quarta-feira, 17 de março de 2010

Lembranças do Brasil - 1º parte

Conheci muita gente nas Correntes D´Escritas. Cada dia, eu me sentava em uma mesa diferente à hora do almoço e do jantar. Fazia isso intencionalmente. Deixava o coração me guiar até o lugar "certo" e me aproximava:

- Esse lugar está vago? Posso me sentar com vocês?

- Claro, claro! - Os portugueses são muito abertos e simpáticos. Como nós, brasileiros. Irmãos mesmo.

Num desses almoços, fui parar ao lado de um destacado cidadão de Póvoa de Varzim, que pediu para não ser identificado, mas que me autorizou a contar sua hístória no blog. Porque é uma história de cinema! Daria um romance, uma saga... Todos os escritores à mesa concordaram com isso.

O papo começou justamente porque eu sou brasileira. Esse fato levantou a tampa de um baú de lembranças preciosas, que transportou a todos nós à Amazônia, 50 anos atrás.

"Meu pai nasceu em Póvoa de Varzim. Aos 18 anos, em busca de novas oportunidades, entrou em um navio e foi parar no Brasil, desembarcando em Manaus. Porém, como era analfabeto, acabou virando trabalhador escravo. Trabalhava, trabalhava, mas era obrigado a pagar por casa e comida e sua dívida só aumentava.

Nessa época, ele conheceu minha mãe, uma jovem linda e loura da sociedade de Manaus. Um amor improvável, mas que frutificou. Meu avô, em Portugal, endividou-se mas financiou o matrimônio à distância. Meu pai melhorou de vida, deixou de ser trabalhador escravo e, pouco tempo depois, eu nasci. Nasci em Manaus! Um ano mais tarde, chegou minha irmã.

Quanto eu tinha quatro anos, meu pai decidiu voltar para Portugal. Fizemos uma longa viagem de navio até a Póvoa de Varzim. Entretanto, as coisas não saíram como planejado. Ao se ver presa em uma cidade pequena, longe da família e da vida agitada que tinha em Manaus, minha mãe caiu em profunda depressão. Meu pai, para piorar, passados os primeiros anos de casamento, revelou todo o ser caráter bruto e bronco. Fazia estupidez, gritava com ela...

Certo dia, meu pai chegou à casa e encontrou-a vazia. Nenhum móvel, nada! Minha mãe havia chamado o comerciante de móveis e vendido tudo. Com o dinheiro, foi-se embora com os filhos, de volta para casa, o Brasil! Lembro-me de ver minha casa se distanciando, ficando pequenininha, através da janela de trás do táxi..."

(continua)


7 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Estou curiosa, querendo saber mais.

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Valéria,
Essa montagem fotográfica está sensacional. Foi você quem fez?
Também estou esperando a continuação da história. Gosto bastante de histórias de vidas(reais).
Beijos.

Ana Cristina Melo disse...

Valéria,

você conseguiu. Fiquei curiosíssima para saber o que aconteceu depois. Ótima história.
Bjs

Neide disse...

Noooosssa, fiquei curiosa, ansiosa, por saber como vai terminar tudo.

Heloísa, eu também adooooro histórias da vida real. Na maioria das vezes elas nos estimula, nos fazem refletir, sempre nos acrescenta alguma coisa. O fato de sabermos que alguém de carne e osso como nós, que vive em algum lugar passou vivênciou tuso aquilo, é muito, muito estimulador....

Bjuuuuuuuuu

continuando assim... disse...

Convite para ler

O livro "Continuando assim...", foi maltratado...

Resolvi por isso, e porque tanta gente não encontra o livro onde deveria estar (nas livrarias), recontar a história , lá no
…. Continuando assim…

Vamos em metade da história, o livro reescrito , não está igual (nem podia) ao que foi editado.
Um obrigada especial a quem segue (pois só vale a pena assim).
A quem chega de novo, umas boas vindas sinceras. E outro obrigada .

Mais uma reflexão em relação a todo este assunto, e um conselho, se é que me é permitido:

--- quando vos pedirem dinheiro para editar as vossas palavras, simplesmente digam que não ---
Bj
Teresa

Carolina disse...

Esperando o desenrolar da linda história...

bjos meus

Mônica disse...

Valéria
Daria mesmo uma história linda.
Estou feliz com seu retorno.
Estou outra vez agora sem computador, está consertando.
Eu também tenho uma história verdadeira sobre Portugal
Minhas irmãs sabem melhor
Vou resumir.
Elas tinham um profesor de quimica que foi para Portugal, porque conheceu uma portuguesa aqui e apaixonou.
Chegando lá a moça que tinha prometido um otimo emprego arrumou um de porteiro para ele.
E não tomava banho.E o frio era intenso e o calor também.
Ele saiu de lá fugido da casa da moça.
Depois as meninas te contam a história
Com carinho Monica