domingo, 27 de junho de 2010

Tragédia atual

A primeira montagem de Antígona, de Sófocles, ocorreu em Atenas, Grécia, em 411 a.C. A mais recente, no Brasil, é RockAntygona, que fui assistir sábado no teatro Leblon.

É uma peça diferente, muito muderna, digamos assim. O recorte do texto - tradução de Millôr Fernandes - é focado no Rei Creonte, interpretado de forma soberba pelo ator Luís Melo (que faz o pai do Chico Xavier no filme de Daniel Filho). Algumas falas do rei:

"Conhecemos o verdadeiro caráter de um homem quando lhe é dado poder".

"No dia em que tiver todo poder de que necessito, aí sim, serei humano".

Vale dizer que o universo que o Rei Creonte habita, na peça, é o mundo corporativo. O cenário é a sala de reuniões de uma grande empresa, com uma longa mesa e o trono: uma cadeira de presidente de empresa. As luzes são sempre baixas e atrás da mesa há uma parede envidraçada coberta de persianas. Ele está sozinho.

Acompanhou-me na peça uma grande amiga que acabou de se desligar do emprego em uma multinacional. Ela me disse:

- Lembrei do meu diretor o tempo inteiro... Estava ficando angustiada...

A peça dura uma hora e termina no tempo certo. No fim, todos morrem e quase sentimos o cheiro da morte. A música é um rock instrumental composto especialmente para o espetáculo pela banda Vulgue Tolstói. Impactante.

O fato é que acordei no dia seguinte com as palavras de Creonte ecoando em meus ouvidos... Elas ecoam nos ouvidos da humanidade desde 411 a.C. Já era hora de termos aprendido algo.

Abaixo, Luís Melo encarnando o Rei Creonte.


quinta-feira, 24 de junho de 2010

Filmes que não cansam

Existem filmes que a gente já viu mil vezes, mas toda vez em que estamos zapeando o controle remoto da TV e batemos os olhos num deles, dá vontade de parar. É um pedacinho legal aqui, uma fala interessante ali, uma seqüência engraçada acolá... Geralmente esses filmes são "abobrinhas" boas de passar o tempo, seu dom é divertir.

Preparei uma lista dos filmes-abobrinha que a gente vê e revê aqui em casa, sem parar. Por mais que reprisem, não cansamos deles. Aí vai:


  • Bridget Jones I e II - Ela é tão boba e tão tonta, mas ao mesmo tempo tão genuína e sincera, que somos cativados por ela.
  • Ghost - Uma linda história de amor com componentes sobrenaturais que fazem sentido.
  • Escola de rock - Esse filme tem a alma do rock!
  • O diabo veste Prada - A piada do mundo corporativo.
  • Um lugar em Notting Hill - Fantasia romântica idiota, mas terminamos com um sorriso no rosto.

E vocês, quais filmes não se cansam de rever? Vou adorar saber.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O mundo

"O mundo é tão bonito que dá uma pena morrer!..."

A frase é da avó do José Saramago e foi repetida por ele em uma entrevista há dois anos, dada ao jornalista Edney Silvestre, que o visitou em sua casa na ilha espanhola de Lanzarote, Canárias. Ao ser inquirido sobre se tinha medo da morte, ele saiu-se com essa: que não tinha medo, mas o mundo é tão bonito...

Fim de semana passado, eu viajei para fora do Rio. Uma pequena cidade na serra. A frase da avó do Saramago ficou ecoando nos meus ouvidos. A subida da serra com os morros cobertos de mata verdíssima. O céu azul pontilhado de nuvens alvas.

Chegando ao meu destino, o ritmo de tudo - externo e interno - diminuiu, se acalmou. Silêncio. Um vento agradável, nem frio nem quente, ora suave ora mais forte, balançava as copas das árvores para lá e para cá, e corria sobre o capim em ondas como franjas de cabelo.

Nessa época do ano, esse mesmo capim dá uma floração rosada, de modo que, em alguns pontos, as montanhas eram cor-de-rosa forte.

À noite, o céu tinha tantas estrelas que a gente se perdia olhando pra ele, imaginando a sua infinitude - e a nossa finitude, conseqüentemente.

"O mundo é tão bonito que dá uma pena morrer!..." Concordo plenamente com a avó do Saramago.

Mas, se Deus quiser, ainda temos muito tempo!


quinta-feira, 17 de junho de 2010

O valor de si

Um dos maiores e mais complexos desafios da vida é ter consciência de seu próprio valor - e acreditar que esse valor é alto.

Muita gente reclama que nada nunca dá certo, que é sempre a última da fila, que ninguém lhe escuta ou dá atenção. Por quê será?

Suspeito que se não acreditamos que merecemos que as coisas dêem certo para nós, que temos capacidade para galgar o primeiro lugar na fila, que somos merecedores de escuta e atenção nada acontece.

Para alguns é mais fácil acreditar no próprio valor. Principalmente os que foram amados na infância, e assim tiveram o caminho bem calçado. Mas os que não foram amados o suficiente vão tropeçar nos buracos... E terão que ir, eles mesmos, preenchendo as faltas, corrigindo as falhas, ao longo da estrada.


domingo, 13 de junho de 2010

Agradecer

Todos nós passamos por épocas de privação, mais ou menos severas, e normalmente isso está relacionado às perdas e às faltas.

Aprendi com a vida que um antídoto contra a revolta e a autopiedade que costumam de acercar de nós em ocasiões como essas é agradecer pelas coisas que já temos. Pequenas coisas do dia a dia às quais não damos muita atenção justamente por estarem ali, à mão, mas quando somem de repente fazem uma falta danada! Querem ver?

Obrigada pelas pernas e pés que me permitem andar, avançar, ganhar o mundo.

Obrigada pelos olhos que me permitem enxergar a beleza do céu azul, o verde das árvores, o azul do mar.

Obrigada pelas mãos que me permitem agarrar e fazer coisas e, principalmente, trabalhar.

Obrigada pela comida no prato a minha frente (vem daí o hábito antigo das famílias rezarem antes de comer).

Obrigada pelas roupas que aquecem o meu corpo.

Obrigada pela cama onde durmo, pela minha casa, que abriga a mim e a minha família.

E por aí vai.

E quando até essas coisas mais básicas estiverem ameaçadas, a saída é seguir a cartilha dos Alcoólicos Anônimos: um dia de cada vez. Se temos casa, comida, abrigo HOJE, já dá para agradecer.

Isso dá uma força enorme, uma alegria de viver e continuar. Vale experimentar antes mesmo de passar por alguma perda ou falta, para prevenir!


quinta-feira, 10 de junho de 2010

Viver as histórias

Uma amiga solteira há bastante tempo me confidencia que vai viajar à Europa para encontrar um homem.

- Que maravilha! - digo.

- Mas ele é casado.

- Ahh...

- Não importa. É só uma semana. Ele vai arranjar uma desculpa e vamos viajar pelo país. Só.

Fiquei pensando e consegui enxergar a situação através dos olhos dela. Eles se conheceram num congresso. Ficaram juntos. Ele a convidou para ir ao seu país, que ela não conhece. Uma semana de diversão. Ninguém vai separar de ninguém, só diversão. Entendi.

Essa é uma possibilidade de levar a vida quando não se está casado ou namorando: viver as histórias que surgem, extrair o melhor delas, permitir-se ser levado com a onda até o fim, até essa onda quebrar na praia - às vezes suavemente, às vezes com estrondo. Mas viver.

A outra possibilidade é manter-se firme no lugar, sem arredar muito o pé, observando e esperando que algo que realmente valha a pena apareça.

Sei lá, tenho visto as duas experiências e concluo: melhor é viver. Há o risco de sofrer, se chamuscar, se decepcionar... Mas também de acertar e ser feliz. Isso, pra mim, é viver.

E vocês, o que acham?


sábado, 5 de junho de 2010

Fazer nada

Quem consegue fazer nada? Como é fazer nada?

Eu respondo: neste sábado, meio de feriado, o Rio de Janeiro amanheceu varrido por um vento forte e gelado. O céu mesclava tons de cinza, do quase branco ao chumbo. Não tinha praia, não tinha lugar para passear, não tinha compromissos com a família, nem com mais ninguém. Na casa silenciosa só so ouvia os acordes distantes de um piano na vizinhança. O telefone, por milagre, não tocou uma só vez.

Num momento como esse, fazer nada significa tomar café com calma, ler os jornais inteiros - detendo-se naquelas notícias que a gente acha interessantes e deixa para ler depois, mas esquece -, depois voltar para a cama e... dormir de novo.

Acordar duas horas depois, assistir um filme antigo na TV, comer alguma coisa e permitir-se um doce de presente.

E, de noite, bolar uma programação bem engraçada, porque ninguém é de ferro.

Para vocês, o que significa fazer nada? Conseguem? Quando? Onde? Com que freqüência?

Abaixo, nada...