domingo, 23 de janeiro de 2011

El tigre - Buenos Aires

El Tigre é o rio Tigre, que deságua formando um delta ao Norte de Buenos Aires. É o fim da linha do trem. É um lugar com casas de veraneio enormes, espalhadas nas ilhotas do delta, daquelas que hoje custam caro, então, muitas estão abandonadas ou fechadas. Mas muitas são bem conservadas e habitadas, e remetem à época fausta em que Perón e Evita passavam férias nos hotéis do Tigre.



Descobri o Tigre na primeira vez em que fui a Buenos Aires, nos anos 90, e me encantei. Era um lugar meio deserto - ainda mais no outono -, e ainda havia o mistério dos canais que formam um labirinto, levando a lugares inimagináveis.

Todas as vezes que voltei a Buenos Aires, eu fui ao Tigre. Dessa vez, uma surpresa: era verão, pela primeira vez, pegamos um barco e fomos nos aventurar pelo delta.

O Tigre mudou muito, virou uma área realmente turística. Tem um museu de arte contemporânea maravilhoso, um mercado de artesanato e objetos para casa espetacular. Mas nada disso me interessou mais do que finalmente desvendar o delta.

Entramos em um barco cheio de gente, crianças, velhos, sacos de mantimentos, material de construção... Esses barcos são como ônibus e vão parando nos cais ao longo do Tigre.



O fim da linha era em um bar à beira rio. Fazia muito calor, um sol de rachar. Pegamos um mapa e fomos explorar algumas trilhas que havia por ali, passando por casas muito velhas e cais onde crianças se banhavam. Muito silêncio, o aroma das florestas de pinheiros, e o vento quente do verão argentino nos levando cada vez mais para longe do bar e da margem, até que os mosquitos resolveram atacar a voltamos.





Uma cerveja antes de embarcar de volta com o corpo cansado e alma em paz após esse break nas paisagens urbanas. O Tigre sempre foi o lugar do meu encontro com a natureza em Buenos Aires.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Ajudar o ano inteiro

Recebi um torpedo ontem de manhã cedo:

"Estou em uma escola fazendo cestas básicas, vou passar o dia inteiro aqui trabalhando. Me sinto muito bem por fazer isso".Alinhar à esquerda

E mais:

"Não mandem mais roupas, já tem muito".

Ou seja, cerca de uma semana após o desastre das chuvas na região serrana, a população se mobilizou de tal forma que os donativos já são demais. Todo mundo resolveu ajudar! E está se sentindo extraordinariamente bem por fazer isso. Tão simples a causa desse bem estar: ajudar.

Quando escrevi o livro sobre a trajetória do cabeleireiro Werner - Beleza, um bom negócio (Ed. Senac Nacional, 2009) - vi que os gestores das áreas estratégicas na empresa eram bastante jovens. A gerente da área jurídica tinha 26 anos e ainda não havia concluído o curso de Direito. Comentei sobre isso com o Werner e ele disse:

- A gente deve passar adiante o que sabe, criar oportunidades para os outros crescerem. Isso traz uma energia boa de renovação. Faz a gente andar pra frente. Assim, todo mundo anda junto para frente.

Não por acaso, esse homem é dono de mais de 40 franquias de salões de beleza no Brasil e Angola, África.

Tudo bem que são coisas diferentes: ajudar pessoas traumatizadas por uma tragédia, provendo-lhes víveres básicos, e criar oportunidades de crescimento profissional para funcionários. Mas, no fundo, tudo não se resume a ajudar, apoiar, dar suporte para o outro caminhar, melhorar, por-se de pé, caminhar?

Aprendi com o Werner e aqui em casa a nossa funcionária e fiel escudeira, Vivi, já fez um curso básico de inglês, um curso de informática - ficou tão empolgada que comprou um computador - e esse ano voltará a estudar! Vai concluir o Ensino Médio em um colégio da rede estadual perto de casa.

Enfim.... Tudo isso para dizer que precisamos nos lembrar de ajudar o ano inteiro, todos os dias, e não apenas quando surge uma tragédia. Isso traz um bem estar enorme e, assim, todos vamos caminhando juntos, pra frente e pra cima.

O torpedo hoje dizia: "Não precisa mais roupa, mas pode mandar macarrão e sal..." Ok, vamos lá!




sábado, 15 de janeiro de 2011

Um novo mundo, mais harmônico

Foi só falar na felicidade de um típico fim de semana de sol no verão carioca, que veio a chuva...

Impressionou-me ontem a avaliação dos metereologistas. O fenômeno climático que provocou a tragédia é algo natural e comum nessa época do ano no sudeste do Brasil. O calor intenso do verão forma as tais nuvens cúmulus nimbus, que acumulam quantidades colossais de água e energia. "O problema foi a dramática combinação de violência de chuvas com uma área de extremo risco: íngreme, instável e densamente povoada". (Jornal O Globo, 14-1-2011)

Nós somos demais... A raça humana se multiplicou com uma velocidade e é capaz de transformar o ambiente que ocupa como nenhuma outra até hoje sobre a face da Terra. A única saída é desenvolvermos a nossa consciência, prestando mais atenção, consideração e amor ao próximo, e deixando de viver como se fôssemos imortais. Caso contrário, vamos continuar sofrendo...

2012 vem aí e muitas correntes espiritualistas apontam para o fim do mundo. Em 2001, porém, entrevistei o xamã norte-americano Foster Perry e ele previu para 2011 "o nascimento de um novo mundo, mais harmônico".

"Teremos uma comunidade global até essa época. As pessoas que ainda têm uma velha maneira de pensar estão aprendendo mais e mais rápido. Especialmente as crianças. Elas são muito avançadas e vão ajudar a criar esse novo mundo, onde todos vão pensar no bem-estar do próximo e não existirá a noção de separação". (Jornal Valor Ecanômico, 13-11-2001)

Hoje a TV mostrou uma longa reportagem sobre a população se organizando para fazer doações para as vítimas na Serra. Os comerciantes do Mercadão de Madureira, na Zona Norte do Rio, se uniram e estão mandando um caminhão de mudança inteiramente cheio de roupas, água, comida.

Na Tunísia, ao mesmo tempo, o ditador Zine Ben Ali, que durante 23 anos mandou e desmandou no país, teve que fugir após o site WikiLeaks - salve Julian Assange! - revelar provas da corrupção de seu governo.

Enfim... Podem me chamar de Poliana, idealista, otimista demais... Prefiro acreditar no Foster Perry. Vem aí um novo mundo, a duras penas, mas vem. Salve 2012!

domingo, 9 de janeiro de 2011

Rio 36º

Uma pausa nas histórias sobre a Argentina para falar do... Verão no Rio de Janeiro, a minha cidade! Eu amo o verão! Nasci nessa estação e, dia 31 desse mês, vou comemorar mais um verão de praia. Na praia!

Esse é um verão especial. Está todo mundo feliz! A população está satisfeita com o governo e a polícia: finalmente há vontade política para mudar um estado de coisas que há muito vinha maculando a beleza e o alto astral da nossa cidade.

Essa satisfação está no ar. Além disso, esse verão não está tão quente quando outros, quando os termômetros costumavam, ao meio dia, 45º nos relógios de rua. Nos dias de sol mais forte, a temperatura ainda não passou dos 36º. Isso ajuda muito.

Que mais? Está todo mundo na rua, na praia, nos bares, rindo, conversando, celebrando, sendo feliz... Esse fim de semana teve sol todos os dias, um legítimo fim de semana de verão no Rio de Janeiro!

E aí eu me lembrei de uma música que tocava muito nas rádios quando eu era criança, e que tem A CARA do Rio de Janeiro. Passei o fim de semana cantarolando Tempo de estio, do Marcelo. Quer cantar comigo?


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A casa de Carlos Gardel em Buenos Aires

A partir de hoje vou contar algumas das aventuras em Buenos Aires, onde estive em Dezembro.

Essa foi a minha quarta viagem à capital portenha. Dessa vez, encontrei-a bastante suja e bagunçada - exceto os oásis turísticos da Recoleta e Puerto Madero. A nossa moeda, o Real, está valendo duas vezes mais que o Peso Argentino, o que nos dá uma sensação bem gostosa de sentir... Poder! De compra, pelo menos. Não muito, mas um pouco! E a cidade continua animadíssima, com as ruas cheias de gente dia e noite, os bares e restaurantes lotados, todo mundo rindo e falando alto.

Meu primeiro passeio foi uma visita à casa de Carlos Gardel (1890-1935), no bairro de Abasto. A minha avó Violeta adorava Buenos Aires e Gardel. Lembro de uma vez em que fui levá-la ao porto do Rio de Janeiro, onde embarcou em um enorme navio de passageiros junto com meu avô para uma viagem à Argentina. Lembro do rostinho dela lá no alto, debruçada na mureta da embarcação, me acenando com as mãos. (Acho que ali comecei a ficar encantada com a Argentina).



A casa de Gardel remete à epoca em que viveu a minha avó. Numerosos recortes de jornais e revistas, capas de discos e outras imagens dão uma visão da trajetória do artista que se tornou um mito quase à altura de Marilyn Monroe ou James Dean. Ele cumpriu todos os requisitos para isso: infância pobre, carreira rápida e ascendente, estrela de cinema, fenômeno de sucesso mundial e... morte súbita aos 45 anos, no auge da fama, em um acidente de avião.

De tudo, o que mais me impressionou foi o cuarto de planchar, um pequeníssimo comodo de teto baixo onde sua mãe, Bertha, trabalhou durante anos a fio, passando roupa para sustentar o filho único. Detalhe: era solteira e permanece ate hoje o mistério sobre quem foi o pai de Carlos.




Na cozinha, uma frase de Gardel expressa o amor e consideração por essa mae: "O mais modesto pucherete (espécie de cozido) vale mais e é mais saboroso que o mais caro prato do melhor dos hotéis do mundo".



No hall de entrada, iluminado por luz natural proveniente de clarabóias, o silêncio e o ar fresco nos fazem sentir um pouco da atmosfera em que viveu Gardel. Eu o imaginei criança, entrando correndo, vindo da escola, para encontrar a mãe no cuarto de planchar, e o abraço afetuoso dos dois.

Na bagagem, uma biografia do ídolo.