domingo, 9 de março de 2008

O rato embaixo da geladeira

Domingo de manhã, ocasião rara para dormir, desligo todos os aparelhos de telefone pensando nisso. Mas meu sono é perturbado por portas batendo. Mais uns minutos e a porta do meu quarto - santuário de penumbra inviolável, sob pena de morte - é aberta.
"Mãe..."
"Que é menino? Que história é essa de me acordar, essas portas batendo?!?!?!"
"É uma longa história, mamãe..."
De fato. Uma amiga da minha filha veio ontem dormir na nossa casa, se encantou com o novo habitante, o micro-ratinho branco de olhos vermelhos chamado Cherry. Um topolino, menor que um hamster. Hoje, a menina acordou antes de todos nós e foi à cozinha pegar Cherry, tirá-lo da gaiolinha aonde mora. Tudo bem se não houvesse uma outra habitante da casa, a gata Piblu, uma vira-latas preta, enorme e feroz. Resultado: a gata apareceu, o rato se assustou, saltou da mão da criança e foi parar embaixo da geladeira, de onde não saía por nada desse mundo.
Acordei num pulo, corri para a cozinha e vi vassoura, pano, grãos de ração,tudo espalhado no chão. O sangue ferveu até o topo da cabeça. Expulsei os dois para a sala, tirei da geladeira um pedacinho de queijo, outro de pão, outro de mamão e coloquei numa distância segura: caso Cherry se aventurasse em busca de comida, eu o agarraria! Mas que nada, o ratinho já havia levado para seu esconderijo alguns grãos de ração que as crianças haviam usado para tentar atraí-lo, e se deliciava com eles. Doce sabor da liberdade!
Comecei a me desesperar, Piblu miando do outro lado da porta, calor, fome... Mas eis que nesse ínterim, chega o pai dos meus filhos, que veio buscá-los para ir à praia. Nada como um homem numa hora dessas!!!
"Vamos ter que virar a geladeira."
"Não vai dar certo, ele vai entrar para dentro do motor."
"É isso ou..."
Lembrei de um ratinho que eu tive quando tinha uns 6 anos. Um dia ele escapuliu da gaiola e foi parar no teto do apartamento, que era rebaixado, todo feito de ripas de madeiras. Durante alguns dias, víamos o rato passear para lá e para cá nas vigas do teto. Depois, tudo o que restou dele foi um cheiro de carniça terrível.
"Tá bom, vamos virar a geladeira!"
Tiramos tudo para fora, ele - o homem! - virou a geladeira. Cutuquei Cherry, que escapuliu para o chão, mas quando tentei pegá-lo, soltou um guincho e meu mordeu. Ui! Cutuquei de novo e quando ele me deu as costas, o rabinho fino e rosado à mostra, o capturei. Aháááá´!!!!!
Ufa!...
Nossa hóspede não se furtou de levar um sermão daqueles. Meu filho me abraçou, exausto. E minha filha, que notoriamente é muito brava, quase tanto quanto a gata Piblu, nos olhava com uma interrogação no olhar. "O que aconteceu?" Ela acordou mais tarde e as outras duas crianças não lhe contaram nada, assistiam TV em silêncio, já sabendo a bronca que iam levar caso a "onça pintada" (como chamo minha capricorniana brava) descobrisse a arte...
No fim das contas, estresses e maus humores se dissolveram num banho de mar em Ipanema. Que manhã de domingo!...


3 comentários:

Anônimo disse...

Mãe foi mesmo um sufoco mas ainda bem que deu tudo certo.

Ana Carolina disse...

E desde quando a Piblu é brava? Pra um simples ratinho deve ser né? hehe! Beijos!

Valéria Martins disse...

A Piblu é bravíssima! Não deixa a gente pegar no colo, não deixa a gente fazer cosquinha na barriga, à noite, quando vou trancá-la na cozinha para dormir (senão, ela nos acorda de manhã cedo, nos encarando de perto), ela me ameaça arreganhando os dentes com uma rosnada. Não é uma gata, é uma Jaguatirica disfarçada...