domingo, 23 de fevereiro de 2014

Quero ser Branca de Neve

Esses dias me peguei pensando fortemente na Branca de Neve. Flashes do filme que assisti umas 100 vezes quando minha filha era pequena me vieram a mente. O rosto da Branca, estampado em uma camiseta que não cheguei a comprar, também.

Uma bobinha, a Branca de Neve, sempre alheia aos perigos que lhe cercam. Mas com seu jeito ingênuo, sempre sorrindo e cantando, se safa do punhal do caçador, dos sortilégios da madrasta má, dos monstros e fantasmas que lhe perseguem na floresta escura.

No meu livro de entrevistas Encontros com Deus (Mauad, 1997), o escritor e religioso Frei Betto conta que, na juventude, teve uma crise de fé. Foi conversar com o padre que era seu mentor e ele aconselhou: “Betto, se você estivesse perdido em uma floresta escura, continuaria a andar ou esperaria amanhecer?” Ele refletiu e concluiu que era melhor esperar amanhecer.

Branca de Neve tomou conta dos meus pensamentos porque tenho andado na floresta escura sem saber ao certo quando verei a luz. Estou fora do alcance do caçador, insuflado pela madrasta má, mas ainda não sei a extensão dos efeitos de sua maldade. As árvores estendem seus galhos, como se fossem braços, se prendendo às minhas roupas e me impedindo de avançar. Pássaros noturnos voam sobre minha cabeça grasnando, turvando os pensamentos, anunciando dificuldades que rezo para não acontecer.

Quero ser Branca de Neve porque ela simboliza a leveza e a pureza mesmo quando o universo parece tramar contra nós. Chega a ser ignorante, a coitadinha, mas isso em nada diminui o valor de seu caráter pleno de Alegria e Bondade. No filme da Disney, após desabar, ela se levanta e segue seu caminho, faz novos amigos, cria uma nova existência para si junto do Príncipe Encantado.

Bobinha e leve como a Branca de Neve, aguardo o amanhecer.



domingo, 9 de fevereiro de 2014

Balada em Praga - último post sobre a viagem

Perguntei ao recepcionista do hotel onde poderia ir sozinha, num sábado à noite. Ele me mostrou o mapa do centro da cidade e delineou um caminho: “Essa é uma rua com vários bares, vá andando e vai encontrar algum lugar”. OK, me arrumei e saí com a cara e a coragem.

Andando pela tal rua, avistei um grupo animado que se dirigia a uma portinha. Sem pensar, apressei o passo e me juntei a eles. Desceram uma escadaria e fui atrás, livrando-me da assustadora sensação de adentrar um bar sozinha, à noite, sendo mulher, em uma cidade estranha.

O bar era amplo, estava cheio e uma banda ótima tocava covers de rock. O vocalista, com voz gutural, lembrava O Coisa do Quarteto Fantástico, e mandava muito bem cantando sucessos do U2, Oasis, Pearl Jam, Guns and Roses.


Achei um lugar no balcão e pedi uma cerveja, mas logo me convidaram para uma mesa perto do palco, onde os ocupantes eram das mais variados nacionalidades: Nigéria, Japão, Espanha e... Bielorrússia. Este último, já tinha ouvido falar, mas não sabia que era um país (assim como a Macedônia, que vergonha). Depois fui conferir no mapa.

Terminei a noite dançando em meio a um grupo de mulheres na faixa dos 40 anos vestidas como colegiais. Eram cinco e não faço a menor ideia de porque estavam vestidas daquele jeito, porque não falo uma palavra de tcheco e elas não falavam inglês... Mas foram ótimas companhias.

A outra saída noturna foi um dia antes de ir embora e não quis repetir o lugar. Caminhei a esmo pela cidade até encontrar um bar que me pareceu bacana: posters irados nas paredes, música boa e alta. No subsolo, uma boate.

Me ajeitei no balcão e, dois minutos depois, o bar foi invadido por uma horda de jovens italianos. Cerca de 30 rindo, tagarelando. Queriam beber cerveja e o dono do bar exigiu os documentos de todos como prova de que eram maiores de idade. Em pouco tempo uma pilha de passaportes for erguida bem ao meu lado.

Finda a inspeção, o dono do bar chamou um ajudante para tirar chope para todo mundo. O balcão ficou coberto de canecos e os jovens queriam tirar fotos, até o dono do bar embarcou na brincadeira, mostrando o muque após tirar tanto chope. Menos de meia hora depois, tão rápido quanto havia chegado, o grupo desapareceu na boate no subsolo.

Permaneci ainda algum tempo observando as pessoas no bar, curtindo a música, depois também me fui, pois as férias haviam terminando e era hora de voltar para casa.