Quando eu falo em cavernas, o que vem à cabeça de vocês?
O que vinha pra mim, antes de eu entrar em uma era: medo. Medo do escuro, medo do que pudesse estar escondido nelas, medo do desconhecido. Mas quando entrei na primeira caverna de verdade, na Chapada Diamantina, Bahia, o que senti foi acolhimento, descanso, sossego. Entendi porque, quando uma pessoa morre e é enterrada, os outros dizem: foi descansar.
A sensação boa ficou na lembrança e por isso, me inspirei a conhecer as cavernas do PETAR – Parque Estadual Turístico do Alto da Ribeira, em São Paulo, encostadinho no Paraná. Longe pra caramba! Não me perguntem por que escolhi esse roteiro. Não sei. Alguma coisa eu tinha que fazer lá. E fiz: enfrentei os meus medos, que resolveram aparecer todos de uma vez. Buuuu!!!
O PETAR é a maior reserva de mata atlântica contínua do país. Ultra bem preservada. Em cima, abundância de água, bichos e natureza exuberante. Embaixo, um queijo suíço. São mais de 300 cavernas, a maioria delas inexplorada. Abertas ao público (trechos), são sete. Fui em todas.
Mas como o momento de vida é outro, bem diferente daquele em que estive na Chapada, logo na primeira caverna, a do Morro Preto (foto1), me bateu uma paúra...

– Mas medo de que? Eu conheço essa caverna como a palma da minha mão... – argumentava o guia.
– Não sei. É algo bem abstrato – eu tentava explicar. Só sosseguei depois que estava do lado de fora, vendo a luz do sol.
Continuamos. Três cavernas no primeiro dia; cada uma, uma emoção. A Santana (foto 2) é considerada a mais ornamentada do país.

No segundo dia, após uma trilha lindíssima no fundo de um cânion margeando o rio Bethary, fomos na Cafezal – e houve nova crise de medo. Isso sem falar que na noite anterior, todos os medos haviam desfilado na minha cabeça: medo de me machucar, de adoecer, de morrer, de perder o emprego, de envelhecer sozinha, de não conseguir realizar os meus sonhos. Mesmo com toda a natureza em volta, dormi mal pacas.
Tudo finalmente mudou dentro da Caverna Água Suja (foto 3, a entrada), que visitamos logo após a Cafezal. São 800 metros de caminhada dentro d´água, em direção ao centro da Terra. Bocarra enorme e um riozinho de água límpida escorrendo lá de dentro. Após a primeira curva, desapareceu a luz do dia e a pequena lâmpada que levamos encarapitada no capacete (obrigatório) mal dava para iluminar os limites do salão aonde estávamos. Brrrr...

Seguimos caminhando, escalando pilhas de enormes pedregulhos, passando através de labirintos de estalactites, túneis de vento geladíssimo, até chegar à passagem para o coração da caverna, onde existe uma pequena cachoeira. Para alcançá-la é necessário atravessar metro e meio de teto baixo, quase rente à água. Temos que nos abaixar e posicionar o rosto exatamente nesse espaço de cerca de um palmo onde dá para respirar. Reclamei, bati pé, disse que não ia, mas todos foram e eu fui também...
A travessia é rápida, mas foi suficiente para promover uma mudança em meu interior. De repente, era como se eu não precisasse fazer força, estava sendo puxada, atraída. E me deparei com a cachoeira, dois metros de queda d´água, uma jóia encrustrada no interior na caverna. Entrei de cabeça, com roupa e tudo. Nada de frio ou paralisia: ação! Fiz minhas preces silenciosas, pedi que me libertasse do medo e pronto. Estava nova em folha.
Voltamos andando muito rápido, para gerara calor, e logo eu estava vendo a luz do sol. Daí em diante, a viagem foi tranquila. (Foto 4, saída da Água Suja)