e não como escritora -, teve um significado especial para mim. Me fez recordar um sonho que andava esquecido mas precisa se realizar. Afinal, meu desejo de infância é ser escritora.

Escrevi uma dedicatória bem bonita para o André. Desenhei um sol sorrindo, como gosto de fazer. Agradeci a ele o sorriso, a presença, a lembrança que serviu para me acordar. Agradeço agora, novamente: valeu, André!


sábado, 14 de agosto de 2010

Tudo o que acontece é para o bem

Eu esperava o meu amor mas a chuva era terrível, e as pessoas diziam que seria impossível chegar. Estava inquieta, angustiada. Minha amiga disse:

- Se acalme, porque tudo o que acontece é para o bem.

A frase reverberou nos meus ouvidos... Sim, eu sei que sim, muito embora alguns fatos sejam tão terríveis que não conseguimos enxergar ou compreender como possam ser para o bem. Minha amiga continuou:

- Tudo o que aconteceu na minha vida até hoje, eu descobri o por quê. Só tem uma coisa que eu não entendi o por quê até hoje.

Calei e olhei fundo nos olhos delas, porque eu sei o que é: o casamento desfeito às vésperas, por causa da morte do noivo, em um acidente de automóvel. Continuei:

- Mas você já pediu a Deus que lhe mostre o por quê? Que lhe faça entender?

Ela pensou por um momento.

- Não.

- Então, faça isso. Peça. Eu pedi e fui atendida.

Contei a ela como, recentemente, entendi porque o meu pai morreu quando eu tinha 17 anos e as consequências disso em minha vida - para o mal, inicialmente, e depois para o Bem.

- Você tem razão, vou fazer isso. Vou rezar e pedir - disse a minha amiga.

Ainda não estive com ela depois dessa conversa.


domingo, 8 de agosto de 2010

William e Isabel






Existem momentos na vida que são de coroação. Não a coroação de nós mesmo, mas de uma situação, um estado de coisas. São momentos em que a gente sabe que, depois de trabalhar e trabalhar, chegou lá. É meio que um milagre, porque vamos tateando às cegas no caminho, tantas são as bifurcações e escolhas que temos que fazer. Mas, de repente, a coisa chega.

Foi assim na sexta-feira, dia 6 de agosto, quando esperava no palco, escondida atrás das cortinas da Casa de Cultura de Paraty, junto com William Gordon e Isabel Allende, combinando em que ordem iríamos nos sentar, quem ia começar, quem ia falar o que. Após passar duas noites sem dormir, eu estava estranhamente calma.

Era segredo que Isabel também ia participar. Eu já sabia, mas não podia contar, sob pena de os fãs dela invadirem a Casa de Cultura. E o foco da mesa era o William. Deu tudo certo. Fiz uma breve introdução e algumas perguntas pré-preparadas, e o casal respondeu fazendo mil brincadeiras, tipo:

Isabel - "Eu escrevo 14 horas por dia e ele 11 minutos. Tudo o que ele faz, só consegue fazer por 11 minutos. Inclusive o amor".

William - "Ela tem sorte, pois a maioria das pessoas faz amor em 6 minutos. 11 minutos é muito tempo".

Logo abri para as perguntas do público e todos perguntaram à vontade, sendo que o foco continuou sendo, o tempo todo, o William e seu livro O anão. No fim, estava todo mundo feliz! As pessoas, na fila de autógrafos, sorriam de orelha a orelha. William, todo satisfeito e Isabel, feliz por ver seu amado feliz.

Passou alguém por mim e escutei: "Essa mesa valeu a FLIP".

E eu senti como se uma enorme coroa dourada e brilhante pairasse sobre a Casa de Cultura de Paraty, como um ovni, coroando aquele momento. Pode parecer conversa de maluco, mas não é não: a felicidade reinou e fomos todos coroados. Amén!

sábado, 31 de julho de 2010

William C. Gordon na FLIP

Queridos leitores,

Faz tempo que não uso o blog para divulgar questões profissionais. Mas este caso merece, porque a minha amizade com o William Gordon nasceu junto com a A Pausa do Tempo, em janeiro de 2008. Quem voltar lá nos primórdios vai encontrar o registro completo da visita dele ao Rio de Janeiro e das histórias lindas que ele me contou, especialmente, o seu Encontro com Isabel Allende, sua mulher há 23 anos.

Agora, William virá ao Brasil novamente para lançar o novo romance policial O anão feio (Ed. Record) em um evento na programação paralela da FLIP, na Casa de Cultura de Paraty. É no dia 6 de agosto, sexta-feira, de 11h45 às 13h, com sessão de autógrafos em seguida. Eu sou a apresentadora/mediadora da mesa e sinto-me muito honrada (e nervosa) com isso.

Para quem lê bem em inglês, vale acessar o site do William e ler sua biografia: http://www.williamcgordon.com/

Seu modo de falar sobre si, sem pudor ou medo de se expor, me encanta! E olha que a vida nunca foi fácil nem para ele, nem para Isabel, nem para os dois juntos.

Mas, como o próprio William diz: "(...) Isabel e eu forjamos uma aliança rica em inspiração e abundante em afeto. Nós tomamos conta um do outro e de vários outros também".

Esse casal é fonte de inspiração permanente para mim.

Abaixo, o querido William Gordon (foto de Lori Barra).


quarta-feira, 28 de julho de 2010

O fio de ouro da vida

- Tem um trabalho que eu faço, O fio de ouro da vida.

- Sim?

- É um resgate e uma valorização daquilo que sempre nos salvou e sempre nos guiou para fora das situações de risco, dificuldades...

- Isso me faz lembrar algo que sempre me ajudou.

- O quê?

- Eu sempre acreditei na felicidade. Sempre achei que podia ser feliz. Quando estava triste ou quando algo ia mal na vida, eu procurava corrigir: isso destoa da felicidade. O normal do ser humano é ser feliz.

- Que interessante... Mas você deve ter tido uma infância boa, um bom parto...

- Que nada. Nasci de fórceps, a única diferença é que o meu avô era psiquiatra e mandou o obstetra colocar o ferro sob os meus braços, e não na cabeça. A infância? Acho que os piores momentos foram lá.

- Curioso... Isso confirma uma intuição que eu tenho, de que além do que é construído nessa vida, há algo mais. Algo que já vem com a pessoa. É uma herança.

- Pois é. No meu caso, acho que essa crença na felicidade é o meu fio de ouro da vida.

- Sim, com certeza é.



quinta-feira, 22 de julho de 2010

Viver o tempo

Meus sapatos estavam cobertos de lama e eu os retirei e coloquei junto da imensa lareira. Sentei-me em uma poltrona e pus os pés para cima, virados para o fogo. Logo o calor se fez e foi subindo pelo meu corpo, me aquecendo, espantando o frio e a umidade da chuva.

Olhei o relógio na parede em frente e era pouco mais que quatro da tarde. Fiquei ali, lendo uma revista, conversando com um ou outro amigo que se aproximava. Olhei novamente o relógio e era quase oito horas da noite.

O tempo é uma coisa curiosa. Encolhe e estica de acordo com a nossa percepção interna. Nesse dia, ele passou sem eu sentir. Mas não passou rápido. Pelo contrário, se alongou de uma forma em que eu vi cada minuto se escoar enquanto fazia nada. Por dentro, tudo acontecia.

Volta e meia falo no blog sobre a qualidade do tempo: como viver melhor o tempo?

Vale refletir sobre isso, pois nossa vida é uma questão de tempo.


sexta-feira, 16 de julho de 2010

O mar, o amor

Certa vez, alguém me disse que quando sonhamos com o mar, este representa o amor.

Eu costumo sonhar sempre com o mar. Às vezes está calmo, raso e claro. Outras, está agitado, escuro e perigoso, e eu luto para sobreviver.

Não sei se o mar, em sonhos, representa o amor. Mas sei que o amor, quando surge, amedronta como o mar bravio.

É curioso, porque pedimos por ele, todo mundo está sempre em busca do amor, querendo formar um par. Mas quando aparece...

Acho que o amor amedronta porque nos fala de mudança e entrega. Somos capazes de nos deixar levar pela correnteza, nos afastar da costa, porto seguro, sem saber onde vai nos levar, se a uma ilha ou a outro país, desconhecido?

É assustador mesmo. Um teste de coragem e flexibilidade... Uma aventura cujo prêmio pode ser a felicidade.


domingo, 11 de julho de 2010

Atenção às idéias

Leio o perfil de Pedro Lourenço, jovem estilista de 20 anos que fará desfile, pela segunda vez, na Semana de Moda de Paris, e ele diz que seu processo criativo ocorre quando está só e em movimento. "As idéias fluem quando ele anda, viaja, se desloca", diz a matéria no caderno Ela, de O Globo.

Fico pensando no quanto passei a valorizar e dar atenção as minha próprias idéias desde que deixei o mercado de trabalho formal para me tornar empreendedora (entrepeneur é a palavra chique para isso). Percebo que certas idéias tem um tom especial, como se, ao nascerem, tocassem uma tecla diferente na música da minha vida. É um tom superior que indica: aí tem coisa. Essas idéias são as passíveis de serem realizadas e darem frutos.

Já tive idéias assim que, ao serem realizadas, não deram certo. Mas elas representam apenas 5% e, de qualquer modo, sua execução serviu como aprendizado e para criar e fortalecer laços com todos os envolvidos. Ou seja, valeu!

De modo que ando com um caderninho na bolsa. Cada vez que surge uma idéia ou lembro de alguma pendência, trago o caderninho às mãos e scrt, scrt, scrt... Uma dica: essas idéias têm também um tempo certo para serem realizadas. Se não pomos mãos à obra, já era.

Então, uma lembrança, essa semana, para as vossas idéias. Vamos prestar mais atenção nelas, ficar atentos ao tom mais alto, à luz que se acende sobre nossas cabeças quando uma delas aparece, quem acontecia com o Professor Pardal, da Disney. Quem lembra dele?



terça-feira, 6 de julho de 2010

Sônia aos 60

"Pelos amores que vivi, pelos homens que tive, pelos filmes que fiz e pelas pessoas incríveis com quem trabalhei, devo ter uns 400 anos".

A frase é de Sônia Braga ao completar 60 anos, em entrevista à revista Serafina, da Folha de S. Paulo, quinze dias atrás.

Sônia namorou durante três anos o Robert Redford. Os dois iam acampar juntos nas montanhas. Foi paquerada pelo Clint Eastwood. Namorou o também ator e mergulhador submarino Arduíno Colasanti, e os dois passavam dias em um barco, nus, comendo os peixes que ele pescava.

Sempre admirei a Sônia por esse desprendimento em relação ao corpo. Conta o Hector Babenco que, durante as filmagens de O beijo da mulher-aranha, um dia, ela entrou no estúdio pelada. Ele repreendeu o assistente por não ter lhe oferecido um roupão, mas ela explicou: "Todos ficam esperando a hora de eu tirar a roupa. Então, resolvi entrar nua para acabar logo com aquela expectativa. Todo mundo relaxou e eu pude trabalhar". Ou seja, antes de tudo ela é e sempre foi uma atriz.

Durante quatro anos morei em um prédio tipo casa no Jardim Botânico. Eu morava no terceiro andar e a Sônia no térreo. Seu apartamento tinha poucos móveis e muitos posters de filmes como Eu te amo e Dama do Lotação. Ela raramente parava ali, mas quando estava, andava de calças largas, sandália de dedo, maquiagem nenhuma. Uma diva natural.

Vamos dar os parabéns à eterna Dona Flor, a perene Gabriela, a Tigresa para quem Caetano Veloso compôs a música. Sônia Braga.


quinta-feira, 1 de julho de 2010

A nossa criança merece

A conversa era sobre nos tornarmos nossos próprios pais, cuidando da nossa criança interior, porque isso seria uma suave preparação para a etapa em que deixamos ter pais.

Meu pai se foi quando eu tinha 17 anos. Minha mãe está aí, mas quem acompanha o blog sabe dos seus problemas de saúde. Então, a conversa era essa. Deixei as palavras atuarem dentro de mim...

Fui assistir Toy Story 3 com meu filho. Eu amo Toy Story! Principalmente o cowboy Woody. Porque ele é inteligentíssimo, brilhante, mas ao mesmo tempo tem falhas de caráter. Quando a situação exige, pode ser um fdp! Ou seja, ele é humano.

Desde Toy Story 1 eu tenho vontade de ter um Woody igualzinho ao do filme. De pano, com uma cordinha nas costas que, quando acionada, faz com que diga: "Tem uma cobra na minha bota!"

Após assistir Toy Story 3, a minha vontade triplicou! Dei tratos à bola e comecei a pensar em como conseguiria o meu brinquedo... No Rio, as lojas oferecem um Woody que não fala frases, só dá gritos de cowboy, por R$ 170 reais! Muito caro!

Mas como os meus amigos são a minha família, lembrei da amiga Claudia Fernandes, que está voltando de Nova Iorque para morar em São Paulo. Escrevi um email, fiz a encomenda e ela me respondeu no dia seguinte:

- Valéria, comprei um Woody na loja da esquina e ele fala 25 frases!

Agradeci mil vezes e mal posso esperar para ter o meu brinquedo nos braços.

Minha criança interior está exultante.


domingo, 27 de junho de 2010

Tragédia atual

A primeira montagem de Antígona, de Sófocles, ocorreu em Atenas, Grécia, em 411 a.C. A mais recente, no Brasil, é RockAntygona, que fui assistir sábado no teatro Leblon.

É uma peça diferente, muito muderna, digamos assim. O recorte do texto - tradução de Millôr Fernandes - é focado no Rei Creonte, interpretado de forma soberba pelo ator Luís Melo (que faz o pai do Chico Xavier no filme de Daniel Filho). Algumas falas do rei:

"Conhecemos o verdadeiro caráter de um homem quando lhe é dado poder".

"No dia em que tiver todo poder de que necessito, aí sim, serei humano".

Vale dizer que o universo que o Rei Creonte habita, na peça, é o mundo corporativo. O cenário é a sala de reuniões de uma grande empresa, com uma longa mesa e o trono: uma cadeira de presidente de empresa. As luzes são sempre baixas e atrás da mesa há uma parede envidraçada coberta de persianas. Ele está sozinho.

Acompanhou-me na peça uma grande amiga que acabou de se desligar do emprego em uma multinacional. Ela me disse:

- Lembrei do meu diretor o tempo inteiro... Estava ficando angustiada...

A peça dura uma hora e termina no tempo certo. No fim, todos morrem e quase sentimos o cheiro da morte. A música é um rock instrumental composto especialmente para o espetáculo pela banda Vulgue Tolstói. Impactante.

O fato é que acordei no dia seguinte com as palavras de Creonte ecoando em meus ouvidos... Elas ecoam nos ouvidos da humanidade desde 411 a.C. Já era hora de termos aprendido algo.

Abaixo, Luís Melo encarnando o Rei Creonte.


quinta-feira, 24 de junho de 2010

Filmes que não cansam

Existem filmes que a gente já viu mil vezes, mas toda vez em que estamos zapeando o controle remoto da TV e batemos os olhos num deles, dá vontade de parar. É um pedacinho legal aqui, uma fala interessante ali, uma seqüência engraçada acolá... Geralmente esses filmes são "abobrinhas" boas de passar o tempo, seu dom é divertir.

Preparei uma lista dos filmes-abobrinha que a gente vê e revê aqui em casa, sem parar. Por mais que reprisem, não cansamos deles. Aí vai:


  • Bridget Jones I e II - Ela é tão boba e tão tonta, mas ao mesmo tempo tão genuína e sincera, que somos cativados por ela.
  • Ghost - Uma linda história de amor com componentes sobrenaturais que fazem sentido.
  • Escola de rock - Esse filme tem a alma do rock!
  • O diabo veste Prada - A piada do mundo corporativo.
  • Um lugar em Notting Hill - Fantasia romântica idiota, mas terminamos com um sorriso no rosto.

E vocês, quais filmes não se cansam de rever? Vou adorar saber.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O mundo

"O mundo é tão bonito que dá uma pena morrer!..."

A frase é da avó do José Saramago e foi repetida por ele em uma entrevista há dois anos, dada ao jornalista Edney Silvestre, que o visitou em sua casa na ilha espanhola de Lanzarote, Canárias. Ao ser inquirido sobre se tinha medo da morte, ele saiu-se com essa: que não tinha medo, mas o mundo é tão bonito...

Fim de semana passado, eu viajei para fora do Rio. Uma pequena cidade na serra. A frase da avó do Saramago ficou ecoando nos meus ouvidos. A subida da serra com os morros cobertos de mata verdíssima. O céu azul pontilhado de nuvens alvas.

Chegando ao meu destino, o ritmo de tudo - externo e interno - diminuiu, se acalmou. Silêncio. Um vento agradável, nem frio nem quente, ora suave ora mais forte, balançava as copas das árvores para lá e para cá, e corria sobre o capim em ondas como franjas de cabelo.

Nessa época do ano, esse mesmo capim dá uma floração rosada, de modo que, em alguns pontos, as montanhas eram cor-de-rosa forte.

À noite, o céu tinha tantas estrelas que a gente se perdia olhando pra ele, imaginando a sua infinitude - e a nossa finitude, conseqüentemente.

"O mundo é tão bonito que dá uma pena morrer!..." Concordo plenamente com a avó do Saramago.

Mas, se Deus quiser, ainda temos muito tempo!


quinta-feira, 17 de junho de 2010

O valor de si

Um dos maiores e mais complexos desafios da vida é ter consciência de seu próprio valor - e acreditar que esse valor é alto.

Muita gente reclama que nada nunca dá certo, que é sempre a última da fila, que ninguém lhe escuta ou dá atenção. Por quê será?

Suspeito que se não acreditamos que merecemos que as coisas dêem certo para nós, que temos capacidade para galgar o primeiro lugar na fila, que somos merecedores de escuta e atenção nada acontece.

Para alguns é mais fácil acreditar no próprio valor. Principalmente os que foram amados na infância, e assim tiveram o caminho bem calçado. Mas os que não foram amados o suficiente vão tropeçar nos buracos... E terão que ir, eles mesmos, preenchendo as faltas, corrigindo as falhas, ao longo da estrada.


domingo, 13 de junho de 2010

Agradecer

Todos nós passamos por épocas de privação, mais ou menos severas, e normalmente isso está relacionado às perdas e às faltas.

Aprendi com a vida que um antídoto contra a revolta e a autopiedade que costumam de acercar de nós em ocasiões como essas é agradecer pelas coisas que já temos. Pequenas coisas do dia a dia às quais não damos muita atenção justamente por estarem ali, à mão, mas quando somem de repente fazem uma falta danada! Querem ver?

Obrigada pelas pernas e pés que me permitem andar, avançar, ganhar o mundo.

Obrigada pelos olhos que me permitem enxergar a beleza do céu azul, o verde das árvores, o azul do mar.

Obrigada pelas mãos que me permitem agarrar e fazer coisas e, principalmente, trabalhar.

Obrigada pela comida no prato a minha frente (vem daí o hábito antigo das famílias rezarem antes de comer).

Obrigada pelas roupas que aquecem o meu corpo.

Obrigada pela cama onde durmo, pela minha casa, que abriga a mim e a minha família.

E por aí vai.

E quando até essas coisas mais básicas estiverem ameaçadas, a saída é seguir a cartilha dos Alcoólicos Anônimos: um dia de cada vez. Se temos casa, comida, abrigo HOJE, já dá para agradecer.

Isso dá uma força enorme, uma alegria de viver e continuar. Vale experimentar antes mesmo de passar por alguma perda ou falta, para prevenir!


quinta-feira, 10 de junho de 2010

Viver as histórias

Uma amiga solteira há bastante tempo me confidencia que vai viajar à Europa para encontrar um homem.

- Que maravilha! - digo.

- Mas ele é casado.

- Ahh...

- Não importa. É só uma semana. Ele vai arranjar uma desculpa e vamos viajar pelo país. Só.

Fiquei pensando e consegui enxergar a situação através dos olhos dela. Eles se conheceram num congresso. Ficaram juntos. Ele a convidou para ir ao seu país, que ela não conhece. Uma semana de diversão. Ninguém vai separar de ninguém, só diversão. Entendi.

Essa é uma possibilidade de levar a vida quando não se está casado ou namorando: viver as histórias que surgem, extrair o melhor delas, permitir-se ser levado com a onda até o fim, até essa onda quebrar na praia - às vezes suavemente, às vezes com estrondo. Mas viver.

A outra possibilidade é manter-se firme no lugar, sem arredar muito o pé, observando e esperando que algo que realmente valha a pena apareça.

Sei lá, tenho visto as duas experiências e concluo: melhor é viver. Há o risco de sofrer, se chamuscar, se decepcionar... Mas também de acertar e ser feliz. Isso, pra mim, é viver.

E vocês, o que acham?


sábado, 5 de junho de 2010

Fazer nada

Quem consegue fazer nada? Como é fazer nada?

Eu respondo: neste sábado, meio de feriado, o Rio de Janeiro amanheceu varrido por um vento forte e gelado. O céu mesclava tons de cinza, do quase branco ao chumbo. Não tinha praia, não tinha lugar para passear, não tinha compromissos com a família, nem com mais ninguém. Na casa silenciosa só so ouvia os acordes distantes de um piano na vizinhança. O telefone, por milagre, não tocou uma só vez.

Num momento como esse, fazer nada significa tomar café com calma, ler os jornais inteiros - detendo-se naquelas notícias que a gente acha interessantes e deixa para ler depois, mas esquece -, depois voltar para a cama e... dormir de novo.

Acordar duas horas depois, assistir um filme antigo na TV, comer alguma coisa e permitir-se um doce de presente.

E, de noite, bolar uma programação bem engraçada, porque ninguém é de ferro.

Para vocês, o que significa fazer nada? Conseguem? Quando? Onde? Com que freqüência?

Abaixo, nada...









segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ir do Rio a Porto Alegre...

A Passeata dos solteiros que agitou São Paulo no fim de semana passado deu margem a reportagens bem engraçadas:

"Quem não arranjou um cobertor de orelha, ainda tem chance...", disse um locutor.

"Fulano já foi padrinho de oito casamentos, mas continua só...", narrou outro.

E o tal fulano dizendo:

"Fui padrinho até da minha tia!..." (E olha que ele não era tão feio!)

Outro fulano:

"Se alguém botar a mão aqui (no ombro), tá levando."

Uma gordinha:

"Hoje as pessoas só olham o corpo. Eu que tenho uns quilinhos a mais, tô sobrando!"

As justificativas são várias. Mas o que faz um homem e uma mulher se atraírem de verdade? Mais do que isso: o que proporciona um verdadeiro encontro?

Lembro de uma amiga que chegou na minha casa cabisbaixa, vinda de uma consulta com o astrólogo:

- Eu disse a ele que quero muito encontrar um companheiro, mas ele respondeu que eu estou querendo ir do Rio a Porto Alegre sem passar por São Paulo...

Pois é. Não tem jeito: para ir do Rio à capital gaúcha, temos que passar por São Paulo. O que significa isso? Fazer a sua parte: cuidar de si, ter paciência, não se revoltar, curtir a vida da melhor maneira, não desacreditar, se divertir, ser feliz. E, quando menos se espera, o Amor acontece.

Abaixo, a Av. Paulista. Vamos?


quinta-feira, 27 de maio de 2010

Os olhos do outro

Ver o mundo através dos olhos do outro. Quase sempre nos esquecemos. Por que?

Certa vez, participei de um "grupo de jovens" na igreja próxima de onde morava, no Jardim Botânico. Achei chatérrimo! (Me inscrevi só para ficar mais perto de um garoto que costumava encontrar na missa aos domingos. Deu tudo errado: ele ficou em um grupo diferente do meu e nem olhou pra mim!)

No grupo de jovens, um dos temas era: "Quando um amigo seu está indo por um caminho que julga errado, você o abandona ou fica ao lado dele, para protegê-lo?"

Era uma questão ética e a maioria votou que era preciso "ficar ao lado e proteger". Na época, eu discordei. Mas hoje essa lembrança retorna e, com a maturidade que adquiri, reconheço que sim, a verdadeira amizade envolve apoiar o amigo até os limites do possível. Até que isso não fira a nossa própria integridade.

Como se consegue isso? Procurando enxergar o mundo através dos olhos do outro. Reconhecer que cada um tem um caminho a percorrer e que isso faz parte do seu aprendizado. Quem somos nós para julgar? Cada pessoa tem que tirar suas próprias conclusões.

Creio que a delicadeza e o respeito de tentar enxergar o mundo pelos olhos do outro é uma das maiores provas de amizade.

sábado, 22 de maio de 2010

As marcas da bondade

Meu pai era um intelectual amigos de muitos artistas. Um deles era o fotógrafo José Medeiros (1921-1990). Fez a câmera de muitos filmes brasileiros, tirou muitas fotos para O Cruzeiro e Manchete e, hoje, o Instituto Moreira Salles é guardião de sua obra.

Mas, aos 7 anos, nada disso importava para mim. O que eu gostava mesmo era quando o Zé colocava o punho fechado sob meu queixo e fazia um movimento rápido de modo que meus dentes batiam uns nos outros parecendo uma britadeira! Eu morria de rir!

Ele também fazia muitas piadas e brincadeiras, e eu adorava a presença daquele senhor com cabelos esvoaçantes brancos e cara de maluco. Depois que voltei a morar com minha mãe, nunca mais o vi. Mas ele deixou uma lembrança tão forte que até hoje eu faço a brincadeira do queixo com os meus filhos. Eles pedem:

- Mãe, faz aquilo com o meu queixo?... - e dão risada.

Tudo isso para dizer que nós, seres humanos, muitas vezes guardamos lembranças ruins de pessoas que nos fizeram mal e deixaram marcas negativas. Mas a bondade também deixa marcas profundas, positivas, capazes de passar de geração em geração. Como as que o Zé deixou em mim, mesmo sem saber.

E vocês, quais marcas a bondade registrou em sua história, em sua vida, em seu coração?

Abaixo, algumas fotos do Zé.





quinta-feira, 20 de maio de 2010

Chegar lá

Existem muitos sonhos e metas na vida da gente. Alguns levam anos, até décadas para se concretizar. Mas, de repente, puf! Acontece. E daí?...

Tenho observado situações em que as pessoas queriam muito conseguir algo. E quando a coisa chegou deram uma "murchada". Por que?

Lembro de uma das entrevistas com Werner, em que ele comentou:

- O cara não pode ter como meta uma casa com piscina e carro na garagem. Senão, o que fará depois que chegar lá?

O fato é que, depois que um sonho muito almejado se realiza, a vida continua. Antigos problemas continuam. Novos surgem. E temos que seguir em frente. Para onde?

Aí eu me lembro novamente do Werner:

- Eu nasci sem nada e vou morrer sem nada. Nesse meio tempo, quero me divertir. O importante é a beleza do caminho.

Pois é... Vamos acalentar nossos sonhos, sim. Sabendo que depois de cada um deles, há mais. A caminhada continua.

E tem a história do mestre sufi que morreu, chegou ao paraíso, olhou em volta e perguntou ao anjo:

- Pois bem, aqui é muito bonito. Mas depois daqui, o que tem mais?




quinta-feira, 13 de maio de 2010

Três coisas

Uma forma de começar a caminhada em direção à saúde é simples: lembrar-se todos os dias de fazer três coisas que te façam bem.

Terminei assim a redação de um texto para uma cliente, psicoterapeuta, e ao ler para ela fui corrigida.

- Está errado. Não é simples.

- Hã?

- É isso mesmo que vc ouviu: fazer três coisas que nos dêem prazer todos os dias não é simples. Muita gente não consegue.

Caramba!... Fui para casa pensando e constatei que os dias passam tão rápido, tão cheios de tarefas, tanta a correria, que encontrar esses espaços é mesmo difícil.

No encontro seguinte, voltei ao assunto. Falei que nem eu estava conseguindo encontrar tempo para as três coisas. E ela:

- Não estou falando de ir ao cinema no meio da tarde, mas, sim, pequenas coisas como tomar um sorvete, levar seu cachorro para passear, molhar suas plantinhas pela manhã. Uma pausa para se conectar.

Ah!...

Corrigi o fim do texto e ficou assim:

Uma forma de começar a caminhada em direção à saúde é, por exemplo, lembrar-se todos os dias de fazer três coisas que te façam bem. Por incrível que pareça, não é fácil.

E vocês, quais são as três coisas que lhes dão prazer? Conseguem fazer algumas delas todos os dias?


sábado, 8 de maio de 2010

Karma

Segundo a tradição da Yoga, não podemos alterar nosso karma, mas, sim, aprender a conviver melhor com ele. O que acha disso?

Isso é como um livro que você escreveu e não pode apagar mais. Claro que podemos apagar o que escrevemos. Eu digo: sim, é possível modificar um karma, mudar o destino. Para isso, temos o livre arbítrio.

A breve entrevista publicada na revista Prana Yoga Journal, à venda nas bancas, com Joseph Michael Levry, fundador do Naam Yoga, que combina os ensinamentos da cabala e do Yoga, ficou reverberando dentro de mim.

Concordo? Não concordo?

Fiquei alguns dias observando e refletindo sobre a vida humana. (Não sei a utilidade disso, mas não consigo ser de outro jeito).

karmas impossíveis de mudar. Uma pessoa que nasce com nanismo - palavra politicamente correta para anão - terá que conviver a vida inteira com isso. Não existe tratamento que faça um anão crescer.

Mas todos nós que tivemos a infância marcada por perdas ou faltas - e não há ninguém sobre a face da Terra livre disso - podemos, sim, reescrever o livro do destino.

Dá um trabalho!... Mas se não o fizermos, o que mais vale a pena?


quarta-feira, 5 de maio de 2010

O que você quer, o que você precisa

A princesa e o sapo é uma recente animação da Disney. Em vez de ficar correndo atrás da Pixar, tentanto imitar o que ela faz, a Disney resolveu recuperar a velha fórmula de: história "fofa" com moral positiva + bons números musicais. O resultado é um filme "fofo". Com uma mensagem muito interessante.

A princesa e o sapo é um filme sobre o trabalho. Tiana é negra e nasceu no Sul racista dos Estados Unidos. Seu sonho é ter um restaurante. Na verdade, esse era o sonho de seu pai. Mas ele passou a vida trabalhando duro e, após a morte, a única coisa que conseguiu deixar para a filha foi um caldeirão onde costumava cozinhar. E convidava os vizinhos para comer.

A trama corre e, no fim do filme, Tiana se vê tentada pelas forças do mal. Ela tem a chance de fazer um pacto com o maligno e conseguir tudo o que quiser - o bendito restaurante - ou seguir trabalhando duro como o pai.

Nessa hora, lembra-se da conversa com Mama Odie, hilária feiticeira cega, totalmente do bem, que vive nos pântanos da Louisiana. Ela lhe diz: "O que você quer não é o que você precisa".

Em rápido flashback, Tiana relembra o pai cozinhando e compartilhando com os vizinhos, em amorosa confraternização. Conclui: "Meu pai não teve o que queria... Mas teve o que precisava".

Nossa heroína diz não ao vilão e... É claro que o final é feliz.

Abaixo, a sábia Mama Odie.


sábado, 1 de maio de 2010

A peteca no ar

"Desde a infância, Blixen conviveu com a dor", diz a reportagem no caderno Ela de O globo de sábado, sobre o jubileu de 125 anos da escritora dinamarquesa Karen Blixen (1885-1962), comemorado em 2010.

O texto traz mais algumas informações além daquelas que sabemos, principalmente, através do filme Entre dois amores (Out of Africa, 1985), no qual Meryl Streep interpreta Karen no período em que foi proprietária de uma fazenda na África. Desde a emigração com o marido - barão corrupto e mulherengo que lhe passou sífilis - até o regresso à Dinamarca após a falência.

No meio tempo, ela vive um caso de amor pra lá de moderno com Denys, aviador aventureiro vivido por Robert Redford: não existe compromisso e os grandes momentos são aqui e agora.

A dor - ou as dores, melhor dizer - vêm do fato de o pai ter se suicidado, a sífilis ter lhe subtraído a qualidade de vida e Denys ter morrido em um acidente aéreo, entre outras.

Mas, mesmo no fim, diz a matéria: "Ela alimentava-se com ostras e champanhe, como para confirmar para si mesma que a coragem e o entusiasmo pela vida são mais importantes que tudo".

A arte de manter a peteca no ar... Vamos aprender com Karen Blixen.

Abaixo a escritora, feliz, em sua fazenda na África.


quarta-feira, 28 de abril de 2010

Falar

Quem fala o que quer ouve o que não quer. Cresci escutando minha mãe dizer isso. Mas, às vezes, vale a pena correr o risco de dizer o que se está pensando ou, principalmente, sentindo.

À amiga que não perde a oportunidade de contar que viu seu ex-namorado com outra, que ele parecia feliz, que a outra está grávida:

- Prefiro que não me conte nada. Cada vez que você conta, duvido que seja minha amiga de verdade.

Ao colega de trabalho que sempre dá uma cantada, mesmo que brincando:

- Por favor, pare com essas cantadas. Por mais que esteja brincando, me deixa constrangida.

Ao amigo por quem é apaixonada:

- Gosto de você mais do que como amigo. Eu te amo.

E outro que se vire com o que ouvir...

Tudo que nos deixa mais leve para viver e caminhar vale a pena.



domingo, 18 de abril de 2010

Crise

Amigos e leitores,

Compartilho com vocês uma crise terrível de preguiça e falta de vontade de escrever no blog.

Sento em frente ao computador para escrever e o trabalho ocupa todos os espaços, todo o tempo, e ainda fica faltando coisas pra fazer.

Isso é ruim, pois o blog é onde eu respiro. Mas vai passar.

Peço desculpas e um pouco de paciência. Vou descansar nesses feriados e volto na semana do dia 26, se Deus quiser!

Beijos e abraços,

quinta-feira, 15 de abril de 2010

5 anos

Dizem que a vida tem ciclos e que estes têm a duração de um certo número de anos. Só sei que, ultimamente, tenho ouvido falar muito em 5 anos como sendo um ciclo, um período em que o relógio da vida dá uma volta completa. Querem ver?

O Werner, meu querido mestre, um dia chegou para trabalhar em seu primeiro salão, chamado Luzes, em Ipanema e não havia nenhum funcionário. Descobriu que o concorrente tinha prometido uma percentagem maior de ganhos e levado toda a equipe. Perguntei:

- E quanto tempo levou para você se recuperar?

- 5 anos...

A São (de Conceição), que conheci em Cascais, flagrou o segundo marido com outra na rua, deu-lhe uma segunda chance, o sujeito reincidiu e ela o pôs porta fora. Viu-se com mais de 50, os filhos criados, morando sozinha na casa enorme que haviam comprado juntos e que estavam reformando para morar a vida inteira.

- Caí numa depressão profunda; minhas amigas tinham que vir à casa para retirar-me da cama e me levar ao chuveiro, de roupa e tudo.

- E quanto tempo durou isso?

- Uns 5 anos.

(Hoje ela está casada pela terceira vez com um homem que lhe traz café na cama e regressa da rua sempre com um ramalhete nas mãos).

Há mais exemplos, mas vou parar por aqui.

À frente do meu novo negócio, tenho refletido muito sobre esses 5 anos... Paciência, fé e trabalho é a resposta que me vêm.

E vocês, o que pensam dos ciclos da vida? Isso existe mesmo?



domingo, 11 de abril de 2010

Homenagem aos amigos

Antes de partir para a Europa, coloquei uma frase do escritor afegão Tahir Shah na barra lateral do blog que dizia assim: "Só quem viaja sozinho sabe quantas horas cabem em um dia."

Essa frase me tocou porque na primeira viagem que fiz sozinha ao exterior, apesar de estar hospedada na casa de gente conhecida, durante o dia todos estavam trabalhando e eu não tinha companhia. Isso foi um tanto sofrido, para mim, naquela ocasião.

Dessa vez, procurei me preparar para o exercício da solidão, mas, surpresa! Mudaram o tempo, o lugar e as pessoas e... estive cercada de gente o tempo todo. Fui acolhida, mimada, bem cuidada e acarinhada de um jeito que não esperava.

Por isso, tive a idéia de fazer um post em homenagem aos amigos que encontrei durante a viagem. Alguns eu conheci no meio do caminho. Outros viajaram ao meu encontro. Outros, eu viajei para encontrar. O fato é que o Amor esteve presente em todo o percurso.




Barbara e Anke são alemãs e me fizeram companhia na cidade do Porto. Se não fossem elas, com toda aquela chuva, eu ficaria deprimida!



São (de Conceição) passeou comigo em Sintra debaixo de um toró! Sempre com um sorriso no rosto.




Conheci Silvia Alves - vulgo A Bruxinha - nas Correntes D´Escritas e ela me convidou a conhecer Leiria. E ainda me deu um álbum com maravilhosas fotos!



Luís Novais generosamente me ciceroneou em Lisboa.



Em Madri, tive a oportunidade de conhecer melhor a Adriana Navarro, querida amiga e parceira de trabalho!



A amada Claudia, minha amiga desde os 20, veio de Marselha para me encontrar em Madri! E pensar que nós nos conhecemos em Sao Tomé das Letras (MG), em meio a duendes e ETs!



Fui a Alicante encontrar a amada Adriana, minha amiga desde os 14 anos. Linda!




A querida Michelle me hospedou em seu suntuoso White Castle em Londres.


Julie, que me hospedou na vez passada em Londres, aunt Gloria e, no carrinho, a princesa Ashanti Maya Afua.

Por isso, eu digo: quem tem amigos, tem tudo!