Existem velhos sentimentos que carregamos dentro de nós vida afora. O tempo, o lugar e as pessoas mudaram, mas os sentimentos continuam lá, repetindo-se, repetindo-se... Quem é do tempo da vitrola lembra de quando a agulha ficava pulando em algum risquinho do vinil e repetindo um trecho da música.
Essa repetição atrapalha um bocado a vida da gente.
Ainda sobre o filme O discurso do rei - não que eu tenha gostado tanto, gostei mais de A última estação, sobre os últimos dias da vida de Tolstói -, tem uma hora em que o fonoaudiólogo chega para o rei e diz: "Você não é mais aquele menininho assustado e sacaneado pelos irmãos. Isso ficou para trás, passou..." É uma fala simples e, aparentemente, está na cara. O rei é adulto e tem plenos poderes para assumir o seu destino. Mas os velhos sentimentos...
Fico me perguntando por que nos apegamos a essas coisas, se elas nos atrasam tanto. Desconfio que é porque em priscas eras, quando aconteceram as situações que originaram os sentimentos, obtivemos alguns ganhos a partir deles: atenção, amor... Ou o que pensávamos que era amor na época.
Velhos sentimentos devem ficar no passado. Deixo amorosamente o meu passado para trás, ensina a mestra Louise Hay. Mas, ao mesmo tempo, dá um medo deixá-los!... Como será a vida sem eles?
Lembrei agora daquele personagem da Turma do Snoopy, o Linus, que carrega sempre um paninho. Querido Linus, pode soltar o paninho... Mas ele deve pensar: ainda serei eu sem o paninho? Vão me reconhecer? Continuarei recebendo amor e atenção? (ui!)
Vamos todos tentar soltar os nossos paninhos? Dá um medo!... Mas acho que a recompensa vale muito: a Liberdade.
