domingo, 27 de abril de 2008

Eu confesso: leio auto-ajuda

De vez em quando. Quando a vida faz cair em minhas mãos o livro certo na hora certa.

Assim foi com Co-dependência nunca mais – Pare de controlar os outros e cuide de você mesmo, de Melody Beattie (Ed. Nova Era), que li em outubro do ano passado, logo após terminar um namoro com uma pessoa que tinha muitas qualidades maravilhosas, mas também era dependente de álcool. Uma amiga experiente, 65 anos, que viveu questão semelhante, apontou esse livro numa estante durante a Bienal do Rio e disse: "Ainda não leu? Esse livro mudou minha vida!"

Fui atrás de um exemplar e descobri, entre horrorizada e fascinada, que pelo fato de minha infância ter sido marcada por problema semalhante – minha mãe era dependente química –, sou "viciada" em tentar recuperar pessoas com qualquer tipo de dependência. Ou seja, esse namoro nunca poderia ter dado certo!

Agora, após essa gripe interminável, vi abandonado em uma estante no trabalho um exemplar de Você pode curar sua vida (Ed. BestSeller), de Louise L. Hay (http://www.louisehay.com/). O livro é uma versão ampliada do best seller Cure seu corpo, que vendeu milhões de exemplares em todo o mundo.

Comecei a ler e não parei mais. Por exemplo, a tosse que me perseguiu e que me assombra até hoje, segundo Louise, significa mudança. "Toda vez que tussir, toque a parte da frente do pescoço e diga a si mesmo: estou disposto a mudar, que venha a mudança".

Dores diversas, especialmente dor de cabeça, são reflexos da raiva guardada. A depressão também é raiva reprimida. Então, quando surgir qualquer traço desse baixo astral, pergunte a si mesmo de quem está sentindo raiva e por que. O próximo passo é perdoar e soltar essa pessoa – "Eu te perdôo e te solto".

Louise diz que devemos começar perdoando nossos pais. Não adianta reclamarmos que somos frutos de todos os problemas que nos inflingiram na infância. Porque eles, por sua vez, são frutos de suas infâncias e assim por diante. Então, é preciso perdoá-los, para depois nos perdoar também.

Um dos exercícios mais impactantes do livro é o capítulo onde ela propõe que nos visualizemos criança pequena, chorando, assustada. Devemos acolher essa criança, colocá-la no colo, dar carinho, aquietar, e depois observá-la ir diminuindo de tamanho até ficar pequenininha, e assim colocá-la dentro do nosso coração de um jeito que possamos enxergá-la lá, guardada em nosso peito. Depois, devemos fazer o mesmo com nossa mãe e nosso pai: vizualizá-los um de cada vez, pequeninos e assustados, etc. Ufa! É dolorido mas faz um bem!...




quarta-feira, 23 de abril de 2008

Rio Cidade Maravilhosa, de Terry Richardson

A foto da jovem modelo Yasmin Brunet, filha de Luiza Brunet, pelada, com os seios aumentados, dando a entender que já receberam silicone, piercing no mamilo, baixando a calcinha e exibindo o sexo ganharam as páginas das revistas de fofocas assim que foi publicado, em dezembro de 2007, o livro Rio Cidade Maravilhosa (R$ 195,00), do fotógrafo norte-americano Terry Richardson (http://www.terryrichardson.com/Start.html), patrocinado pela grife Diesel. Todo mundo viu e comentou – até eu, mas depois esqueci.

Numa das minhas recentes viagens a SP, fui visitar a nova loja da Livraria da Vila, em Lorena, e logo na entrada, havia um exemplar. Comecei a folhear distraidamente e levei um choque! Não que as inusitadas imagens tenham me chocado no mau sentido, mas despertaram meu riso, o tesão e uma espécie de orgulho por ver tão bem retratado um lado tão particular, genuíno e divertido da cidade onde moro desde que nasci: o Rio de Janeiro é a cidade mais hedonista das Américas e quiçá do mundo!








Terry foi à favela da Rocinha e fotografou uma moça da comunidade com os seios de fora segurando uma metralhadora em cada mão. Fotografou mmuuuiiitttooos meninos bonitos com os paus à mostra, eretos e em repouso, várias cores, formas e tamanhos. Foi a uma boate gay, tirou a roupa e confraternizou-se com os dançarinos, todo mundo rindo e dançando abraçado. Deu beijo na boca da Dercy Gonçalves, fotografou Camila Pintanga, Taís Araújo, Maria Paula (divertidíssima, com garfos sobre os olhos, fazendo careta), Adriane Galisteu e Daniele Winits, Cauã Raymond (sozinho e com uma família que provavelmente foi pedir autógrafo). E uma seqüência impressionante de fotos de Alexandre Frota todo tatuado, nu, atuando em mais uma produção pornô com sua colega de estúdio, Regininha Poltergeist.

O mais legal é que toda essa sacanagem foi captada com humor. Não é pesado, é engraçado, sensual, divertido! Exatamente como é o clima hedonista do Rio de Janeiro. Veja o trailer do livro: http://www.youtube.com/watch?v=8JSV-rjfDnc&NR=1 ou procure nas livrarias. Vale uma folheada!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Bailinho

Sei que os lugares bons a gente deve divulgar à boca pequena para não estragar, não encher demais, não ficar inviável. Mas como também sei que poucos dentre meus bons amigos acompanham meu blog, vou contar sobre um lugar em que fui ontem e que foi delicioso!
Chama-se Bailinho (http://blog-do-bailinho.blogspot.com/search/label/Release); é uma festa que começou em setembro de 2007 no novo Mistura Fina (em cima do Barril 1800), mas mudou-se para o 69 (Rua Farme de Amoedo, 50). Acontece aos domingos, a partir das 19h, mas só começa a bombar lá pelas 21h30. Parece seguro, visto que todos temos que acordar no dia seguinte para trabalhar. Mas a amiga que me deu a dica, habitué, disse que nunca consegue sair antes das 2h30. A semana começa torta, mas, segundo ela, vale a pena!
Já que hoje era feriado, resolvi conferir. Eu e a torcida do Flamengo, do Vasco e do Botafogo! Cheguei lá às onze e havia duas filas na porta, uma de gente comum, onde eu estava, e outra de "Amigos". Após alguma espera e muita argumentação com os seguranças e a doorwoman, adentrei o o Bailinho e... me diverti mmmmuuuiiittttoooo!!!!
O Dj residente é o ator Rodrigo Penna, mas ontem quem comandava as carrapetas era o Dj convidado Nado Leal, um cara que misturava ousadamente Tell me more (trilha sonora de Grease) com Chico Buarque (Todo dia ela faz tudo sempre igual...) com Don´t you want me babe? Don´t you want me now? (Human League) com forró e por aí vai.
A freqüência é misturadíssa, faixa etária predominantemente acima dos 30, levemente GLS, com mais moças gays do que rapazes, celebridades – estavam lá os atores Mariana Ximenes e Guilherme Weber, o cineasta Felipe Lacerda, o diretor de teatro Felipe Hirsch –, tudo na maior naturalidade, ninguém ligando ou olhando. O principal é que o astral é altíssimo! Todo mundo bebendo, dançando, rindo, paquerando descontraidamente.
No banheiro feminino, adesivos no espelho dão o tom da noite: não pensa, beija logo! Muita gente, a maioria, eu diria, segue o conselho. Como confidenciou a amiga que me introduziu no Bailinho: "Lá é um lugar onde as coisas acontecem..."
É um programa um pouco caro: R$ 30 para entrar e R$ 6 cada cerveja lá dentro – eles só servem Devassa. Mas vale o investimento... na diversão!
Dormi pouquíssimo, pois fui me deitar às 4h e levantei às 10h, mas acordei cheia de gás. Hoje é o primeiro dia em que posso dizer: a doença acabou. Passou!
Esse Bailinho faz milagres...

sábado, 19 de abril de 2008

A vida no palco

Esta semana, estou finalizando um período de um mês de gripe acompanhada de tosse. Foram diversos tipos de tosse: seca, com catarro, ataques de tosse que me faziam quase vomitar e que não me deixavam dormir. Barra pesada. O curioso é que eu estava bem antes disso começar. Animada, alegre, otimista...
A gripe começou na Sexta-feira Santa (21 de março) e eu me mantive firme nas duas semanas seguintes, já doente, mas trabalhando, mantendo o bom humor. Porém, com o desenvolvimento da doença, as forças vão sendo drenadas. E não há como a moral não ser afetadada. Eu me observei perdendo a alegria, o ânimo, tornando-me frágil e medrosa. Surgiram diversos tipos de medo: medo de fantasma à noite (tenho desde criança, de tempos em tempos reaparece), medo de que algo de ruim aconteça a meus filhos, medo de morrer.
A coisa foi piorando até a semana passada, quando teve início a estranha sensação de me sentir mal dentro do meu próprio corpo. A pele queimava ou me apertava. Estaria eu crescendo e meus limites já não me comportavam mais?
Lembrei-me de um conto sufi em que o protagonista atravessa uma ponte e houve um chamado. É um peixe que, dentro d´água, pede que o ajudem porque está engasgado com um diamante. Eu era esse peixe. Pensei: se estou engasgada com um diamante, quando conseguir me desvencilhar dele, terei uma jóia em minhas mãos.
Dei tratos à bola, resolvi descobrir o que me estava engasgando, e que eu queria botar para fora, por isso tossia tanto!... Cheguei lá.
No dia 2 de março, domingo, duas semanas antes de cair doente, fui assistir Gota D´Água, remontagem do musical de Chico Buarque (atualmente em cartaz no Teatro Carlos Gomes). A peça escrita em 1975 é baseada na tragédia grega Medéia, de Eurípedes – e todos sabemos a força arquetípica que os mitos gregos encerram.
Hoje, o contexto político da peça diminuiu de importância, e sobressai o retrato pra lá de amargo da separação de um casal que tem dois filhos. Na loucura e ódio de Joana (Medéia) reconheci minha mãe. Na ausência e omissão de Jasão, reconheci meu pai. Na solidão e abandono das crianças, revi a mim mesma, aos 5 anos, idade que eu tinha quando meus pais se separaram.
Saí do teatro muito abalada, mas enxuguei as lágrimas e segui em frente. A vida continua. Mas, para meu bem, ela me fez parar. Tem certas coisas da infância que a gente precisa rever, lançar luz e, para isso, nada melhor do que o palco de um teatro.
Nessa última semana de gripe, eu fui buscar a Valéria de 5 anos no apartamento lá no Leme, onde ela vivia abandonada e com medo. Eu abri as janelas, quebrei as paredes e o teto, para entrar ar e luz. Eu a peguei no colo, trouxe para casa, dei banho, alimentei e a pus para dormir.
Tudo vai ficar bem agora.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

O olhar de um homem

O olhar de um homem aquece e queima. O olhar molhado, angustiado de um homem que deseja uma mulher me lembra o olhar de um cão que meu pai teve, um dinamarquês enorme e preto, que de vez em quando sumia de casa e passava dias distante. Eu perguntava à empregada e ela dizia, a cadela do vizinho está no cio, então, ele fica lá, do lado de fora do portão, dias a fio, esperando, esperando. Não volta pra casa, não come, não dorme. De fato, após uma semana o cão voltava magro, machucado pelas brigas com os concorrentes, e seu olhar era triste, molhado, sem consolo.
Outro dia, numa festa, tarde da noite, eu fui olhada por um homem que era mais jovem, não era bonito, nem estava bem vestido, mas seu olhar me aquecia e quase queimava. Eu estava rodeada de amigos, sem brecha pra ele se aproximar, e acho que não queria mesmo que se aproximasse. Mas ele me olhava, olhava. Certa hora, eu estava sentada, pernas cruzadas, mexendo distraidamente na fivela do sapato, e vi que ele olhava a minha mão. Então, ele levantou os olhos e nossos olhares se encontraram e eu fui queimada de leve, de raspão, mas foi bom, não doeu, não.
Vi esse homem uma única vez, é provável que nunca mais o veja, pois eu estava de passagem na cidade em que ele mora, mas não esqueço seu rosto, está claro e vívido na minha mente. Eu o evoco na hora em que quero para me sentir aquecida por aquele olhar urgente, molhado. Olhar que aquece e queima.

sábado, 12 de abril de 2008

A emancipação de uma mulher, ainda que tardia

Maggie é uma viúva cinquentona. Seu único neto, com cerca de 7 anos, está doente e vai morrer. A esperança é um novo tratamento desenvolvido na Austrália. Problema: a família mora em Londres.

A fim de conseguir dinheiro para a viagem, a avó vai à luta. Mas os bancos não querem emprestar, ninguém lhe dá trabalho. Afinal, ela é velha e não tem experiência.

Caminhando a esmo, vê uma placa: "Procura-se atendente. Ganhos excelentes". Maggie consegue o emprego. Sua tarefa: instalada em uma pequena sala num clube privê, masturba homens que lhe oferecem o pau através de um buraco na parede. Ela fica do outro lado; não os vê, só os toca. Suas mãos são excepcionalmente macias; logo as filas são enormes e ela ganha 600 libras por semana.



Assim começa o filme Irina Palm, em cartaz nos cinemas. É um drama inglês, com roteiro enxuto, direção sóbria, maravilhosamente interpretado pela cantora e atriz britânica Marianne Faithfull – que foi namorada de Mick Jagger, viciada em heroína, moradora de rua, teve câncer no seio e é portadora de hepatite C. Por esse papel, foi indicada ao prêmio de melhor atriz da Academia Européia de Cinema, mas perdeu para Helen Mirren, A rainha.

O enredo original serve, na verdade, para mostrar o processo de emancipação da personagem, uma mulher que descobre seu valor e seu lugar no mundo às portas dos 60 anos.

Aceitar o emprego traz uma série de desdobramentos que a obrigam a se posicionar, escolher, assumir as consequências. Ela mostra a face ao mundo, e vêm muitas bofetadas. A recompensa: a liberdade.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=lOooLNJj_R8&feature=related

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Filmes sobre relacionamento – 3º parte

Descobri que Lady Chatterley ainda não está disponível em DVD nacional, assim como o filme que vou comentar agora, Becoming Jane. A solução, então, é baixar da internet (um amigo baixa tudo, não aluga mais) ou buscar nas locadoras na área de estrangeiros. A locadora na qual aluguei os dois é a Animatrix (21-2294-9183), que tem uma ampla sessão "Área 1" (como chamam os estrangeiros).

O filme estrelado por Anne Hathaway (O diabo vestre Prada) e James McAvoy (O último rei da Escócia, Desejo e reparação) narra a história de amor entre a escritora inglesa Jane Austen e um jovem e impetuoso advogado na Inglaterra no século XIX. Apesar de ser ser vendido como comédia, o filme é na verdade um drama que mostra como a questão do dinheiro e a necessidade de conseguir um bom casamento influenciaram a vida da própria Jane, que posteriormente as reproduziu em seus livros.



Apesar de – e talvez justamente por isso – ser mais inteligente e articulada que suas irmãs, Jane Austen está começando a passar da idade de casar quando o jovem advogado Thomas Lefroy vai passar uma temporada na localidade interiorana onde ela vive. No início, a implicância é mútua, mas logo se transforma em amor. O problema é que Lefroy vem de uma família muito pobre e vive em completa dependência de um tio rico, Juíz em Londres, que o abriga e paga seus estudos. O velho não concorda com a união dos dois e o desfecho a partir daí tem tantas reviravoltas quanto a própria vida real.



Não vou contar o final, para não estragar o prazer de assisitr a essa belíssima produção inglesa. Mas sugiro que reflitam sobre a decisão de Jane, nos últimos minutos do filme, que determina todo o seu destino.

Vejam o trailer: http://video.movies.go.com/becomingjane/

domingo, 6 de abril de 2008

Filmes sobre relacionamento – 2º parte

Em novembro passado, numa mesa de jantar muito especial durante o Fórum das Letras de Ouro Preto (novembro 2007), em companhia de Suzana Vargas, dona da Estação das Letras, e dos escritores Sergio Sant´Anna, Cristovão Tezza e Marçal Aquino, ouvi deste último o seguinte comentário: "a verdade é que o melhor tema para se escrever é o relacionamento entre homem e mulher. Esse tema é atemporal e interessa a todo mundo". Fiquei surpresa, porque Marçal é mais conhecido como roteirista de filmes policiais como O invasor e Os matadores.

No dia seguinte a esse encontro, comprei seu romance mais recente, que está sendo transformado em filme, Eu ouviria as piores notícias dos seus lindos lábios (Companhia das Letras, 2005). Depois de ler percebi que, de fato, embora haja um contexto de suspense e violência característico da obra de Marçal, a trama principal é o romance pra lá de conturbado entre o fotógrafo Cauby e a misteriosa Lavínia.

Conturbada também é a relação da comerciante suíça Carola com o guerreiro Massai Lemalian em A Massai branca. O filme é baseado no best seller da autora suíça Corine Hofmann, lançado pela Ediouro no ano passado. Detalhe importante: ela é autora e protagonista da história, pois a narrativa é baseada em fatos reais.


Carola viaja pela África com seu namorado e está tudo bem entre eles. Ao atravessar um rio no Quênia, em uma balsa, ela vislumbra um guerreiro da tribo Massai. É amor à primeira vista. Carola termina com o namorado, que volta para a Europa sozinho. Vai em busca de seu amado, que mora no interior do país numa aldeia onde as habitações são de pau-a-pique, a água consumida vem de cacimbas cavadas na terra e a fonte de subsistência é a criação de cabras.

A história toda dura 5 anos. Ela vende sua loja na Suíça e monta outra perto da aldeia. Casa-se de véu e grinalda no meio das cabras. Fica grávida e dá à luz uma menina. Mas vocês pensam que é tudo lindo e romântico?

O romance entre os dois é maravilhoso, mas muuuiiitttooo difícil. As diferenças são abismos a ser transpostos. E eles vão cruzando-os, um após o outro. A beleza desses encontros, após cada dificuldade ser vencida, é emocionante. No fim, Carola volta para a Suíça, onde vive até hoje com sua filha.

Acredito que muita gente vai assistir ao filme e dizer: "que maluquice! É claro que não daria certo!" Mas... quem pode julgar? Carola ou Corine viveu, talvez, os 5 anos mais intensos de toda sua vida. Ainda escreveu um livro que vendeu milhares de exemplares e colaborou no roteiro do filme. Quem pode dizer que não deu certo? Deu sim... enquanto durou.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Filmes sobre relacionamento – 1º parte

Pensei em dar a essa postagem o título Filmes românticos, mas deixei de lado porque a palavra "românticos" geralmente é associada a histórias água-com-açúcar ou com o final ...e viveram felizes para sempre, ou seja, algo antiquado. Hoje todo mundo sabe (espero) que quando um casal finalmente decide ficar junto, aí é que surgem os maiores desafios.

Tive o prazer de assistir, recentemente, a três filmes disponíveis em DVD, todos muito românticos no sentido real e fiel dessa palavra, ou seja, sobre o relacionamento homem-mulher com todas as dificuldades, percalços e desafios que isso engloba. São eles Lady Chatterley, de Pascale Ferran (França, 2006), A Massai branca, de Hermine Huntgeburth (Suíça, 2005) e Becoming Jane, de Julian Jarrold (Reino Unido, 2007).



O primeiro narra a bem conhecida história da esposa de um rico dono de minas de carvão, ferido de guerra e deficiente, que se apaixona pelo capataz da propriedade aonde moram. O livro foi lançado em quatro versões diferentes a partir de 1928, pois o autor, o escritor inglês D.H. Lawrence, foi obrigado a alterar os originais diversas vezes, a fim de viabilizar sua publicação: as ousadas descrições de cenas de sexo e o fato de os amantes pertencerem a classes sociais díspares foram motivo de escândalo na época.

A versão francesa do romance inglês prima pela delicadeza e sutileza sem tirar – pelo contrário! – o grande apelo erótico da trama. Trata-se de um filme de lindas imagens, poucos diálogos, contado do ponto de vista feminino. Vemos Lady Chatterley se insinuar ao capataz sem vulgaridade, pelo prazer da aventura e por ser uma mulher jovem, viva, que gosta de sexo. Ele, a princípio um bruto, vai suavizando seus modos, preocupando-se cada vez mais com lhe dar prazer. Ela não atinge o orgasmo no primeiro, nem no segundo encontro, mas sim numa ocasião em que a posição lhe é mais favorável, e isso abre mais uma porta para a interação e cumplicidade do casal.

As duas cenas clássicas do romance – ela tira a roupa e corre nua na chuva, ele a segue; e depois, em frente à lareira, quando ele cobre o corpo da amada com flores nos cabelo, seios e púbis – são de um realismo ao mesmo tempo tocante e erorizante.

O melhor é que nada de mau lhes acontece, eles não são descobertos, nem punidos por transgredirem as regras. Toda a emoção do filme consiste em acompanhar, na posição de voyeurs, se e como os amantes ficarão juntos. Nós torcemos, mas as dificuldades são muitas! E a história termina deixando-nos no ar, sem saber o que vai acontecer.

Exatamente como na vida real, numa época em que os relacionamentos, cada vez mais, ao invés de terminarem com ...e viveram felizes para sempre, começam com e que seja infinito enquanto dure.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Vinho, cigarros e... baseados

Está em cartaz no Teatro Oficina (http://www.teatroficina.com.br/events/24), em comemoração aos seus 50 anos de atividades, a peça Vento forte para um papagaio subir, que inaugurou o Oficina em 1958. Outras duas curiosidades sobre o espetáculo (entre muitas) são que se trata da primeira peça teatral escrita por José Celso Martinez Corrêa e que o primeiro ator a interpretar o protagonista, o jovem poeta João Ignácio, foi José Serra, atual governador do Estado de São Paulo (!!!).
No domingo à noite, fui assistir à peça em companhia de quatro amigos, dois dos quais nunca haviam ido ao teatro. Tomei o cuidado de avisar: "esse não é um espetáculo convencional, tudo pode acontecer..." De fato, as luzes se apagaram e começou a aventura!
Lucas Weglinsky – o novo João Ignácio – é um ator excepcional. Carisma, olhar brilhante, totalmente entregue ao personagem. Passa o tempo todo elameado, pois um tempestade atingiu a pequena cidade do interior paulista onde ele mora e esse é o mote para que decida romper com o futuro medíocre que o aguarda, e planeje ganhar o mundo.
Logo no início, ele conta como escreveu a primeira poesia para uma tal Dona Feliciana. Nesse momento nossos olhares se cruzam, ele caminha na minha direção e tchanam: sou Dona Feliciana! (Ui!...) Zé Celso se aproxima – ele fica o tempo todo em cena, mas não é personagem e sim uma espécie de demiurgo orientando sua criação– e ordena: "luzes na Dona Feliciana!" Vem um foco de luz sobre mim, um rapaz me aponta uma câmera, meu rosto aparece num telão, não tenho coragem de olhar. João Ignácio começa a ler o poema que dedicou a Dona Feliciana e permaneço impávida... No final, palmas! e o foco de luz sai de mim. (Confesso que depois fiquei com saudades...)
A peça evolui. Fulano de tal, dono da livraria da cidade, notório filho-da-puta, é um gordinho de óculos sentado perto da entrada do teatro. Um ator agarra-o pelas orelhas, o sacode sem piedade. Zé Celso vai até lá, faz o ator largá-lo e lhe faz carinhos, consolando-o.
Mais adiante, contamos com a participação da atriz Maria Alice Vergueiro (Tapa na pantera; http://www.youtube.com/watch?v=6rMloiFmSbw), que estava na platéia. Ela encarna outra personagem e improvisa uma música cujo refrão é "Foda-se o amanhã!..."
No final, após muitas participações especiais, Zé Celso nos convida a sair do teatro, atravessar a rua e festejar com ele seus 71 anos embaixo do "minhocão" – um viaduto em frente ao Oficina. Lá fomos nós!
Embaixo da ponte, pufes coloridos espalhados, música, uma moça vestida como vendedora de balas de antigamente vende vinho em taças de plástico, cigarros em pacote e avulsos, e... baseados. Já enrolados, prontos para o consumo.
Uma gripe fortíssima me impediu de me arrojar nessa comemoração. Fui até o Zé, dei beijo e abraço e parabéns, e fui comer uma pizza perto dali. Os amigos que nunca tinham ido ao teatro gostaram: "não deu pra acompanhar muito bem... Mas gostei, o tempo passou rápido!". É isso, Zé Celso é universal.