domingo, 10 de julho de 2016

Nordeste de antanho

Ainda em Campina Grande, o Sítio São João foi o lugar onde me senti mais perto daquilo que ansiava: o Nordesde de antigamente, que conheci em viagens na época da faculdade, quando me mandava de ônibus (48 horas) para o Ceará e percorria praias hoje famosas como Jericoacoara, Canoa Quebrada e outras.

Ingressamos em uma grande área de terra batida onde uma cidade cenográfica reproduz o Nordeste de antanho. Casinhas de pau a pique sem forro e sem portas, camas tortas, prateleiras toscas, fotos antigas nas paredes, banheiro do lado de fora. Nada disso existe mais, dizem. Hoje todas as casas tem seu banheiro construído, toda pequena cidade tem um mercadinho com iogurte, leite em caixas etc. Melhor, com certeza. Mas que bom que conheci o Nordeste de antigamente. Este ainda vive dentro de mim nas melhores lembranças da juventude.

Na chegada a João Pessoa, em voo tardio – mais barato – ao pisar fora do avião reconheci o cheio das madrugadas em que acordávamos antes do sol nascer, e pegávamos carona até a rodoviária para embarcar em seis a oito horas de viagem até praias longínquas e inexploradas como a própria Jericoacoara. Não havia pousadas e nos hospedávamos nas casas das famílias, dormindo em redes na sala, comendo arroz, feijão, macarrão e peixe todo dia, e tendo que sair ao relento para ir ao banheiro, onde uma galinha encarapitada entre as taipas cacarejava assustada denunciando o nosso xixi noturno. O cocô era em um areal mais distante, onde cavávamos um buraco e depois enterrávamos nossos despojos. Pagávamos nossa estadia com escambo – talco, ou ‘pó branco’, era dos bens mais valorizados.

Abaixo, foto da família que nos hospedou dois anos seguidos em Jericoacoara, a primeira vez em 1987. Um ano depois, 1988, quando voltamos sem avisar, ao nos avistar, a filha mais velha:

- Mamãe, as meninas chegaram!

2 comentários:

Azamor disse...

Oh Valeria que delicia de texto. Leve e sem saudosismo. Que venham outros momentos ludicos, puros e simples; como o lugar. Adoravel: "mamãe, as meninas chegaram."

Valéria Martins disse...

Obrigada pela leitura, querida Vania. Beijos!