sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Gaudí

Gaudí foi um arquiteto prodígio. Jovem, já assinava projetos diferentes de tudo o que havia antes em Barcelona e no mundo. A mãe o ensinou desde cedo a admirar a natureza e esta se tornou sua fonte de inspiração. Mas não se tratava de copiar simplesmente as formas naturais e sim buscar a funcionalidade delas.
Uma exposição no último andar de La Pedrera – edifício monumental na esquina de Carrer Provenza com Paseo de Gràcia – coloca lado a lado objetos colhidos na natureza que podem ter servido como inspiração/modelo para Gaudí. Por exemplo, a espinha de um animal marinho é o modelo para o ambiente que abriga a própria exposição (espécie de sótão), cujo teto e o terraço acima dele são sustentados por uma infinadade de vigas curvas – tais quais a espinha do peixe.
Já o teto da Sagrada Família, visto por dentro, lembra os galhos de uma árvore que se estendem ao céu; a copa entreabrindo-se aqui e ali, deixando passar a luz.
A luz, sim, era parte essencial da arquitetura de Gaudí. Todos os seus edifícios têm área interna larga e muitas janelas, a fim de permitir a entrada da luz natural. Os telhados não podiam ser áreas mortas, ele os transformava em playgrounds onde chaminés eram agrupadas para formar esculturas, obras de arte recobertas de caquinhos de azulejos.
Minha amiga Giselle, brasileira moradora de Barcelona, disse ter certeza de que George Lucas se inspirou nas chamines de Gaudí para criar os capacetes dos soldados do Império em "Guerra nas Estrelas"!!!
Na Casa Batlló, em Paseo de Gràcia, seu delírio chegou ao máximo. Ele tomou como inspiração o fundo do mar e adentrar a casa é como fazer parte de "Vinte mil léguas submarinas", de Julio Verne. Azulejos recobrem a área interna em tons de azul degradé, vidros distorcem a luz dando a impressão de água corrente, lustres e até mesmo o teto têm as formas de conchas e redemoinhos. O mais maluco é que apenas um ou dois andares das duas construções – Pedrera e Batlló – são abertos à visitação, enquanto os outros abrigam salas comerciais normais . Já pensou, trabalhar num edifício de Gaudí?
A beleza, a luminosidade, as cores, as formas são tão lindas e leves que parece que flutuamos dentro das casas construídas por esse homem que também era extremamente religioso, católico. Quando dei por mim, entrava e saída dos ambientes com um sorriso no rosto, rindo à toa, de tanta beleza junta. Esse Gaudí sabia tudo de Feng Shui mesmo que nunca tenha estudado a filosofia chinesa de viver bem.
Sua última obra foi a Sagrada Família, que ele tomou como uma missão espiritual. Porém, os detalhes eram tantos, a obra era tão prima, que o tempo passou, os patrocinadores cortaram as verbas, ele investiu tudo o que tinha, passou a dar aulas e workshops para angariar fundos, foi dormir num quarto minúsculo dentro da própria igreja. Até que morreu atropelado por um bonde. O funeral mobilizou toda Barcelona e ele foi sepultado nas dependências da própria catedral.
Andando por Barcelona, vejo Gaudí por toda parte. Todos os que vieram depois dele o imitaram. Eu o venero. Mais que isso, sinto carinho e ternura por esse homem que construiu casas para as pessoas serem felizes. Por amor. Dá para sentir o amor quando entramos nas casas de Gaudí. E ele não as fez para ele próprio morar, mas sim para os outros morarem. Querido e generoso Gaudí.

A Sagrada Família

A festinha era num apartamento em frente à Sagrada Família. O sol começava a se por e não dava para enxergar a igreja direito, mas a emoção de ver de perto a obra que me instigou a ir a Barcelona quando eu ainda era criança, foi enorme.
Não lembro quando foi a primeira que vi fotos ou reportagens sobre Barcelona e Gaudí, mas lembro que o impacto foi grande e que firmei uma intenção comigo mesma: "um dia, irei a essa cidade ver de perto tudo que esse incrível homem fez". De repente, lá estava eu. O sonho se tornou realidade.
Durante a festinha, perguntei a um e outro se era celebrada missa na Sagrada Família, pois gostaria de ir. As respostas eram díspares. Enquanto uma mulher disse que sim e me deu até o horário das celebrações, outro disse que a igreja estava fechada e o restante não sabia. Descobri que a Sagrada Família é para os barceloneses como o Corcovado ou o Pão de Açúcar são para os cariocas: figuras fundamentais na paisagem, motivo de grande orgulho, mas raramente vamos lá, a não na condição de cicerones.
No dia seguinte, fui conferir e descobri com certa surpresa que a igreja é um gigantesco canteiro de obras. A construção começou em 1888 e a previsão é que ainda haja 40 anos de trabalho pela frente, até que seja terminada. Ou seja, o artista calculou mal a extensão de sua obra.

Bom começo em Barcelona

Barcelona é uma cidade vibrante, alegre, cujo centro está sempre cheio de gente a qualquer hora do dia e da noite. É uma cidade turística como o Rio de Janeiro e por isso não pára.
Cheguei num domingo à tarde; céu nublado e frio. Havia feito reserva num hostel bem localizado, ao lado da rambla principal, mas na última hora consegui hospedagem no apartamento de amigos de amigos. Vazio, só eu lá.
Prédio antigo, portaria sombria, paredes descascadas. A maioria dos edifícios em Barcelona data do início do século XX, todos meio que imitando ou inspirados na arquitetura de Gaudí: flores, rococós etc. Alguns são restaurados e bem iluminados, mas não era esse o caso do que eu estava hospedada. Pelo contrário, a portaria me lembrava o filme "O inquilino", de Roman Polansky. Não preciso dizer (escrever) mais nada, né?
Meus novos amigos, proprietários do apartamento, formam um casal já na faixa dos 60, um atropelando a fala do outro. Anos de convivência dão nisso. Muito simpáticos, me mostraram toda a casa e depois me convidaram a ir com eles a uma festinha de aniversário, a três quadras dali. Gostei. Chegar numa cidade onde nunca pus os pés antes e ser convidada para uma festa é um bom começo.
Olá!
Peço desculpas a quem estava acompanhando o blog pela súbita interrupção. Quando cheguei em Barcelona, não havia computador no apartamento onde fiquei hospedada e resolvi me dar férias totais, sem qualquer compromisso. Mas agora, voltarei a narrar minhas aventuras na Europa, com calma e com acentos e cedilhas...

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Hoje e o last day in London. Apos a quinta-feira nublada, o sol voltou a brilhar ontem, timidamente, enquanto eu e Julie navegavamos o Tamisa em direcao ao Centro de Londres. Hoje esta forte e brilhante como um sabado de sol no Rio de Janeiro, porem, la fora, a temperatura e de 8 graus!
Pouco antes de embarcarmos ontem, no porto de Greenwich, vi uma placa indicando o tumulo de Pocahontas. Sim, ela mesma, enterrada numa pequena cidade chamada Gravesend, la onde o rio encontra o mar. Estava tentando viajar de volta para casa quando morreu, e acabou ficando por ali mesmo. Quem quiser saber mais sobre a historia da jovem india norte-americana que ajudou os ingleses quando chegaram a America (estava apaixonada por um deles) e acabou sendo convidada pelo rei para visitar a Inglaterra deve assistir o filme O novo mundo (The new world, 2005), de Terrence Malick. E um filme de lindas imagens, poucas falas, que mostra o romance entre ela e o ingles John Smith, e o desenrolar disso. Vale assistir!!!
Tambem vale dizer que eu encontrei o mato aqui em Londres, dentro do que e possivel na cidade. Na quarta-feira fui ao Museu Freud - casa onde o fundador da psicanalise morou em seu ultimo ano de vida, em Londres, apos escapar dos nazistas em Viena. Fica numa rua calma em Hampstead, ladeada por lindas construcoes como costumamos ver nos filmes ingleses. Uma delas e o Freud Museum, onde, no primeiro andar, fica o consultorio do mestre. Depois vou escrever sobre isso.
Depois do museu fui caminhar em Hampstead Heath, um parque a alguns minutos de caminhada do museu. No caminho, casas e lojas chiques, e um bairro residencial elegante. Depois, o parque, que imaginei que era como os outros que existem em londres, com aleas bem definidas e bem cuidadas, mas nao. E um bosque cheio de trilhas que se bifurcam e convidam a perder-se nele. Bem selvagem. Sai caminhando, enveredando pelas trilhas, e tive o prazer de ver esquilos gordinhos e felizes mordiscando frutinhas, correndo ou empoleirados no altos das arvores. Lindos!!! Tambem vi um passaro gigante, azul-marinho, preto e branco.
Muitos idosos vao passear no parque, de modo que nao me senti insegura, embora a solidao em alguns pontos fosse total. Num desses lugares, sentei-me numa raiz proeminente e fiquei alguns minutos sentindo o perfume da terra e das folhas secas, ouvindo o barulho do vento nas arvores nuas, observando a acao dos esquilos. Uma pausa no tempo da viagem. Revigorante. Quando o sol comecava a deitar-se e a projetar sombras alongadas sobre o chao, levantei-me e parti.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O sol continua brilhando e todos dizem How amazing! sobre isso. Lindos dias, nao muito frio, uma linda lua crescente no ceu a noite.
Leva dois dias, mais ou menos, para a gente relaxar e perceber o ritmo proprio da viagem. Ontem, pela primeira vez, acordei com calma, sem achar que estou perdenddo tempo ou que nao havera tempo de ver tudo o que desejo em Londres etc. Verei o que tiver que ser visto, pronto. Nao poderei ver tudo mesmo, entao ficara para uma proxima vez, se Deus quiser, ou nao (como diz o Caetano Veloso).
Entao, sai com calma por volta do meio-dia para ir a Tate Modern, um predio espetacular na beira do Tamisa. Toda a historia da arte moderna esta la tambem. Em cada andar ha um painel muito charmoso listando de forma meio desordenada os grandes movimentos da arte moderna e seus principais artistas. La no meio, enxerguei os unicos brasileiros que pude ver: Lygia Clark e Helio Oiticica. Ja e alguma coisa...
Em outra parte do museu me deparei com uma instalacao interessante de dois artistas brasileiros, uma moca de nome impronunciavel, apesar de mineira, e um tal de Cao Guimaraes (nesse eu ja ouvi falar). Os dois tingiram ostias com cores vibrantes, espalharam no caminho das formigas e as filmaram carregando esses mega-confetes nas costas. O fundo musical e um sambinha batucado em caixa de fosforos. A instalacao chama-se Quarta-feira de Cinzas. Interessantes e as pessoas gostam, algumas riem das formigas.
Nas variadas salas, varios Picassos, Braques, Miros, esculturas de Henry Moore, Brancusi, Giacometti e outros. Muito impactantes sao os quadros de Francis Bacon, as faces e corpos deformados. Mas e tao negativo! Mais tarde, no mesmo dia, na National Gallery, em frente ao quadro dos girassois de Van Gogh (o famoso, reproduzido em todo canto) refleti que a pintura do holandes tambem era impactante, vibrante, contagiante e ele, apesar da loucura e do sofrimento, nao passava isso atraves da sua arte. A maior parte de seus quadros transmite alegria - pelo menos para mim.
A noite, Julie me convidou para o Teatro. Fomos assistir uma comedia que ganhou um tal de Premio Lawrence Olivier: Os trinta e nove degraus. E uma montagem realmente muito engracada. A primeira versao do filme baseado no livro de John Buchan saiu em 1935, dirigida por Alfred Hitchcock nao era nada engracada. Mas na peca de ontem eles criam efeitos hilarios para as cenas de acao, alguns deles usando sombras. E os atores eram realmente otimos.
Hoje o programa e o Freud Museum, onde o fundador da psicanalise morou depois que fugiu dos nazistas, e onde manteve seu consultorio ate morrer. Depois eu conto como foi.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Viajar so e, na verdade, estar rodeada de novas pessoas o tempo todo. Ontem estava novamente refletindo sobre isso, pois Julie foi trabalhar e eu tinha o dia inteiro pela frente sozinha, tendo que encarar o metro, os onibus... La fui eu, destemida, e deu tudo certo. O povo londrino e simpatico e todo mundo da informacoes com um sorriso no rosto. Entao, em vez de ficar me digladiando com mapas, paro e digo as pessoas aonde quero ir e elas me mostram sorrindo, muito gentis.
Ontem caminhei pela regiao de Bloomsbury, onde moravam Virgina Woolf e sua turma. Nao consegui encontrar a casa dela, mas sim a casa de Litton Strachey, escritor e critico ingles que foi interpretado magistralmente por Jonathan Pryce no cinema, no filme Carrington. O escritor foi casado com a pintora Dora Carrington (interpretada por Emma Thompson) e ambos eram homossexuais mas se amavam tremendamente. Cada um tinha sua vida sexual particular, mas formavam um casal apaixonado ao mesmo tempo (!). Tanto, que quando ele fica doente e morre, ela se mata com um tiro de espingarda.
Fui caminhando pelas ruas e atravessando parques ate o British Museum. Uau, toda a historia da humanidade esta la. Lembro que quando estive na Grecia em 1997, fui ao Parthenon e achei tudo muito bonito, mas um tanto depedrado. Pudera, pois todos os afrescos estao la no British Museum!!!
Estava meio sem saber por onde comecar, quando cai no meio de um tour guiado por um homem com um broche na lapela: The Bible Tour. Interessantissmo, pois ele nos levou a uma parte do museu dedicada aos Assirios, que viveram cerca de 600 a.C. Os caras entalharam suas historias nas pedras com tantos detalhes, como por exemplo, a expressao de pavor dos cavalos durante as batalhas. La pelas tantas, uma senhora atras de mim perguntou: From wich congregation you are? Ou seja, ela pensou que eu era religiosa como ela... Ate sou, mas comungo em outra vertente!
Coisas que mais chamaram minha atencao no museu: a mumia de Cleopatra - sim, ela chegou la em 1843 - e a Pedra de Rosetta, impressionante obelisco negro, todo entalhado com hieroglifos, que ajudou os exploradores ingleses a compreender a escrita dos antigos egipcios.
Mais caminhadas e travessias de parques, e cheguei a British Library. Ai sim eu me senti em casa!! Principalmente na sala que contem os Tesouros da biblioteca, um comodo escuro onde os documentos mais incriveis que se pode imaginar encontram-se expostos por tema. Literatura tem o diario de Lewis Carroll, uma carta de Jane Austen para a irma, anotacoes de Virginia Woolf para Mrs. Dalloway, de Joseph Conrad para Lord Jim, de Oscar Wilde, um poema escrito a mao por Sylvia Plath...
Musica contem partituras originais de Mozart! Rascunhos de letras de musicas dos Beatles!!!
Ciencia tem estudos de Leonardo da Vinci sobre o curso do Rio Arno, em Florenca, sobre como a lua refletia a luz do sol e sobre mecanismos com rodas e polias, alem de cartas de Charles Darwin e Isaac Newton! Isso sem falar nas Biblias e Alcoroes todos desenhados com tintas coloridas...
Ja era noite quando fui encontrar Julie em um pub, pois era despedida de um colega que vai passar tres meses viajando de barco pelo Atlantico e Mediterraneo. Muita gente nova, gente genuinamente inglesa, que, na verdade, quer dizer gente de todas as partes do mundo.
Enfim, aqui estou so mas acompanhada o tempo todo.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

E inverno em Londres, mas o sol brilha e o ceu esta limpo! As pessoas dizem que eu trouxe o sol e o calor do Rio de Janeiro... Ha gente usando bermudas e camiseta nas ruas (poucos) e da pra ver esses poucos sao otimistas demais, que estao empolgados com o sol, porque na verdade faz frio!...
Minha amiga Julie mora em Greenwich, um bairro afastado do Centro, numa rua muito calma e silenciosa. Ela me doou seu quarto e esta dormindo na sala. O apartamento e uma graca, com a cozinha junto da sala de estar e varias fotografias, pinturas e desenhos nas paredes. Minha cama tem lencois rosa-shocking indianos e e tao silencioso que eu dormi quase 12 horas; Julie teve que me acordar as 11h de domingo, ou eu seguria dormindo...
Acordei meio assustada com a hora, me arrumei em um segundo e seguimos para Chinatown, porque e Ano Novo Chines!!! O ano do Rato!!! Segundo os chineses e um ano que promete muitas mudancas, mas tambem ha o risco de algumas tragedias. Entao, as pessoas rezam pedindo protecao e prosperidade. Eu tambem!...
Cai no meio da parada chinesa pelo Ano Novo, as pessoas fantasiadas (os chineses, nao os ingleses), mas em termos de animacao nao se compara com o Brasil. Fomos a um restaurante chines muito bom e relativamente barato, chamado New World. Comidas de Hong Kong, muito diferentes das que temos nos restaurantes chineses no Brasil. Pasteis de massa muito leve, feita de farinha de arroz, cozidos e nao fritos, com recheio de carne de porco e camarao. Deliciosos!!!
Comemos com outras tres amigas de Julie, inglesas. O sotaque delas e dificil para eu compreender, porque fui acostumada com o acento americano. Saimos para a rua e foi curioso, porque hoje e o dia da entraga do Bafta, o Oscar ingles. Havia tapete vermelho, luzes, arquibancada, e eu pensei que poderia ficar por ali o dia inteiro, so para ver mais tarde Daniel Day Lewis, Javier Barden e outros que estao concorrendo. Mas o dia nos chamava...
Hoje era um dia incomun em Londres, por causa do sol. Todos estavam nas ruas, muitas criancas, todo mundo alegre. Trafalgar Square cheio de gente assistindo um espetaculo montado pela comunidade chinesa. Mas seguimos andando ate a margem do Rio, passando pelo Big Ben, enorme e majestoso, cheio de detalhes dourados. Fomos ate o Royal Festival Hall ver a programacao e encontramos um amigo da Julie, Richard, very english. Fomos beber cha em um cafe muito chique, no banheiro havia sabao e creme para as maos da Aveda!...
Na saida do cafe fomos ver um sebo que acontece ao ar livre, nas margens do rio, todo fim de semana. Vi uma biografia do Joseph Conrad por 10 livras, caro, mas tive muita vontade de comprar... O cara nasceu na Polonia, foi Marinheiro durante anos, tentou se matar e so depois de tudo isso se tornou escritor, escrevendo em ingles que, in fact, era o terceiro idioma que aprendeu na vida... Na noite passada, caminhando com Julie em Greenwich, ao longo do Rio, lembrei dele, porque No coracao das trevas comeca com os marinheiros navegando ao longo do Tamisa a caminho do mar...
The OXO Gallery e uma especie de shopping com pequenas lojas, todas especializadas em design, bem em frente ao Rio. Estavam fechadas, mas olhamos cada uma das vitrines antes de seguir adiante para um cafe no pub bem em frente ao Globe Theatre, o antigo teatro onde as pecas de Shakespeare foram primeiramente encenadas (na verdade, e uma reconstrucao).
E agora, em casa, assistimos finalmente o resultado do BAFTA: a melhor atriz e Marianne Cotillard por Piaf (merecidissimo!), o melhor ator e Daniel Day Lewis por There will be blood, melhor filme e Atonement (Desejo e reparacao). Ufa! Hora de ir dormir...

sábado, 9 de fevereiro de 2008

A viagem comecou (desculpem a falta de cedilhas e acentos). Estava na fila de embarque aguardando a chamada da Iberia e pensando no quanto esta viagem internacional seria diferente das duas anteriores, em 2006 e 2007, quando fiquei em hoteis charmosos, comi em restaurantes caros e magnificos vinhos. Dessa vez eu vou sozinha, nao poderei gastar grandes quantias, mas esse tipo de viagem tambem tem graca!...
Estava afirmando isso para mim mesma e tentando espantar a tristeza chata que teimava em se anunciar quando ouvi um funcionario da companhia aerea chamar meu nome: Maria Valeria Stycer!... Me aproximei dele e ouvi incredula: fizeram um upgrade para a senhora; agora ira na classe executiva. Por que?, balbuciei. E ele: nao sei...
Continuei caminhando com a turba, com lagrimas nos olhos. Impossivel nao recordar a minha primeira viagem internacional, quando meu pai me mostrou o mundo. Fomos pela Air France na primeira classe. Menus variados, chocolates de presente... Ele realmente fez questao de me mostrar o melhor do mundo.
E ali estava eu novamente, dessa vez meio mal vestida - jeans, tenis e camiseta - embarcando na classe executiva. Comi do bom e do melhor, bebi excelente vinho espanhol e um delicioso vinho de sobremesa junto com uma selecao de queijos. Tela individual para escolher e assistir o filme que eu quisesse. Dormi como um bebe, quase deitada, com venda nos olhos... Quietinha, silenciosa, agradecendo esse presente do destino bem no incio da viagem. Que continue assim.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Amanhã, dia 8 de fevereiro, partirei em viagem de 2 semanas à Europa. Oito dias em Londres e 5 em Barcelona. Vou procurar escrever diariamente no blog. Quem quiser saber as novidades de além-mar, esteja aqui. Vamos manter contato!...
O fim do Carnaval traz em si uma tristeza!... Quatro ou mais dias de imersão total na maior festa do mundo, a alegria pela alegria, por estar junto com o povo, sem distinção de classe, cor, cheiro, nada. O encontrar descompromissado com amigos novos ou antigos para celebrar... o quê? Não se sabe ao certo, mas certamente estar vivo!
Lembro de uma instalação que vi há alguns anos no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, de autoria do cineasta Karim Aïnouz – que dirigiu "Madame Satã", com Lázaro Ramos. Atravessávamos uma cortina de fios brilhantes para adentrar um salão totalmente negro, o chão coberto de purpurina dourada iluminada por discretos feixes de luz pálida. Dois telões em paredes opostas mostravam imagens coadjuvantes do Carnaval: num deles, um casal de amassa numa esquina, beijos sôfregos, mãos aqui e ali; no outro um velho bêbado caminha pelas ruas amparando-se nos postes, cambaleando, quase caindo, mas seguindo em frente. A música era uma sonata clássica, lenta e pungente.
Lembro que entrei e deixei meus olhos se acostumarem à penumbra, ouvindo a música, observando o casal lúbrico e o velho decadente, e naquele momento senti toda a tristeza que coexiste com o Carnaval e que se sobressai quando ele chega ao fim. Acabou. Os amigos foram para suas casas, não é mais permitido andar fantasiado no meio da rua ou, principalmente, violar as regras.
Permanecem a lembrança da alegria e saber que ela mora dentro de nós; seria bom que vigorasse o ano inteiro, independente do Carnaval.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

"Vem cá, você faz casamento?", perguntou a menina de maria-chiquinha.
Dia 4 de fevereiro de 2008, Rua Almirante Gonçalves, Copacabana, pleno Carnaval carioca. Eu, vestida de freira, hábito na cabeça, cruz (de borracha) no pescoço. Já vinha observando a moça de cabelos claros curtos, nariz arrebitado, discretas sardas, beleza e doçura incomuns. Estava parada bem na minha frente, à esquerda, junto com um grupo no qual havia ainda dois palhaços e a maria-chiquinha. Já vinha ouvindo trechos da conversa deles, quando o volume do Rancho Flor do Sereno permita.
"Casamos, mas não fizemos festa"; "Estamos juntos há um ano, comemoramos hoje..."
Então, não pensei duas vezes antes de responder: "claro que faço!"
Perguntei o nome do noivo – um dos palhaços – e ele: "André". E a noiva? "Letícia".
Coloquei um de frente pro outro e perguntei: "André, você aceita Letícia como sua legítima esposa?" Ele respondeu: "sim..." Mas a palava "esposa" desafinou nos meus ouvidos. Tão antiquada em seus significados! (Li uma entrevista com a cantora Madonna, recém-casada com o cineasta Guy Ritchie, e o repórter perguntou como era sua vida de esposa. Madonna respondeu: "I´m not a fucking wife" – corta!)
Resolvi pegar mais leve com Letícia: "você aceita André como marido e que seja infinito enquanto dure?" Ela sorriu feliz: "sim!..."
Mandei que os dois se beijassem, pedi uma salva de palmas aos amigos e arrematei: "Que Deus os abençôe, tudo de bom, E QUE SEJA INFINITO ENQUATO DURE!"...
Melhor assim.
Mais tarde, comentei com meu querido, e ele definiu muito bem: "Vinícius inventou um novo mandamento com essa frase..."