domingo, 31 de agosto de 2008

Inteligência e bom humor

Diálogo com um amigo muito querido que deseja mais, e que andou lendo o blog:

– Você disse que anda querendo ver Deus...

– Ver Deus? De onde tirou isso?

– Lá daquele post onde diz que quando a gente faz sexo com amor, Deus aparece.

– Ah...

– Pô, não serve um São Francisco aqui, não?

Hehehe... Inteligência e bom humor contam muitos pontos numa conquista, não acham? Pelo menos na minha opinião...

sábado, 30 de agosto de 2008

Sabedoria de índio

Situação: uma amiga-irmã fica com um cara duas vezes, mas está carente e acaba se afeiçoando. O camarada deixa claro que não quer namorar, mas é receptivo, correspende etc. O terceiro encontro acaba não acontecendo, porque ele tira o corpo fora. Ela fica chateada, mas segue em frente.

Ontem à noite, na porta do no Circo Voador, pouco antes de encontrá-la para assistirmos ao show da Marisa Monte e a Velha Guarda da Portela, aparece o cara de mãos dadas com outra mulher. Feia, vulgar, infinitamente inferior à minha amiga-irmã (e eu não estou sendo "coruja, é a pura realidade). Cumprimentei e não dei conversa; eles se afastaram. Lá pelas tantas, chega minha amiga-irmã toda feliz, nos abraçamos e beijamos, confraternizamos com outras amigas em comum, reunidas para o show. Entramos no Circo.

Cinco minutos depois, minha amiga-irmã me puxa pelo cotovelo: "O fulano está aí com outra mulher, né?" Levei um susto. "Como vc sabe? Vc viu?", perguntei. "Não, a cicrana me contou..."

Fiquei bastante contrariada. Péra aí: contar pra que? Minha amiga-irmã estava toda feliz, alegre, animada. O Circo Voador lotado. Não vislumbrei o tal fulano sequer uma vez mais, nem de longe. Questionei a cicrana – que por acaso é outra amiga-irmã – e ela: "Ora, tem que contar! Se fosse eu, queria que me contassem!"

Pensei com meus botões e me lembrei de uma entrevista que li há muito tempo, com um índio de uma etnia que não me recordo o nome. Ele dizia algo mais ou menos assim:

"A diferença entre nós e o homem branco, é que ele quer deixar marcas por onde passa. Monumentos, grandes obras. Conosco é o contrário. Quanto menos marcas, quanto menos interferências, melhor."

Não sou índio, mas à medida que envelheço e amadureço, percebo que quanto menos tento interferir no curso da vida e das situações, mais aprendo com elas. São lições inesperadas a todo momento, dádivas, que observo e aproveito de acordo com meu momento interior. Não significa ser passiva ou mosca-morta, mas acho que tem a ver com uma certa sabedoria que venho cultivando. Pode ser que daqui a pouco eu mude de idéia e de opinião, mas de uns dois anos pra cá tenho praticado isso e me sinto mais leve, livre e feliz.

Por isso, eu não contaria à minha amiga-irmã. Pelo menos não naquele dia e hora, talvez depois.

Talvez.




quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Para escrever...

Imagino que todo mundo que tem um blog de textos gosta de escrever. O blog é apenas uma ponta do iceberg. Sob o oceano há o nosso desejo de ser escritor de sucesso, publicar muitos livros, ter muitos leitores, ganhar dinheiro com isso, ser "dono do tempo" como Paulo Coelho na Revista Caras. O que é necessário para que isso aconteça? Bem, muitos fatores fogem do nosso controle. Mas outros, a maioria eu diria, depende de nós.

O jornal Rascunho http://www.rascunho.com.br/ deste mês – publicação especializada em literatura, editada em Curitiba, que acaba de chegar ao nº 100 – traz duas páginas com 10 dicas de 6 escritores para se tornar escritor. O título é Mãos à obra e a abertura tem uma frase que chamou minha atenção:

Neste mundo em que a pressa tenta nos engolir a todos, a literatura precisa (e muito) de tempo, paciência, introspecção...

Logo abaixo, entre as 10 dicas de Ivana Arruda Leite – autora de Falo de Mulher e Eu te darei o céu, entre outros – vem assim:

Isole-se. O silêncio é a matéria-prima do escritor. Cada noite que você passa na balada é uma página a menos que escreve. Isso pode parecer pouco, mas ao longo da vida faz diferença entre o escritor que chega lá e o que morre na praia cercado de amigos (bêbados).

Hahaha!... Ivana não é nenhuma monja, estava comigo no Bar Mercearia, em São Paulo, após o bate-papo de Arriaga e Bracco, na Livraria da Vila. Mas o que ela diz ficou martelando a minha cabeça.

Para ser escritor é preciso vencer várias etapas. E o pior: não sabemos que elas existem, vão se revelando à medida que conquistamos cada uma delas. A primeira é se manter escrevendo, independente da profissão escolhida. Eu tive a chance de optar pelo jornalismo – para me manter escrevendo, conscientemente – mas muita gente sofre pressão da família, etc, e acaba se formando em advogado, médico, engenheiro, apesar de querer escrever. Alguns são fiéis a seu talento, como Moacyr Scliar, que é médico especializado em Saúde Pública, mas excepcional escritor. Outros deixam pra lá, esquecem...

Depois, é preciso ler muito. Clássicos, contemporâneos... Obrigar-se a ler, mesmo gêneros dos quais não se gosta, mas para saber como é, como se faz. Isso requer tempo e persistência.

Depois, encontrar sua própria voz, seu jeito pessoal de contas as histórias. Há inúmeros livros sobre o tema.

E agora, mais um desafio: encontrar tempo para escrever. Difícil!... Trabalho, filhos, namorado, amigos, vida social, estudo. O mundo nos chama em outras direções. É preciso viver, aproveitar a vida, afinal. E a escrita? Qual lugar ocupa em nossas vidas?

Conheci um editor de Porto Alegre que me contou que João Gilberto Noll, por exemplo, vive andando sozinho pela cidade. Vai a bares sozinho; nas férias, aluga casa na praia sozinho. O homem vive para a literatura. Em sua palestra na Bienal de SP, outra frase que ficou na minha cabeça:

Tenho 62 anos. Se não fosse a literatura, acho que eu ficava aí mais uns dois ou três anos, e depois ia embora. Pra que?...

Também não precisa ser assim... Mas outro exemplo é meu pai, jornalista super-bem-sucedido que sonhava ser escritor, mas nunca publicou um livro. Ele mesmo dizia porque, lembrando o conselho de Érico Veríssimo.

Justino, para ser escritor, é preciso sentar a bunda numa cadeira...

E o meu pai não sentava nunca.

Enfim... Ando muito reflexiva; efeito pós-bienal. Aguardo seus comentários, ponderações, observações, considerações...

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Sexo com amor

Deus me aparece – e não considero isso uma heresia – na hora do sexo, desde que feito com quem se ama. É completamente diferente do sexo casual, do sexo como válvula de escape. Diferente, preste atenção. Não quer dizer que qualquer sexo não seja bom.

A Martha Medeiros bem que tentou consertar, amenizar, mas já estava dito. Pronto. O parágrafo publicado em meio à crônica deste domingo, na Revista O Globo, me acertou em cheio, assim como deve ter acertado muita gente que está há tempos sem fazer sexo com amor.

Porque é completamente diferente mesmo. E isso nada tem a ver com o fato da pessoa amada saber fazer a posição do canguru perneta. É a intensidade de estar presente, do envolvimento, que torna tudo mais brilhante. É um balé improvisado perfeitamente harmônico. É o suave calor no centro do peito, o calor do sentimento, que é incomparável, insubstituível, inenarrável. Nos sentimos amparados, alimentados, acolhidos. Tudo de bom.

Não acho saudável evitar sexo porque não estamos amando alguém. Além do mais a vida é dinâmica; traz até nós coisas que não esperamos, assim como as leva de repente. Observar e aproveitar essas oportunidades é divertido – se sabemos lidar com elas com desapego.

Mas é preciso lembrar sempre... como é gostoso gostar de alguém. Para não endurecer, criar casca, e achar que sexo casual nos basta.

Não basta, não.

O parágrafo da Martha me fez sentir muita saudade de gostar de alguém de verdade. Mas que mais posso fazer, a não ser aguardar a vontade do céu? Não há como apressar nem atrasar nada nesse mundo. A vida é sábia.




sábado, 23 de agosto de 2008

Noll e a liberdade

Já contei aqui que João Gilberto Noll, na Flip deste ano, leu trecho de seu novo livro imitando a voz de um velho, narrando o encontro sexual de dois adolescentes na sala de espera de um dentista.

O lusco-fusco do corredor mostrava-se cúmplice daquilo que queríamos desbravar e matar ao mesmo tempo (...) Parecíamos répteis serpenteando, deitados de lado, agora frente a frente. Onde o corpo de um recuava, o do outro avançava. De repente, aflito, trêmulo, o guri me trouxe o cu para perto da minha boca.

Eram 11 horas da manhã e crianças brincavam em meio aos bonecos de papelão na Praça da Matriz. Meu chefe: "Que absurdo. Isso não é leitura para essa hora, ao lado dessa praça cheia de crianças."

As crianças não estavam nem aí. Mas na platéia, pessoas se remexiam nas cadeiras ao som da voz monocórdia que continuava:

Cheguei bem perto e lambi. Ele estremeceu. (...) Vinha-me então esse gosto condenado na boca, gerando mais e mais excitação, o transe até. Preferia estar ali, como o cu do menino na cara, a estar com minha fuça esterelizada pelos cadernos do devem diário. Juramos não contar essa tarde a ninguém.

Fiquei fascinada por aquele homem lendo sua obra sozinho em um palco, literalmente sem vergonha. Expondo sua alma, seu desejo, suas fantasias mais loucas.

Acabou-se a Flip e fui atrás do livro, Acenos e afagos. A maluquice continua. O protagonista sem nome é apaixonado desde sempre por um engenheiro moreno (o mesmo da sala de espera do dentista) que o leva para um passeio em um submarino alemão, cuja tripulação é de marinheiros alemães gays. (!!!)

A narrativa é ao mesmo tempo pornográfica, escatológica, engraçada – em alguns momentos dei gargalhadas – mas, principalmente, literária. Noll tem 14 livros publicados (toda a obra está sendo relançada pela Record) e é vencedor por cinco vezes do Jabuti, o mais importante prêmio literário brasileiro.

Lembro que, no ano passado, para uma homenagem a Gabriel García Marquez na Bienal do Rio, tive que editar uma longa entrevista deste autor ao jornalista Roberto D´Ávila. Em certo trecho, García Marquez revela que ter lido A metamorfose, de Kafka, foi um ponto de mutação em sua vida de escritor. Ao ler a história do homem que acorda e se descobre transformado em barata, pensou consigo: "então... isso pode em literatura?" A partir daí, sentiu-se livre para dar à luz sua obra, onde fantasia e realidade convivem harmoniosamente o tempo todo.

A leitura de Noll, de quem sempre ouvi falar e por quem nutria discreto interesse, mesmo sem ter lido nenhum de seus livros, teve efeito semelhante em mim. Quer dizer que isso pode em literatura? Desnudar-se, expor a alma e as fantasias mais loucas, as dores e amores, tudo de bom e de ruim – e quem é capaz de julgar o que é esse ruim?

Depois do Noll, não mais eu, graças a Deus.

http://www.joaogilbertonoll.com.br/





quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Noites com Arriaga y Bracco

Os eventos em SP e Rio foram maravilhosos. Em Sampa, terça-feira (19/8), tivemos a presença do diretor de cinema Hector Babenco e Barbara Paz, sua namorada (casal inusitado). Arriaga é bem educado e não falou demais, nem ofuscou a presença do meu querido autor, Diego Bracco, que é de uma modéstia admirável.

Após o término, fomos todos para a Mercearia, em Vila Madalena. Eu diria que é um bar "carioca", de tão sujinho e bagunçado. O proprietário herdou do pai e deu a sua "cara": em meio a detergentes e latas de molho de tomate, há exposição e venda de livros. Não é sebo, não. É livraria mesmo, mas diferente. E também videolocadora, com um tremendo acervo em VHS (ainda!). À noite, quando o bar bomba, o camarada reveste as estantes com filme plástico, para evitar furtos. Vale dizer que é ponto de encontro de escritores em São Paulo.

Vejam a cobertura fotográfica completa dessa noite memorável no blog da escritora e socióloga Ivana Arruda Leite, que atuou como mediadora no evento – notável mediadora, diga-se de passagem.
http://doidivana.wordpress.com/

No Rio, quarta-feira (20/8), uma platéia mais numerosa e séria e uma conversa mais política, sobre as mazelas da América Latina, etc. Legal também, mas menos que em Sampa. Depois, fomos todos para a Academia da Cachaça, reunindo numa mesma mesa o pessoal das editoras Record e Gryphus, o escritor e roteirista Marçal Aquino – amigo de Arriaga, os dois deram palestra juntos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro à tarde – e Carla Branco, do Instituto Cervantes, grande apoiador dos eventos nos dois estados (divulgaram eletronicamente, ofereceram hospedagem aos autores).

Curiosidades: Arriaga não bebe uma gota de álcool, fica no guaraná light a noite inteira. Pensei (maldosa!) que se tratava de um ex-alcoólatra, mas não, tem elevada taxa de açúcar no sangue e se cuida. Faz muito bem!

Apesar de casado há anos com a mesma mulher, pai de família, chovem paquenas aonde ele vai. Em Sampa era uma mocinha loura que ninguém viu de onde veio, para onde foi. No Rio, surgiu não se sabe de onde, uma atriz da Globo. Sentou na mesa e ficou. Na hora dele ir embora, pediu carona e só desistiu depois de constatar que ele e Diego Bracco dividiriam o táxi, pois estavam no mesmo hotel. Eu, hein...

Vem mais aí sobre a Bienal e SP: João Gilberto Noll, as expôs sobre os 50 anos da Bossa Nova (Oca) e Marcel Duchamp (MAM). Vão ter que me aguentar...

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Guillermo Arriaga e Diego Bracco no Rio e SP

Quem mora nessas cidades?

Nesta terça e quarta, haverá bate-papo entre o historiador ítalo-uruguaio Diego Bracco, autor de María de Sanabria (Ed. Record) e o escritor e roteirista mexicano Guillermo Arriaga, autor de O Esquadrão Guilhotina (Ed. Gryphus), na Livraria da Vila (19/8; SP) e Livraria Da Conde (20/8; RJ).

Bracco chegou ontem à Bienal; seu livro ganhou duas páginas na Isto É que está nas bancas. Conta a história de uma mulher destemidíssima, que se empenha em uma viagem à costa Sul do Brasil em 1550, trazendo consigo outras mulheres espanholas que haviam sido condenadas por assassinatos de maridos, pais e abusadores. O propósito da viagem: que essas mulheres se casassem com os colonizadores aqui estabelecidos. Ela mesma casou-se duas vezes e um de seus filhos, mais tarde, voltou à Europa e foi um dos fundadores da Universidade de Córdoba, Espanha.

Arriaga, como devem saber, é mais famoso como roteirista: Babel, 21 Gramas, Amores Perros. Este livro, assim como o de Bracco, é um romance histórico, mas confesso que não sei exatamente do que se trata. Só sei que é um homem de dois metros de altura, super-carismático. Um charmosão.

Os eventos têm entrada gratuita e serão todos bem-vindos lá. Até!

domingo, 17 de agosto de 2008

Novidades literárias da Bienal SP 2008

Quarto dia de Bienal e este evento corre bem mais fácil que a Flip, pelo menos para mim. É uma feira menor e menos bem organizada que a do Rio (nisso, os cariocas são melhores que os paulistas), e tem menos estrelas também.

O bom desses eventos é que tudo sai da rotina, temos a oportunidade de conhecer escritores de outros países, conversar, algumas vezes estabelecer amizade. Francesc Miralles, por exemplo, o catalão autor de Amor em minúscula, que vive em Barcelona e visitou o Rio em abril, já é um amigo. Neste retorno ao país, pedi meio tímida se poderia me trazer um certo creme para o corpo que comprei na Espanha em fevereiro, e que fez muito bem a minha pele. Ele me trouxe de presente três vidros enormes, tenho estoque para mais de um ano, hahaha!

Outro espanhol desconhecido aqui, mas super-conceituado em seu país é Antonio Soler, autor de O caminho dos ingleses. O livro vendeu muito pouco no Brasil; o filme baseado nele, dirigido por Antonio Banderas, saiu direto em DVD, sem passar pelos cinemas. Soler é um homem elegantérrimo, um ar meio distante, mas muito simpático quando conseguimos furar este pequeno bloqueio. Vive em Málaga e, conversando com ele, fique sabendo de várias coisas maravilhosas:

1- Villa Mont Noir – residência onde a escritora Marguerite Yourcenar passou a infância na Bretanha (norte da França, perto do mar), e que hoje é uma espécie de hotel apoiado pelo governo francês para escritores, principalmente europeus, passarem até 2 meses... escrevendo. Só dois escritores de cada vez, há uma governanta que cuida das refeições e assuntos domésticos. A boa notícia é que, pouco a pouco, o programa começa a se abrir para autores de outros países, com a condição de que tenham algum livro publicado/traduzido na França. http://www.chartreuse.org/Site/Cnes/Comites_lecture/montnoir.php

2 - Iber Libros – espécie de sebo na internet onde se pode encomendar livros antigos e raros. Não somente em espanhol, mas em todos os idiomas. http://www.iberlibro.com

3 - Bloomsday http://en.wikipedia.org/wiki/Bloomsday – No dia 16 de junho deste ano – feriado na Irlanda, quando se celebra a obra maior de James Joyce, Ulysses – Antonio Soler, Enrique Vila-Matas, Jordi Soler e outros escritores espanhóis reconhecidíssimos em seu país viajaram juntos, por inciativa própria, para fundar uma espécie de confraria em homenagem a Joyce. Começavam a beber cerveja no café da manhã! (Exceto Vila-Matas, alcoólatra recuperado). Passearam a esmo pelas ruas, participaram das encenações em toda Dublin e voltaram para casa empenhados em repetir a dose no ano que vem. Que farra!...

Soler ainda contou em em Dublin todo mundo se embriaga todos os dias da semana, desde cedo, inclusive os jovens. Às cinco da tarde, estão todos bêbados. Nos fins de semana, viram a noite em bebedeiras, voltam pra casa, trocam de roupa e... vão à missa! É um país tremendamente católico.

Enfim, desculpem se estou "literária" demais, mas queria compartilhar com vocês todas essas novidades que aprendi ontem, em jantar no restaurante D.O.M. (outro fato absolutamente fora da rotina), em companhia de Miralles, Soler e ainda o francês Stéphane Audeguy. Estes dois últimos tiveram a experiência maravilhosa de passar dois meses em Villa Mont Noir.

Aos poucos contarei mais novidades literárias desta Beinal 2008.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O maior luxo: ser dono do tempo

Fala do Paulo Coelho na revista Caras que o traz na capa, anterior a esta que está nas bancas: "Sou dono do meu tempo, esse é o meu maior luxo."

De fato, Paulo mora em um bairro chiquerésimo em Paris, é dono de apartamentos em Dubai (Emirados Árabes, ganhou do governo de lá), Alpes franceses (casa de "campo") e Rio de Janeiro (na Av. Atlântica, em Copa). Mas own, principalmente, seu tempo. Acorda de manhã, caminha pela vizinhança, vai à natação, no fim da tarde pratica arco e flecha dentro de casa mesmo, o restante do tempo é passado na internet – http://paulocoelhoblog.com/ –, através da qual mantém contato com seus leitores no mundo inteiro. "Mas o que me diverte mais é escrever", diz.

Que sonho!... Ser dona do meu tempo! E tem gente que tem a coragem de dizer: "Ah, que tédio, eu ficaria deprimida, sem ter o que fazer..." Como assim? Só se já tivesse um pé na depressão, haveria risco disso acontecer.

Um autor aqui da Record, carioca, gente comum, tem vida parecida. A família tem vários imóveis espalhados no Rio, ele recebe os aluguéis de cada um deles. Perguntei como era sua rotina: "passo metade do dia lendo, porque considero ler parte do trabalho de ser escritor (adorei isso!), e a outra metade escrevendo." Delícia!

Fico pensando no que eu faria se fosse dona do meu tempo. Acordaria razoavelmente cedo durante a semana, faria aulas de yoga, depois um mergulhinho no mar, depois almoçar e... cochilinho à tarde! Depois acordar e ler e escrever, ler e escrever, ler e escrever... Depois ficar com os filhos, à noite sair com os amigos ou para jantar fora. Quando ficasse muito repetitivo, viajaria para as minhas outras casas ou hotéis maravilhosos mundo afora. Ai, ui...

E lembrar que conheci o Paulo quando tinha 23 anos, trabalhava numa revista feminina e fui entrevistá-lo – antes de começar o sucesso com O diário de um mago. Ficamos amigos... Até hoje, considero. Mas isso é assunto para outra postagem.

***

Amanhã viajo a SP para a 20º Bienal Internacional do Livro de São Paulo. http://www.bienaldolivrosp.com.br/2008/codigo/home.asp?resolucao=1024
Temos 5 autores estrageiros no evento e outros tantos brasileiros. Vou correr à Sala de Imprensa sempre que der para olhar os emails e atualizar o blog. Continuemos em contato!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Contrato em pratos limpos

Uma grande amiga saiu pela primeira vez com um cara, ficaram juntos, noite maravilhosa, no dia seguinte ele escreve um torpedo gigantesco, explica que não quer compromisso porque acaba de separar, anda às turras com a ex-mulher, ainda tem a filha pequena etc, etc, etc.

Minha amiga está perplexa. Como assim? Quem falou em compromisso? Eu mesma endossei: ele é que está com a cabeça em compromisso, pois escreveu o mega-torpedo para dar satisfação. Se não pensasse em compromisso, não teria se dado o trabalho.

Passaram alguns dias e o camarada reapareceu. Outro mega-torpedo convidando para sair, programinha legal, indicando outra noite bacana pela frente. Minha amiga animou! Me disse ao pé do ouvido: "eu vou, mas já sei, né? Sem compromisso..." Acompanhei-a se arrumando, telefonemas pra lá e pra cá, noite maravilhosa, chegou em casa às 7 da manhã. Me contou que, na hora de ir embora, ele vira pra ela e levanta o polegar: "Valeu!"

Demos boas gargalhadas com esse homem que abriu o jogo logo no início, pôs as cartas na mesa. Comecei a achar que é muito boa essa tática, pois ninguém fica refém de ninguém. Muitas vezes a gente começa a se envolver e gasta montes de energia elucubrando se o outro está no mesmo ritmo ou não. Muitas vezez não, e aí é uma decepção... Mas este rapaz, que nada, explicou logo ao que veio, seus propósitos, sem que isso atrapalhasse ou cortasse a onda. Gostei! Vou adotar!

Muito embora saiba as coisas do coração sejam impossíveis de se amarrar em contratos, e daqui a pouco, quem sabe, serei madrinha desses dois adentrando uma igreja...


sábado, 9 de agosto de 2008

As ondas

Essas ondas de que falo não são as da Virginia Woolf, não. São as ondas dentro da gente que está em busca de um amor. Todos estão em busca de um amor, certo? Uns, do amor perdido. Outros, do amor por vir. E os que dizem que não o estão buscando, desconfio que se chamuscaram tanto com um amor passado que preferem ficar quietinhos, sem correr riscos. Pior assim.

Faz alguns anos, entrevistei para a Marie Claire um homem chamado Marcelo. Era o boom dos sites de paquera na internet e me mandaram ir atrás de alguns depoimentos.

Marcelo se casou cedo e logo teve filhos. Menos de 10 anos depois, o casamento acabou e ele se viu sem um círculo de amizades, pois quando todos ainda estavam saindo para paquerar, namorar e casar, ele já cuidava de duas crianças pequenas.

Andava meio sem eira nem beira quando um colega do trabalho sinalizou: entra internet! A princípio incrédulo, ele entrou. "No item que perguntava que tipo de mulher eu procurava, pensei bem e concluí que sempre havia tido a fantasia de sair com uma ruiva".
"E você encontrou a ruiva?", perguntei.
"Uma, não. Várias..."

Seguiram-se anos e anos de encontros fortuitos, trepadas fortuitas. Havia épocas em que Marcelo saía cinco vezes por semana. Alguns períodos eram tão intensos que ele chegava a "falhar".

"De vez em quando batia um vazio tão grande e eu pensava: tenho que encontrar alguém. Chega desse troca-troca. Dava um tempo, me recolhia em casa, prometia a mim mesmo que iria encontrar essa pessoa, esse amor. Mas ele não aparecia e eu voltava à vida de antes".

Me emocionou muito o relato desse homem que, no fim das contas, encontrou através da própria internet uma moça mais velha, que nunca havia se casado e ainda morava com os pais. Depois de três encontros, ele percebeu que era ela que estava buscando. Casaram-se e os filhos dele, do primeiro casamento, foram o casal de pajens na cerimônia religiosa – com direito a vestido branco, véu comprido, igreja, padre e tudo o mais. Não sei se estão juntos até hoje, mas é provável que sim.

Lembrei essa história ao refletir sobre as ondas internas, o dilema de quem está em busca de um amor e, de vez em quando, cansa de procurar ou de esperar. Melhor se recolher, ficar quieto e esperar a chegada da pessoa especial? Ou ir à luta, se expor ao troca-troca, ao risco de se chamuscar, mas pelo menos em movimento, procurando, farejando, apostando... Sei lá!

Acho que é preciso respeitar o movimento interno, obedecê-lo. As ondas.






quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Frase genial...

... que comprei num ímã daqueles que se prende na geladeira. É do poeta Dylan Thomas:


"Tem alguém me chateando. Acho que sou eu."





quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O Dia do Perdão

Ontem foi o Dia do Perdão. Não o Yom Kippur, que os judeus comemoram logo após o Ano Novo judaico, geralmente em outubro. Mas o dia do meu perdão.

A missa da Margô levantou uma enorme nuvem de poeira dentro de mim. Uma tempestade de areia! Apesar do fim de semana de alegria e diversão com meus filhos e minhas amigas, meu interior era um caldo em ebulição. Lembranças, questões que andavam esquecidas ou adormecidas, que eu julgava enterradas, mas que reapareceram. Desconfio que quando o defunto não tem um velório satisfatório, ou não é pranteado o suficiente, fica semi-adormecido atrás de uma parede e, de vez em quando, faz: Buuuuu! Cruzes! É assustador!

Como segunda-feira é um dia propício a fantasmas, eles reapareceram para alertar que é preciso encará-los mais uma vez, sem medo, e mandá-los dormir para sempre! Fiquem lá no passado, que é o seu lugar!

Li uma entrevista com a cantora Elza Soares na revista Trip, faz uns dois anos, em que ela dizia que o segredo de sua alegria e vitalidade é nunca olhar para trás. Difícil? Sim. Mas desse jeito, essa mulher que perdeu dois filhos, passou fome, carregou lata d´água na cabeça, sobreviveu, toca uma carreira de sucesso e tem um companheiro 30 anos mais novo.

No meio da poeirada toda, eu estava pedindo perdão a Deus, mais uma vez, pela minha ignorância, quando veio a Luz: seria eu capaz de me perdoar? Conceder o perdão a mim mesma, pelos meus tropeços e enganos; pelo que, segundo meu julgamento, fiz errado?

Pois bem, essa era a meta. Acordei cedo, fui caminhar na praia e durante uma hora – enquanto respirava fundo o ar marinho, admirava o céu azul, os coqueiros cheios de coquinhos novos e o dia que amanhecia –, perdoei a mim mesma. Me concedi o perdão. Fui perdoada.

Que alívio!...

Vocês, que lêem este post, desculpem se lhes causo algum desconforto. Se isso acontecer, é sinal de que é preciso perdoar alguma coisa. Sempre há algo a ser perdoado. E esse "algo", na maioria das vezes, pode ser nós mesmos.

domingo, 3 de agosto de 2008

O significado de Adab

Adab é uma palavra árabe cuja tradução exata eu não arriscaria definir, mas cujo significado, na filosofia que sigo, é a atenção, a cortesia e a delicadeza para com o outro.

Antes de me casar, ouvi várias vezes da minha querida e sábia cunhada, a atriz Camilla Amado, que eu deveria escolher um homem muito bem educado para ser meu companheiro. Lembro-me de que ficava intrigada com essa recomendação. Bem educado? Já tinha ouvido de outras pessoas, principalmente da minha mãe, que deveria escolher um homem rico, bonito, bem sucedido... Mas bem educado, não.

O tempo passou e, graças a Deus, consegui escolher um homem bem educado para casar, mesmo sem saber direito como seguir o conselho da Camilla. (No fim das contas, se converteu em um ex-marido bem educado, o que é uma graaande coisa!)

Hoje, esses dois ensinamentos se fundem e me fazem compreender a importância de estar atento ao outro. O que ele está sentindo? O que está querendo? O que deseja? Como quero, posso ou devo me posicionar diante de suas expectativas? Como atendê-las da melhor forma possível, respeitanto os meus limites?

Se pararmos para pensar, veremos que boa parte dos problemas que surgem em nossas vidas são fruto desse "esquecimento" do outro. Viramos um trator ou uma toupeira cega, passamos por cima do outro em marcha descontrolada, e lá vêm os problemas!

Quando a Camilla dizia que eu deveria escolher um homem bem educado, ela se referia a uma pessoa atenta aos meus sentimentos e quereres. Não no sentido de me mimar e fazer todas as minhas vontades, mas no sentido de respeitar minha invidualidade e me amar através da prática da cortesia, do respeito, da atenção cotidianas. Isso é ou não é essencial a toda relação?

Portanto, nessa semana que se inicia, convido vocês a prestar atenção aos outros a sua volta. Marido, namorado, filhos, amigos, parentes, colegas de trabalho. Vamos praticar adab com eles. É difícil, mas é possível. Vou adorar saber os resultados de quem quiser me contar.






sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Margô e sua família

Hoje o tempo parou dentro da Igreja São José, na Lagoa. Era mais de sete da noite de uma sexta-feira, todo mundo cansado, com fome, voltando do trabalho ou da escola. Mas todos queriam dar seu último adeus a Margô, Margarida Nunes Rosado, que partiu desse mundo no fim de semana passado mas deixou uma legião de amigos, fãs e a família mais bonita que eu já conheci.

Margô era assim: uma mulher com mais de 60 e menos de 70, lindísssima. Cabelos negros, olhos verdes, orelhas cobertas de mini-brinquinhos de ouro, corpo malhado pelo balé clássico, ia e voltava da academia pedalando pelo Leblon. No aniversário de 60, deu a si mesma de presente uma tatuagem de borboleta entre os seios. Casadíssima com o Joaquim, homem muito interessante também!

Conheci os dois na piscina da casa de meu amigo M., que na época era casado com uma das afilhadas de Margô. Foram apenas algumas horas, mas as histórias que Margô e Joaquim me contaram sobre como foi dar à luz e criar quarto meninas, uma atrás da outra, numa época em que ele ainda não estava bem de grana, me encantaram.

"Nós morávamos num prédio sem elevador, no quarto andar. Então, cada vez que a gente saía e voltava pra casa, eu tinha que subir, primeiro, com as bolsas, depois com as três meninas pequenas, e por último com a Margô no colo, porque ela estava grávida da quarta e não podia fazer esforço. Mas, naquela época, eu era um atleta!"

Lembro também da Margô me dizendo meio ao pé do ouvido: "Nós começamos a namorar aos 17 anos e, desde o início, foi muito forte! Eu ficava um pouco assustada, porque não conhecia aquela energia..." Ou seja, desde o início, esse casal se amou e se apaixonou e sempre houve muito amor e paixão entre eles. Sempre.

Hoje, na igreja, cada uma das filhas, netos, afilhados, genros (!) e o próprio Joaquim teceram palavras de amor e saudade a sua querida Margô. Papéizinhos amarrotados nas mãos, poesias, canções. O padre, velhinho, saiu detrás do altar e foi olhar as duas fotos que as filhas arrumaram na frente, em duas cadeiras: uma da Margô abraçada ao Joaquim; outra dela jovem, muito jovem. Queria ver o rosto daquela mulher de quem eles tanto falavam, choravam e riam ao mesmo tempo!

A melhor coisa que eu aprendi na pouca convivência que tive com Margô foi o valor de uma família bem construída – construída com Amor. Nunca tive família e sempre admirei as famílias de amigos, das quais fazia parte por breves momentos. Dizem que a família é a fonte de todos os males e que só nos faz ter problemas quando mais velhos. Mas é mentira. Quando há Amor, a família é a melhor invenção dos céus para construir seres humanos saudáveis, justos e felizes.

Mas nada é perfeito. E a Margô se foi. O Amor continua através de seus descendentes, e eu tenho a graça de conviver com alguns deles. Trago esse exemplo para minha vida e procuro construir a minha pequena família – eu e meus dois filhos, principalmente – com todo Amor, todos os dias.

Agradeço à querida Margô por me fazer refletir tão profundamente sobre o Amor e o valor da família. Viva a Margô!