domingo, 22 de dezembro de 2013

O que é realmente importante

“O tempo passa cada vez mais rápido” “O tempo está voando” “Tudo anda tão corrido” Essas frases foram muito ditas e ouvidas em 2013. Mas o que estamos fazendo com nosso tempo?

Deu na coluna do Ancelmo (O Globo): o jornalista Roberto D´Avila perguntou a atriz Fernanda Torres como ela conseguiu se organizar para escrever o surpreendente romance Fim (Companhia das Letras) e ela respondeu: “É que eu não gosto de ir a festas”.

O Dr. Ivo Pitanguy diz em entrevista a Luiz Carlos Lisboa (2003): “Desde sempre, o aspecto social da minha vida foi menor do que parecia ou se comentava. Sempre fui regido pela disciplina séria que aprendi a ter”.

Minha mãe, às vésperas dos 75 anos, faz o comentário: “A vida passa depressa”. Argumento que ainda está passando, não acabou, e ela: “Mas eu pensava que seria jovem para sempre. Havia muito tempo para tudo. Agora sei que não é assim”.

Em setembro participei do workshop do escritor português Gonçalo M. Tavares durante a Feira do Livro de Caxias do Sul. Ele não ensina técnicas de escrita, mas trabalha a criatividade. No final, discorre longamente sobre os sacrifícios que escrever implica. Por exemplo, deixar de estar com as pessoas que amamos. Gonçalo passa todas as manhãs trancado em um escritório, das 8h às 13h, escrevendo. Deixa de desfrutar a companhia da mulher e dos três filhos. Seus pais, quando vem visitá-lo, já sabem que, apesar da saudade, não podem interrompê-lo. Se alguém importante telefona, passam um bilhete por debaixo da porta. Tudo isso porque ele também fez a opção pelo que é realmente importante para si.

Nesse fim de ano, proponho a reflexão: o que é realmente importante para você e a sua vida?

Depois que descobrir, firme um compromisso consigo para abrir espaço na rotina e ter energia para dizer ‘não’ ao que se interpõe no caminho. O tempo passa cada vez mais rápido, tudo está tão corrido... Então, e justamente por isso, vamos ao que interessa.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Praga é uma cidade mágica

Ao ver os letreiros na estação através da janela do trem, vogais com acentos diferentes e grupos de consoantes, pensei: "Tô ferrada". Se na Alemanha a comunicação já tinha sido difícil, na República Tcheca seria pior. Mas que nada. Praga me acolheu como uma senhora gorda e afetuosa que gosta de dar risadas.


Na estação de metrô, eu não tinha moedas para o bilhete que me levaria perto do hotel. Perguntei a uma funcionária e ela balbuciou com gestos: "McDonalds. McDonalds". Entendi que deveria ir ao McDonalds ao lado e comprar algo para trocar o dinheiro - coroas tchecas. Fiz o que ela mandou e deu tudo certo. Pronto. Eu estava em casa. Em Praga, saberia me virar, como se viram os brasileiros em todos os lugares.

Praga é linda, lembra um pouco Paris. O centro histórico é lotado de turistas, e aí lembra um pouco Florença. Mas o mais legal são as histórias. Tudo tem uma história, uma lenda.


Por exemplo, a igreja onde pende, até hoje, em uma cordinha, o braço mumificado do ladrão que tentou roubar o colar de ouro e brilhantes de uma estátua monumental de Santa Ana, toda em madeira, que continua lá. Conta-se que a santa acordou na hora do roubo e segurou o braço do homem. E não houve jeito de soltar, a não ser serrando o braço - do pecador, não da santa. Então, o ladrão se tornou devoto e cuidou da igreja até morrer de velho.


Outra lenda presente em todo lugar é a do Golem de Praga. Conta-se que o rabino criou um golem - criatura de força descomunal - a partir do barro da beira do rio Moldava. Durante muito tempo o Golem ajudou nas colheitas, na construção das casas. Mas quando sua fama ultrapassou as fronteiras e homens poderosos começaram a cortejá-lo, para ajudar nas guerras, o rabino o trancou na torre da sinagoga mais antiga de Praga, onde está até hoje.


Ao me lembrar dos dias que passei na capital Tcheca, sorrio sem querer. Um afago, um descanso, dias alegres e ensolarados na companhia da senhora gorda e afetuosa que gosta de dar risadas.

sábado, 16 de novembro de 2013

Preferências sexuais e a estética berlinense

Todas as preferências sexuais se encontram em Berlim. E tudo é normal. Diferente de outros lugares, até mesmo o Rio de Janeiro, eleito melhor destino gay por um site turismo estrangeiro. Aqui ainda é comum casais homossexuais andarem de mãos dadas, mas vigiando os arredores com os rabos dos olhos, à espreita da reação dos outros. Ou então, exagerar nas atitudes como uma forma de autoafirmação ou provocação. Em Berlim, isso simplesmente não existe. É tudo normal mesmo.

E tem para todos os gostos. Um rápido passeio pelos sites berlinenses sobre vida noturna revela estabelecimentos onde é possível vivenciar e compartilhar todo tipo de fantasia sexual. Sadomasoquismo é fichinha. Fiquei sabendo de uma tal boate onde, em um subsolo, uma vez por semana, acontece... ‘A noite do cocô’. Já pensou?

Meus passeios em Berlim foram mais diurnos, mas houve uma noite em que saí com a Nina e o Marcos, meus companheiros de apê. Ela nos levou a um bar/boate chamado ‘Chocolate’ onde haveria uma noite gay.

O bar fica no andar térreo de um prédio abandonado, invadido e pichado. ‘Essa é a estética berlinense: tudo meio destruído, mas transado’, explicou o Marcos. E tem mais: os lugares mais bacanas são sempre escondidos. Um turista sem amigos morando em Berlim não passará dos locais apontados nos guias de viagem. Se a Nina não tivesse estado lá antes, levada por outro amigo, não desconfiaríamos que aquela ruína abrigava um lugar tão legal quanto o ‘Chocolate’.

O público lá dentro nem era tão gay. Decoração maneiríssima e um DJ tocando somente vinil; um pé nos anos 80, mas nada óbvio. Finalmente chegou um casal gay com seu cachorrinho, um poodle preto que percorreu toda a boate, nem um pingo de xixi, muito educado. O casal sentou-se ao nosso lado, pediu vários gim tônica e fumou vários baseados de haxixe com tabaco. Acabamos batendo um papinho por causa do cachorro, que nos fez várias festas e, quando casou da música alta e do cigarro (sim, na Europa ainda se fuma intensamente dentro dos lugares), acomodou-se no chão sobre o casaco de um de seus donos e foi dormir.

Abaixo, a porta do nosso apê em Frankfurter Tor, bem no clima da estética berlinense.

sábado, 2 de novembro de 2013

Perder-se em Berlim

Berlim não é para fracos ou iniciantes. Todas as palavras não tem menos de 15 letras. A sinalização de informações não é clara, mas os alemães acham que é. Tudo é tão certo que, quando algo sai do normal, eles não sabem como resolver. Vou dar um exemplo:

No último dia em Frankfurt, planejamos conhecer Mainz, cidade medieval onde viveu Gutenberg, inventor da prensa de tipos móveis. Para evitar imprevistos, fomos à estação de trens na noite anterior e compramos nossos bilhetes: 15 euros cada. No dia seguinte, chegamos cedo à estação e fomos ao balcão de informações. Deu-se, então, o seguinte diálogo:

- Os trens para Mainz foram interrompidos e só voltarão a circular após as 15h - disse a mulher com cara amarrada em inglês tonitruante.

- Por que?

- Uma pessoa se atirou nos trilhos.

- Podemos reaver o dinheiro dos bilhetes?

- Não, pois o acidente não é culpa da ferrovia.

- Nem nossa tampouco.

- Próximo!

Para resumir, fomos orientadas por outro funcionário a pegar um trem até o meio do caminho, pois um ônibus viria buscar as pessoas na estação e levá-las a Mainz. Como na Alemanha é tudo tão certinho, nos entreolhamos e decidimos: "Vamos!"

Chegando ao destino, nós e a torcida do Flamengo, Vasco e Botafogo, ficamos parados ao relento, um vento gelado, esperando 1 hora pelo ônibus... que não veio.

Esse foi apenas um dos imprevistos durante a minha viagem a Alemanha. Houve vários. Desde alguns muito simples, como pedir uma taça de white wine e receber uma taça de red wine, até embarcar no trem errado na partida de Berlim para Praga.

Sobre o vinho, resolvi ficar quieta, pois reclamar seria tão complicado, e além do mais os alemães são bravos! Sobre o trem, desci na estação seguinte, desarvorada, e se não fosse uma alma boa que falava inglês ter me dito que o trem correto chegaria em em 5 minutos naquela mesma plataforma, eu teria desabado em prantos! Porque não havia absolutamente nada nem ninguém com quem eu pudesse me informar.

Apesar de tudo, se eu voltaria a Berlim? Sim. Cidade interessantíssima. Pesada, escura, difícil, talvez por isso estranhamente atraente. A História pulula em toda parte. Edifícios ainda tem marcas de tiros. Ouve-se vozes, enxerga-se imagens e fantasmas de tudo e todos que já passaram por ali.

Mas confesso que, quando cheguei a Praga, respirei aliviada.

(Abaixo, foto que fez sucesso no facebook: o Portão de Brandenburgo ao entardecer, com show de luzes).



segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Dormindo com guerreiros macedônios

Petruschesvka abriu a porta. Baixinha, cabelos ruivos com a raiz branca, alvoroçados. Mais de 70, menos de 80. Olhos puxados, olhar incisivo e uma série de recomendações em inglês truncado que me esforcei para compreender - pois senti que disso dependeria nossa relação durante cinco dias que passaria em sua casa em Frankfurt, Alemanha.

À medida que entrava pelo hall, vi a quantidade de quadros nas paredes. Pinturas de variados estilos de cima a baixo. "A senhora pintou esses quadros?" "Claro que não! Isso aqui é um museu de Arte Macedônia. Todos os quadros são de artistas da Macedônia".

Entrei no meu quarto e me deparei com um quadro enorme, desses que ocupam toda a parede, onde uma moça vestida com roupas típicas me mirava de forma inquisidora, tendo por trás uma tropa de guerreiros Macedônios com cara de poucos amigos. "Aqui é a sua cama", apontou a mulher. De frente para o quadro.


Foi difícil dormir na primeira noite... Mas, no dia seguinte, os olhares já não pareciam tão hostis. Da mesma forma, eu e meus companheiros de estadia fomos percebendo que a Petruschevska, apesar das recomendações incessantes sobre o aquecedor, as fechaduras das portas, quais luzes acender, também sabia ser doce e carinhosa.

Quando uma de nós ficou resfriada e ela preparou um chá com limão e gotas de licor macedônio. Mostrou-nos todo o museu, inclusive o porão, onde há manequins com roupas tipicas e adereços de prata e madrepérola. Ficamos sabendo que a Macedônia é, hoje, uma república situada em meio a cinco países: Bulgária, Grécia, Sérvia, Kosovo e Albânia.

Petruschevska nasceu na região onde fica a Grecia, mas a família logo foi embora. Conheceu o marido (mais novo que ela) tarde e não tiveram filhos. Ele era poeta e começou a reunir os quadros para o Museu da Macedônia. Há cerca de 15 anos, morreu de causa natural durante uma das Feiras do Livro de Frankfurt, deixando a mulher sozinha na imensa casa de quatro andares e não sei quantos quartos, todos ocupados com dezenas de obras de artistas macedonios. Na época da feira do livro, ela aluga os quartos, talvez para não se sentir tão só no aniversário da morte do marido.

No dia da minha partida - fui a última a deixar a casa -, Petruschevska me ofereceu café da manhã com pão preto e geleia de marmelos que ela mesma preparou. Ainda fez um sanduíche e me deu junto com uma maçã. Na hora de ir embora eu a abracei e pedi que abrisse a porta, de acordo com a tradição brasileira, para eu voltar logo a estar com ela no Museu de Arte Macedônia em Frankfurt.

sábado, 5 de outubro de 2013

Festa de escola

Escolas e editoras são entidades muito parecidas. Nenhuma é perfeita, as duas são cheias de defeitos e os clientes - sejam pais ou escritores - estão sempre insatisfeitos.

A escola onde matriculei meus filhos quando eram bebês e onde um deles está até hoje - a outra já entrou na faculdade - não foge a regra. É um colégio 'progressista', 'liberal' onde estudam muitos filhos de artistas. Como tudo na vida, tem um lado bom e um lado ruim. Em alguns momentos, lamentei tê-los colocado lá. Mas existe uma época do ano em que esqueço os defeitos e me vem a certeza: fiz bem. Foi a escolha certa.

É a Semana da Cultura. Durante uma semana os alunos preparam a escola para ser um imenso pavilhão de exposições dos trabalhos realizados durante o ano. No sábado, os pais são recebidos com café da manhã e visitam as salas onde há videos, instalações, declamação de poesias, performances. O clímax é o sarau de música no ginásio.

A cada ano, a Semana da Cultura é uma surpresa e uma emoção. Vejo os rostos dos colegas dos meus filhos - a maioria eu conheço desde que usava fralda e chupeta - se transformando. Uns, que não via faz tempo, reconheço os traços. Outros apresentam poemas de uma profundidade que eu não imaginava ou cantam lindamente. E, de repente, sou impactada pela consciência do tempo que passou e do que está por vir.

Esses jovens que eram bebês cresceram, se tornarão adultos, vão namorar, casar, trabalhar, procriar, sofrer, viajar, amadurecer... A grande aventura do ser humano se repetindo de forma única e especial em cada um deles.

E logo virão os filhos, que também serão matriculados em colégios, e quem sabe um dia, quando esses jovens forem pais e assistirem alguma festa de escola, terão a mesma percepção que eu tive, da infinitude e finitude do tempo, como dois lados de uma mesma moeda.

domingo, 22 de setembro de 2013

Um dia muito louco

A gente vive tentando domar a rotina, faz uma lista de atividades e vai 'ticando' cada uma, e, no fim do dia, quando demos conta de quase todas, gritamos internamente: "Gooool!" Que bobagem, pois de repente a vida dá um solavanco, nos joga no chão, depois joga para o alto como quem diz: "Acorda!" Porque temos tendencia a ser robozinhos. "Acordaaaaa!" E, de repente, estou viva!

No sábado, levantei cedo com a lista em punho: levar a mãe ao dentista, ir ao churrasco do sobrinho neto na Barra, voltar ao Leblon para o chope com as amigas de faculdade, e ainda prestigiar o karaokê etílico no aniversário de outro amigo à noite.

O dentista com a mãe correu bem. Logo depois, acenaram-me com um ingresso para o Rock in Rio, que entendi que era de graça, mas depois soube que tinha que pagar :( A caminho de ir buscar o bilhete, roubaram meu celular com todos os contatos (nem vi, só a bolsa aberta). Após bloquear a linha e comprar novo aparelho, hora e meia de engarrafamento até a Barra. Chegando lá: "Ainda tem churrasco?" (morta de fome) "Ah, não era churrasco, são lanchinhos..." :(

Aí parei. Comi uns hamburguinhos, curti a companhia dos sobrinhos, recebi uma dose de Amor (seiva pura), e me levantei de novo... Rumo à cidade do Rock! No meio do caminho, a bateria do novo celular arriou e não tinha mais como falar com ninguém.

Fui ao Rock in Rio sozinha, andei por todos os lados, fui na montanha russa, desfrutei da companhia de várias pessoas em momentos distintos da noite. Assisti Gogol Bordello e Lenine (ótimos!), show de dança e música celta (lindo!), John Mayer e o espetacular Bruce Springsteen, que me ressuscitou quando eu já tinha morrido.

Antes de ir embora, olhei a Cidade do Rock, mirei o céu e agradeci: "Obrigada, meu Deus, pelo dia de hoje. Obrigada por estar Viva".


domingo, 8 de setembro de 2013

A quem tem, será dado

Primo Levi (1919-1987), escritor italiano, foi preso e passou 11 meses no campo de concentração Auschwitz-Birkenau, na Polônia, no fim da Segunda Guerra. Seu livro É isto um homem? (nova edição pela Rocco em 2013), narra o dia a dia no campo com menos detalhes mórbidos do sofrimento físico e mais descrições e reflexões sobre rotina e a dinâmica entre as pessoas. Um verdadeiro estudo da humanidade realizado com base em uma amostra de gente vivendo em condições extremas de fome, frio, desconforto, humilhação e pressão psicológica.

Uma das regras identificadas por Levi em suas observações é 'a quem tem, será dado'. Isso significa que os mais fortes, os mais políticos, os mais 'proeminentes' dentro do campo, são justamente aqueles que acabam conseguindo um tratamento melhor dos alemães ou dos outros judeus que ocupam posições estratégicas.

Pouco antes de ganhar o livro de presente do escritor Guille Thomazi, encontrei minha depiladora, Ana, no ônibus do Metrô, rumo ao Centro, e surgiu papo sobre o mesmo tema. Eu ia à cerimônia de premiação de uma mulher rica que ganhou, merecidamente, larga soma de dinheiro por conta de um trabalho realizado. Contei a Ana onde estava indo: a premiação, montante em dinheiro e a vencedora. Intrigou-me o comentário dela:

- Mas é sempre assim: que tem mais é quem ganha. Lembra quando existia bingo? Eu ia com minhas amigas e a mais rica era quem ganhava mais vezes. Presta atenção.

Fiquei espantada com a sabedoria da Ana e me pus a matutar. Qual seria a explicação? Posso especular que, quem tem dinheiro, já pulou as etapas dos pudores em relação ao mesmo - culpa, memória de conflitos (nas famílias que brigam por ele), medo de perder. Por outro lado, quem já tem dinheiro deve desfrutar de um sentimento de que aquilo é seu por direito, faz parte da sua vida e da sua natureza. Por que não desfrutar? Que venha mais!

Primo Levi, em É isto um homem?, confirma a teoria de Ana, a depiladora.

Só gostaria que a Vida, suavemente, operasse em mim as mudanças necessárias para que o dinheiro seja algo espontâneo, natural, meu por direito, e que eu possa logo desfrutá-lo livre de quaisquer pré-conceitos.

Abaixo, a pirita (dourada) e o citrino (amarelo), pedras que dizem ser ótimas para atrair riqueza e prosperidade.



quinta-feira, 11 de julho de 2013

Melhores textos em livro!

Amigos, após seis anos, A pausa do tempo vai encerrar suas atividades com chave de ouro: a publicação de um livro - ebook e impressão sob demanda - com uma seleção dos melhores textos.

A editora é a Jaguatirica Digital e o lançamento será em agosto, no Rio de Janeiro. Quando chegar mais perto, vou informar direitinho a data, local e horário. E, principalmente, onde e como adquirir o livro!

Adianto as duas opções de capas criadas pelo designer Marcel Felipe Lopes. Fiz uma votação no facebook e a da folha ganhou. Muito embora eu ache que a árvore tem mais a ver com o espírito do blog.

A votação continua em aberto, quem quiser pode escolher.

Agradeço a todos, de coração, a leitura e a companhia todos esses anos. Muitos beijos, seguimos em contato.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Coração humano: validade: 20 anos

Outro encontro marcante no Carnaval foi com um motorista de táxi.

Neste dia, eu estava de freira.

Fiz sinal para ele no Largo do Machado, parou e eu entrei. O trânsito estava ruim. O motivo era o trio elétrico de uma igreja evangélica cantando hinos em ritmo de carnaval.

Comentei que achava bacana, em vez de condenar, eles se inserirem no contexto para divulgar os ensinamentos da Bíblia.

- Pois é... - respondeu o motorista. - Estou para ir nessa igreja. Tenho que ir.

Antes que eu perguntasse por que - adoro conversar com motoristas de táxi, ou melhor, com qualquer pessoa - ele continuou.

- É que desde novembro de 2012, tenho um coração novo batendo dentro do peito. É o coração de um jovem de 21 anos.

???

O motorista contou que tinha 51 anos, era ex-funcionário da Petrobrás e há uns 5 anos teve o diagnóstico de uma doença que faz o coração inchar. Morte certa. No entanto, o bom plano de saúde da empresa proporcionou uma cirurgia de emergência para a troca do órgão por um coração artificial, até encontrarem um doador para o transplante. Prazo de validade da maquineta: 2 anos.

- Em novembro passado, quando faltava um mês para a data expirar, me telefonaram...

Um jovem do interior de São Paulo, vítima de um acidente de moto, tivera morte cerebral e a família já havia autorizado a doação dos órgãos. As características eram compatíveis com as do meu interlocutor. Nova cirurgia e, desde então, o coração de 21 anos batia em seu peito.

- E qual é a validade deste? - perguntei ansiosa.

- 20 anos. Ou seja, aos 70, se tudo der certo, eu consigo chegar.

O homem me contou que, desde novembro, fazia tudo bem devagar. Não trabalhava na hora do rush, nunca pegava mais do que dois passageiros.

- Pra ver se consigo durar um pouco mais - explicou.

O próximo passo era ir à igreja. Agradecer.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A solidão - em pleno Carnaval

Nesse dia, eu estava de Cleópatra.

Sentei para comer em frente a mulher de vestido vermelho, volta e meia, nos olhávamos com os rabos dos olhos. Devia ter mais de 60 anos. Vi quando passou uma nota de dinheiro embolada, discretamente, na mão de um garçom. Para que seria?

- Você vem do Carnaval? - ela puxou conversa.

Sim, eu vinha do Sassaricando e do Boitatá. Contei minhas aventuras no centro da cidade e expliquei que havia parado em Botafogo para visitar minha mãe.

Celina - esse era o nome da mulher - me presenteou, no meio do Carnaval, com a história de sua vida. Foi casada duas vezes, a primeira com o pai de seu único filho, que morreu precocemente. A segunda com um homem maravilhoso que ajudou a criar o menino e deu-lhes muito boa condição: moravam em um apartamento enorme em Copacabana, bem pertinho do mar. Nada faltava.

O tempo passou, o filho casou e lhe deu duas netas. Morreu aos 42 anos, de enfarte fulminante, em 2010. Alguns meses depois, o marido também morreu de repente. Em uma dessas reviravoltas da vida, Celina ficou só no imenso apartamento em Copacabana.

Decidiu mudar-se. Procura daqui, procura dali, uma amiga levou-a para ver um imóvel em Botafogo.

- Eu entrei e gostei tanto! Acho que estava querendo muito me mudar rápido, mas esqueci de olhar a rua onde ficava. Só fui prestar atenção nisso depois que estava instalada.

A rua é a General Polidoro. Não é ruim, mas... bem diferente de Copacabana, pertinho do mar.

Celina me contou que todos dias vai ao shopping de comidas na saída do Hortifruti. Uma moça com quem entabulou conversa, e que também vai lá todos os dias, apresentou-a às pessoas. Mas, por mais tempo que passe no shopping, sempre chega a hora de voltar para casa.

- O pior de tudo, Valéria, é a solidão. A morte do filho e do marido, eu ainda choro, mas consigo lidar. O mais difícil de lidar é a solidão.

Levantamos juntas para pagar a conta e a vi de corpo inteiro: alta, magra, sapatos de salto anabela, seios no lugar, os bicos sobressaindo sob a fina malha do vestido vermelho. Ainda. Aos 73 anos - idade verdadeira.

Despedimo-nos com um abraço em frente às Americanas da Rua da Passagem, onde ela tinha uma comprinha a fazer.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O valor de um segredo

Dia desses fiz uma longa viagem de carro com uma pessoa não tão próxima que conviva comigo no dia a dia, nem tão distante que eu não considere uma amiga. Sempre que nos encontramos, o papo flui. Dessa vez, no meio do blá blá blá, surgiu um segredo. Ela me confidenciou algo que ainda não havia compartilhado com ninguém. Um fato muito bonito, porém, tão íntimo que me perguntei se teria coragem de compartilhar algo semelhante com ela, ou com qualquer outra pessoa.

Um segredo.

Conheço outras pessoas que conhecem esta pessoa, e que ficariam admiradas com o que ela me contou. Sou bem amiga dessa gente e poderia contar com facilidade pedindo “desde que isso fique entre nós” etc. Mas na hora em que ouvi a confidencia, pensei: “não posso e não vou contar a ninguém”. Ela nem se lembrou de pedir a mim essa discrição.

No mundo de hoje contar tudo a todos é cada vez mais comum. Até porque, por mais cabeludo que seja um segredo, os jornais estão cheios de histórias cabeludas todos os dias. Tantas, que a gente ouve e esquece.

Faz pouco tempo, Xuxa contou no Fantástico que foi abusada durante toda a infância por um tio ou amigo da família (sei lá, já esqueci!). Todos se admiraram com a revelação, o espanto durou algumas semanas e já faz parte do passado.

Outra questão é que a informação tem muito valor. Alguém bem informado – mesmo que as informações que detenha sejam sobre a vida dos outros – costuma ser visto com mais respeito e até temor por “saber das coisas”. Se ele resolve abrir a boca...

Portanto, para que guardar um segredo? Chega a dar coceirinha na ponta da língua de vontade de contar... Procurei dentro de mim a resposta e encontrei: por nada. Guardar segredo serve para nada. Só para ser fiel (a mim mesma) e estar em paz com o universo.



quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Nostalgia da juventude

Às vésperas de mais um aniversário, uma nova crise se anuncia. Digo "nova" porque houve outra, quando faltavam uns três anos para completar 40. Como boa aquariana, vivo tudo antes do tempo.

Ainda falta para os 50, mas, de repente, surgiu lá das profundezas uma nostalgia... Do que já vivi. Do que não vivi. Do que gostaria de viver agora. É horrível, porque é o desejo do impossível: voltar a ser jovem com cabeça de jovem. Com toda a irresponsabilidade, irreverência, inconsequência que a juventude encerra.

Domingo, passei pela praia de Ipanema à noite e havia uma 'rave' improvisada. Uma associação entre um jornal e uma marca de cerveja pôs um conhecido DJ para tocar nas tardes do fim de semana. No momento em que passava por ali, avistei um grupo de pessoas - a maioria jovens, adivinhei - dançando, bebendo, se divertindo noite adentro. "Que delícia!", pensei. Mas já tinha saído da praia, tomado banho, me arrumado e estava a caminho de outra programação - também ótima, é bom dizer.

Mas a nostalgia é implacável: vontade de estar na praia, sem lenço nem documento, toda suja de areia, lata de cerveja na mão, aberta a todas as possibilidades que a noite pudesse trazer.

Não posso dizer que não aproveitei a juventude. Aproveitei além da conta. Já me arrependi de algumas coisas, inclusive. Mas agora recordo o trecho de "O retrado de Dorian Gray" em que uma condessa comenta que, depois que envelhecemos, aquilo que menos lamentamos são os erros cometidos na juventude. Verdade!

Ó céus! Se for preciso apelar para a fluoxetina e outras "inas", juro que vou apelar! (Esse pragmatismo, só a idade traz).



.