quarta-feira, 12 de março de 2008

O Museu Freud, em Londres

Visitar The Freud Museum, em Londres, é uma experiência solene.
Numa manhã ensolarada, atravessei a cidade em direção ao bairro de Hamphstead, onde fica a casa em que o criador da psicanálise passou seu último ano de vida. Na saída do Underground, há discretos avisos indicando a direção. Entrei numa espécie de travessa com degraus e cheguei ofegante a uma linda rua arborizada, repleta de largas casas de tijolos em seus dois lados. Finalmente, eu encontrava as belas casas inglesas que costumo ver nos filmes. Hamphstead é um bairro de ricos.
Em Londres, as construções que um dia abrigaram personalidades exibem na fachada uma pequena placa arrendondada de esmalte azul-marinho, onde se lê em branco: "Aqui morou...". The Freud Museum tem duas placas: uma em homenagem a Sigmund e outra em homenagem a sua filha, a também psicanalista Anna Freud, que viveu ali até morrer, em 1982, e que determinou que após sua partida a residência seria transformada em museu.
A família Freud chegou em Londres em junho de 1938, após deixarem Viena ocupada pelos nazistas. Imagino como deve ter sido doloroso esse degredo, porque antes haviam morado por 47 anos no mesmo endereço, Berggasse, 19. Em setembro mudaram-se para a casa de Tijolos em 20 Maresfield Gardens – endereço que grande parte dos ingleses desconhece (pelo menos aqueles aos quais perguntei sobre o museu não sabiam).
Entrei na casa silenciosa. Nos fundos, onde se compra o bilhete de entrada (8 pounds) há uma lojinha com souvenirs à venda; o mais bacana é um bonequinho de Freud, fofinho, vestido com terno preto e óculos redondos sobre o nariz. Trouxe um comigo e está em cima da minha cama, ao lado do mestre sufi Nasruddin.(No meio, há uma boneca de pano, presente da Fernanda Temponi. Eles fazem a minha "escolta").
Sem me preocupar por onde começar, subi os degraus até o andar de cima, onde fica o quarto de Anna Freud. Simples, claro, com um divã e a cadeira onde ela se sentava, coberta por uma manta de lã, que devia usar para aquecer suas pernas. Numa sala ao lado, é exibido continuamente um vídeo com imagens da família Freud narrado pela própria Anna. Fascinante ver imagens de um Freud sisudo, conversando com seus colegas psicanalistas, mas abrindo um sorriso para a neta Sofia, que o abraça e beija, ou enquanto afaga um dos cães da raça Chow-chow (da língua roxa) que criaram ao longo da vida. Freud gostava de cachorro!
No corredor, há um desenho de Freud assinado por Salvador Dalí. Pequenos quadros aqui e ali narram e comentam casos solucionados pelo primeiro dos psicanalistas. As poucas pessoas – três ou quatro – que estão comigo no interior da casa não falam, só se ouve nossas respirações.
Desço as escadas procurando o consultório do mestre, e então percebo uma porta aberta a minha direita. Entro num ambiente de penumbra, os olhos demoram a se acostumar. Então, começo a visualizar os detalhes do santuário. Livros, muitos livros cobrindo as estantes em todas as paredes; diversas cristaleiras que abrigam artefatos e bibelôs comprados por Freud em suas viagens pela Grécia, Itália e o Oriente; o famoso divã trazido de Viena, coberto de tapetes persas e almofadas; a cadeira onde ele se sentava (muito simples); e, por fim, a mesa de trabalho com um detalhe perturbador: os óculos redondos sobre papéis espalhados, como se ele houvesse se levantado por um momento e fosse voltar já, já.
Agradeci pelo caminho de auto-conhecimento que ele inaugurou, e que eu segui com ajuda de seus discípulos. Agradeci por tudo de bom, de mau e de importante que descobri sobre mim através do método que ele criou. E parti com meu bonequinho nos braços, segurando-o com todo cuidado e carinho.

2 comentários:

marilza disse...

Olá Valeria!Estive esse mes de novembro no Museu de Freud e a emoção em estar lá é algo surreal.Mari

Anônimo disse...

Seu relato é emocionante!
Leila