sábado, 31 de maio de 2008

Na companhia de Lya

Lya não gosta de viajar sozinha, sente-se insegura, gosta de ter alguém para conversar. Afinal, é uma senhora de 69 anos, 70 em setembro, mas não se pode dizer que seja "velha". É gordinha, caminha com dificuldade por causa de um problema num dos joelhos, mas mesmo assim não é "velha". É uma mulher muito interessante, isso sim. E sábia. Uma voz de ponderação, discernimento, nesse mundo em que os mais variados estímulos nos puxam para todos os lados, em que as notícias nos jornas nos fazem desanimar. Lya nos dá esperança: pode ser diferente!

É por isso que pessoas se aglomeram onde quer que ela vá, para ouvi-la falar. E ela gosta de conversar com o público, pois gosta de gente. Na hora de interromper o bate-papo e partir para os autógrafos, ela sempre reclama: "mas essa é a melhor parte!..." Sim, porque depois vem a fila de autógrafos e nem sempre as pessoas são ponderadas, equilibradas ou educadas como a Lya.

Na quarta-feira à noite (28/5), pouco antes do início do projeto Sempre um Papo (http://http//www.sempreumpapo.com.br/capa/index.php) em São Paulo, a organização veio nos dizer que havia um homem esperando por ela desde as 14h. O evento estava marcado para as 19h. Lya mandou-o entrar e o homem a abraçou e falava a um palmo de distância do seu rosto. Dava para ver que tinha problemas, mas Lya pacientemente aguentou enquanto ele a enlaçava para uma foto que nunca ficava boa. Várias repetições depois, conseguimos levá-lo embora.

A fila de autógrafos era longuíssima e quase todas as pessoas queriam conversar, abraçar, beijar. Lya pediu: "pega uma cadeira e senta aqui do meu lado". Sentei. Senti que ela é meio "sugada" por essa ansiedade das pessoas, de quererem ser lembradas, de quererem o afeto e o equilíbrio que ela exala. Mas de onde vem isso?

De uma infância feliz, como a própria Lya diz: "se temos uma família que nos ama e ampara, nosso caminhar será mais firme e sem tropeços. Se há problemas na infância, o chão fica esburacado e o caminhar será mais sujeito a quedas". Ela define a família ideal (ela sabe que é idealizada, mas afirma que é possível) "é aquela da qual podemos dizer: mesmo quando não me compreendem e me reprovam, eles me amam, me respeitam e me acolhem. Assim, eu sinto que tenho meu lugar no mundo".

Sua própria família, que ela criou, é muito alegre e feliz. Três filhos, não sei quantos netos. Todo mundo fica admirado pois o novo livro, O silêncio dos amantes (Record), é repleto de todo tipo de tragédias. Tem até um anão que vira porco. "As pessoas ficam se perguntando se tem algum anão na minha família, mas pelo contrário, todos são bem altos", brinca.










Lya casou-se pela primeira vez com Celso Luft, autor de uma gramática que leva seu nome, e tiveram 3 filhos. Era seu professor, quase 20 anos mais velho, e não era comum naquela época. Aos 23 anos de casamento, ela conhece o psicanalista e poeta Helio Pellegrino num congresso de escritores em SP. Amor à primeira vista. Lya largou o marido, a família (os filhos criados) e mudou-se para o Rio para viver seu grande amor. Tinha bem mais de 40 anos.

Três anos depois, Helio sofre um enfarte e morre. Quando ela fala dele, dá para sentir quão violento foi esse corte. Lya volta para Porto Alegre, passa 4 anos sozinha, tentando reconstruir a vida. Até que o marido a chama e voltam a se casar. Menos de um ano depois, o homem sofre um AVC e vira "alface" (como resume alguém que conheci). Enfermeiras, fraldas, remédios... Mais três anos. Nesse meio tempo, a mãe tem Alzheimer e faz mil estripulias, é preciso interná-la. Um belo dia, o marido morre.

Mais três anos sozinha e Lya conhece Vicente, "um velho charmoso de barba bem branca". Ela tem 65 e ele, pouco mais que isso. Dois anos de namoro e estão casados a três, morando juntos na mesma casa. Durante nossa viagem, ela telefona pra ele de manhã, de tarde, de noite. Como foi no início? "Igualzinho como sempre: a perna fica bamba, a boca seca, a gente se apaixona. E tem mais: já avisei a ele que está proibido de morrer antes de mim!"

Querida Lya... Ela me ensina a saber esperar, a enxergar os GANHOS que a vida traz (no mesmo ano em que Helio morreu, nasceu seu primeiro neto), que o amor é a maior aventura da vida e não tem idade para começar. Tudo isso eu já sabia, mas a Lya é uma prova muito inspiradora.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Ganhos

Paris é uma festa chegou ao fim e o último e mais longo capítulo de um livro todo feito de capítulos curtos é dedicado às temporadas que Heminguay, sua primeira esposa e o filho pequeno passavam nas montanhas da Áustria, fugindo do cinza e da umidade do inverno parisiense.


Foram anos hospedando-se num hotel modesto, porém confortável, que o valorizado franco francês permitia pagar; deixavam o bebê com uma ama e saíam somente os dois, um casal ainda apaixonado, para longas excursões pelas montanhas, subindo cada vez mais alto, para de lá deslizar pela neve até embaixo. Heminguay descreve esses passeios com tanta beleza que é possível sentir o vento frio na pele e o perfume dos pinheiros.


Mas à medida que o final do livro se aproxima, começamos a vislumbrar algumas das mágoas podem tê-lo levado a se matar. (Dizem, também, que ele tinha uma doença terminal, sabia disso, e quis apressar o fim).


"Quando duas pessoas se amam, são felizes e alegre, e estão empenhadas, juntas ou individualmente, numa tarefa construtiva, os outros se sentem tão atraídos por elas como as aves migradoras são atraídas à noite pela faixa de luz de um farol poderoso. Se as duas pessoas que se amam fossem tão sólidas como um farol, nada sofreriam, pois a perda seria das aves. Mas o fato é que aqueles que atraem os outros com sua felicidade são geralmente pessoas despreparadas. Não sabem como evitar que as arruínem, nem como se livrarem a tempo do perigo."


A partir daí, ele narra por alto como as pessoas em volta interferiram negativamente na sua vida, no seu casamento, e termina dizendo que "Assim terminou a primeira parte da minha vida em Paris. Paris nunca seria a mesma para mim, embora continuasse sendo a Paris de sempre..."


Comentei isso com a escritora Lya Luft, sobre a qual vou escrever o próximo post e ela resumiu rapidamente, do alto de seus 69 anos muito bem vividos. "Já sei: ele descobriu que era feliz e não sabia".


Sim, é isso. Mais tarde, ouvi a Lya falando de seu best seller Perdas e ganhos (Ed. Record) e a motivação para escrevê-lo. "É que eu sempre ouvia as pessoas reclamando tanto, às vezes de coisas antigas que continuavam a atrapalhar suas vidas, e assim iam arrastando aquela choradeira consigo... E resolvi escrever sobre os ganhos que a vida também traz". (Um milhão de exemplares vendidos desde a publicação em 2003).


Concluo que, já que nosso passado passou e que a mudança pode acontecer a qualquer momento, a partir de nossas escolhas no momento presente, podemos escolher enxergar mais os GANHOS do que as perdas. Vamos nessa?




quarta-feira, 28 de maio de 2008

Uma ação do Greenpeace

Compatilho cm vocês o relato da minha amiga Gisele Netto, jornalista que mora em Barcelona e há dois meses trabalha para o Greenpeace.

"Na quinta-feira (22/5) aconteceu uma coisa muito especial na minha vida e quero dividi-la com todos vocês: fui ativista numa ação do Greenpeace.

Eu eu outros 30 ativistas invadimos o escritório de uma empresa que fabrica bombas de racimo em Madrid, que mataram e/ou mutilaram em média 100 mil pessoas (98% delas civis) nos últimos 10 anos em países da África e Oriente Médio. Foi complicado porque depois de um tempo apareceram sete vans da polícia anti-distúrbios, além de carros da polícia nacional, polícia municipal e bombeiros, teve porradaria, foi meio tensa a coisa. Mas eu saí ilesa e não fui fichada. (...) Se conseguimos que as bombas de racimo sejam proibidas, salvaremos as vidas de quase mil pessoas por mês. Pessoas invisíveis no Ocidente, pessoas que não fazem a menor diferença no nosso mundo capitalista de merda, mas que fazem muita diferença para mim e para alguns outros "loucos" como eu. ;)

A ação foi super divulgada por aqui e acreditamos sinceramente que pode mudar o rumo das coisas politicamente falando. Neste momento está acontecendo uma conferência em Dublin, há mais de 100 países reunidos contra as bombas de racimo e agora a postura dúbia da Espanha está ridiculamente exposta.

A minha função era entrar na frente no edifício, anunciar a ação para a recepcionista e a administração do prédio e controlar a reação deles enquanto os outros ativistas vinham me seguindo e invadiam o espaço. Depois fiquei no lobby colocando a instalação que fizemos, informando as pessoas, fazendo resistência passiva, depois fui para a rua dar apoio e estava fora quando chegou a polícia.

Dá para ver um pouco da ação no vídeo abaixo, eu apareço muito pouco, mas dá para me identificar em alguns momentos. Quando voltar para casa, penso em virar ativista aí. Temos que fazer algo já para salvar a Amazônia e nossos índios, antes que ambos virem história. Posso até ser uma romântica ou uma idealista, críticas são sempre bem vindas, mas a verdade é que estou muito feliz por ter feito algo aqui que valha a pena.

http://www.greenpeace.es/


***
Fiquei tão orgulhosa da Gisele que quis mostrar a vocês. E será que é ainda possível mudar o mundo?

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Como são os homens

Uma amiga me ligou ontem à noite com a seguinte questão: está saindo com uma cara que se mostra bastante interessado, é cavalheiro, volta e meia pergunta o que ela sente em relação a ele, dá mostras de que quer dar continuidade aos encontros. Tudo lindo e maravilhoso se não fosse por um detalhe: ele acaba de terminar um namoro de 2 anos. Esta semana, inclusive, houve uma situação bastante triste, pois a moça foi retirar as coisas que ainda estavam na casa dele. Ela pediu minha opinião...

Eu disse "devagar com o andor porque o santo é frágil!... Muita calma nessa hora!..." Porque, pelo que conheço dos homens, a maioria não quer saber de viver luto, ou reavaliar suas atitudes, ou procurar ver aonde errou para tentar ser melhor no próximo relacionamento. Isso é coisa de mulher!!! A maioria dos homens não tolera o desconforto e adoraria que existisse um botão para "mudar de canal" e cair numa outra história. Muitos deles criam imaginariamente esse botão e clicam nele, direto!!! Falei pra minha amiga: "cuidado pra não virar botão... Olho vivo!!!"

Eu crio um homem em casa. Tem 10 anos. Ele é alegre e elétrico, e quando me vê triste ou chateada por qualquer motivo, diz: "Ah, mãe, esquece isso!" Outro dia eu rebati: "esquece isso, nada! Você vai viver sempre na superficialidade? Corre o risco de se tranformar num homem raso e fútil. Tem que se aprofundar nas coisas e se isso incluir sofrimento, encare! Coragem! Isso, sim, é ser homem!" Tenho que ensinar esse menino desenvolver seu lado feminino desde já, preservando sua masculinidade, claro. Isso será um diferencial que o fará se relacionar de forma muito mais amorosa e honesta com as mulheres.

Como diz outra amiga: "Valéria, hoje em dia, se o homem não tiver alma feminina, não dá nem pra ser amigo..."

É bem verdade que existem muitos homens com alma feminina. Fui casada durante quase 13 anos com um. Graças a essa qualidade dele, hoje, 3 anos após a separação, somos amigos e parceiros. Mas, infelizmente, eles são raros. Tem que ser mergulhadora, corajosa, para ir buscar a pérola no fundo do oceano.

E vocês, o que acham? Estou sendo muito severa com os... homens?

sábado, 24 de maio de 2008

Perdoar é preciso

Saiu hoje no caderno Prosa & Verso do jornal O Globo uma nota informando que esta semana chegam às livrarias os primeiros títulos do selo Fontanar (nome horrível!) – braço da editora Objetiva para a publicação de livros sobre sexualidade, saúde, comportamento e auto-ajuda. A nota destaca Sobrevivi para contar (Left to tell), relato autobiográfico de Immaculée Ilibagiza (http://www.lefttotell.com/), que tive a oportunidade de ler em sua versão original e que é um dos livros que mais envolventes, tocantes e emocionantes de toda a minha vida! Inesquecível e transformador!










A autora narra início, meio e fim do genocídio que aconteceu em Ruanda em 1994, considerado pelos historiadores o mais eficiente de todos os tempos. Em três meses, 800 mil membros da etnia Tutsi foram assassinados pela etnia rival, os Hutus.

O livro começa com uma descrição de Ruanda antes da guerra; a natureza exuberante, o modo de vida de seus habitantes. Ilibagiza fala das particularidades de cada um dos membros de sua família – pai, mãe e três irmãos – de forma afetiva e bem humorada. Ela nos dá um breve resumo do passado histórico de seu país, que nos faz entender a origem dos desentendimentos entre Hutus e Tutsis.

A infância passa rápido, Ilibagiza vai para a faculdade. Num feriado de Páscoa, ela retorna a casa da família e o pesadelo começa. Após três dias sitiados, o pai ordena que ela e o irmão mais novo busquem refúgio na casa de um pastor que mora próximo. Eles vão, mas, chegando lá, o homem obriga que ela mande o rapaz embora, pois não há lugar para ele na casa – só ela pode ficar.

O pastor a esconde em um banheiro junto com outras cinco mulheres, onde não há espaço para se deitar e elas têm que se revezar para ficar de pé ou se sentar. Além disso, são proibidas de emitir qualquer som, pois a família do pastor não sabe que ele está escondendo refugiadas Tutsis.
Sem poder falar, sem receber alimento regularmente e assaltada por temores terríveis, cada vez que grupos de Hutus invadem a casa em busca de Tutsis escondidos, ela encontra a paz rezando, meditando, conversando com Deus. A parte mais substancial do livro é essa: um diário do que se passa internamente nela enquanto escondida no banheiro. Acompanhamos as ondas de medo, raiva, o despertar da consciência de que se ela odiar e quiser matar seus perseguidores, a violência se perpetuará; a descoberta da necessidade de perdoar e os passos para conseguir isso – apesar de parecer impossível.

Quando Ilibagiza finalmente sai do claustro três meses depois, após incontáveis sustos e dissabores, ela usa a fé e a espiritualidade desenvolvidas durante a reclusão para apaziguar a tristeza e a revolta pela morte de sua família, para conseguir um novo emprego e construir uma nova vida.

Sobrevivi para contar é um livro essencialmente sobre o perdão e é muito eficiente no sentido de nos fazer refletir sobre essa questão: existe alguém que precisamos perdoar? Por que não o fizemos ainda? Porque não perdoamos essa pessoa já? Leiam e perdoem! Viver torna-se muito mais leve!... Uhuuuu!!!





quinta-feira, 22 de maio de 2008

Paris é uma festa

"Se você teve a sorte de viver em Paris quando jovem, sua presença continuará a acompanhá-lo por toda a vida, onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa móvel".









Andando outro dia pela editora, vi jogados dentro de uma caixa no corredor algumas edições antigas de livros e, entre elas, um livro sobre o qual já li e ouvi falar muito: Paris é uma festa (A moveable feast), de Ernest Heminguay. Esse título já inspirou outros livros de reminiscências sobre a capital francesa como Paris não tem fim, do escritor catalão Enrique Vila-Matas, e Paris não acaba nunca, da psicanalista brasileira Betty Milan, que mora em Paris. Capturei a obra e comecei a lê-la com curiosidade e entusiamo que vinham me faltando nos últimos meses, quando diversos livros passaram pelas minhas mãos sem que eu lesse nenhum deles até o fim.

O livro narra o período em que Heminguay morou em Paris (1921-1926), recém-casado, quando ainda era um jovem jornalista free lancer tentando se tornar escritor. É delicioso, pois narra desde suaves fofocas sobre personalidades de seu círculo de amizades – Gertrude Stein, James Joyce, Ezra Pound , F. Scott Fitzgerald – até sua luta diária para domar as palavras, burilar as frases, construir sua escrita.

Gertrude Stein, por exemplo, era uma mulher faladora e carismática que convidava o casal Heminguay frequentemente a sua residência, mas nunca dirigia a palavra a mulher do autor; era tarefa de sua companheira dar atenção à moça. E só elogiava e defendia outros escritores que falassem bem de sua própria obra.

Sylvia Beach, fundadora da Shakespeare and Company – livraria especializada em livros de língua inglesa que existe até hoje em Paris – era uma generosa comerciante que emprestava livros a escritores iniciantes e duros como Heminguay, sem cobrar e sem preocupar-se se um dia seriam devolvidos.

Em certa hora, ele decide largar o jornalismo para dedicar-se exclusivamente à escrita, mas em contrapartida é preciso abdicar do almoço. Mas isso tem suas vantagens, pois ele sempre visita o pequeno museu dos Jardins de Luxemburgo, em suas andanças pela cidade, e a fome faz com que as cores dos quadros lhe pareçam mais intensas.

Acima de tudo, é um livro sobre lembranças da juventude, mas não tem um pingo de melancolia ou saudosismo. Pelo contrário, inspira quem já teve a oportunidade de ir a Paris a relembrar os momentos vividos nesta que é uma das cidades mais lindas do mundo! Admira saber que se trata de um livro póstumo, publicado após a morte do autor. O ultimo que ele escreveu antes de suicidar-se com um tiro na boca, em 1961.






A seguir um trecho que muito me tocou e que selecionei para compartilhar com vocês:

"Foi uma refeição maravilhosa a que fizemos no Michaud, quando conseguimos entrar. Mas quando terminamos e não sentíamos mais fome, a sensação que nos parecera fome ainda continuava dentro de nós. Continuava quando chegamos ao quarto e, depois de termos ido para a cama e feito amor, ainda estava lá. Quando acordei, com as janelas abertas e o luar nos telhados das casas altas, ainda estava lá. (...) Tinha de me esforçar para compreender o que se passava conosco, mas sentia-me demasiadamente estúpido. A vida tinha-me parecido tão simples naquela manhã quando despertei (...)
Mas Paris era uma cidade muito antiga, nós éramos jovens e nada ali era simples, nem mesmo a pobreza, nem o dinheiro súbito, nem o luar, nem o bem e o mal, nem a respiração de alguém que, deitada ao nosso lado, dormisse ao luar".

Numa recente postagem sobre Qual é o seu maior sonho? algumas pessoas disseram tê-lo realizado; era conhecer Paris... Como foi essa experiência? E os que nunca foram o que imaginam fazer quando essa oportunidade chegar?

terça-feira, 20 de maio de 2008

Bailinho II – A missão

Domingo à noite, tudo calmo nas ruas, nada de jogo do Flamengo. Enquanto todas as famílias se reúnem para comer pizza e assistir ao Fantástico eu me produzo toda, mini-saia preta, salto alto, brilho nos olhos e na blusa. Aonde vou? De volta ao Bailinho – a missão. Meio insegura, pois na primeira vez em que me aventurei era feriado no dia seguinte, Tiradentes. Amanhã não tem feriado e começa uma semana curta porém imprevisível, como tudo na vida. Mas já combinei com minha amiga E., fiel frequentadora, e lá vamos nós.

Entramos no salão escuro e enfumaçado e já está cheio. São 21h de domingo e ainda bem que o Bailinho começa cedo. No início muita mulher, uma mulherada patriçada, e me pergunto se não fiz bobagem, se o lugar já estragou e não é o mesmo daquele primeiro domingo com feriado na segunda. Mas que nada, a noite avança um pouco, bebo uma cerveja e rostos masculinos começam a aparecer. Mas confesso que não dá pra ver quem é bonito ou feio, e também não importa, porque o DJ Rodrigo Penna emburaca com seus sucessos improváveis, intercalando músicas bacanas com pérolas bregas. Hits dessa noite: Don´t let me be misunderstood, do Santa Esmeralda e Garota dourada, de... Esqueci! Mas cantei junto até me esgoelar. E os artistas da noite: Luana Piovani, linda e desacompanhada; o mutante Gabriel Braga Nunes, muito mais bonito pessoalmente do que na TV; Otávio Müller e a esposa grávida, barriga enorme.

Passam por nós uma garota e um cara com a camisa do Bailinho, caneta e papel nas mãos. É o serviço de Torpedos. Não vejo ninguém interessante, mas tô a fim de brincar. "Pode mandar pro DJ?" "Poooode!" diz a moça, que usa arco com antenas de pompom. Escrevo: "Quero te ver sem boné..." (ele usa bonezinho). Dali a 5 minutos, o DJ Rodrigo Penna tira o boné. Eu e E. caímos na gargalhada!

Noite mais adiante e a clientela do lugar se mescla de um jeito que começo a achar que sou hetero demais para estar lá. Mas é só relaxar e curtir o melhor do lugar: o clima de paquera ampla, geral e irrestrita. Todo mundo paquera todo mundo, dança com todo mundo, sem distinção de idade, cor ou, muito menos, de sexo. E ficar com alguém não é o mais importante!

Uma moça dança com um rapaz que parece gay, eles vêm dançar perto de mim e começam a se beijar. Tô na minha, o rapaz se afasta e a moça puxa conversa comigo, muito simpática. Mas... decido ir ao banheiro. Fui!

Danço de costas para a parede, tem um cara atrás de mim. De vez em quando dou uma pisadinha no pé dele, sem querer, claro, e peço desculpas. De repente ele me agarra, me vira e me enche de beijos. Beijo bom, vigoroso, gostoso! Me aperta, me solta e desaparece. Fico meio tonta... Então tá, né?

A noite continua, já são meia noite, tenho que ir embora, amanhã tem trabalho, mas dá uma dó!... Vem uma menina baixinha, bonitinha e começa a dançar na minha frente. Me oferece bebida do seu copo e aceito, sem graça. Oferece de novo, recuso. E., que dança perto de nós, vai ao banheiro e a menina pergunta: "Essa aí é sua amiga, é?" Respondo sem titubear: "É!" A mocinha se despede...

Chega uma turma de rapazes do interior de S. Paulo. Começa a tocar um forró e um deles me tira pra dançar. Dança bem! Poucas palavras e... Mais beijos. Beijo bom, vigoroso, gostoso! Me aperta e me solta e... Continua ali do lado, mas a conversa é surreal. "Quantos anos você tem?" (Assim, na lata). "42", e acrescento "eu não minto". "Hahaha. E eu tenho 58..." (Calculei uns 27)

Uma e meia da manhã, ele vai ao bar e eu desapareço. Minha amiga E., mais pra lá do que pra cá, resolve ficar. "Mas você não disse que tem uma reunião amanhã às nove?", pergunto. "Pode deixar que vou direitinho pra casa"...

Pego um táxi, ruas vazias... Afinal é segunda-feira de madrugada. Durmo muito mal, muito agitada, acordando toda hora, até o relógio despertar às 8h do mesmo dia. Concluo que esse Bailinho é como uma droga: tem que administrar com muita parcimônia...

***
Ficaram chocados com o meu comportamento? Poxa, tenho que me distrair até chegar a hora de voltar a gostar de alguém...

domingo, 18 de maio de 2008

Um novo maio de 1968

Precisamos de um novo Maio de 1968 – o movimento que começou com a insatisfação dos estudantes na França, contra a política de Educação, e que contaminou a classe trabalhadora provocando uma greve geral que paralizou todo o país.

A sucessão de eventos inspirou ou foi sintoma de um movimento maior que sacudiu a Europa e reverberou no mundo. Hoje, historiadores e cientistas sociais dizem que depois tudo se acomodou e que o mundo seguiu seu crescendo de violência e capitalismo. Mas pelo menos houve questionamento, idéias e ideais foram postos à prova, e os reflexos disso são revistos e estudados até hoje – vide a quantidade reportagens e suplementos sobre os 40 anos de Maio de 68 publicados recentemente na imprensa mundial.

Influenciado pela afeméride, o tema da mesa de debates da Arena Jovem, que abriu a I Bienal do Livro de Minas, no dia 15 de maio, era: "Adolescer" dói? A adolescência continua dentro da gente? Participavam da mesa Orlando Paes filhos, autor da série Angus, adorada pelos adolescentes; Maria Dolores, jovem autora da biografia de Milton Nascimento – Travessia; e Wilmar Silva, poeta performático que vive em Ouro Preto.

No início, cada um falou de um aspecto da adolescência e a conversa seguiu desarticulada. Lá pelas tantas, uma jovem pediu o microfone e sua pergunta me fez vislumbrar e sentir a profunda solidão e deseperança da juventude hoje. Era algo assim: "Sou fulana, tenho 17 anos, estou prestando vestibular para medicina e às vezes me pergunto: para quê?"

Os autores se entreolharam e, um a um, tentaram responder. Mas cada um com seus argumentos, a meu ver, só faziam aumentar a angústia da moça. "Descubra o que faz de melhor e siga por esse caminho. Você vai se destacar", disse Maria Dolores. "Inicie um movimento contra o sistema. O mundo precisa de heróis", disse Orlando. "Encontre uma maneira de se expressar", aconselhou Wilmar.

De repente, um homem que estava na platéia tomou a palavra e falou dirigindo-se à jovem: "Eu tenho 48 anos. Trabalho em Brasília no Senado, para os ladrões. Mas não sou ladrão, sou músico. Tenho dois filhos e ensino a eles que não sejam ladrões. Meu salário permite que eu os alimente e que tenha uma banda de rock. Tenho CD gravado e tudo. E você, menina, só por ter feito essa pergunta, causou uma revolução nesse espaço. Parabéns por ter feito essa revolução".

Palmas!!!

No final do debate, todos foram falar com a jovem, inclusive eu. Tentei consolá-la citanto um ídolo da juventude, Bono Vox, vocalista do U2: "Se você não pode mudar o mundo, mude o mundo dentro de si". Mas ela ainda não estava convencida.

Então, lembrei a fala do sociólogo Alain Touraine (jornal O Globo, 11/5/2008), que era professor na Universidade de Nanterre quando eclodiram os primeiros movimentos de Maio de 1968: "(...) vivemos 40 anos de regimes de extremos liberalismo. Este sistema hoje não vai tão bem e os jovens têm uma inquietação geral. Enquanto que e 68 o pensamento era: estamos atrasados, ou seja, um clima de subida, hoje é clima é de descida, o que faz uma grande diferença. Os estudantes estão dizendo agora: vocês estão fazendo um mundo em que eu vou viver pior do que os meus pais. É a descida. Eles estão amargos e não acreditam em mais ninguém. (...) 68 era um período carregado de ideologia, de idéias. Agora, estamos ocos."

Lembrei também dos meus dois filhos, com 10 e 13 anos, e de que eles vão se defrontar com essas questões logo mais adiante. E de todas as crianças e jovens dos países pobres cuja situação está marcada para piorar, em vez de melhorar.

E pensei em como seria ótimo se houvesse um novo Maio de 1968, que aconteceria num outro mês, com outro nome, mas que seria um levante de jovens do primeiro mundo contra os adultos que dirigem aceleradamente este veículo meio desgovernado que é o planeta Terra hoje. E que eles conseguiriam fazer os governantes pararem um pouco e reavaliarem sua atitude para com o planeta e os povos que o habitam, corrigindo a rota – para melhor.

Mas aí eu pisquei, acordei, vi que ainda estava na Arena Jovem da Bienal de Minas, sozinha, ao fim de um longo e exaustivo dia de trabalho. E fui embora para o hotel dormir.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Saudade de gostar de alguém

Saudade de gostar de alguém é saudade de companhia boa, leve, com quem a gente se diverte muuuito.
É saudade de acordar de manhã e ligar para o outro só pra saber se dormiu bem, se teve bons sonhos, se acordou bem disposto e desejar um ótimo dia.
É ligar no meio do dia por qualquer motivo, só para ouvir a voz do outro e contar qualquer coisa tipo: "descobri uma livraria que você ia adorar..."
É sentir um calorzinho no centro do peito por saber que logo mais à noite vai ter encontro, abraços e beijinhos.
Saber que vai ter conversa boa, sem ter fim, sobre todo e qualquer assunto, porque nunca falta assunto.
E haverá risadas, muitas, entremeadas por mais beijos, abraços, cabeça no ombro, cheirinho do pescoço do outro.
E depois juntos a sós no quarto, tirar a roupa, unir os corpos, brincar de sexo e com o sexo, descobrir sempre novas coisas gostosas de fazer e de sentir com o corpo do outro.
E depois que cansar, dormir abraçados, depois separados, mas de mãos ou pés juntos, ou de costas com os bumbuns grudados.
E se o outro ronca ou se mexe muito, a gente não liga, acostuma, porque todas as outras coisas são tão gostosas que essas perdem a importância.
E depois acordar, abraçar, ficar em silêncio respirando juntos, ouvindo os sons da manhã, os passarinhos, a voz do vizinho.
E aos poucos ir despertando novamente o corpo, beijar na boca sem se preocupar com o hálito – saliva lava tudo – e mão aqui, boca ali e mais coisas gostosas pra fazer com o corpo e junto com o corpo do outro.
E depois tomar banho enquanto o outro faz a barba ou se arruma para trabalhar; fazer o café da manhã juntos, meio correndo por causa do trabalho, mas com conversa e com risadas e beijo de tchau com gosto de café e pasta de dentes.
E planejar juntos a viagem, a festa, o jantar, o passeio com os filhos, o fim de semana, a família, tudo.
E sentir que a vida é mais suave e redonda, muito menos pontuda, porque a gente gosta de alguém.

***

Quem tem a sorte de estar vivendo tudo isso agora? Não importa se tem um mês, um ano, ou 10 anos. Diga o quanto é bom...

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Qual é o seu maior sonho?

Fiz essa pergunta a mim mesma, essa semana, ao refletir sobre a origem da herança material que meu pai me deixou (porque existe a imaterial, imensa!), e que hoje se resume a algum dinheiro guardado num banco. Refletindo sobre meus sentimentos em relação a esse dinheiro, me perguntei: de onde ele veio?...

... Veio do trabalho de meu pai, que nasceu pobre, foi balconista de sapataria e ajudou a construir a estrada de ferro que passa nas cercanias de Cruz Alta, no interior do Rio Grande do Sul. Com sua inteligência, talento e ambição tornou-se um grande jornalista e realizou o sonho de sua vida: construir uma casa maravilhosa no lugar mais bonito do mundo, na sua opinião – a Joatinga. E olha que ele rodou o mundo...

Meus amigos que tiveram o prazer de conhecer e curtir A Casa junto comigo sabem do que estou falando.

Pois bem, após sua morte, em 1983, a casa foi vendida. Com a maior parte do dinheiro ajudei a comprar o apartamento onde moro hoje e o que restou está guardado no banco.

Refletindo sobre a prosperidade e a riqueza – influenciada por minhas recentes leituras de auto-ajuda –, descobri que ainda não tinha dado uma finalidade a minha herança. Concluí que seu destino deve ser realizar o meu sonho, visto que ela também é fruto da realização do sonho de meu pai. E ao me perguntar qual era o meu maior sonho, aquele de infância, a resposta foi imediata: viajar o mundo!

Lembro que com 8 ou 9 anos descobri um velho Atlas na estante da minha casa. Eu o consultava com freqüência e decorei várias capitais muito antes disso ser matéria de Geografia. Tinha um interesse especial pelo sudeste da Ásia, principalmente pela Tailândia. Não me pergunte por quê. Depois, surgiram interesses mais exóticos pela Birmânia – pobre país, assolado pelo tufão, mas que possui os mais belos templos budistas do mundo! – e Mongólia –, quem sabe, em vida passada, fui membro do exército de Gêngis Khan.






Neste início de maio, realizei na Livraria Argumento, o lançamento do romance Um livro em fuga, de Edgard Telles Ribeiro, que vem a ser o embaixador do Brasil na Tailândia. Eu o conheci em maio de 1982, no Festival de Cinema de Cannes, quando tinha 16 anos e viajava pela Europa com meu pai. Contei essa história e ele se lembrou, demos risadas juntos. Edgard mora há 2 anos em Bangkok e vai ficar mais dois. Avisei que vou visitá-lo antes que termine o mandato...

Tudo isso para contar que eu fiquei muito feliz por lembrar do meu sonho e descobrir que posso começar a realizá-lo.

E vocês, meus amigos, qual é o seu sonho? Vou adorar saber...

sábado, 10 de maio de 2008

Boate Chalana

Abri e fechei os olhos e já está hora de ir buscar minha filha mais velha nas festinhas. Ontem, eu era buscada nas festinhas pelo meu pai, que saía dos jantares e reuniões high society, que freqüentava, para me buscar no Roxy Roller e no Piraquê.

Eu costumava ir na boate Chalana, a maior, para menores, que funciona até hoje nas dependências do clube. O ambiente era o mais familiar possível e o máximo que fazíamos para subverter as ordens e recomendações de nossos pais era dar uns apertos e amassos nuns banquinhos que ficavam na beira da Lagoa, atrás das quadras de tênis, portanto longe dos olhos dos adultos.

Essa semana, minha filha chegou com um pequeno convite verde e ao abrir, voltei no tempo. O endereço da festa era a boate... Chalana (nome horrível, me lembra algo pornográfico). Lá fomos nós ao Piraquê. A entrada mudou, agora há um painel de fotos sobre a Marinha, cafona. O interior foi todo reformado e o salão me pareceu bem menor. Fiz esse comentário com a mãe do aniversariante e ela, também frenqüentadora de outrora, contemporizou: "não sei se era realmente maior ou se nós é que éramos menores e o enxergávamos grande".

De fato, adentrar aquele salão escuro com luzes piscantes, cujos limites eram impossíveis de se enxergar desde a porta, era uma emoção semanal, com hora e dia para se renovar, todo sábado à noite. "Será que o gatinho vai estar? Vai olhar pra mim?"

Deixei minha filhota, fui com meu filho a outra festa, de gente menor (Ufa!), e voltei perto da meia-noite para buscá-la. Entrou no carro agitadíssima: "mamãe, adorei o lugar; as luzes fazem um efeito sinistro; o Dj era bom mas não tocava os funks que a gente pedia porque alguns têm palavrão. Ah, que chato!..."

Pelo visto, o tempo passou mas a Chalana continua a mesma: familiar, mas mmmuuuiiitttooo legal...

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Do estupro e suas variantes

Vocês sabiam 6 mulheres são estupradas a cada hora nos Estados Unidos? E que pelo menos quatro delas são atacadas por mais de um homem?

Essas informações são dadas no final do filme Acusados (The accused, 1988) que está sendo exibido no canal Telecine Cult (65 da Net), e é bem provável que desde então os números tenham crescido, infelizmente.

Assisti esse filme na TV há uns 10 anos e ficou gravado na minha memória por me fazer compreender que mesmo que uma mulher tenha "provocado" o estupro – esse é o principal argumento da defesa da maioria dos acusados desse crime – o homem não tem o direito, NÃO PODE ir às vias de fato. O fato dela ter provocado NÃO JUSTIFICA o crime.

Acusados narra a história de uma mulher de baixa renda, fudida, que briga com o namorado e vai para um bar afogar as mágoas e se "vingar". Bebe todas, fuma maconha, começa a dançar de modo provocador, as alças da blusa caindo, os seios quase à mostra. Lá pelas tantas, o cara com quem está flertando começa a agarrá-la e ela recua: "está ficando tarde, tenho que ir pra casa" etc. Mas ele a imprensa numa máquina de pinball e todos os homens do bar se reúnem ao redor deles, sendo que três gritam palavras de ordem incitando o estupro, do tipo: "vai lá, espeta essa boceta até machucar!" Resultado: a moça é currada por três homens enquanto cerca de outros 10 ou 15 olham e gritam como que torcendo num jogo de futebol. Depois que ela finalmente consegue se soltar, sai correndo nua pelas ruas e vai parar num hospital. Aí começa sua odisséia por justiça.

A cena completa – e terrívelmente realista – do estupro só nos é revelada no final, durante o julgamento dos três caras que incitam o estupro. Porque a advogada que pega o caso faz tudo para condenar não somente os estupradores como os incentivadores também. Isso, tendo como torcida contra os próprios donos do escritório de advocacia onde trabalha – todos homens, obviamente.

Acusados é um puta filme de tribunal, baseado numa história real que aconteceu em um bar em Massachusetts (EUA), em 1983. Jodie Foster, que interpreta a protagonista, ganhou todos os principais prêmios de Melhor Atriz do mundo cinematográfico por esse trabalho: Oscar e Globo de Ouro (EUA), Bafta (Inglaterra), Berlim, David Di Donatello (Itália).

É um filme que toda mulher deveria assistir. Em exibição no Telecine Cult ou nas locadoras.

sábado, 3 de maio de 2008

Como agem as mulheres

Há cerca de um mês, esteve no Brasil o escritor norte-americano Steven Carter, para promover o lançamento da editora Sextante Homens gostam de mulheres que gostam de si mesmas http://www.esextante.com.br/ . O título é muito bom, e Carter já vendeu 300 mil exemplares de O que toda mulher inteligente deve saber anteriormente – o que em nosso país significa muita coisa.

Não comprei o livro, mas li atentamente as duas amplas reportagens publicadas na Folha de S. Paulo e em O Globo. Afinal, esse assunto interessa a nós, todas as mulheres que gostam de homens.

A repórter da Folha falava bem do livro, dizia que era divertido, mas que Carter dava conselhos meio óbvios como, por exemplo, "homens não gostam de mulheres que ficam bisbilhotando seu celular". Pensei cá com meus botões e cheguei à conclusão de que esse tipo de conselho não é tão óbvio, não. Principalmente quando estamos apaixonadas ou "à beira de um ataque de nervos", como definiu muito bem Almodóvar, profundo conhecedor da alma feminina.

Na matéria, Carter prosseguia com seus valorosos conselhos. "A mulher pode, sim, ligar no dia seguinte. O que ela não pode é ligar de 5 em 5 minutos". Hahahahaha. Mais uma dica "óbvia" na opinião da repórter. Mas será mesmo? Qual mulher nunca cometeu um pecado desses ou na mesma linha?

Por isso, repeito muito Mr. Carter, que estreou no mundo da auto-ajuda com o New York Times best seller Men who can´t love e cunhou a expressão "commitmentphobia" (fobia de compromisso) – esse tipo todas nós conhecemenos bem, né? Ele mesmo tinha esse tipo de fobia, mas diz que se curou e está casado há 14 anos com a mesma mulher.


O que vocês acham? As muheres precisam ou não dos conselhos de Steven Carter?




quinta-feira, 1 de maio de 2008

O tempo

Meu post mais recente foi domingo passado. Eu havia prometido a mim mesma que atualizaria o blog dia sim, dia não. Mas esse intervalo passou tão rápido e eram tantos os afazeres que são quase quatro dias depois.

Todo mundo comenta que o tempo está passando mais rápido atualmente. Em 2005, fui cobrir como frila a reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) em Fortaleza. Lembro que havia uma tenda interativa – na qual infelizmente não consegui entrar por causa do trabalho – que mostrava cientificamente porque o tempo, de fato, está passando mais rápido ou porque temos essa sensação. Alguns colegas viram e comentaram, impressionados.

A educadora Rose Marie Muraro, em seu livro Textos da fogueira (Ed. Letraviva, 2000), mostra um panorama dos mitos de origem e de destruição da humanidade e comenta que a aceleração que sentimos hoje é fruto das frequentes inovações tecnológicas que intervêem na nossa maneira de viver e fazem com que as informações sejam transmitidas cada vez mais rápido.

Se na Idade da Pedra essas transformações ocorriam em longuíssimos períodos – um milhão e meio de anos entre os hominídeos começarem a confecionar armas para se defender até conseguirem se organizar para usá-las para caçar –, desde a Segunda Guerra Mundial, com a invenção dos primeiros computadores, esses períodos encurtaram. Hoje, a cada ano diversas inovações surgem tornando outras obsoletas e por aí vai.

O que tudo isso tem a ver com a gente? Bem, minha filha de 13 anos, outro dia, num domingo à noite, me perguntou incrédula: "mãe, o fim de semana já acabou? Nossa, parece que ontem era sexta-feira..."

Ou seja, somos levados nessa onda que é o tempo, e que parece se mover numa velocidade cada vez mais rápida. Pior, conspiramos a favor dela. Se estamos no meio da semana, queremos que chegue logo sábado e domingo para que possamos descansar ou nos divertir. Se estamos no meio do mês, queremos que chegue logo o dia 30 para receber salário. E assim, a vida da gente também passa mais rápido.

Essas reflexões vieram à tona porque encontrei, em meio aos meus guardados, um cartão de Feliz Ano Novo que recebi em 2005. Contém versos de um autor desconhecido, do ano 300 d. C., traduzidos do sânscrito.


Saudação ao amanhecer


Concentra-te neste dia que desponta,

pois ele é a própria vida em seu breve curso.

Jazem nele todas as verdades e realidades da tua existência;

a felicidade de crescer, a glória de agir, o esplendor da beleza.

Pois o dia de ontem é apenas um sonho e o amanhã, uma visão.

Mas o dia de hoje, bem vivido,

torna cada dia passado um sonho de felicidade

e cada amanhã uma visão de esperança.

Concentra-te, portanto, neste dia.

Neste dia maravilhoso que desponta!


Aí está o antídoto para a correria do tempo. É um freio totalmente ao nosso alcance. Mas é preciso praticar.