sábado, 26 de novembro de 2011

Ser índio

Índio, na verdade, não é o nome correto para os brasileiros, nossos irmãos de sangue, que formam mais de 250 etnias em nosso país, e falam mais de 180 idiomas diferentes.

Eles eram 5 milhões no século XVI, e hoje são 350 mil.

Todos os dias, pela manhã, eles se levantam antes do sol raiar, lá paras quatro ou cinco horas, e se banham no rio gelado para lavar os sonhos da noite.

Eles se levantam e se deitam junto com o sol para aproveitar toda a claridade do dia.

Aprendi essas e muitas outras coisas com Daniel Munduruku, escritor indígena da etnia Munduruku com mais de 40 livros publicados, formado em Filosofia, mestre em História e Psicologia e doutor em Educação pela USP. Eita homem estudioso, sô!

Foi durante a mesa redonda Cultura indígena: do direito ao respeito à diversidade, na Primavera dos Livros 2011. Uma presença tranquila ao meu lado...




Lembrei da entrevista que fiz com o também escritor Kaka Werá Jecupé, da etnia Guarani, para meu livro de entrevistas Encontros com Deus. Ele estava de passagem pelo Rio de Janeiro e me recebeu na casa onde estava hospedado, em Copacabana.

Ficamos conversando na sala e noite foi caindo, caindo... Ele não esboçou movimento para acender a luz, tampouco eu...

E assim terminamos a entrevista em completa escuridão. Mas eu conseguia vê-lo, enxergá-lo, porque meus olhos haviam se acostumado ao escuro.

E ali eu entendi profundamente o que era ser índio... (ops!)


sábado, 19 de novembro de 2011

Descobrindo a sua força interior com o Leão Cordélio

Walt Disney produziu alguns filmes curtos, além dos famosos longa-metragens de animação, e eles chegaram ao Brasil, em revistinhas acompanhados de discos de vinil compactos, por volta de 1970. Eu tinha menos de 10 anos e logo virei colecionadora: tinha um organizador com lâminas de plástico onde guardava os discos, as revistinhas ficavam em uma estante, e eu me sentava durante horas para ouvir e acompanhar as histórias.

Dentre todas, uma ficou na memória: o Leão Cordélio. Alguém aí ouviu falar? Ou assistiu e também se lembra?

Cordélio era um filhote de leão que, por engano, foi deixado pela cegonha em um rebanho de ovelhas. Foi criado por uma velha ovelha, que não podia mais ter filhos, e cresceu forte e... bobo. Porque Cordélio era menosprezado por todos desde sempre! Nos campeonatos de cabeçadas das ovelhas, levava a pior. Todas zombavam e faziam troça, apesar de gostarem dele.

Até que certa noite... Um lobo aparece rondando o rebanho e arrasta consigo justamente quem? A mãe de Cordélio. Ela grita: 'Cordéééélio, Cordéééélio!' Mas ele morre de medo, mete o rabo entre as pernas e se esconde como as outras ovelhas. Até que, de repente, um grito mais forte e desesperado da mãe: 'Cordééééééééééélio!' Faz Cordélio acordar para a sua natureza de leão...

O resto eu não vou contar. Tem que assistir ao filminho - são 8 minutos, dublado em português.

Pra gente se lembrar do leão que existe em nós, muito embora não acreditemos nisso algumas vezes.



domingo, 13 de novembro de 2011

Peço desculpas

Domingo recente, fui caminhar no calçadão da praia e lembrei, pela décima vez, da necessidade de pedir desculpas a uma pessoa querida que magoei - e já faz tempo, quase dois anos sem nos falar. Refleti: "é fim de ano, boa época para resolver esses assuntos".

O problema é que eu já havia refletido e tomado essa decisão várias vezes ao longo desse tempo, porém, sem partir para a ação.

Termino de caminhar e paro na calçada, esperando o sinal fechar para atravessar a rua. Olho para a esquerda, distraída, e quem está ao meu lado, ombro a ombro? A tal pessoa.

Ziiiiiiimmmm... Pow! É agora.

Toco em seu ombro e ela me olha... Que susto! Trocamos meia dúzia de palavras sem sentido - o tempo, o calor, a bicicleta, o cachorro... O sinal fecha, atravessamos a rua.

Chegamos à outra calçada e ela se prepara para seguir seu rumo, mas eu interrompo:

- Espera!... Quero te dizer uma coisa e estou para fazer isso há muito tempo...

?

- Quero te pedir desculpas por qualquer coisa que eu tenha feito e que tenha te aborrecido.

Olhar desviado, expressão de ironia como quem pensa (com razão) "é fácil pedir desculpas".

Continuo:

- Não apenas pedir desculpas, mas te garantir que não vai acontecer novamente, caso ainda exista uma chance da nossa amizade continuar... (Nessa hora a minha voz tremeu, muita emoção!)

Olhos perscrutando o meu rosto, um misto de surpresa e desconcerto.

- Tá desculpada... - e ainda ganhei um abraço.

Pronto, cada um seguiu o seu caminho com o coração mais leve.

E tem gente que diz que milagres não existem!




segunda-feira, 7 de novembro de 2011

SOS Leblon

Graças a Mônica Paiva, do blog Moniquinha, que veio ao Rio neste fim de semana, conheci uma porção de mundo ainda real dentro do Leblon que habito desde 1998.

Porque o Leblon de Manoel Carlos pirou. Os preços triplicaram, não só dos imóveis, mas de tudo. Vejam:

Outro dia, fui ao armarinho da Rua Dias Ferreira comprar um zíper para uma almofada, que havia arrebentado. Na hora de pagar, o atendente me disse: "Sai pela metade do preço". "Por que?", perguntei. "Porque o aluguel da loja dobrou. Passou de R$ 2,5 mil para R$ 5 mil e vamos fechar".

Olha que o armarinho é uma micro-loja, onde mal caberia uma sorveteria. "Há quanto tempo vocês estão aqui?", eu quis saber. "Quarenta anos", respondeu o rapaz, cabisbaixo.

No domingo, a Mônica me convidou a encontrá-la após a missa, aqui no Leblon mesmo, pois sua irmã Marília, que a estava hospedando, é minha vizinha de bairro. "Na Santa Mônica, né?", deduzi, por ser a principal igreja do Leblon, na Ataulfo de Paiva esquina com José Linhares. "Não, naquela outra..."

Aquela outra é uma igreja onde eu nunca havia pisado, perto do Shopping Leblon, bem na entrada da comunidade de baixa renda chamada Cruzada - espécie de favela horizontal dentro do bairro. (Sim, por mais que queira ser chique o Leblon não se livra de ter a sua favelinha).

Foi uma surpresa boa: lá dentro havia gente comum, moradores da Cruzada misturados com a classe média dos arredores. Havia até uma vizinha do meu prédio. O coroinha era um adolescente negro e o coral, muito afinado, formado de moças com jeito de serem da Cruzada também.

No fim da missa, o padre falou da necessidade de os fiéis contribuírem com mantimentos para as cestas básicas distribuídas pela paróquia, pois com o fechamento do supermercado Sendas, o Leblon está servido, apenas, pelos dois supermercados mais caros do Rio de Janeiro: Zona Sul e Pão de Açúcar. "As pessoas têm que sair do seu bairro para fazer compras. E não é o bairro ao lado, mas, mais longe, como Botafogo, Copacabana ou até Barra da Tijuca".

O que começou como uma brincadeira e um charme, o Leblon do Manoel Carlos, está virando um pastiche do que já foi um bairro calmo e familiar do Rio de Janeiro. O último que sair, apague a luz.

Abaixo, a Rua Dias Ferreira, onde hoje os paparazzi correm atrás dos artistas o fim de semana inteiro.




sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Artistas que eu admiro

São aqueles que expõem seu inconsciente de forma ordenada e bela, presenteando-nos com obras de arte.

Mas é preciso ter muita coragem para expor o inconsciente, porque é mais do que ficar nu na frente dos outros, é deixar a alma nua pra todo mundo ver - e julgar.

Mas quem se importa?

Os escritores João Gilberto Noll, Nuno Ramos e Reinaldo Moraes não se importam. Por isso eu gosto tanto dos livros deles.

Outro que saiu totalmente do padrão esperado e nos assalta com um filme perturbador é Pedro Almodóvar. La piel que habito, que acaba de entrar em cartaz, apesar de se basear em um romance - Tarantula, do francês Thierry Jonquet - contém todas as obsessões deste mestre do cinema. Um filme de poucas gargalhadas, que faz a gente sonhar com ele e acordar no dia seguinte pensando nele.

São obras assim que nos fazem entender a famosa frase de Picasso: "A arte é uma mentira que nos conta a Verdade".