quinta-feira, 14 de março de 2013

Coração humano: validade: 20 anos

Outro encontro marcante no Carnaval foi com um motorista de táxi.

Neste dia, eu estava de freira.

Fiz sinal para ele no Largo do Machado, parou e eu entrei. O trânsito estava ruim. O motivo era o trio elétrico de uma igreja evangélica cantando hinos em ritmo de carnaval.

Comentei que achava bacana, em vez de condenar, eles se inserirem no contexto para divulgar os ensinamentos da Bíblia.

- Pois é... - respondeu o motorista. - Estou para ir nessa igreja. Tenho que ir.

Antes que eu perguntasse por que - adoro conversar com motoristas de táxi, ou melhor, com qualquer pessoa - ele continuou.

- É que desde novembro de 2012, tenho um coração novo batendo dentro do peito. É o coração de um jovem de 21 anos.

???

O motorista contou que tinha 51 anos, era ex-funcionário da Petrobrás e há uns 5 anos teve o diagnóstico de uma doença que faz o coração inchar. Morte certa. No entanto, o bom plano de saúde da empresa proporcionou uma cirurgia de emergência para a troca do órgão por um coração artificial, até encontrarem um doador para o transplante. Prazo de validade da maquineta: 2 anos.

- Em novembro passado, quando faltava um mês para a data expirar, me telefonaram...

Um jovem do interior de São Paulo, vítima de um acidente de moto, tivera morte cerebral e a família já havia autorizado a doação dos órgãos. As características eram compatíveis com as do meu interlocutor. Nova cirurgia e, desde então, o coração de 21 anos batia em seu peito.

- E qual é a validade deste? - perguntei ansiosa.

- 20 anos. Ou seja, aos 70, se tudo der certo, eu consigo chegar.

O homem me contou que, desde novembro, fazia tudo bem devagar. Não trabalhava na hora do rush, nunca pegava mais do que dois passageiros.

- Pra ver se consigo durar um pouco mais - explicou.

O próximo passo era ir à igreja. Agradecer.