- Algum de vocês teria um bom livro sobre o medo para indicar? - perguntou o amigo no meio da reunião, e todos se entreolharam.
- Por que sobre o medo?
- É que estou desenvolvendo um novo projeto para crianças... - de fato, esse colega trabalha com teatro infantil.
Alguns fizeram sugestões e eu indiquei a coleção Quem tem medo, da Editora Scipione, que ajudou minha filha a perder o medo do mar após ter sido literalmente "pescada" por um anzol na praia, aos 4 anos.
- Não - explicou nosso amigo - Eu queria um livro sobre o medo em si. Uma teoria sobre o medo.
Confabulamos e concluímos que esse livro não existe. Um de nós filosofou:
- O mestre tal disse que o medo é causado pela falta de liberdade. Se conquistarmos a liberdade, não haverá medo.
Aí eu intervim:
- Mas as pessoas também tem medo da liberdade. Liberdade demais assusta - e todos me olharam desconfiados...
A propósito dessa afirmação, lembrei de um texto que escrevi em 2009, e que agora sai da gaveta.
No sábado à noite, ela saiu livre, leve e solta, o vestido bem decotado, o certo era usar sutiã, mas ela foi sem sutiã mesmo, os seios livres sob o tecido de algodão.
Tinha ido à praia e estava bronzeada, o certo era usar maquiagem, mas ela não usou, foi de cara lavada mesmo.
Chegando à festa, a amiga arranjou um paquera, o amigo colou com outra e, de repente, ela se viu só. Foi para a pista e dançou, dançou, dançou... Os seios balançando, os cabelos voando, a cara sem maquiagem.
Nesse momento, se deu conta do quanto sempre teve liberdade, a dádiva da liberdade. Porque desde cedo teve que aprender a tomar conta de si, administrar seu dinheiro e isso lhe permitiu lançar-se ao mundo, viajar, fazer o que bem entendesse sem ligar para o que os outros pensam ou dizem.
Deu-se conta, ao mesmo tempo, do quanto é difícil viver a liberdade, porque implica riscos. É mais fácil apegar-se a hábitos, manias, obrigações auto-impostas. Tudo para não se ver a olho nu, não estar exposto ao vácuo que é o daqui a pouco, no virar da esquina.
É preciso muita coragem para viver a liberdade, isso sim. (Ou falta de juízo também!)