Bom fim de semana a todos!
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Tacacá, Ver-o-peso, São Jorge...
Bom fim de semana a todos!
sábado, 23 de janeiro de 2010
A história de Simone
A moça dirigindo ao meu lado disse:
- Eu bem que gostaria de dar o meu depoimento à TV Globo. Mas estou tão longe!...
Perguntei qual era a sua história e ela contou:
"Nasci em Belém, mas vim para Marajó com 3 anos de idade. Meu pai era químico e seu sonho era aposentar-se e ir morar na Ilha. Assim, fundamos o Hotel Marajó.
Pouco depois de nos instalarmos, houve um churrasco em nossa casa, feito em fogo-de-chão - técnica em que a carne é assada em um buraco na terra. Eu estava dormindo em uma rede e acordei. Saí andando meio sonolenta e vi aquele grupo de adultos chutando a terra em volta do buraco, para apagar o fogo. Fui chutar também, me desequlibrei e caí sobre as brasas.
Foram 2 meses no CTI. Eu era muito magrinha e ninguém achou que eu fosse agüentar. Houve uma série de cirurgias e enxertos, e eu sobrevivi. Mas até pouco tempo não ousava usar saia ou shorts, por vergonha das cicatrizes.
Minha mãe, que teoricamente não podia ter mais filhos, ao ver que quase me perdia, engravidou do meu irmão. E as coisas se acalmaram durante alguns anos.
Quando eu tinha 13, meu pai teve um câncer fulminante e morreu ao fim de um ano, ao longo qual gastamos todas as nossas economias com o tratamento. Em seguida, minha mãe caiu em depressão e o hotel entrou em franca decadência.
Aos 20, minha mãe entrou no hospital para tratar uma dor de cabeça, sofreu um enfarte e morreu ali mesmo. Eu me senti terrivelmente só, porque a maior parte da família havia virado as costas lá atrás, na época do revés financeiro. Mesmo assim, entrei na universidade, cursei toda a Administração e encaminhei o meu irmão, que hoje é mestre em Biologia.
Ao fim do curso, retornei a Marajó. O hotel estava parado, horrível. Foram meses de obras e precisamos de muita energia para reerguer o negócio.
Hoje eu me sinto abençoada. Acredito em karma e que no final tudo vai dar certo - se ainda não deu é por que não chegou ao fim. Problemas, cada um de nós tem e nada melhor do que o Tempo para ajeitar as coisas. Faça o bem, acredite no amanhã e não desista nunca! Ame-se do jeito que você é. Ser diferente é normal. Seja qual for sua cicatriz - visível ou invisível, na alma - AME-SE."
Abaixo, Simone Pereira, diretora do Hotel Marajó, (esq.) e sua equipe.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
A praia inesperada
"Uma verdadeira viagem não tem a ver com os destaques com os quais você impressiona os amigos quando volta para casa. Tem a ver com solidão, o isolamento, as noites que passa sozinho desejando estar em outro lugar."
Em Marajó eu não tive momentos exatamente assim, mas houve alguns grandes momentos, coicidentemente vividos nas praias da ilha.
Passamos uma manhã inteira na Praia do Pesqueiro, a 13 km da cidade de Soure. Ficamos muito tempo mergulhados nas águas rasas e semi-doces, tal qual peixes ou sapos, mas em certa hora eu me afastei. Fiz uma longa caminhada sobre a areia firme e aproveitei para acertar as contas com Deus, agradecendo por tudo - sempre - e fazendo as intenções para o ano prestes a começar.
Ao fim da conversa, ajoelhei-me e beijei o chão, sentindo uma camada fina de areia grudar nos lábios. Assim, selei meus compromissos.
Um dia antes de ir embora de Marajó, fomos à Barra Velha, a 3 quilômetros do Soure. Apesar de mais próxima, essa praia é mais vazia por que também é mais selvagem.
Passamos o dia inteiro brincando em um braço largo de mangue que vem serpenteando desde as profundezas da floresta, formando um rio paralelo ao mar. Um desafio a ser transposto para o nosso banho!
No início da manhã a correnteza era forte e nos arrastava com rapidez. Uma emoção! No fim da tarde, a força e o volume da água diminuíram e fomos caminhando juntos por dentro d´água até onde dava pé. Atravessamos o manguezal e fomos dar em outra praia, Barra de Araruna, onde há uns casebres abandonados e só.
A essa altura, o sol havia desaparecido atrás de grossas nuvens e gotas de chuva morna começaram a cair.
Mergulhei no mangue e fiquei só com os olhos fora d´água, observando o mundo em uma bolha de silêncio. Meu filho, enquanto isso, deixava seu corpo afundar na areia, tão fina e enxarcada junto às margens que parecia movediça. Minha filha, por sua vez, ria, corria e pulava sozinha, pulos altíssimos, pernilonga que é.
Mais tarde, de volta ao Rio, perguntei às crianças qual havia sido o momento mais marcante da viagem. O menino respondeu:
- Meu corpo afundando na areia...
A menina:
- Eu pulando naquela praia...
Para mim, foi estar mergulhada no mangue, inteirinha dentro d´água, só os olhos de fora, observando a natureza e sentindo-me parte dela.
A praia de Araruna, inesperada, nos proporcionou uma verdadeira Pausa do Tempo na viagem a Marajó.
domingo, 17 de janeiro de 2010
É a Matinta Pereira!
África, porque as fazendas de gado e búfalos reproduzem as paisagens de savana que predominam naquele continente: pradarias com vegetação rasteira e grupos de árvores aqui e ali.
Visitamos a Fazenda Bom Jesus, onde fomos recepcionados pela própria dona, a veterinária Dra. Eva, uma das pessoas mais influentes e respeitadas de Marajó. Ela gostou de nós e nos mostrou pessoalmente sua propriedade, desde as gracinhas e mimos do búfalo Rambo, adestrado para estar com os turistas...
... até quilômetros e quilômetros de terras, que percorremos em um Land Rover.
Antes, eu ouvia a letra da música Águas de março, do Tom Jobim, e não entendia nada!
Agora eu sei. Viva a Ilha do Marajó! Viva o Brasil!
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
15 minutos com Carrero e O despertar da primavera
Ele está no Rio de Janeiro, dando um curso de férias na Estação das Letras, e eu tive o prazer e a honra de ser apresentada a ele antes da aula começar. Uma simpatia e uma generosidade!
Em 20 minutos de conversa ele me contou que durante a oficina - que tem a duração de um ano - ele lê um clássico inteiro com os alunos, palavra por palavra. "Quais clássicos?", perguntei. Ele respondeu: "Flaubert: Madame Bovary e Educação sentimental. Porque todos os segredos da ficção estão nessas narrativas". Continuou: "Flaubert ministrou a primeira oficina literária de que se tem notícia. Ele ensinou Guy de Maupassant a escrever durante 8 anos. Lado a lado. Por isso, Maupassant também é bom de ler."
Apreendido e registrado. Abaixo, o livro dele que eu tenho.
***
Fui assistir O despertar da primavera em fim de temporada no Rio de Janeiro - a peça vai para São Paulo. Amei! A montagem é mais uma realização da premiada dupla Charles Müller e Claudio Botelho, que já acumula indicações ao Prêmio Shell de Teatro 2010.
E pensar que o autor, Frank Wedekind, morreu sem ver sua peça encenada de modo integral. Pudera, pois ousou, em 1891, retratar a repressão sexual que enlouquecia os jovens e os levava ao suicídio em seu país, a Alemanha.
Foi censurado, criticado, excomungado. Somente em 1974, quase 80 anos depois, a peça teve a primeira montagem decente em Londres, sendo imediatamente aclamada pela crítica. Em 2006, estreou em Nova Iorque uma nova versão do texto, musicada com rock. É essa que vemos agora nos palcos brasileiros.
O melhor é que a montagem transmite o vigor e o ímpeto da juventude. A gente sente o gosto de se apaixonar pela primeira vez, a inquietude, a ânsia de viver e conhecer. No final, depois que as cortinas se fecham, toca a música de outro musical emblemático: Hair.
Let the sunshine... Let the sunshine in, the sun shine in...
A força da juventude é enorme! Gostaria de ver a juventude novamente mobilizada, como na época de Hair e em O despertar da primavera. Mas parece que já não existem ideais...
Só sei que eu me sinto jovem e me identifico com essa força criadora. O despertar da primavera reaviva a chama dentro da gente. Saímos acordados e potentes!
Abaixo, os protagonistas Pierre Baitelli e Malu Rodrigues, excelentes.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Fazenda São Jerônimo em Marajó - 2º parte
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Fazenda São Jerônimo em Marajó - 1º parte
Chegando à ilha, ainda é preciso rodar uma hora de carro em estrada de terra e atravessar o rio Paracauari de balsa...
... para chegar à cidade de Soure, onde nos hospedamos no Hotel Marajó - simples e muito confortável. Tem piscina e um pé de taperebá que nos alimentou com sucos e caipirinhas durante toda a estadia!
Visitamos duas fazendas. A primeira foi a Sao Jerônimo, um lugar tão selvagem e radical que foi locação do programa No Limite em 2001.
Na chegada, os visitantes se reúnem na sede na sede da fazenda, que sobrevive do turismo e da extração de côcos. De lá, fomos levados por uma trilha no meio do mato por nosso guia, Seu Lázaro, um caboclo muito simpático e bem humorado. Volta e meia parava, dava uma olhadinha para trás e dizia:
- Deixa eu ver onde está o último, que é pro Curupira não levar!
No meio do caminho, topamos com cutias esbaforidas e uma turma de macacos-de-cheiro - um macaco pequenininho de rabo empinado - correndo a nossa frente.
Chegamos a um braço de mangue semelhante a um rio, onde embarcamos em uma pequena canoa cheia de água no fundo. Ufa! Um tal de tirar a água com a cuia!...
Fomos levados pelas remadas vigorosas do Seu Lázaro e seu ajudante, Aílton, avistando coqueiros meio submersos e revoadas de garças, guarás e papagaios por todos os lados. É uma gritaria nos ares! Benza Deus, a natureza!
Lá pelas tantas, o mangue deságua em um estuário muito aberto, onde do lado direito é a mata fechada e do lado esquerdo, uma praia de areia tão branca e fininha que nossos pés afundavam até os tornozelos.
Ali, era permitido o banho.
- Mas cuidado com a arraia! - preveniu Seu Lázaro.
Aprendi com ele: as arraias costumam dormir rentes ao chão, cobertas por uma fina camada de areia, junto à superfície das águas. Se pisamos nelas: zupt! Lá vai um ferrão no pé. A solução é entrar na água juntos, em bloco, e nunca se aventurar muito longe sozinho.
- Assim, elas fogem - explicou o caboclo.
Foi o que fizemos. Delicioso! A água é meio doce, meio salgada, bem leve, fruto da mistura das águas do Rio Amazonas, Xingu e do Oceano Atlântico.
Tem mais aventuras nesta fazenda à la Indiana Jones! Daqui a pouco eu conto!
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
O Brasil dentro do Brasil
- A culinária do Norte do país é a verdadeira culinária brasileira. Porque as comidas baiana e mineira, nós herdamos dos escravos. O churrasco, nós herdamos dos espanhóis. Mas a comida do Pará e Amazonas, nós herdamos dos nossos antepassados mais genuínos, os índios.
Ele mesmo era meio índio, descendente das tribos do chaco paraguaio, nascido no interior do Rio Grande do Sul.
Na semana que passou, tive a oportunidade de conhecer um país dentro do nosso Brasil: Belém do Pará e Ilha de Marajó. Tudo é diferente e desconhecido: frutas, sabores, cheiros, cores, lendas, bichos... Fiquei encantada. Todos ficamos, pois viajei com meus filhos e a madrinha de um deles, cuja família é de lá. Ela foi nossa embaixadora nessa viagem tão intensa que parece que durou muito mais do que apenas uma semana.
Aos poucos, vou contar as impressões mais marcantes. A intenção é que sirva como um guia e um incentivo para os que têm vontade de conhecer essa região do Brasil. Vale a pena!
Em Belém, visitamos o Museu Paraense Emilio Goeldi...
... que é também uma espécie de jardim zoológico. Está meio caidinho - o peixe-boi morreu e ainda não foi substituído, e o ofidário está desativado. Mas vimos um jacaré impressionante, com quase dez metros de comprimento, e jeitão de bicho pré-histórico. Ele é a estrela do lugar.