Gaudí foi um arquiteto prodígio. Jovem, já assinava projetos diferentes de tudo o que havia antes em Barcelona e no mundo. A mãe o ensinou desde cedo a admirar a natureza e esta se tornou sua fonte de inspiração. Mas não se tratava de copiar simplesmente as formas naturais e sim buscar a funcionalidade delas.
Uma exposição no último andar de La Pedrera – edifício monumental na esquina de Carrer Provenza com Paseo de Gràcia – coloca lado a lado objetos colhidos na natureza que podem ter servido como inspiração/modelo para Gaudí. Por exemplo, a espinha de um animal marinho é o modelo para o ambiente que abriga a própria exposição (espécie de sótão), cujo teto e o terraço acima dele são sustentados por uma infinadade de vigas curvas – tais quais a espinha do peixe.
Já o teto da Sagrada Família, visto por dentro, lembra os galhos de uma árvore que se estendem ao céu; a copa entreabrindo-se aqui e ali, deixando passar a luz.
A luz, sim, era parte essencial da arquitetura de Gaudí. Todos os seus edifícios têm área interna larga e muitas janelas, a fim de permitir a entrada da luz natural. Os telhados não podiam ser áreas mortas, ele os transformava em playgrounds onde chaminés eram agrupadas para formar esculturas, obras de arte recobertas de caquinhos de azulejos.
Minha amiga Giselle, brasileira moradora de Barcelona, disse ter certeza de que George Lucas se inspirou nas chamines de Gaudí para criar os capacetes dos soldados do Império em "Guerra nas Estrelas"!!!
Na Casa Batlló, em Paseo de Gràcia, seu delírio chegou ao máximo. Ele tomou como inspiração o fundo do mar e adentrar a casa é como fazer parte de "Vinte mil léguas submarinas", de Julio Verne. Azulejos recobrem a área interna em tons de azul degradé, vidros distorcem a luz dando a impressão de água corrente, lustres e até mesmo o teto têm as formas de conchas e redemoinhos. O mais maluco é que apenas um ou dois andares das duas construções – Pedrera e Batlló – são abertos à visitação, enquanto os outros abrigam salas comerciais normais . Já pensou, trabalhar num edifício de Gaudí?
A beleza, a luminosidade, as cores, as formas são tão lindas e leves que parece que flutuamos dentro das casas construídas por esse homem que também era extremamente religioso, católico. Quando dei por mim, entrava e saída dos ambientes com um sorriso no rosto, rindo à toa, de tanta beleza junta. Esse Gaudí sabia tudo de Feng Shui mesmo que nunca tenha estudado a filosofia chinesa de viver bem.
Sua última obra foi a Sagrada Família, que ele tomou como uma missão espiritual. Porém, os detalhes eram tantos, a obra era tão prima, que o tempo passou, os patrocinadores cortaram as verbas, ele investiu tudo o que tinha, passou a dar aulas e workshops para angariar fundos, foi dormir num quarto minúsculo dentro da própria igreja. Até que morreu atropelado por um bonde. O funeral mobilizou toda Barcelona e ele foi sepultado nas dependências da própria catedral.
Andando por Barcelona, vejo Gaudí por toda parte. Todos os que vieram depois dele o imitaram. Eu o venero. Mais que isso, sinto carinho e ternura por esse homem que construiu casas para as pessoas serem felizes. Por amor. Dá para sentir o amor quando entramos nas casas de Gaudí. E ele não as fez para ele próprio morar, mas sim para os outros morarem. Querido e generoso Gaudí.
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