segunda-feira, 16 de julho de 2012

Angeli e o envelhecer

As melhores mesas que assisti esse ano na FLIP foram as brasileiras. Dentre elas, a dos cartunistas de São Paulo Angeli e Laerte foi das mais interessantes.

Compreendi melhor o Laerte, que se veste de mulher sem ser exatamente um travesti - costume que tem o nome chique de cross dressing. O curioso é que ele usa roupas coloridas demais, acessórios chamativos, unhas cor de rosa. Pensei que era algo relacionado ao humor. Mas não, o motivo é que ele tem alma feminina. E o gosto duvidoso da indumentária é característico desse lado feminino mesmo.

Já o Angeli, bem, sempre achei-o um gato. Mas, ao ver sua imagem ampliada no telão, veio a inevitável constatação: "Como envelheceu!..." O cabelo completamente branco, a voz tremida. Velho. Lá pelas tantas, esse assunto foi trazido à pauta pelo próprio:

"Estou me aproximando dos 60 e já fumei muito orégano na vida. Então, volta e meia tenho uns lapsos de memória. Isso está se tornando cada vez mais frequente, e os lapsos cada vez mais longos. É comum eu começar um desenho e, quando já avancei bastante, percebo que me esqueci de onde quero chegar. Aí vem a Carol, minha companheira, e me explica: 'você começou por causa disso e disso...' Por isso, esse casamento vai ser longo".

Todo mundo riu. Mas ficamos todos um pouco desconcertados com tamanha sinceridade e pela exposição de uma fragilidade. Quem tem coragem de dizer, em frente a uma platéia imensa, que está mesmo ficando velho? Com tudo de ruim - como lapsos de memória - que isso traz?

Angeli continuou: "O Mario Sergio Conti (jornalista) já me deu o telefone de um médico, me disse que é excelente. Mas eu estou relutando em ir. Porque acho que preciso me acostumar com essa nova fase da vida".

Querido Angeli!... Agora, eu o admiro ainda mais.

Quem quiser assistir um pedacinho da mesa, aqui está: