domingo, 25 de novembro de 2012

As raízes - I

Cruz Alta é uma cidade perdida no centro oeste do Rio Grande do Sul, a 5 horas de ônibus de Porto Alegre. Não tem aeroporto, não tem cinema, o único shopping que abriu, fechou. No entanto, desde que conquistei um mínimo de independência, aos 17 anos - quando fui emancipada, logo após a morte de meu pai -, eu volto e volto a este lugar.

Dizem que é porque bebi a "água da panelinha", lenda cruzaltina. Já minha tia, que nasceu e viveu lá a vida inteira, dizia que era por causa da santa, Nossa Senhora de Fátima, que fica aos pés do cruzeiro, fixado em um morro alto da cidade.

- Teu pai não te queria, minha filha... Todos os dias eu ia aos pés da santa rezar, e aí está você.

Essa história é longa...


sábado, 29 de setembro de 2012

Old Vegas

Deixei para o fim o post do lugar que mais gostei em Las Vegas.

Como viajei em cima da hora, não tive tempo de pesquisar nada sobre a cidade. A sorte é que fui almoçar em um restaurante brasileiro, Boca do Brasil - arroz, feijão, batata frita, linguiça mineira acebolada - e conheci o Marcos, ex-atleta de X-Games, hoje funcionário do Cirque du Soleil. Todas as cenas de skate e patins do espetáculo The Beatles LOVE, em cartaz no Mirage Hotel & Casino, é ele quem faz. Marcos falou:

- Vc tem que ir... É um lugar meio underground. Muitos ateliês de artistas, shows. Não pode perder.

Na mesma noite peguei o ônibus de dois andares na Strip rumo a Old vegas. No caminho, muitas wedding chapels (capelas de casamento), onde se pode alugar smoking, vestido de noiva e lumusines para um casório em cima da hora. E também muitos estabelecimentos com a placa: Bail bonds. Perguntei o que era a uma americana ao meu lado e ela explicou:

- Eles pagam a sua fiança se você for em cana. Depois vocês acertam as contas.

Ah!... Claro, pois estamos na Sin City (Cidade do Pecado), outro nome para Las vegas.

Chegando em Old Vegas, me apaixonei. Tudo ali é em menor escala. Ruas estreitas fechadas para carros, velhos hotéis e cassinos recauchutados (ali foi filmado Casino, do Scorcese), palcos com shows de rock e country, muitos covers de artistas nas ruas. Tirei fotos com vários.

Mas o melhor mesmo é o "clima". O espírito da Sin City está vivo ali: muita festa, bebida, mulheres de seminuas dançando sobre balcões, gringos borrachos, motoqueiros paramentados de couro, hipongos recém-saídos de Woodstock, casais de noivos vestidos a caráter, soldados engalanados recém-chegados do Iraque, homeless bebuns... Um caldeirão que faz jus ao bordão estampado nas camisetas: What happens in Vegas stays in Vegas (O que acontece em Vegas, fica em Vegas). Amei! Tanto, que voltei lá no dia seguinte.

É desse lugar que sinto mais saudade.



sábado, 1 de setembro de 2012

Mario, que acendeu a chama

Um dos efeitos colaterais mais chatos de envelhecer é que as pessoas começar a morrer. Quando não nós mesmos, os outros, amigos e parentes.

No início de agosto eu estava em São Paulo, no Metrô, quando meu compadre Marcos André me telefonou.

- Vá, o Mario morreu.

De que? Como? Quando? Enfarte fulminante, 47 anos, 2 filhos.

...

Hoje vi fotos no facebook, da galera da rua reunida - todos nós morávamos no Jardim Botânico, passamos a maior parte da adolescência e juventude juntos - ao redor de um churrasco.

E o Mario no meio, sorrindo.

Lembrei de um samba antigo que o meu pai - que também se foi a exatos 29 anos, em 28 de agostos de 1983 - gostava muito:

Naquela mesa tá faltando ele, e a saudade dele tá doendo em mim...

...

Mario e eu na pista de dança da discoteca do Clube Federal, no Alto Leblon, 16, 17 anos, música lenta, corpos grudados, hálito no pescoço. Começamos a nos beijar e os beijos, que até então se limitavam à boca, desceram para o corpo. Pelo menos era essa a sensação.

Um fogo acendeu dentro de mim, como se alguém houvesse apertado aquele botão de ignição que existe nos fogões. A chama mestra, primeira, começou ali e continua ardendo, flamejando, até hoje (graças a Deus). Mário foi quem apertou o botão da ignição.

Lembro que não preguei o olho naquela noite, fascinada e encantada com os percursos daquela nova energia circulando dentro de mim, fazendo-me sentir mais viva e acordada.

Eu e Mário ainda ficamos juntos em algumas festinhas, mas nunca rolou namoro. Uma carinho especial, uma simpatia, sim.

A imagem que guardo dele é na Praia de Ipanema, em frente ao Posto 10, onde a galera se reunia. Mário de pé, shorts azul claro combinando com os olhos e uma flor cor de rosa atrás da orelha, sorrindo, a imensidão do céu e mar atrás de si.

É lá onde ele reside agora.

Abaixo, Marcos André (camisa branca), Mario (no meio, camisa azul clara) e eu, com a bola no colo. (1982)

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Eu me vesti toda de branco para ir ao Grand Canyon

A Limo passou às seis da manhã para me apanhar no hotel. Acordei às 5h15 após ter ido dormir super tarde - na noite anterior fui assistir o espetáculo do Cirque du Soleil, Viva Elvis!, no Aria Resort.


Era o dia da partida e eu tinha pouco tempo. Como a viagem de carro dura quatro a cinco horas, fui de helicóptero. Caro, mas pareceu-me o melhor presente que eu poderia me dar para comemorar esta linda e inesperada viagem.


Meus companheiros de helicóptero eram três russos e um casal norte-americano. Viajamos em silêncio, meio tontos de sono, meio ofuscados pelo sol despontando detrás das montanhas. Abaixo, o relevo acidentado do deserto e o Lake Mead - imenso lago artificial formado pelas águas do Rio Calorado, que vertem por uma hidrelétrica gerando energia para acender as luzes de Las Vegas.



De repente, soa uma música apoteótica - trilha sonora de Guerra nas Estrelas ou Superman, não sei ao certo. As montanhas parecem aumentar, estamos dentro delas, cercados de altos paredões.

É o Grand Canyon.

O sol ilumina as camadas de tons avermelhados que mostram há quantos anos - milhares e milhares de anos - aquilo ali existe. Somos uma fração de segundo na história da Terra. Um milionésimo de segundo.


O helicóptero desce no fundo do canyon. Saltamos para o solo acidentado, é fácil tropeçar. O piloto nos diz para não nos afastarmos, porque há muitas cascavéis. Mas eu não tenho medo de cobra e vou caminhando, caminhando, o vento perfumado de terra e pedra, o silêncio alegre de pássaros e insetos. O cheiro que me faz estremecer e recordar do quanto também sou terra e pedra.


Estar no Grand Canyon é realmente estar. No meu lugar, toda permanência e conforto. Um lugar onde sempre quis chegar. Pronto, aconteceu.


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Angeli e o envelhecer

As melhores mesas que assisti esse ano na FLIP foram as brasileiras. Dentre elas, a dos cartunistas de São Paulo Angeli e Laerte foi das mais interessantes.

Compreendi melhor o Laerte, que se veste de mulher sem ser exatamente um travesti - costume que tem o nome chique de cross dressing. O curioso é que ele usa roupas coloridas demais, acessórios chamativos, unhas cor de rosa. Pensei que era algo relacionado ao humor. Mas não, o motivo é que ele tem alma feminina. E o gosto duvidoso da indumentária é característico desse lado feminino mesmo.

Já o Angeli, bem, sempre achei-o um gato. Mas, ao ver sua imagem ampliada no telão, veio a inevitável constatação: "Como envelheceu!..." O cabelo completamente branco, a voz tremida. Velho. Lá pelas tantas, esse assunto foi trazido à pauta pelo próprio:

"Estou me aproximando dos 60 e já fumei muito orégano na vida. Então, volta e meia tenho uns lapsos de memória. Isso está se tornando cada vez mais frequente, e os lapsos cada vez mais longos. É comum eu começar um desenho e, quando já avancei bastante, percebo que me esqueci de onde quero chegar. Aí vem a Carol, minha companheira, e me explica: 'você começou por causa disso e disso...' Por isso, esse casamento vai ser longo".

Todo mundo riu. Mas ficamos todos um pouco desconcertados com tamanha sinceridade e pela exposição de uma fragilidade. Quem tem coragem de dizer, em frente a uma platéia imensa, que está mesmo ficando velho? Com tudo de ruim - como lapsos de memória - que isso traz?

Angeli continuou: "O Mario Sergio Conti (jornalista) já me deu o telefone de um médico, me disse que é excelente. Mas eu estou relutando em ir. Porque acho que preciso me acostumar com essa nova fase da vida".

Querido Angeli!... Agora, eu o admiro ainda mais.

Quem quiser assistir um pedacinho da mesa, aqui está:




sexta-feira, 29 de junho de 2012

Horse with no name

Como Las Vegas fica no meio do deserto, o clima é super seco. Assim que cheguei lá meu cabelo alisou e meu lábio rachou. Entendi que teria que andar com uma garrafinha de água para cima e para baixo, e foi o que eu fiz.


O clima árido não permite muitas plantas nas vias públicas. Ter um jardim florido custa uma nota! A solução foi enfeitar tudo com pedras. Porque o deserto ali em volta não é de areia, mas de pedras. Pequenas pedras claras - meio bege, meio avermelhadas - porosas e de recorte irregular. É um chão difícil de caminhar. E também machuca os sapatos, quem dirá os pés.

No meio das pedras surgem esculturas aleatórias como esse cavalo.


E também arbustos de alecrim - uma das poucas plantas que aguentam o calor e o sol por lá. O bom de ter alecrim por toda parte é que, quando bate o vento, vem um aroma delicioso dessa planta, que costumamos usar para cozinhar no Brasil.


A urbanização da cidade obedece às cores do deserto: todos os muros e casas são baixos e da cor das pedras do chão. Isso, ao invés de gerar uma paisagem sem graça, evoca uma harmonia que descansa nossos olhos debaixo do forte sol californiano.


Abaixo, três grandes símbolos norte-americanos.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Do antigo Egito a Idade Média em Las Vegas

Entrar e sair dos hotéis em Las Vegas é um grande programa. Porque cada um é um parque temático.

Na minha chegada, conheci o Monte Carlo, cujo nome refere-se ao cassino mais chique do mundo, na Riviera Francesa. Por fora, é a mesma estética fake. Por dentro, é puxo luxo kitch norte americano.

Assim por diante, o hotel Excalibur imita um castelo medieval, New York New York tem fachada como os arranha-céus da Grande Maçã, MGM faz referência ao grande estúdio de cinema em Hollywood.







Abaixo, uma das entradas do New York New York com uma Limo parada à porta (como são chamadas as limusines em Las Vegas). A propósito, esta é a cidade americana com maior números de limusines em circulação, mais até que Los Angeles ou Nova Iorque.



E, como nada pode faltar nessa cidade de sonho, cada hotel se esmera em prover diferentes diversões. Tem hotel com quadra de vôlei de praia artificial, com areia e tudo.



Tem também um complexo de hotéis de luxo em estilo moderno: Area, Vdara, Crystal.

Area tem um incrível shopping de lojas de marca, uma ao lado da outra: Valentino, Prada, Givenchy, Chanel e... HStern! A nossa marca brazuca de jóias também está lá!



Da janela do meu quarto de hotel, eu via o Mandalay Bay, todo dourado - onde acontecem as lutas de MMA promovidas pelo UFC, cuja sede fica em Las Vegas - e o Luxor - um dos mais kitch de todos, em formato de pirâmide imitando o antigo Egito.







Fui vistar o Luxor e não gostei. É esquisito!... Depois fiquei sabendo que as hordas de japoneses e chineses que visitam Las Vegas nunca se hospedam no Luxor. Dizem que aquilo é um túmulo, à moda dos faraós.

Para o turista não se cansar, o transporte de um a outro hotel é feito por escadas e esteiras rolantes, ou em pequenos trens.

Abaixo, eu e o leão dourado na entrada do MGM.





quinta-feira, 7 de junho de 2012

Um vulcão no meio do caminho

Las Vegas nasceu como um entreposto de escoamento do ouro e minérios extraídos do deserto norte-americano a caminho do porto de São Francisco. Os mineradores e aventureiros gostavam de jogar cartas, e assim surgiu a fama de ser um local propício à jogatina.

Em 1911, Las Vegas tornou-se oficialmente uma cidade. Mas o crescimento veio a partir de 1940, quando a máfia se mudou para a região e começou a investir dinheiro na construção dos hotéis e... cassinos.

O primeiro deles, que continua firme e forte até hoje, é o Flamingo Hotel. Fica na parte antiga da cidade, Old Las Vegas, que merece um post especial. Este hotel, no entanto, é pequeno perto da segunda geração de resorts que começaram a ser construídos a partir de 1989.

O primeiro dessa segunda leva é The Mirage, em cuja entrada existe um vulcão que entra em erupção a cada meia hora. O turista está passeando pela rua e começam explosões, música apoteótica, luzes vermelhas!... É o vulcão do The Mirage, rodeado por um inacreditável complexo de fontes de água - considerando que estamos no meio do deserto.

Cada hotel de Las Vegas tenta superar o outro com atrativos inusitados. Bellagio, por exemplo, - talvez o mais fiel à estética cafona-chic norte-americana - tem na entrada um imenso lago com chafarizes dançarinos. A cada 15 minutos, jatos de água entram em ação ao som de músicas variadas: clássicos, Michael Jackson, new age.

O mais bonito desse show é que a água sobe muito, muito alta e, dependendo da música, é pulverizada formando uma cortina de gotículas que envolvem as hordas de turistas amontoados nas balaustradas ao redor, todos de boca aberta.

Alguns hotéis são exemplos flagrantes do tema do livro de Umberto Eco, Viagem na irrealidade cotidiana, no qual ele critica a obsessão pela cópia tão característica dos americanos. O hotel Paris tem uma Torre Eiffel na entrada - quase em tamanho natural. Já The Venetian tem um lago onde os turistas podem passear de gôndola.

Críticas a parte, confesso que adorei tudo. É um uma brincadeira. Tem que levar com humor e deixar o lado o seu lado criança se manifestar.

Abaixo, os chafarizes dançarinos do Bellagio com a Torre Eiffel fake ao fundo.




terça-feira, 5 de junho de 2012

Eu e eu mesma em Las Vegas

De vez em quando a vida nos dá uns presentes. Presentões. Em abril surgiu uma oportunidade de trabalho muito boa que trouxe junto uma viagem para um lugar inusitado, que eu não imaginava o que era, e que dificilmente planejaria visitar: Las Vegas, a cidade do jogo no meio do deserto norte-americano. O que eu não sabia é que lá tem muito mais coisas legais para ver e fazer, além do jogo.

Para ser sincera, eu não joguei nenhuma vez. Não apostei um centavo sequer. Mas adorei perambular entre as máquinas coloridas e barulhentas, espalhadas nos imensos salões onde é sempre noite - propositalmente, para as pessoas perderem a noção do tempo e seguirem jogando.

Eu estava fora dessa onda. Trabalhava de sete da manhã às seis da tarde e depois disso... alforria! Partia sozinha para The Strip, como é chamado o Las Vegas Boulevard, a rua dos grandes hotéis onde se concentra o movimento.

Las Vegas é uma Disneylândia para adultos. Cada hotel - um mundo! - é um parque temático onde há tudo que os sonhos dos adultos podem sonhar. Tem um hotel que tem uma montanha-russa dentro. Eu fui, claro. E gritei tudo o que tinha para gritar - de alegria, cansaço, êxtase...

O bom dessa viagem é que também foi um grande encontro comigo mesma. Eu adorei a minha companhia. Nos divertimos pacas, eu e eu mesma.

Aos poucos vou contar minhas aventuras em Las Vegas. A fabulosa Las Vegas, como diz o velho slogan da cidade: Welcome to fabulous Las Vegas.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Vaga-lumes

Vinte anos, trinta anos!... Mas o que é o tempo?

- Vavá, lembra aquela viagem a Visconde de Mauá, quando furou o pneu na estrada à noite?

- Lembro...

- Foi horrível!...

- Foi!... Mas ali, eu vi uma coisa que nunca mais vi, e que nunca mais esqueci...

Ana não me deixou completar a frase.

- Os vaga-lumes!

Batemos nossas mãos no ar, clap!

A força da lembrança iluminou a cena:

Estrada de terra, pneu furado, motorista esbravejando.

De repente alguém fala, "Olha!..."

Na densa floresta acima de nós, centenas, milhares de vaga-lumes piscavam suas luzinhas quebrando com delicadeza a escuridão. A beleza nos obrigou a parar, esquecer o pneu furado, a fome, a vontade de chegar...


A constatação da amizade e de que o tempo é nada.

domingo, 11 de março de 2012

Intimidade

Em tempo de Amores líquidos, quando é difícil aprofundar os relacionamentos e amizades, a exposição de fotografias da norte americana Nan Goldin no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em cartaz até 8 de abril, é chocante e tocante ao mesmo tempo por mostrar a INTIMIDADE das pessoas, aquilo que a gente costuma esconder, e quando chega lá vem aquela velha frase: "A intimidade é uma merda".

Rostos sem maquiagem, caras tortas de recém-acordar, roupas sujas espalhadas pelo chão, manchas roxas em corpos nus. Nada é disfarçado, nada é fake nas fotos de Nan Goldin, pelo contrário, a realidade é nua e crua. Um exemplo é a foto da mulher que acabou de fazer amor e, nua, lava o sexo com um chuveirinho no bidê. Sorrindo.

As fotos de Nan Goldin nos levam a refletir sobre a beleza das imagens da nossa rotina menos glamurizada: acordar com os olhos inchados, escovar os dentes, fazer pipi e cocô, dar comida aos cachorros, descascar batatas, cozinhar...

Como disse o nosso querido Nelson Rodrigues, "de perto ninguém é normal". Eu acrescentaria: de perto ninguém é comum. Cada um de nós é um universo de particularidades e beleza por mais banais que pareçamos ser na superfície. Mas quem tem coragem de mergulhar fundo para descobrir o tesouro? Quem tem coragem de experimentar a INTIMIDADE?

Pra ser sincera, fiquei com vontade de ser modelo da Nan Goldin.

- Ei, Nan! Quer dar um pulinho no Rio de Janeiro, na Rua João Lira, no Leblon?

quinta-feira, 1 de março de 2012

A morte de uma criança

Devia ser proibido morrer criança. Não faz sentido na nossa mente limitada de humanos. Mas quem somos nós para julgar os desígnios de Deus?

Nesta terça-feira, 28 de fevereiro de 2012, meu filho Gabriel perdeu um de seus melhores amigos, o querido Vitor, de morte natural, de repente, sem qualquer aviso ou sintoma.

Os dois têm 13 anos. Os dois desceram juntos a ladeira da escola, chegaram ao ponto de ônibus e se despediram: “Até amanhã”.

Mas naquela mesma tarde a morte chegou e, com sua violência natural, alterou as rotinas de todos que conheciam o Vitor.

Vitor tinha uma risada que todo mundo ria quando escutava.

Ao terminar de bater um 'pratão' de comida na nossa casa, eu lhe perguntava:

- O que vc quer de sobremesa? Tem melancia, melão, manga...

Ao que ele sempre respondia:

- Banana.

Eu ria, porque banana é uma fruta forte, que enche a barriga da gente... Mas ele gostava mesmo era de comer banana de sobremesa.

Vitor tinha medo de cachorro, porque já tinha levado mordida. Mas uma vez viajamos com a madrinha do Gabriel, e ela tem um cachorro que late sem parar, e ele foi no carro com cachorro e tudo... Deve ter perdido o medo!

A morte do Vitor é um caminhão desgovernado que investe, a 100 Km por hora, nas pilastras da nossa fé.

Nosso Amor à família Rubim. Muita Paz e Luz.

Oração das Crianças

Por favor, Senhor, permita-me crescer forte e seguro sob tua proteção e guia.

Protege, oh Senhor, minha família, meus amigos, meu país e minha fé.

Tem paciência, Senhor, conosco, as crianças, para que possamos aprender a amar-te, conhecer-te e viver perto de ti.

Amén


Abaixo, Vitor (esq.) e Gabriel em Buzios, RJ.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Carnaval 2012

Carnaval, para mim, é como a Meditação da Rosa Mística, que nunca cheguei a fazer (vontade não falta). Essa meditação dura três horas e funciona assim:

Um grupo de pessoas se reúne passa a primeira hora rindo. Mesmo que não sinta vontade de rir, deve forçar o riso. Lá pelas tantas, as risadas - de verdade - vem com tudo. A gente se acaba de rir. Aí vai serenando, serenando, e vem a segunda hora, quando se deve chorar. Após os primeiros choros forçados, chegam os choros ancestrais. Que medo! Aí vai serenando, serenando... E a terceira hora é em silêncio. Para cada um tirar as próprias conclusões.

Mal comparando, no Carnaval eu chego de mansinho... Esse ano vai ser diferente? Será que não vou gostar tanto do Carnaval? Mas aí eu vejo toda aquela gente sorrindo, cantando, dançando no meio da rua. É uma festa cheia de gente - e festa boa. Temos permissão para parar tudo e festejar, todos juntos, no meio da rua. Que maravilha!

Começo a cantarolar baixinho, mexer os pés e a coisa vai crescendo, aparecendo, e daí a pouco sou tomada pela festa. Não quero mais parar. Esse ano foi assim, mais uma vez.

Fantasias engraçadas que eu vi:

. Negão de camisa, chapéu panamá, óculos escuro e o nariz pintado de preto...? Era o Mestre Cartola, gente!
. Bando de amigos com bombom de Serenata de Amor ao redor do bumbum.
. Três moços altos, louros, com caras de gringo, vestidos como comissários de bordo. Levaram um avião inflável e ficavam jogando para o alto no meio da multidão.
. Homem enorme de gordo com peruca chanel, vestido vermelho, dentões brancos postiços e um coelho de pelúcia azul na mão: Mônica e Sansão!
. Homem de lata, do Mágico de Oz: no lugar do pinto tinha uma torneira de onde saía suco de pêssego com vodka... Eca!

Eu me fantasiei de policial, índia, rastafari e dondoca. No dia da policial, aos engraçadinhos que vinham pedir "me prende, me prende", eu respondia: "Não posso, tô em greve!"

Bem que podia ter mais um Carnaval no meio do ano!

Abaixo, o baile do Cordão do Boitatá na Praça VX, Rio de Janeiro, no domingo de Carnaval.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Mulher com criança no colo

Subi no ônibus, era duas da tarde, um sol escaldante do lado de fora. Senti o cheiro. Que cheiro era aquele? Parecia urina seca, forte!

Assim que passei a roleta, a cena: no espaço reservado para cadeirantes, uma mulher negra, muito velha, envolta em trapos, os pés inchados enfaixados, um saco plástico envolvendo a carapinha branca, sentada em sua cadeira de rodas, atada às ferragens do ônibus, tendo nos braços uma criança adormecida. Um menino mulato, gordinho, só de shorts, e ela segurava-o firmemente.

Quem seria aquela criança? Um neto? Pelo cuidado com que tomava conta do menino, poderia ser, sim.

Uma moça no banco atrás de mim fez uma careta, tapou o nariz com os dedos e mudou de lugar. Foi sentar bem longe, lá atrás, no último banco do ônibus.

E eu fiquei admirada, hipnotizada pela imagem da velha com o menino nos braços. Cheguei a pensar, o pensamento mesquinho: “Melhor parar de olhar ou ela vai me pedir dinheiro”.

Mas que nada, ela tinha dinheiro. Entrou um vendedor de balas no ônibus e ela sacou um porta-níqueis, tirou de lá uma moeda e comprou dois pacotinhos de amendoim. O menino desacordado, suado! Mas ia ter o que comer quando despertasse.

Eu continuava olhando. Era uma cena bela! Como podia ser bela aquela mendiga velha, suja e fedorenta com o menino no colo? Mas era.

Chegou a hora de saltar. Passei pela mulher e, nesse exato instante, um dos pacotinhos de amendoim caiu das mãos dela, foi parar no chão, perto da roda da cadeira de rodas.

- Filha, vc pega pra mim?

- Claro!

Abaixei e peguei o amendoim, entreguei nas mãos dela com um sorriso, e ela sorriu de volta pra mim, o menino dormindo.

Fui embora imensamente agradecida por ter sido merecedora de um olhar daquela mulher. Por poder lhe entregar o amendoim.

A Beleza guardada dentro de mim.

domingo, 15 de janeiro de 2012

El Tigre

Já escrevi sobre Ele antes, e aqui vai novamente: El Tigre é o meu passeio favorito em Buenos Aires. Todas as vezes em que visitei a capital portenha nunca deixei de ir lá.

Dessa vez, fomos visitar o antigo cassino que foi todo restaurado. A propósito, ao caminhar pela beira do rio, vemos que tudo ali foi recuperado. Perguntamos aos nossos amigos, mais tarde, e a resposta: um político aposentado, natural daquela província, voltou para lá e resolveu ajeitar tudo. Investiu dinheiro do próprio bolso, reurbanizou...

O resultado é visível aos olhos e ao coração: canteiros cheios de hortências – cor de rosa, nunca tinha visto nesse tom! –, caminhos para pedestres e ciclistas, tudo novo e bonito.





Mas o cassino... É de cair duro para trás! Parece que viajamos no tempo e voltamos à época descrita por Fitzgerald em O grande Gatsby. O prédio, que andou fechado e abandonado por décadas, foi todo restaurado, assim como a riqueza dos interiores: ricos afrescos no teto, delicados detalhes em ouro, magníficos lustres de cristal... Pena que não deixam tirar fotos lá dentro.





Fomos em dia de semana e éramos os únicos visitantes: um silêncio, um frescor!...

E a passarela de mármore onde as pessoas, antigamente, ao perderem tudo no jogo, corriam e se jogavam no rio – um gesto dramático, pois não acredito que a profundidade ali dê para isso -, descortina a vista emocionante do Tigre.



Enfim, se algum de vocês for a Buenos Aires, vá visitar El Tigre. Vale muito!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Ação entre amigos - Reveillón em Paraty

A dica era do meu amigo Ricardo, que mora em Paraty: “Quando chegar à praia, tenta reunir um grupo de pessoas para dividir um barco e ir ao Saco do Mamanguá” OK!

No dia 29 de dezembro, saímos de Paraty às 11h da manhã e fomos a Paraty Mirim, praia de águas calmas a 40 minutos da cidade histórica. Tempo nublado, feio, mas sem chuva. Chegando lá, fui logo abordada por um barqueiro. Valor do passeio: R$ 120,00.

Encontrei uma família grande, 5 pessoas, e convidei a dividir com a gente. Toparam! Mas no que eu fui nadar, atravessar o rio – água gelada! – e voltei, a notícia:

- Olha, aquela família que tinha combinado com a senhora já foi.

- Como assim, já foi?

- Não quiseram esperar e foram.

Como diz o meu namorado: “Falsos!”

Comecei novamente do zero: abordar as pessoas na praia – não eram muitas –, explicar o que é o Saco do Mamanguá – um fiorde brasileiro, um braço de mar terra adentro, cercado de montanhas e floresta por todos os lados –, dizer o valor etc.

Um jovem professor de educação física, acompanhado da sobrinha de 20 anos e do filho pequeno aceitou, animadíssimo. Uma família de cearenses e paraibanos residentes em São Paulo – 6 adultos e uma criança – também. Éramos 13.

- Ah, minha senhora, o meu barco não agüenta. Só tem lugar pra 12!

Fomos atrás do Seu Ademir, que estava tomando uma cerveja em um bar sabe-se lá onde, dono de um barco com capacidade para 15 pessoas. Mas o valor aumentou: R$ R$ 150,00, e isso deu início a nova rodada de negociações.

Moral da história: o barco partiu quase às quatro da tarde, todo mundo sem almoçar, o céu parecendo que ia desabar nas nossas cabeças, de tão escuro. Mas eram tantas as risadas, tanta a vontade de viajar – a essa altura mais pela alegria e a novidade daquela ação entre amigos recentes e tão diferentes – que lá fomos nós...

E sabe que a chuva não caiu? Esperou a gente ir e voltar: 3 horas de passeio com direito a parada em uma aldeia de pescadores para comer batatinha frita com coca-cola.

Chegamos de volta em Paraty Mirim quase às sete da noite, tudo escuro, um frio!... Mas todo mundo feliz e com as bochechas doendo de tanto rir e sorrir.

Abaixo, a melhor turma do Ano Novo em Paraty. Seu Ademir à esquerda, de camisa branca.