domingo, 28 de dezembro de 2008

Retrospectiva Melhores de 2008

LIVROS
1º Acenos e afagos, de João Gilberto Noll
A experiência fascinante de acompanhar os caminhos tortuosos da libido de um homem.

2º Sobrevivi para contar, de Immaculée Ilibagiza
Mulher sobrevive ao massacre de Ruanda trancada em um banheiro por três meses com outras 5 mulheres, perdoa os algozes de sua família e constrói uma nova vida.

3º Os irmãos Karamabloch, de Arnaldo Bloch
A saga da família Bloch narrada por um de seus membros desde os primórdios na Rússia, com humor e sensibilidade. Especialmente interessante para quem trabalhou no império, como eu.

FILMES
1º Mamma Mia!
Uma onda de alegria ao som das músicas do Abba. Também uma reflexão sobre a relação entre mãe e filha.

2º Sex and the city, o filme
Em meio a risadas, um retrato nu e cru da natureza feminina.

3º Irina Palm
A emancipação de uma mulher ainda que tardia.

DVDs
1º O escafandro e a borboleta
Faz repensar a vida inteira, o que queremos e para onde vamos.

2º A Massai branca
Como o amor é capaz de superar as diferenças - pelo menos por um tempo.

3º Lady Chatterley
O esplendoroso desabrochar da sexualidade de uma mulher.

CDs
1º Mamma Mia!, trilha do filme
Um reencontro com as incríveis músicas do Abba.

2º Samba meu, Maria Rita
Um disco lindo. Finalmente, ela deixou de ser filha da Elis.

3º Coletâneas Queen Collection e The Clash - The singles
A redescoberta dos sucessos desses grupos. Ouvimos até furar.

TV
1º A favorita
Eita, novela bem escrita! Inverossímil e divertida como toda boa novela deve ser.

2º Troca de esposas
Duas famílias completamente diferentes trocam a mãe/esposa por uma semana. Uma lou-cu-ra...

3º Telecine Cult
Esse ano nos presenteou com Irma La Douce (Shirley MacLaine e Jack Lemmon em uma comédia inesquecível) e Jane Eyre (versão de 1944, com Orson Welles e Joan Fontaine), entre outras pérolas.

Concordam? Discordam? O que ficou faltando? Aguardo vocês... Abaixo, trecho de Jane Eyre com a participação de Elizabeth Taylor ainda criança...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Alquimia

Foi num domingo qualquer desse fim de 2008, sol brilhando, praia cheia, Rio de Janeiro luzindo após muita chuva. Acordei cedo e, cheia de determinação, levei a cabo as tarefas prescritas pela terapeuta para uma “limpeza de fim de ano”.

Em pedaço de papel, escrevi os sentimentos, ou melhor, ressentimentos que ainda teimavam em aparecer de vez em quando, escondidos embaixo de camadas de pele e de gordura, ocultos, mas ainda lá. Tirei-os pra fora e os desnudei diante dos meus olhos, tal qual insetos prontos para serem esmagados. Cortei as frases em tiras e queimei uma a uma, no bico do fogão, dentro de uma grande panela de alumínio. Com intenção. Sobraram cinzas que embrulhei num pedaço de jornal e reservei.

Fui para a sala e escrevi uma longa carta ao pai morto há 25 anos (!), pedindo permissão e bênção para prosseguir no meu caminho e chegar aonde quero. Porque meu pai tinha outros planos para mim e meu irmão e, infelizmente, não conseguiu aprender em vida que a vida dos filhos aos filhos pertence, que somente eles, enquanto indivíduos livres, têm o direito de escolher que carreira seguir, o que fazer ao longo de sua jornada no mundo, custe o que custar. A carta saiu num jorro, duas páginas em dois minutos. Lágrimas rolaram, mas disse tudo o que queria!

Pedalei rumo ao Arpoador, subi as pedras pisando firme em cada passo, fazendo os últimos acertos internos antes de liberar a carga. Parei defronte ao mar, que estava calmo naquele dia, transparente. Respirei fundo e atirei primeiro o jornal com as cinzas: veio uma onda e levou. Li mais uma vez a carta, dobrei bem pequenininha e atirei longe: veio outra onda e levou.

Fui embora aliviada, alegre, com PAZ no coração. E me dei conta de porque nos apegamos a algo que não nos serve mais: medo do vazio e da solidão que pode dele resultar.

O que está vazio, pode ser cheio. Que venha 2009!




sábado, 20 de dezembro de 2008

And so this is Christmans...

... And what have done? A música de John Lennon sempre cai bem nessa época. Um ano terminou, outro vai começar e o que fizemos?

Uma coisa que faço é uma lista, ou melhor, duas: primeiro, escrevo as coisas BOAS que aconteceram ao longo do ano; depois, escrevo as coisas consideradas ruins num primeiro momento - porque com o tempo podemos compreender a importância desses fatos, por que sucederam, seus desdobramentos. Às vezes, leva muito tempo para esse entendimento chegar, mas um dia chega!

Voltando às listas, elas são importantes para nos dar a dimensão de que, de modo geral, as coisas boas acontecem em maior número e se sobrepõem às "ruins". Vou dar um exemplo: a primeira vez que fiz esse exercício foi no ano em me separei, perdi o emprego e minha empregada ficou grávida, hahaha! Agora, consigo rir...

Esses três fatos encabeçavam a lista "ruim", mas, por outro lado, a lista BOA era enorme. Nesse mesmo ano, ganhei uma viagem de trabalho a Fortaleza e revi amigos com os quais havia perdido contato. Todos não só lembravam de mim, como me receberam calorosamente. Também realizei meu sonho de conhecer pessoalmente Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin, quando esteve no Rio. Isso sem falar em novas amizades, amores, alegrias que me fizeram ver que a vida é bela e sempre continua... para o bem.

Até mesmo acontecimentos trágicos têm desdobramentos bons, se a pessoa tiver energia para se levantar e continuar caminhando. O filme Tudo sobre minha mãe, de Almodóvar, fala exatamente sobre isso, e é um dos meus favoritos dele.

Feliz Natal a todos, tudo de bom, muitas coisas BOAS para todos nós em 2009!

(Abaixo, eu e Mr. Jimmy Page no aniversário da Casa Jimmy, em Santa Teresa, Rio de Janeiro/RJ - Outubro de 2005).



quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Bons programas de fim de ano no Rio de Janeiro


Navegar de pedalinho na Lagoa à noite

A árvore de Natal pisca de longe, mas graças as nossas enérgicas pedaladas, vai se aproximando, se aproximando, e de repente estamos a seus pés. Linda! Esse ano está especialmente clean, sem papagaiadas, com notas musicais douradas reluzindo sobre pauta vermelha, intercaladas com estrelinhas azuis. Tem que ser em noite limpa, sem nuvens ou vento - coisa rara, infelizmente, nessa estação atípica. Ideal para ir com o namorado, mas também dá pra ir com os amigos. Na noite em que eu fui tinha até famílias com bebês de colo - uma temeridade! E totalmente sem regras: saí para pedalar às 23h30 e voltei à 1 hora; a fila ainda estava enorme. R$ 20,00 por meia hora e R$ 40,00 por uma hora, mas ninguém fiscaliza direito, então, minha hora e meia saiu por R$ 20,00 mesmo.






Assistir a Rebobine, por favor, de Michael Gondry

O novo filme do diretor de Brilho eterno de uma mente sem lembranças e Quero ser John Malkovich não é tão novo assim; estava em cartaz em Londres em fevereiro desse ano. O importante é que são duas horas de gargalhadas diante da criatividade mirabolante desse cineasta que também costuma assinar os roteiros de seus filmes. Mas tem que embarcar na história (vi um casal saindo no meio): dois maluquetes que tomam conta de uma velha vídeolocadora de VHS apagam todas as fitas sem querer e refilmam as histórias, em produções de fundo de quintal - literalmente. Os filmes viram sucesso na vizinhança.

Vão logo porque a árvore de Natal só funciona até 6 de janeiro e o filme, me parece que não ficará muito tempo em cartaz!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Ser mãe em primeiro lugar

A futura primeira-dama dos EUA, Michelle Obama, tem declarado em entrevistas que sua prioridade é cuidar da educação das duas filhas, de 10 e 7 anos, antes mesmo da carreira como advogada. Inclusive, os 90 empregados da Casa Branca já estão avisados: é proibido fazer a cama ou arrumar os quartos das meninas; elas mesmas serão orientadas a fazer isso. Choveram críticas, as feministas caíram de pau.

Concordo com Michelle e acho que criar os filhos é mais importante do que a carreira, pelo menos nos primeiros anos de vida das crianças. Eu mesma fiz isso, passei quase 8 anos trabalhando em casa como frila, com o apoio do pai delas, claro, depois que nasceram.

Sei que nem todo mundo tem esse privilégio, na verdade, cada vez menos mulheres no Brasil têm. Acabam contratando outras mulheres - que por sua vez deixam seus próprios filhos em casa, aos cuidados de outras - para essa importante tarefa, enquanto passam 10 horas por dia trabalhando. Chegam em casa exaustas e não há tempo para criar INTIMIDADE com os filhos. Não estou julgando, só constatando, pois também já passei 10 horas por dia trabalhando, mas com uma diferença: a tranquilidade de saber que caminham sobre base sólida, pois acompanhei cada passo da construção.


Enfim... Vivas à sábia Michelle!


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Polir o diamante

Pobre Suzana Vieira... Nessa altura da vida meter-se em tamanha confusão, ver seu nome no noticiário policial, associado a uma sucessão de fatos lamentáveis e a um terrível baixo astral. O que faz uma mulher bem sucedida, vitoriosa como ela, ligar-se a um homem como o ex-cabo Marcelo, que Deus o tenha?

Lembro quando fui fazer reportagem sobre o grupo MADA (Mulheres que Amam Demais), no subsolo da Igreja Santa Mônica, no Leblon, para a revista Marie Claire. Surpreendi-me com as mulheres bonitas e interessantes que encontrei lá. A psicóloga que conduzia a sessão me contou previamente, sem dizer nomes, que cada uma ali tinha uma história trágica: companheiras de ladrões, drogadictos, homens violentos. Por que?

Nós, mulheres, por mais inteligentes que sejamos, costumamos cair nessas armadilhas que nós mesmas criamos, é triste dizer. Começamos um relacionamento fazendo ressalvas, sabendo que há vários impecilhos, mas alguma coisa nos turva a visão e seguimos em frente fazendo concessão atrás de concessão. Daqui a pouco, estamos envolvidas numa teia e, tarde demais, amor e sofrimento se misturam, mas continuamos lá, pois já não é fácil desvencilhar-se.

Uso o pronome "nós" porque também já passei por isso, e muito me impressionou a recomendação da terapeuta que me acompanhava na época: "Procure dentro de você o que a faz se aproximar de pessoa com essas características."

Pela primeira vez, deixei de apontar meu dedo para fora e voltei-o para mim mesma, com um misto de susto, medo e raiva. O que encontrei? Bem, não é o caso de dizer aqui. Mas era o início do polimento de um diamante que carrego dentro de mim, que todos carregamos, e que requer limpeza e lapidação frequentes, diariamente, para luzir com toda a luz e valor que tem. Trabalho árduo, mas é para isso que aqui estamos.




terça-feira, 9 de dezembro de 2008

"Amor" de mãe

Amiga querida vai casar a filha em maio do ano que vem, mas está apreensiva: a futura sogra da jovem (ou seja, a mãe do noivo) mudou-se de Maceió para Brasília, onde estão morando, para "estar mais perto" do filho. Cruzes!...

A notícia surgiu meio de brincadeia, em reunião de fim de ano, mas logo estávamos todos com o cenho franzido. "É o primeiro desafio que sua filha vai enfrentar", disse um. "Ela ainda tem tempo de se arrepender", disse outro. "Esse cara não sabe dar limite à própria mãe?", disse um terceiro.

O fato é que minha pobre amiga está preocupada e fiquei pensando em como amor de mãe - e de pai também, claro - pode ser negativo em certas situações. Já perceberam que, mesmo numa família com muitos filhos, o "queridinho" ou "favorito" dos pais revela-se com o tempo o mais problemático?

Concluímos que, de fato, é tarefa do rapaz dizer à mamãe que o lugar dela é em Maceió, tomando conta de sua própria vida, e deixando o novo casal se amar em paz. Mas será que ele tem coragem e firmeza suficiente para isso? Tomara...

Uma sogra deve morar em lugar não tão longe que lhe permita chegar de malas, nem tão perto que possa chegar de chinelos...




sábado, 6 de dezembro de 2008

Repensar a vida

Há filmes que fazem a gente repensar a vida inteira. Tem que ter disposição e coragem para assistir, sabendo que no final, não há como desligar e esquecer. O filme nos acompanha o resto do dia, na cama à noite, antes de dormir, e no dia seguinte também.

Um desses filmes é Invasões bárbaras, de Deny Arcand. Outro, eu assisti em DVD recentemente: O escafandro e a borboleta, de Julian Schnabel, diretor que passou pelas artes plásticas antes de se dedicar ao cinema.

O filme conta a história verdadeira do editor-chefe da revista Elle francesa, que sofreu um derrame aos 42 anos, em 1996, e restou-lhe apenas o movimento do olho esquerdo. Graças a um sistema de comunicação que combina as letras do alfabeto com piscadelas, ele escreve e publica um livro.

Histórias de superação existem aos montes e são inspiradoras. A maneira como é narrado O escafandro e a borboleta é que o torna diferente. Música e imagens se combinam não necessariamente em ordem cronológica para dar uma idéia de como é a vida de Jean-Do, o protagonista. Trechos do livro verdadeiro são o fundo musical dessa história triste, mas que nos remete ao AGORA e ao que fazemos e queremos de nossas próprias vidas.

Repensar a vida em fim de ano faz bem...




quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Travessias

As travessias são períodos muito ricos. E não é verdade que é mais importante a VIAGEM do que alcançar o destino?

A LENDA DAS AREIAS

Vindo desde as suas origens em distantes montanhas, após passar por inúmeros acidentes de terreno nas regiões campestres, um rio finalmente alcançou as areias do deserto. E do mesmo modo como vencera as outras barreiras, o rio tentou atravessar esta de agora, mas se deu conta de que suas águas, mal tocavam a areia, nela desapareciam.

Estava convicto, no entanto, de que fazia parte de seu destino cruzar aquele deserto, embora não visse como fazê-lo. Então, uma voz misteriosa saída do próprio deserto arenoso, sussurrou:
- O vento cruza o deserto, o mesmo pode fazer o rio.

O rio se arremessou contra as areias, sendo assim absorvido, enquanto o vento podia voar, conseguindo dessa maneira atravessar o deserto.

- Arrojando-se com violência como vem fazendo não conseguirá cruzá-lo. Assim desaparecerá ou se transformará num pântano. Deve permitir que o vento o conduza a seu destino.

- Mas como isso pode acontecer?

- Consentindo em ser absorvido pelo vento.

Tal sugestão não era aceitável para o rio. Afinal de contas, ele nunca fora absorvido até então. Não desejava perder a sua individualidade. Uma vez a tendo perdido, como se poderia saber se a recuperaria mais tarde?

- O vento desempenha essa função - disseram as areias. - Eleva a água, a conduz sobre o deserto e depois a deixa cair. Caindo em forma de chuva, a água novamente se converte num rio.

- Como posso saber que isto é verdade?

- Pois assim é, e se não acredita, não se tornará outra coisa senão um pântano, e ainda isto levaria muitos e muitos anos; e um pântano não é certamente a mesma coisa que um rio.

- Mas não posso continuar sendo o mesmo rio que sou agora?

- Você não pode, em caso algum, permanecer assim - retrucou a voz. - Sua parte essencial é transportada e forma um rio novamente. Você é chamado assim ainda hoje por não conhecer sua parte essencial.

Ao ouvir tais palavras, certos ecos começaram a ressoar nos pensamentos mais profundos do rio. Recordou vagamente um estágio em que ele, ou uma parte dele, fora transportada nos braços do vento. Também se lembrou, ou lhe pareceu assim, que era isso o que devia fazer, conquanto não fosse a coisa mais natural.

E o rio elevou então seus vapores nos acolhedores braços do vento, que suave e facilmente o conduziu para o alto, e para bem longe, deixando-o cair suavemente tão logo tinham alcançado o topo de uma montanha milhas e milhas mais distante. Porque tivera dúvidas, o rio pôde recordar e gravar com mais firmeza em sua mente os detalhes daquela sua experiência. E ponderou: - Sim, agora conheço a minha verdadeira identidade.

O rio estava fazendo seu aprendizado, e as areias sussurraram:

- Nós temos o conhecimento porque vemos essa operação ocorrer dia após dia, e porque nós, as areias, nos estendemos por todo o caminho que vai desde as margens do rio até a montanha.

E é por isso que se diz que o caminho pelo qual o Rio da Vida tem de seguir em sua travessia está escrito nas Areias.


terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Presente


Ontem é história. Amanhã é mistério. Mas o dia de hoje é uma dádiva. Por isso se chama: PRESENTE.