O jovem Benjamin Moser é uma graça. Encantador. Fala com tanto amor e propriedade sobre Clarice Lispector que é como se ela fosse sua parente. Como se estivesse viva. É isso: Clarice reviveu segunda-feira, no palco do Teatro Eva Herz, da Livraria Cultura no Conjunto Nacional (SP), através da voz e das histórias narradas por seu biógrafo, um rapaz de 33 anos, alto, louro, lindo (gay), que fala português tão bem quanto quanto inglês.

Moser é norte-americano nascido em Houston e formado em História. Conheceu a obra de Clarice por acaso, na universidade, quando escolheu estudar português após fracassar no aprendizado de mandarim (chinês).
- Não havia vagas em outros cursos de idiomas, então, eu fiquei com o português.
No meio do curso, o professor sugeriu a leitura de alguns escritores brasileiros: Jorge Amado, José Lins do Rego... e Clarice Lispector.
- Li A hora da estrela e fiquei impactado. O que me pegou - e o que me toca até hoje - é o desejo de saber mais, de ir além do que os olhos vêem. Isso não é para todos, nós não podemos passar muito tempo pensando em Deus e no que está além da realidade. Clarice pagou um preço alto por ser assim.
Segundo Moser, Clarice ainda carregava o peso de uma infância passada na miséria, em uma aldeia no interior da Ucrânia. Era comum, naquela época, os soldados russos invadirem as aldeias de judeus e estuprarem as mulheres. Num desses ataques, a mãe de Clarice foi violentada e contraiu sífilis.
Acontece que não havia tratamento para a doença. Havia, sim, a crença em que uma mulher com alguma doença venérea, ao ficar grávida, seria automaticamente curada. Clarice foi concebida com esse fim e é lógico que a mãe não se curou.
- Quando criança, ela rezava pedindo que um milagre salvasse a mãe, o que nunca aconteceu. Talvez por isso tenha escrito "Escrevo como que para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha."
Quem quiser conhecer Benjamin Moser pessoalmente pode ir à Livraria da Travessa Ipanema nesta quinta-feira, dia 26/11, a partir das 19h30. O homem passou os últimos 5 anos lendo, estudando, viajando e realizando entrevistas (mais de 100) para compor Clarice (CosacNaify, R$ 79,00) Vale!