sábado, 14 de novembro de 2015

Fascista no amor

Diz Marcia Tiburi em seu excelente e oportuno livro Como conversar com um fascista (Ed. Record), que nos dá informação e argumentos para nos defendermos do ódio, da burrice e da pobreza intelectual e de espírito que rondam por aí:

“O que chamo de fascista é um tipo (...) bastante comum. (...) O empobrecimento do qual ele é portador se deu pela perda da dimensão do diálogo. O diálogo se torna impossível quando se perde a dimensão do outro. O fascista não consegue se relacionar com outras dimensões que ultrapassem as verdades absolutas nas quais ele firmou seu modo de ser.”

A livro se refere principalmente à esfera da política, mas não pude deixar de pensar no quanto somos fascistas em outras áreas da vida, especialmente... no amor.

As relações afetivas estão se tornando cada vez mais difíceis de se manter, cada vez mais voláteis. Desconfio que amar de verdade saiu de moda, ninguém mais se importa com isso, desde que se possa ‘ficar’ indefinidamente e assim ir preenchendo com vários personagens um lugar que nossos pais e avós preencheram com seus cônjugues.

Amar está fora de moda porque exige o esforço do diálogo – e aí entra a reflexão de Marcia Tiburi sobre o fascismo. Quando o relacionamento fica difícil, quando algo desagrada uma das partes, basta terminar e trocar. Para isso servem aplicativos como o Tinder e o Happen – cardápios de pessoas.

O diálogo entre o casal, seja ele homo ou hetero, requer paciência, persistência, enxergar e aceitar no outro aquilo que difere de nós. E nem sempre se chega logo a uma conclusão, podem ser necessárias várias rodadas de diálogos, leva tempo!

Assim é a democracia: lenta, mas uma construção verdadeira e legítima, através da qual se chega a um lugar diferente e melhor, onde todos os lados são levados em consideração, e onde se pressupõe que, após deixar nossas ‘verdades’ de lado, se conquista um consenso comum.

O livro da Marcia Tiburi serviu como um alerta para ter cuidado com a fascista que existe em mim, a Valéria impaciente, inflexível e que deseja sempre ‘ter razão’. Como diz Ferreira Gullar: “Não quero ter razão. Quero ser feliz”.