sexta-feira, 4 de julho de 2008

A Flip da escatologia (até agora)

Segundo dia de FLIP e duas das mesas que chamaram mais atenção até agora versavam sobre: pentelho, bunda, cu, boceta...
Ontem, a mesa Conversa de Botequim trazia o jornalista Humberto Werneck, homem distintíssimo, cultíssimo, que está lançando biografia do poeta e compositor Jaime Ovalle, pela Cosac & Naif, O santo sujo. Ninguém sabe direito quem foi Jaime Ovalle, mas graças a Werneck a obra do artista, que foi um figuraço, pelo que pudemos ouvir, veio à Luz.

O problema é que o interlocutor – o escritor pernambucano que vive em SP, Xico Sá – falava uns três palavrões por frase e dizia coisa com coisa. Lá pelas tantas, confessou que havia pego o brinde dado pela produção da FLIP – uma garrafa da cachaça Maria Isabel, fabricada pelo príncipe Dom Joãozinho – e virou numa garrafinha de água mineral vazia, andando com ela debaixo do braço pela cidade. Ou seja, devia estar completamente bêbado. Moral da história, Werneck monopolizou a mesa e no final somente ele deu autógrafos a uma longa fila na Livraria da Vila. Xico Sá sumiu.

Hoje, agora às 11h45, houve a mesa com João Gilberto Noll, consagrado escritor gaúcho (da Record) e a cineasta argentina Lucrécia Martel. Noll é gay assumido, mas muito discreto. Quer dizer, só pessoalmente, porque na escrita é totalmente escatológico.

O novo livro, Acenos e afagos, que acaba de sair da gráfica e veio direto para Paraty, é narrado por um velho que conta suas estripulias sexuais. Noll leu um trecho interpretando um velho, voz de velho, falando horas sobre pentelhos e uma transa homossexual entre adolescentes: pintos, perus, caralhos e pentelhos, muitos pentelhos... Maravilhosamente bem escrito, mas teve gente se remexendo nas cadeiras.

Quanto a Lucrécia Martel, um vexame, conteúdo zero. Começou a explicar que costuma filmar na província de Salta, norte da Argentina, porque nasceu lá e gosta da comida... Várias pessoas se levantaram e foram embora.

A parte boa (mas obscura..)

A psicanalista francesa Elizabeth Roudinesco prendeu a atenção da platéia ontem ao discorrer sobre as perversões humanas: o que era considerado perversão no passado e não é hoje, e vice-versa. A perversão do estado – caso do nazismo. Sexo com animais, sexo com crianças, o terrorismo como perversão. Roudinesco fala sobre tudo com uma naturalidade e sempre deixando claro que ela nada tem a ver com o tema, apenas o escolheu como objeto de estudo. Eu, cá com meus botões, fique pensando que ela não deve ser tão boazinha assim, por escolher estudar temas tão cebeludos! O livro de madame Roudinesco é A parte obscura de nós mesmos (Zahar) e a fila dos autógrafos dava voltas e voltas.

A mesa das 19h, por sua vez, juntou as escritoras poderosas(!) Inês Pedrosa (portuguesa, Alfaguara), Zoe Heller (inglesa, da Record) e Cintia Moscovich (gaúcha, também Record) para um bate papo que começou com o tema Sexo, mentiras e vídeotape mas se encaminhou para um debate sobre os estereótipos femininos. "Existe uma literatura feminina?" (surgiu esta pergunta idiota). "Não existe literatura feminina ou homossexual ou feita por negros. Existe literatura: ou é boa ou é ruim", respondeu Inês Pedrosa, sob uma salva de palmas.

A autora foi editora da Marie Claire portuguesa durante 10 anos e defendeu as revistas femininas quando são feministas – caso da Marie Claire. E esfregou na cara dos brasileiros uma recente conquista das mulheres portuguesas: no ano passado foi aprovada uma lei em Portugal que permite a interrupção da gravidez indesejada. Podem dizer que os portugueses são antiquados e atrapalhados, mas nesse quesito eles galgaram várias posições à nossa frente!

Enfim... É isso! Agora, volto à correria e depois conto mais. Até!

6 comentários:

Pablo Lima disse...

sim, inês pedrosa é super-poderosa!

e lucrécia martel, pela única obra dela que conheço, também é: ou seja, o filme "O pântano"!

Anônimo disse...

Que bom você ter encontrado tempo para postar, querida. Adorei poder ler seus comentários, muito mais interessantes do que as frias notícias dos jornais. Bj, C.

Valéria Martins disse...

Pablito, não vi os filmes da Lucrécia, mas acredito na sua opinião. O que eu não entendo - e não gosto - é a tal da "interdisciplinaridade" que inventaram para esta FLIP, de misturar escritores com cineastas e gente de outras áreas. A Lucrécia pode ser ótima cineasta, mas numa mesa da FLIP não funcionou.

Celina, que bom ler seu comentário!!! Mas qual dos quatro blogs que aparecem na sua identificação está mais ativo???
Bjsssssssssssssssssssssssss

Ana Carolina disse...

Nossa, quanto papo doido que deve ter por aí...cacete!
Heheheheheheehehehehhe!
Beijoca!

Anônimo disse...

Ei Valéria...

Conhecí seu Blog "indicada" pela Rosane, do Miojo..Achei ótimo ler sobre a FLIP "através dos seus olhos"

Amo ler , e ficarei muito feliz se você me indicar alguns livros que tenham feito diferença na sua vida...

Estou gostando muito do seu Blog...
Parabéns

Monicaty

Valéria Martins disse...

Oi, Monicaty! Seja bem-vinda! Volta e meia eu falo sobre livros aqui no blog, espero poder te dar boas dicas. Beijos!