Subi no ônibus, era duas da tarde, um sol escaldante do lado de fora. Senti o cheiro. Que cheiro era aquele? Parecia urina seca, forte!
Assim que passei a roleta, a cena: no espaço reservado para cadeirantes, uma mulher negra, muito velha, envolta em trapos, os pés inchados enfaixados, um saco plástico envolvendo a carapinha branca, sentada em sua cadeira de rodas, atada às ferragens do ônibus, tendo nos braços uma criança adormecida. Um menino mulato, gordinho, só de shorts, e ela segurava-o firmemente.
Quem seria aquela criança? Um neto? Pelo cuidado com que tomava conta do menino, poderia ser, sim.
Uma moça no banco atrás de mim fez uma careta, tapou o nariz com os dedos e mudou de lugar. Foi sentar bem longe, lá atrás, no último banco do ônibus.
E eu fiquei admirada, hipnotizada pela imagem da velha com o menino nos braços. Cheguei a pensar, o pensamento mesquinho: “Melhor parar de olhar ou ela vai me pedir dinheiro”.
Mas que nada, ela tinha dinheiro. Entrou um vendedor de balas no ônibus e ela sacou um porta-níqueis, tirou de lá uma moeda e comprou dois pacotinhos de amendoim. O menino desacordado, suado! Mas ia ter o que comer quando despertasse.
Eu continuava olhando. Era uma cena bela! Como podia ser bela aquela mendiga velha, suja e fedorenta com o menino no colo? Mas era.
Chegou a hora de saltar. Passei pela mulher e, nesse exato instante, um dos pacotinhos de amendoim caiu das mãos dela, foi parar no chão, perto da roda da cadeira de rodas.
- Filha, vc pega pra mim?
- Claro!
Abaixei e peguei o amendoim, entreguei nas mãos dela com um sorriso, e ela sorriu de volta pra mim, o menino dormindo.
Fui embora imensamente agradecida por ter sido merecedora de um olhar daquela mulher. Por poder lhe entregar o amendoim.
A Beleza guardada dentro de mim.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
domingo, 15 de janeiro de 2012
El Tigre
Já escrevi sobre Ele antes, e aqui vai novamente: El Tigre é o meu passeio favorito em Buenos Aires. Todas as vezes em que visitei a capital portenha nunca deixei de ir lá.
Dessa vez, fomos visitar o antigo cassino que foi todo restaurado. A propósito, ao caminhar pela beira do rio, vemos que tudo ali foi recuperado. Perguntamos aos nossos amigos, mais tarde, e a resposta: um político aposentado, natural daquela província, voltou para lá e resolveu ajeitar tudo. Investiu dinheiro do próprio bolso, reurbanizou...
O resultado é visível aos olhos e ao coração: canteiros cheios de hortências – cor de rosa, nunca tinha visto nesse tom! –, caminhos para pedestres e ciclistas, tudo novo e bonito.
Mas o cassino... É de cair duro para trás! Parece que viajamos no tempo e voltamos à época descrita por Fitzgerald em O grande Gatsby. O prédio, que andou fechado e abandonado por décadas, foi todo restaurado, assim como a riqueza dos interiores: ricos afrescos no teto, delicados detalhes em ouro, magníficos lustres de cristal... Pena que não deixam tirar fotos lá dentro.
Fomos em dia de semana e éramos os únicos visitantes: um silêncio, um frescor!...
E a passarela de mármore onde as pessoas, antigamente, ao perderem tudo no jogo, corriam e se jogavam no rio – um gesto dramático, pois não acredito que a profundidade ali dê para isso -, descortina a vista emocionante do Tigre.
Enfim, se algum de vocês for a Buenos Aires, vá visitar El Tigre. Vale muito!
Dessa vez, fomos visitar o antigo cassino que foi todo restaurado. A propósito, ao caminhar pela beira do rio, vemos que tudo ali foi recuperado. Perguntamos aos nossos amigos, mais tarde, e a resposta: um político aposentado, natural daquela província, voltou para lá e resolveu ajeitar tudo. Investiu dinheiro do próprio bolso, reurbanizou...
O resultado é visível aos olhos e ao coração: canteiros cheios de hortências – cor de rosa, nunca tinha visto nesse tom! –, caminhos para pedestres e ciclistas, tudo novo e bonito.
Mas o cassino... É de cair duro para trás! Parece que viajamos no tempo e voltamos à época descrita por Fitzgerald em O grande Gatsby. O prédio, que andou fechado e abandonado por décadas, foi todo restaurado, assim como a riqueza dos interiores: ricos afrescos no teto, delicados detalhes em ouro, magníficos lustres de cristal... Pena que não deixam tirar fotos lá dentro.
Fomos em dia de semana e éramos os únicos visitantes: um silêncio, um frescor!...
E a passarela de mármore onde as pessoas, antigamente, ao perderem tudo no jogo, corriam e se jogavam no rio – um gesto dramático, pois não acredito que a profundidade ali dê para isso -, descortina a vista emocionante do Tigre.
Enfim, se algum de vocês for a Buenos Aires, vá visitar El Tigre. Vale muito!
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Ação entre amigos - Reveillón em Paraty
A dica era do meu amigo Ricardo, que mora em Paraty: “Quando chegar à praia, tenta reunir um grupo de pessoas para dividir um barco e ir ao Saco do Mamanguá” OK!
No dia 29 de dezembro, saímos de Paraty às 11h da manhã e fomos a Paraty Mirim, praia de águas calmas a 40 minutos da cidade histórica. Tempo nublado, feio, mas sem chuva. Chegando lá, fui logo abordada por um barqueiro. Valor do passeio: R$ 120,00.
Encontrei uma família grande, 5 pessoas, e convidei a dividir com a gente. Toparam! Mas no que eu fui nadar, atravessar o rio – água gelada! – e voltei, a notícia:
- Olha, aquela família que tinha combinado com a senhora já foi.
- Como assim, já foi?
- Não quiseram esperar e foram.
Como diz o meu namorado: “Falsos!”
Comecei novamente do zero: abordar as pessoas na praia – não eram muitas –, explicar o que é o Saco do Mamanguá – um fiorde brasileiro, um braço de mar terra adentro, cercado de montanhas e floresta por todos os lados –, dizer o valor etc.
Um jovem professor de educação física, acompanhado da sobrinha de 20 anos e do filho pequeno aceitou, animadíssimo. Uma família de cearenses e paraibanos residentes em São Paulo – 6 adultos e uma criança – também. Éramos 13.
- Ah, minha senhora, o meu barco não agüenta. Só tem lugar pra 12!
Fomos atrás do Seu Ademir, que estava tomando uma cerveja em um bar sabe-se lá onde, dono de um barco com capacidade para 15 pessoas. Mas o valor aumentou: R$ R$ 150,00, e isso deu início a nova rodada de negociações.
Moral da história: o barco partiu quase às quatro da tarde, todo mundo sem almoçar, o céu parecendo que ia desabar nas nossas cabeças, de tão escuro. Mas eram tantas as risadas, tanta a vontade de viajar – a essa altura mais pela alegria e a novidade daquela ação entre amigos recentes e tão diferentes – que lá fomos nós...
E sabe que a chuva não caiu? Esperou a gente ir e voltar: 3 horas de passeio com direito a parada em uma aldeia de pescadores para comer batatinha frita com coca-cola.
Chegamos de volta em Paraty Mirim quase às sete da noite, tudo escuro, um frio!... Mas todo mundo feliz e com as bochechas doendo de tanto rir e sorrir.
Abaixo, a melhor turma do Ano Novo em Paraty. Seu Ademir à esquerda, de camisa branca.
No dia 29 de dezembro, saímos de Paraty às 11h da manhã e fomos a Paraty Mirim, praia de águas calmas a 40 minutos da cidade histórica. Tempo nublado, feio, mas sem chuva. Chegando lá, fui logo abordada por um barqueiro. Valor do passeio: R$ 120,00.
Encontrei uma família grande, 5 pessoas, e convidei a dividir com a gente. Toparam! Mas no que eu fui nadar, atravessar o rio – água gelada! – e voltei, a notícia:
- Olha, aquela família que tinha combinado com a senhora já foi.
- Como assim, já foi?
- Não quiseram esperar e foram.
Como diz o meu namorado: “Falsos!”
Comecei novamente do zero: abordar as pessoas na praia – não eram muitas –, explicar o que é o Saco do Mamanguá – um fiorde brasileiro, um braço de mar terra adentro, cercado de montanhas e floresta por todos os lados –, dizer o valor etc.
Um jovem professor de educação física, acompanhado da sobrinha de 20 anos e do filho pequeno aceitou, animadíssimo. Uma família de cearenses e paraibanos residentes em São Paulo – 6 adultos e uma criança – também. Éramos 13.
- Ah, minha senhora, o meu barco não agüenta. Só tem lugar pra 12!
Fomos atrás do Seu Ademir, que estava tomando uma cerveja em um bar sabe-se lá onde, dono de um barco com capacidade para 15 pessoas. Mas o valor aumentou: R$ R$ 150,00, e isso deu início a nova rodada de negociações.
Moral da história: o barco partiu quase às quatro da tarde, todo mundo sem almoçar, o céu parecendo que ia desabar nas nossas cabeças, de tão escuro. Mas eram tantas as risadas, tanta a vontade de viajar – a essa altura mais pela alegria e a novidade daquela ação entre amigos recentes e tão diferentes – que lá fomos nós...
E sabe que a chuva não caiu? Esperou a gente ir e voltar: 3 horas de passeio com direito a parada em uma aldeia de pescadores para comer batatinha frita com coca-cola.
Chegamos de volta em Paraty Mirim quase às sete da noite, tudo escuro, um frio!... Mas todo mundo feliz e com as bochechas doendo de tanto rir e sorrir.
Abaixo, a melhor turma do Ano Novo em Paraty. Seu Ademir à esquerda, de camisa branca.
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