sábado, 29 de novembro de 2008

Para onde vai o dinheiro do futebol?

Não entendo nada de futebol, então, alguém me explique: para onde vai o dinheiro que o time ganha quando vence uma partida?

Neste sábado pela manhã, fui ao Clube do Flamengo, na Gávea, assistir a um campeonato de futebol infantil. Meu filho jogou contra um time de Piracicaba (SP). Os garotos vieram de ônibus ontem à noite, dormiram em hotel e apareceram hoje às sete da manhã cheios de gás, vestindo camisas com o nome do patrocinador. Jogaram pra caramba, pegaram de surpresa o time de garotos da Zona Sul e ganharam de 5X0. Vexame...

Os pais mais inflamados culparam o técnico e começaram a se organizar para ir juntos à coordenação de esporte, reclamar. Mas de repente, alguém lembrou: "Pô, mas o salário do cara tá três meses atrasado..." De fato, diante dessas circunstâncias, reclamar como? Com que autoridade?

Após o jogo, fui caminhar pelo clube e entrei no ginásio onde treinam as atletas olímpicas Jade Barbosa e Daniele Hipólito. Montes de gentes se empurravam para ver as estrelas saltarem e pularem. Muito bonito mesmo. Mas os equipamentos todos rotos, esfarrados, uns gatos dormindo aqui e acolá (adoro gatos, mas acho que não deviam estar ali naquele momento).

Mais adiante, ruínas de obras abandonadas, uma quadra de futsal coberta de água pela metade, formando uma poça gigante que deve ser o paraíso dos mosquitos da dengue. Socorro!!! O Flamengo é o time que mais ganha campeonatos, patrocinado pela Petrobrás, a maior empresa brasileira. Como se explica?

Saí de lá chateada com a precariedade, com o descaso e a falta de incentivo aos atletas, músicos, escritores, enfim, a todos os artistas brasileiros. Parabéns amplo, total e irrestrito a Jade e Daniele, e a todos que como elas persistem e continuam brilhando, apesar de tudo.

Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome... (Gente, de Caetano Veloso)


quinta-feira, 27 de novembro de 2008

The streets of Rio de Janeiro

Passei os dois anos e meio mais recentes indo do Leblon a São Cristóvão às 9h da manhã e voltando à Zona Sul às 20h, às vezes, às 22h. Mesmo trajeto todos os dias, mesmos horários, de segunda e sexta, sem parar...

Há um mês, estou trabalhando em home office (como se diz de forma chique, hoje em dia, trabalhar em casa). Duas a três vezes por semana, tenho que me afastar do escritório para reuniões, compromissos, eventos etc. Saio pelas ruas do Rio de Janeiro e me admira a alegria, as cores, a variedade de gente e de acontecimentos pulsando o tempo todo. Quer dizer, a vida continua lá fora, sempre continuou, só que eu não via.

Não sei quanto tempo vou ficar em home office; por enquanto, estou gostando muito! E como são especiais essas minhas excursões pela cidade. Nada demais, só ver bairros, paisagens e pessoas que fiquei 2 anos e meio sem ver. Elas existem! Estavam aí o tempo todo!

Lembro de Philadelphia, antigo filme em que Tom Hanks morre de aids. A abertura é a câmera passeando pelas ruas da cidade e as pessoas - vendedores, porteiros, crianças - acenam de longe. Enquanto isso, Bruce Springsteen canta The streets of Philadelphia... Sutilmente, vem a mensagem: a vida continua. A gente morre, mas tudo continua. Que bom!


segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A biblioteca de Carlos

Na semana passada, conheci a biblioteca de Carlos Drummond de Andrade. Não pedi, não planejei, aconteceu. De repente, eu estava entrando no apartamento no Posto 6, Copacabana, onde o poeta morou boa parte da vida, desde o início da década de 60 até falecer, em 1987.

A biblioteca inteira cabe em um pequeno quarto, mais parte de uma estante em outro quarto. Muitos volumes encadernados com capas de couro e letras douradas. Uma quantidade menor de livros comuns, edições antigas, algumas das quais reconheci, pois meu pai possuía esses mesmos livros em sua própria biblioteca.

Um álbum de retratos chegou às minhas mãos e vi fotos da família que remontam aos tataravôs. Muito bem guardadas e conservadas. Imagens de Itabira, terra natal do poeta, onde uma colina foi transformada nos dias de hoje em um grande buraco - é o que me informaram - graças a uma mineradora.

E mais: Drummond bebê; muito jovem, o rosto fino semelhante a caricatura que fez de si mesmo mais tarde; com a esposa de toda a vida, Dolores; com a filha Maria Julieta criança, loura, linda; com os netos bebês e adolesentes; na companhia de amigos como Lygia Fagundes Telles, Manuel Bandeira, Pedro Nava, Fernando Sabino, Helio Pellegrino, Paulo Mendes Campos...

De tudo, o que mais me impressionou foi o tamanho da biblioteca: pequena. Diferente de outras bibliotecas de escritores contemporâneos ou intelectuais que tive a oportunidade de conhecer, com estantes do chão ao teto repletas de camadas e camadas de livros, uns por cima dos outros. Como se acumular fosse garantia de apreender seu conteúdo.

A biblioteca de Carlos ocupa pouco espaço. Mas aposto que o poeta leu cada um daqueles livros, do início ao fim.





domingo, 23 de novembro de 2008

A amizade

Todos os dias, antes de dormir, rezo com meus filhos. Primeiro, agradeço por todas as coisas boas do dia e da nossa vida. As menores coisas. Enumero as ocorrências do dia para que relembrem pequenos detalhes do que aconteceu, com a intenção de que tomem consciência de que tudo correu bem, e que valorizem isso. Não sei se dá muito certo, mas faço assim mesmo.

Depois, os abençôo pedindo tudo de bom: saúde, paz, amor, luz, sorte, alegria... Outro dia, meu filho me interrompeu, me puxou para junto dele, já deitado, e disse baixinho no meu ouvido: "Amizade". Ah é, amizade!...

Percebi que nunca pedia "Amizade". Talvez porque eu tenha muitos amigos, graças a Deus. Mas passei a refletir sobre esse atributo e, naturalmente, vieram a vontade e as oportunidades de estar com amigos que não vejo faz tempo, que moram longe, com quem dificilmente falo... Mas quando falo, parece que engatamos o papo de ontem.

Assim, em Ouro Preto, estive com Celia e Cadu, casal de amigos cariocas que moram em Mariana, com quem viajei ao Nordeste na época da faculdade, até o Ceará, 24 horas de ônibus pra ir, mais 24h pra voltar. Uma experiência dessas fortalece a amizade para sempre...

No feriado de Zumbi, minha casa se encheu de gente, amigos de variadas procedências. As conversas me fizeram refletir e tomar decisões que já davam voltas na minha cabeça, sem se esclarecer. Nada como uma boa conversa com amigos para as coisas andarem pra frente!

Agora, todos os dias na hora da bênção, eu peço: "Amizade..."




sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Ah, bruta flor do querer

Vicky Cristina Barcelona, do Woody Allen, me lembrou a canção O quereres, de Caetano Veloso. Afinal, o que queremos? Sair por aí arriscando, colecionando experiências, assumir o desassossego inerente ao ser humano? - e isso me lembra também O livro do desassossego, do Fernando Pessoa. Ou escolher um dos moldes que a sociedade nos oferece, se enquadrar nele e ficar ali quietinhos até que uma reviravolta da vida nos jogue pra fora? - ou não, como costuma dizer o nosso Caetano, pois ainda existe a possibilidade de ficarmos pra sempre encaixados, e não sei se isso é bom ou pessimamente ruim.

Já fui Vicky, hoje sou mais Cristina, nunca fui María Helena. E vocês, homens e mulheres? Vão assistir ao filme e gargalhar diante das nossas contradições, tão bem espelhadas em Javier Barden, Penélope Cruz e Scarlett Johansson.

E vamos ouvir Chico e Caetano cantando O quereres, pra inspirar a reflexão.


quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Luz no fim do túnel

Dessa vez não é o trem vindo na nossa direção, como dizia professor meu, mas a chance de uma virada no modelo ameaçador em que vivemos. Ameaçador porque ameaça nossas vidas, a vida de todos no planeta, o futuro das próximas gerações.

A luz é a crise que está todos os dias nas manchetes dos jornais. Vão me criticar: está louca?, com a crise tudo fica pior, os pobres são os primeiros a sofrer as consequências, tudo pára, retrocede... Pois é. Exatamente por isso, há um lado positivo. DESACELERAR. É uma necessidade grande nesse momento. Nós mesmos já incorporamos o termo e, quando vamos tirar férias ou break no trabalhamo, dizemos: tô precisando desacelerar um pouco... O mundo está. De modo que a crise é providencial neste sentido.

A opinião não é só minha. Em entrevista publicada ontem (quarta-feira) no Globo, o diretor geral da Consumer International, Joost Martens, diz: "A desaceleração oferece novas oportunidades para modelar a trajtória da economia mundial. Isso pode ser visto como uma oportunidade única para promover a produção e o consumo sustentáveis, como um meio eficiente de reformar nosso sistema financeiro e colocá-lo de volta nos trilhos, enquanto também tratamos urgentemente da vital questão da mudança do clima." Mandou bem, o cara!

Podemos aproveitar a oportunidade para desacelar internamente também. Como? Não sei, cada um deve saber... Ler mais livros em vez de ver tanta TV, que nos bombardeia com informações; reavaliar a busca por acompanhar todas as modas; pensar duas vezes antes de consumir algo: preciso realmente disso?

Reflexão para o dia...



domingo, 16 de novembro de 2008

Alegria, alegria!

Quando eu tinha 17 anos e algo bem ruim e triste sucedeu em minha vida, recebi um bilhete de um rapaz que morava no mesmo prédio. Era um bilhete de despedida, porque eu ia me mudar. Ele dizia: "eu lhe desejo sorte e que, aconteça o que acontecer, você nunca deixe ir essa alegria que ilumina o seu rosto."

Perdi o bilhete, mas a mensagem ficou no coração. Várias vezes me lembrei dela e ainda me lembro, principalmente nos momentos difíceis.

Agradeço e cultivo a Alegria sabendo que ela é a chama da Vida. Alegria, alegria!




***

"Hare Krishna Hare Krishna, Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama, Rama Rama Hare Hare!"

Domingo, na orla, havia uma parada Hare Krishna. Um pequeno impresso que entregavam explicava tratar-se do festival mais famoso e tradicional da Índia, que celebra a chegada da primavera. "Independente de cor, raça ou fé, simplesmente por contemplar e cantar o mantra Hare Krishna, você poderá sentir uma grande PAZ interior".

Não senti exatamente paz, mas uma grande alegria! Logo na frente, fantasiado de Krishna, com o rosto pintado de azul e peruca ruiva, vinha o bailarino Ciro Barcellos, cujo depoimento está em meu livro Encontros com Deus - 21 personalidades narram sua busca espiritual (Mauad Editora, 1998). Homem de quase 60 anos, forte, sorrisão no rosto, lindo. Alegria pura!

Toda vez que vejo uma parada Hare Krishna, eu canto junto, bato palmas e sinto com todo o meu sêr: alegria!




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Amiga querida ligou do interior de São Paulo, triste... Pediu tanto a independência financeira, mas ela veio de jeito inesperado, em uma cidade distante dos amigos e da família, onde se sente isolada e sem raízes. Digo que tenha paciência, mas tá difícil...

Como a situação não vai mudar de uma hora para outra, enquanto dias melhores não vêm, eu recomendo que reze e peça : alegria!


Alegria, alegria!



Impressionante e assustador

Nossas rotinas tão frágeis. A suposta segurança em que vivemos. Tudo pode mudar de uma hora para outra, mas seguimos inconscientes disso, talvez porque essa consciência seja insuportável.

Não estou falando de tragédia factual ou de doença que se revela de uma hora para outra, mas de um blockbuster que peguei no fim de semana, a título de curiosidade, e que muito me impressionou: Cloverfield. É um filme de monstro. Mas ainda há como fazer filme de monstro assustador nos dias de hoje? Há, vejamos porque.

O filme estreou nos cinemas há cerca de ano e meio e logo em seguida li artigo de Jorge Coli na Folha de S. Paulo, fazendo uma analogia entre a trama e a queda das torres gêmeas. Interessante! Semana passada, Tom Leão mencionou o título no RioShow do Globo como sendo o melhor exemplar de "falso cinema verdade" - estilo inaugurado pela Bruxa de Blair - até hoje. Resolvi pegar em DVD, até porque adoro os filmes em que os norte-americanos destroem a si mesmos, como Independence Day e O dia depois de amanhã, ambos de Roland Emmerich - o cineasta favorito de Bin Laden, rárárá!

Comecei a assistir procurando aqui e ali os motivos da associação com a queda das torres. O fato é que em nenhum momento é explicado ao espectador o que exatamente está acontecendo, que tipo de criatura assombra a cidade, de onde veio, por que. Ficamos perdidos, desamparados e aterrorizados, tal qual os protagonistas e, provavelmente, tal qual os moradores de NY na ocasião da tragédia.

A câmera nervosa não chega a enjoar e o recurso é usado de forma a enfatizar que pouco antes tudo estava bem, a vida seguia seu curso normal. O final é impactante e faz refletir: hoje vc teve um bom dia? Reze a Deus e agradeça, pois daqui a um minuto tudo pode ser diferente.








sábado, 15 de novembro de 2008

Viver é melhor que escrever

Excelente a entrevista neste sábado, no Caderno B do Jornal do Brasil, com o escritor pernambucano Marcelino Freire. Criador da Balada Literária - evento que promove mesas redondas e bate-papos em livrarias e centros culturais da Vila Madalena, em São Paulo -, ele é a antítese da imagem clássica do escritor que vive enclausurado em seu palácio, cercado de livros e discos, anti-social por natureza, visto que vida social e literatura não combinam.

Eu mesma já escrevi neste blog sobre a necessidade de negar convites para sair e sentar a bunda na cadeira para escrever, mas Marcelino desdiz tudo isso. É o escritor mais querido e social que conheço. A noite de autógrafos do livro mais recente, Rasif - Mar que arrebenta - em setembro, no espaço cultural B_arco, na Vila, durou até altas horas, fila fazendo rococó, hordas e hordas de gentes indo dar abraços e adquirir seu exemplar.

Desde 2006, ele bate nas portas e consegue fundos para a Balada, que acontece na semana que vem, de 20 a 23 de novembro. Este ano terá até Adélia Prado, que dificilmente sai de Divinópolis, no interior de Minas, aonde mora.

Toda essa agitação não atrapalha a escrita? É bem verdade que Marcelino só publicou contos até hoje. E ganhou o Jabuti logo com o primeiro livro, Contos negreiros. Mas ele garante que não. Depois de escrever, sai à cata de leitores. Por isso viaja pra lá e pra cá, em eventos pelo país, e promove a Balada. "Vou bem ficar no casulo, enclausurado? Escritor em redoma só serve pra peidar", diz na matéria que foi claramente respondida por escrito, por email.

Isso me alivia um pouco. Porque sou um ser social, adoro gente, falar, conversar, sair, saber dos outros. Os outros são histórias - que frequentemente desafiam qualquer verossimilhança.

Viver é melhor que escrever.

http://www.baladaliteraria.org/2008/

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Mais coisas bonitas que vi e ouvi em Ouro Preto

"Ostra feliz não faz pérola. Ela faz pérola para transformar dor em beleza. A tragédia grega é isso: dor transformada em beleza."
Rubem Alves, escritor mineiro que reuniu a maior platéia da FLOP: 900 pessoas.

"Quando te vi, amei-te já muito antes." Rubem Alves (o cara é bom!), citando Fernando Pessoa

"Quando eu escrevo? Todos os dias ao acordar. Pode ser uma linha, uma palavra, uma página. Seja como for, é um modo de prosseguir."
João Carrascoza, escritor, professor e redator de agência de publicidade em São Paulo, ao ser perguntado sobre "aonde arranja tempo para escrever?"

"Começo a escrever sem saber aonde vou chegar. Tem horas em que minhas mãos trabalham sozinhas, eu as observo se movendo como se não fosse eu. Aos poucos a história surge. Depois, volto e apago o começo, pois era só um aquecimento."
João Gilberto Noll, contando seu processo criativo

"Todos os dias quando acorda, minha filha de 4 anos entra no meu quarto e dança. Eu seria o poeta mais feliz do mundo se conseguisse traduzir em versos a beleza daquela dança." Nelson Saúte, poeta e escritor moçambicano, em debate com colegas portugueses que enfatizavam que a boa poesia só é possível a partir de um mergulho na "dor" e nas "profundezas" humanas etc, etc, etc.

Nuvens de chuva recheadas de relâmpagos sobre os morros da cidade, ainda iluminadas pela luz do sol poente. Era o céu azul escuro ao fundo e as nuvens em tom azulado mais suave, em primeiro plano, acendendo e apagando, acendendo e apagando... Fiquei parada olhando até as primeiras gotas de chuva molharem o meu rosto.

Terraço de uma república de estudantes lotado, música alta, todos dançando e cantando em altos brados: "nem foi tempo perdido... Somos tão jovens!...", do Legião Urbana. Quase fui até lá bater na porta e pedir para entrar.



sábado, 8 de novembro de 2008

A força de uma poesia

Ontem à noite, o escritor Rubem Alvez lembrou trecho do filme O carteiro e o poeta para dar exemplo da força que uma poesia pode ter.

No filme, existe uma senhora, dona de um restaurante, que tem uma neta, uma moça muito bonita. Um rapaz da aldeia é apaixonado por ela e a velha vive a vigiar os dois...

Certa noite, a jovem demora a chegar em casa e a avó fica louca de preocupação. Mal sabe que estão juntos na praia, mas na maior inocência, sem fazer nada demais.

Assim que ela retorna ao restaurante, a avó pergunta:

– Aonde você estava?
A moça conta a verdade.
– Ele fez alguma coisa com você? – continua, sacudindo-a.
– Ele me disse uma poesia...

A velha suspira:
– Então, você está perdida...


sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Fórum das Letras de Ouro Preto 2009

O Fórum das Letras de Ouro Preto acontece no Centro de Convenções, na parte baixa da cidade. Em sua 4º edição, o evento cresceu, são 70 autores convidados. Cheguei ontem às 14h, a tempo de assistir à mesa A mulher em Guimarães Rosa e Machado de Assis: há como desvendar o enigma de Capitu e Diadorim? Nenhum autor famoso, mas alguns professores renomados da área de literatura. Uma delas, Marli Fantini, de óculos escuros, encantou o público ao ler trechos de Grande Sertão Veredas intrepretando-os tal qual uma atriz, com graça e paixão. Foi muito aplaudida.

De tudo o que foi dito nessa mesa, ficou para mim a lembrança das comparações feitas pelos autores - Guimarães Rosa e Machado – para descrever os olhos de suas magnas personagens: Capitu tinha olhos de ressaca, que faziam Bentinho temer ser tragado por eles; Diadorim tinha olhos de água dos rios, que mudam de cor dependendo da hora do dia e dos caminhos que percorrem.

Com quem vocês se identificam mais? Acho que sou mais Diadorim do que Capitu...

***

O público que freqüenta o Fórum das Letras é mais universitário, dado o perfil da cidade em que se realiza. Devido a isso, há pouca venda de livros. Após as mesas redondas, dificilmente há a tradicional fila de autógrafos. Afinal de contas, o universitário, normalmente, é um ser duro.

Por outro lado, não existem aqueles papéizinho impessoais da Flip, em que as pessoas escrevem suas perguntas sem identificar. Na FLOP, a platéia tem microfones à disposição para falar à vontade – o que algumas vezes foge do controle da organização do evento.

Hoje pela manhã, um momento bonito. Durante a mesa 1808, a invenção do Brasil, com a presença do best seller Laurentino Gomes, uma senhora negra e idosa, tomou a palavra para dizer que graças ao Fórum das Letras havia retomado os estudos e estava conseguindo ler livros. Agradeceu a presença dos autores e especialmente a Guiomar de Gramont, idealizadora da FLOP, que ficou com os olhos cheios de lágrimas.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Sessão poesia

Fui remexer os armários em busca de um documento perdido e encontrei escritos de 1989 a 1993. Muito interessante reler. Entre eles, esta poesia da qual não me lembrava e que me emocionou:

A minha criança

Pego minha criança
E dou colo
Acalmo o choro
Odor de flor e folha nos cabelos
Já não há lágrimas nos olhos
Ela sorri
Meu sorriso de criança
Quando eu era criança
Covinha no queixo
Vestido em desalinho
Ela sorri
E me abraça:
"Me dá colo?"

Você,
Que fui eu
Que sou eu
Que serei eu
E que precisa crescer
Compreender
Para apaziguar
e não sofrer
Este adulto insano e frágil
Que sou.

Na noite escura,
A luz da minha criança me guia.
O sorriso,
O cheiro de flor e mato
Que busco no dia a dia.
A minha criança sorri.

***
Vamos celebrar a eleição de Barak Obama, pois traz a esperança de que seja diferente.
***
Nesta quinta-feira, viajo ao Fórum das Letras de Ouro Preto. Terei acesso a computador e pretendo atualizar o blog. Até!

domingo, 2 de novembro de 2008

Tudo por dinheiro

"Não somos contra os outros, mas a favor de nós", diz Pablo Lima, do blog Delírios na estrada Rio-Manaus-Brasília (http://umacapitalentrerioemanaus.blogspot.com/), sobre a postagem anterior. De fato, é a lei da sobrevivência, nosso instinto mais primitivo, que nos faz, às vezes, esquecermos que somos seres "humanos".

Ainda influenciada por esse tema, saltou-me aos olhos uma notícia publicada sábado no caderno Prosa & Verso do jornal O Globo. Dizia que após décadas de hesitação o filho de Vladimir Nabokov, Dmitri, resolveu publicar texto inédito de seu pai intitulado O original de Laura. A Alfaguara acaba de adquirir os direitos de publicação da obra do autor no Brasil (antes eram da Cia das Letras) e o livro sairá em 2009. Detalhe: Nabokov morreu antes de terminá-lo e ordenou que fosse destruído.

O que leva um filho a desobedecer o desejo do pai, ainda mais se tratando de Vladimir Nabokov? Pensei com meus botões e concluí na hora: deve estar precisando de dinheiro.

Para quem não sabe, Nabokov é autor de Lolita. Era russo e tornou-se escritor consagrado escrevendo magistralmente em inglês, o que duplica meu respeito por ele.

Outra notícia admirável veio na edição de outubro da revista portuguesa de literatura Ler. Em meio a uma das mais completas reportagens sobre o Prêmio Nobel, surge a informação de que Jean-Paul Sartre recusou a premiação em 1964 argumentando que "um escritor deve evitar a todo custo transformar-se em uma instituição." Até aí tudo bem, foi um escândalo mas a justificativa era pretensamente nobre. O que vem a seguir é que é surpreendente – e pouca gente sabe: um dos membros do comitê do Nobel, em sua biografia, revelou que em 1975 o filósofo francês escreveu uma carta à academia garantindo ter mudado de idéia, pelo menos quanto ao aspecto financeiro! (Atualmente, o Nobel equivale a mais de um milhão de euros).

Ou seja, nem Sartre se salva, estamos todos no mesmo barco, sujeitos às circunstâncias da vida.




Só pra terminar a história, ele não recebeu o dinheiro. A academia alegou que o valor havia sido reinvestido na premiação e que era impossível liberá-lo após tantos anos. Pobre Sartre...