domingo, 26 de junho de 2016

Rock in Rio do forró

O Parque do Povo, em Campina Grande, deve ter área equivalente a umas três ou quatro vezes o Pavilhão de São Cristóvão. A entrada é franca, mas tem revista severa com detector de metais e olhar dentro das bolsas.

Entramos por corredores repletos de restaurantes e recantos cenográficos que remetem ao Nordeste de antigamente – que eu conheci. Lojas de roupas e suvenires, 'ilhas de forró' – palcos com bandas tocando e gente dançando. Mais adiante uma tenda gigantesca com teto coberto de bandeirolas coloridas e grandes gravuras dos santos: São Pedro, Santo Antonio e São João. Grupos de jovens vestidos com ricas roupagens, bordadas de pedrarias, se organizam para dançar diante de arquibancadas repletas de gente. É uma festa familiar, famílias inteiras com avós e crianças. A quadrilha que eu imaginava, anarriê, olha a cobra etc, cadê?


Seguimos em meio a quiosques vários, servindo todo tipo de comidas típicas ou não. Um dos quiosques tem música eletrônica e um barman de turbante, e os jovens se aglomeram em volta. Adiante adentramos uma mistura de Praça da Apoteose e quadra de escola de samba, área imensa cercada de camarotes. Todos os dias, durante o mês de julho, tem shows. Durante a semana acontecem mais cedo, na happy hour. Na programação, constam Wesley Safadão, Padre Fábio de Melo, outros nomes que nunca ouvi falar, mas que o povo ama e canta junto todas as letras.

À meia noite conseguem uma pulseirinha para o camarote vip e, de repente, estou junto do palco assistindo Luan Estilizado, seja lá o que isso queira dizer, que ganhou ou foi finalista do The Voice Brasil. O show é longuíssimo, a 'praça da apoteose' está lotada, os camarotes – inclusive aquele em que estou – também. Fumaça de gelo seco, explosões de fogos que me assustam e – fiquei pasma, pois, nunca tinha visto – drones que voam sobre a multidão e param em frente ao palco, filmando tudo.

Abaixo, foto tirada por mim no palco, junto de Luan Estilizado. Anarriê!

terça-feira, 21 de junho de 2016

Paraíba 30 anos depois

Fui à Paraíba no final da década de 80, ainda na faculdade. Eu era muito jovem e pensava que o Brasil era todo igual ao Rio de Janeiro. Fiquei chocada, achando tudo muito ‘atrasado’. Em plena capital, João Pessoa – a pessoa que me hospedou morava em uma rua paralela à orla, pertinho do hotel Tambaú –, o leite era vendido em latões no lombo de burricos. Uma ida à padaria e não havia nada além de grandes broas de milho. Nada de doces ou pães confeitados como eu estava acostumada.

Regressei em junho de 2016, animada com a possibilidade de um São João típico – barraquinhas, chão de terra batida, quadrilha – e me deparo com uma espécie de rock in rio do forró. Tudo mudou na Paraíba - para melhor. Dizem que foi o governo do PT. Dizem que fez muito bem ao Nordeste, mas que se esqueceram de dar instrumentos ao povo para trabalhar, produzir, e assim aproveitar o impulso que foi dado para incrementar a riqueza e a prosperidade. Ficaram viciados no Bolsa Família, que nesta região do país, tem valor mais alto que nas demais.

Outra questão é que as cidades cresceram, se desenvolveram, mas tampouco houve uma atenção para a gestão das águas, que devido ao clima semi árido do Nordeste, sempre foram escassas. A situação é periclitante em algumas cidades, onde se diz que a água simplesmente acabou.

- Agora estão esperando as chuvas, e se não vierem, não sabemos como vai ser. Deus há de ajudar - foi o que ouvi.

Em Campina Grande, cidade igual ou maior que João Pessoa, o açude está perto de se esgotar. Fui preparar um chá na casa onde fiquei hospedada e a anfitriã:

- Faça com água do filtro.

- No Rio, uso água da bica.

- Mas aqui não. Nosso açude está com muito pouca água e a que resta está poluída.

Explicou que usam a primeira água da lavadora para lavar chão, banheiros, etc. A segunda água é usada para regar plantas.

- Nossa última chance – e ela frisa a palavra ‘última’ – é a transposição do Rio São Francisco. Está prometido para esse ano, segundo semestre de 2016.

Me assusto e me admiro, pois, ao contrário da Bahia, onde quase toda casa em área rural tem uma cisterna para captação de água da chuva, na Paraíba não há. Anda chovendo em João Pessoa e Campina, mas não há cisternas.

Abaixo, eu e minha anfitriã, a escritora paraibana Marília Arnaud - autora do magnífico romance "Suíte de silêncios" (Rocco) e da apresentação do livro "A Pausa do Tempo", com os melhores textos do blog.