“O jornalismo tira toda a poesia da escrita, somos treinados a cortar palavras, escolher as mais precisas e diretas, abolir floreios ou imagens ou metáforas. Isso vai contra a escrita literária, atrapalha, tolhe a criatividade”.
Ao longo de 5 dias nas Correntes D´Escritas, ouvi inúmeros escritores falarem sobre a criação literária. A platéia feita simples mortais – eu, inclusive – escutava embevecida, pois tudo o que era dito parecia tão difícil, inatingível, inapreensível! Mais eis que havia alguns jornalistas-escritores no meio dos escritores literários, que nos puxavam para a realidade.
Um deles, Luis Naves (foto), repórter do Diário de Notícias e mantenedor do blog As penas do Flamingo, disse algo que muito me emocionou. Foi assim:
“Muito aqui se falou sobre transcender a realidade, buscar palavras para o que está além da realidade. Mas o mais importante, para mim, é aproximar-me da realidade. Vou explicar porque.
Eu estava cobrindo um conflito armado e, numa hora de descanso, sentei-me em uma cadeira com uma garrafa plástica de água nas mãos. Um raio de sol veio pousar na garrafa e projetou um arco-íris no chão. Eu estava distraído observando o fenômeno quando se aproximou uma criança de uns 5 anos, suja e maltrapilha, e pôs-se a olhar a garrafa. Achei linda a criança e balancei a garrafa fazendo o arco-íris brincar no chão. Vi toda a poesia do momento e estava encantando quando ela disse:
- Dá-me água.
Caí das nuvens. No meu delírio poético-literário, não consegui enxergar uma necessidade tão básica daquela criança, que estava com sede.
Por isso, a realidade é tão importante para mim. A minha meta na literatura é estar cada vez mais próximo da realidade”.
Ao ouvir isso, senti muito orgulho da minha profissão. Não houve engano, não há lamento. Sou, antes de tudo, jornalista.