sábado, 16 de novembro de 2013

Preferências sexuais e a estética berlinense

Todas as preferências sexuais se encontram em Berlim. E tudo é normal. Diferente de outros lugares, até mesmo o Rio de Janeiro, eleito melhor destino gay por um site turismo estrangeiro. Aqui ainda é comum casais homossexuais andarem de mãos dadas, mas vigiando os arredores com os rabos dos olhos, à espreita da reação dos outros. Ou então, exagerar nas atitudes como uma forma de autoafirmação ou provocação. Em Berlim, isso simplesmente não existe. É tudo normal mesmo.

E tem para todos os gostos. Um rápido passeio pelos sites berlinenses sobre vida noturna revela estabelecimentos onde é possível vivenciar e compartilhar todo tipo de fantasia sexual. Sadomasoquismo é fichinha. Fiquei sabendo de uma tal boate onde, em um subsolo, uma vez por semana, acontece... ‘A noite do cocô’. Já pensou?

Meus passeios em Berlim foram mais diurnos, mas houve uma noite em que saí com a Nina e o Marcos, meus companheiros de apê. Ela nos levou a um bar/boate chamado ‘Chocolate’ onde haveria uma noite gay.

O bar fica no andar térreo de um prédio abandonado, invadido e pichado. ‘Essa é a estética berlinense: tudo meio destruído, mas transado’, explicou o Marcos. E tem mais: os lugares mais bacanas são sempre escondidos. Um turista sem amigos morando em Berlim não passará dos locais apontados nos guias de viagem. Se a Nina não tivesse estado lá antes, levada por outro amigo, não desconfiaríamos que aquela ruína abrigava um lugar tão legal quanto o ‘Chocolate’.

O público lá dentro nem era tão gay. Decoração maneiríssima e um DJ tocando somente vinil; um pé nos anos 80, mas nada óbvio. Finalmente chegou um casal gay com seu cachorrinho, um poodle preto que percorreu toda a boate, nem um pingo de xixi, muito educado. O casal sentou-se ao nosso lado, pediu vários gim tônica e fumou vários baseados de haxixe com tabaco. Acabamos batendo um papinho por causa do cachorro, que nos fez várias festas e, quando casou da música alta e do cigarro (sim, na Europa ainda se fuma intensamente dentro dos lugares), acomodou-se no chão sobre o casaco de um de seus donos e foi dormir.

Abaixo, a porta do nosso apê em Frankfurter Tor, bem no clima da estética berlinense.

sábado, 2 de novembro de 2013

Perder-se em Berlim

Berlim não é para fracos ou iniciantes. Todas as palavras não tem menos de 15 letras. A sinalização de informações não é clara, mas os alemães acham que é. Tudo é tão certo que, quando algo sai do normal, eles não sabem como resolver. Vou dar um exemplo:

No último dia em Frankfurt, planejamos conhecer Mainz, cidade medieval onde viveu Gutenberg, inventor da prensa de tipos móveis. Para evitar imprevistos, fomos à estação de trens na noite anterior e compramos nossos bilhetes: 15 euros cada. No dia seguinte, chegamos cedo à estação e fomos ao balcão de informações. Deu-se, então, o seguinte diálogo:

- Os trens para Mainz foram interrompidos e só voltarão a circular após as 15h - disse a mulher com cara amarrada em inglês tonitruante.

- Por que?

- Uma pessoa se atirou nos trilhos.

- Podemos reaver o dinheiro dos bilhetes?

- Não, pois o acidente não é culpa da ferrovia.

- Nem nossa tampouco.

- Próximo!

Para resumir, fomos orientadas por outro funcionário a pegar um trem até o meio do caminho, pois um ônibus viria buscar as pessoas na estação e levá-las a Mainz. Como na Alemanha é tudo tão certinho, nos entreolhamos e decidimos: "Vamos!"

Chegando ao destino, nós e a torcida do Flamengo, Vasco e Botafogo, ficamos parados ao relento, um vento gelado, esperando 1 hora pelo ônibus... que não veio.

Esse foi apenas um dos imprevistos durante a minha viagem a Alemanha. Houve vários. Desde alguns muito simples, como pedir uma taça de white wine e receber uma taça de red wine, até embarcar no trem errado na partida de Berlim para Praga.

Sobre o vinho, resolvi ficar quieta, pois reclamar seria tão complicado, e além do mais os alemães são bravos! Sobre o trem, desci na estação seguinte, desarvorada, e se não fosse uma alma boa que falava inglês ter me dito que o trem correto chegaria em em 5 minutos naquela mesma plataforma, eu teria desabado em prantos! Porque não havia absolutamente nada nem ninguém com quem eu pudesse me informar.

Apesar de tudo, se eu voltaria a Berlim? Sim. Cidade interessantíssima. Pesada, escura, difícil, talvez por isso estranhamente atraente. A História pulula em toda parte. Edifícios ainda tem marcas de tiros. Ouve-se vozes, enxerga-se imagens e fantasmas de tudo e todos que já passaram por ali.

Mas confesso que, quando cheguei a Praga, respirei aliviada.

(Abaixo, foto que fez sucesso no facebook: o Portão de Brandenburgo ao entardecer, com show de luzes).