quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A solidão - em pleno Carnaval

Nesse dia, eu estava de Cleópatra.

Sentei para comer em frente a mulher de vestido vermelho, volta e meia, nos olhávamos com os rabos dos olhos. Devia ter mais de 60 anos. Vi quando passou uma nota de dinheiro embolada, discretamente, na mão de um garçom. Para que seria?

- Você vem do Carnaval? - ela puxou conversa.

Sim, eu vinha do Sassaricando e do Boitatá. Contei minhas aventuras no centro da cidade e expliquei que havia parado em Botafogo para visitar minha mãe.

Celina - esse era o nome da mulher - me presenteou, no meio do Carnaval, com a história de sua vida. Foi casada duas vezes, a primeira com o pai de seu único filho, que morreu precocemente. A segunda com um homem maravilhoso que ajudou a criar o menino e deu-lhes muito boa condição: moravam em um apartamento enorme em Copacabana, bem pertinho do mar. Nada faltava.

O tempo passou, o filho casou e lhe deu duas netas. Morreu aos 42 anos, de enfarte fulminante, em 2010. Alguns meses depois, o marido também morreu de repente. Em uma dessas reviravoltas da vida, Celina ficou só no imenso apartamento em Copacabana.

Decidiu mudar-se. Procura daqui, procura dali, uma amiga levou-a para ver um imóvel em Botafogo.

- Eu entrei e gostei tanto! Acho que estava querendo muito me mudar rápido, mas esqueci de olhar a rua onde ficava. Só fui prestar atenção nisso depois que estava instalada.

A rua é a General Polidoro. Não é ruim, mas... bem diferente de Copacabana, pertinho do mar.

Celina me contou que todos dias vai ao shopping de comidas na saída do Hortifruti. Uma moça com quem entabulou conversa, e que também vai lá todos os dias, apresentou-a às pessoas. Mas, por mais tempo que passe no shopping, sempre chega a hora de voltar para casa.

- O pior de tudo, Valéria, é a solidão. A morte do filho e do marido, eu ainda choro, mas consigo lidar. O mais difícil de lidar é a solidão.

Levantamos juntas para pagar a conta e a vi de corpo inteiro: alta, magra, sapatos de salto anabela, seios no lugar, os bicos sobressaindo sob a fina malha do vestido vermelho. Ainda. Aos 73 anos - idade verdadeira.

Despedimo-nos com um abraço em frente às Americanas da Rua da Passagem, onde ela tinha uma comprinha a fazer.