quarta-feira, 3 de março de 2010

A história das Correntes

As Correntes D´Escritas começaram há 11 anos. Francisco Guedes foi visitar o Salón Del Libro de Gijón – festival literário organizado por Luis Sepulveda na cidade de mesmo nome, no Norte da Espanha – e teve vontade de empreender algo semelhante em Portugal. Em Gijón, a proposta já era convidar e divulgar escritores de idiomas ibéricos, mesmo desconhecidos do grande público, desde que tivessem boa qualidade literária.

De volta a Portugal, o destino fez com que Guedes encontrasse Luis Diamantino, outro apaixonado por literatura, que acabou na política por acaso: é vereador em Povoa de Varzim. Este também andava a pensar em como promover a cultura e a literatura em sua cidade. Desse encontro, fez-se a luz!

No primeiro ano, participaram do evento 23 escritores. Do Brasil veio um jornalista famoso por sua verve ferina.

- Passou um dia na Povoa e se foi com duas gajas ao Porto – foi o que me disseram.

De volta ao Brasil, o moço escreveu: “Póvoa de Varzim é a cidade mais feia que já vi na vida. Ir a Povoa de Varzim a a Chernobyl é a mesma coisa”.

As autoridades levaram a revista a Diamantino.

- É para isso que pediste tanto dinheiro?

Pior aconteceu. Certa noite, após o jantar, incentivaram um poeta performático português a declamar algumas poesias e o homem escolheu um poema pornográfico de Bocage. Não apenas declamou como interpretou cada palavra e frase.

Diante do constrangimento da platéia, chamaram-lhe em um canto e pediram que parasse. O homem ficou indignado. Para vingar-se, no dia seguinte, selecionou trecho especialmente picante do livro do escritor moçambicano Mia Couto, presente nas Correntes, e leu em voz alta, com nova interpretação acalorada. Mia Couto afundou na poltrona mais vermelho que um pimentão.

Não contente, o tal performático ainda foi à imprensa e espalhou que havia sido vítima de censura nas Correntes D´Escritas. Todos os jornais e revistas, na época, noticiaram o fato, o que provocou tamanha dor de cabeça nos organizadores, que imaginaram que aquela seria a primeira e última edição do evento.

Mas como a vida sempre surpreende, todo esse falatório sobre performances pornográficas em Povoa de Varzim terminou despertando o interesse do público, que a partir de então prestigia o evento.


Abaixo, todos os escritores juntos no palco, no encerramento do evento.




7 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Adorei a história: deveria ter virado uma marca, ou seja, sempre alguém leria textos picantes.
Que viagem gostosa!

Neide disse...

Val,
Estou acompanhando tudo sobre sua viagem à Portugal. Interessante a história das Correntes,mais uma prova de que não devemos desistir diante dos obstáculos.

As vezes os jornalistas são cruéis, comparar uma cidade de Portugal à Chernobyl, foi no mínimo desrespeituoso!!!

Sinto que vc está aproveitando cada minuto deste encontro, da viagem, e retornarás com uma bagagem que não se coloca em malas, mas no coração e na mente...

Bjus

Pablo Lima disse...

uau! que maravilha!

Mônica disse...

Eu adorei a hitória sobre o escritor.
E fiquei te procurando na foto!
Mas tenho certeza que está .
Com carinho Monica

Anônimo disse...

Gostei da história e o sucesso do evento.

Neide é melhor nem entrar no mérito... na Europa em algumas situações é bem "comum "jornalistas compararem Chernobyl com algo que desagrada padrões ou expectativas ...

Bom,
E quem ganhou ?

Valéria Martins disse...

Olá, pessoal. Obrigada pelos comentários.

Bem, ninguém ganhou, não havia uma competição. Bonito foi ver todo mundo no palco, juntos, celebrando o sucesso do evento. Principalmente, porque é um clima muito afetuoso.

Agora estou em Madrid. Uma cidade animadíssima! Ontem à noite, com frio de 5 graus, as ruas estavam cheias de gente até a madrugada. Uma delícia andar sem medo e junto com um monte de gente. Uma cidade que não dorme.

Beijos!

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.