Quando eu era criança, costumava assistir na Sessão Coruja, um filme estrelado por Charlston Heston, intitulado "A última esperança da Terra" (The Omega Man, 1971, baseado na novela de ficção científica "I am legend", do escritor e roteirista norte-americano Richard Matheson). Adorava as cenas do ator perambulando por uma Nova Iorque completamente abandonada, sem seres humanos, entrando nas lojas e escolhendo as roupas que quisesse, levando sem pagar. Ele se divertia fazendo aquilo e eu me imaginava na mesma situação: o Rio de Janeiro vazio e eu entrando aonde quisesse, pegando o que quisesse, sem ter que pagar ou prestar contas a ninguém. (Por outro lado, não haveria ninguém para me ver toda emperequitada, mas eu não pensava nisso.)
Eis que agora estreou no cinema uma nova versão do filme com Will Smith no papel principal. Fui assistir com meus filhos de 9 e 13 anos e levei um susto – vários, literalmente. Os mutantes da fita com Heston eram pessoas, atores, a única coisa que os diferenciava dos humanos normais eram os olhos cobertos por lentes esbranquiçadas. Eles e o protagonista eram inimigos, se batiam, mas também conversavam e implicavam uns com os outros. Havia uma relação entre eles, por vezes ambígua, como são as relações humanas.
No filme de ontem, os mutantes são criaturas horrendas, criadas por computação gráfica, e a única característica humana mantida neles é o sofrimento – físico, espiritual, de todas as formas. Eles não falam, não interagem, se amontoam em lugares escuros e são extremamente agressivos e violentos. Ou seja, esses personagens foram moldados para atender à sede da sociedade de consumo atual, onde parece valer a máxima"quanto mais choque e violência melhor". Posso parecer antiquada, mas lamento que precisemos disso para nos sentir vivos.
Um comentário:
ler todo o blog, muito bom
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