Ontem, compareci ao enterro do pai de uma grande amiga. No final da cerimônia, enquanto os coveiros ainda fechavam a lápide e os membros da família vertiam lágrimas, uma das convidadas passou por nós, passos rápidos, dizendo entre dentes: "vamos sair todos juntos. Agora!" Não entendi a pressa; perguntei: "por que?" Ela não precisou responder. Pou!, pou!, pou! Tiros. Vindos do alto do morro do Catumbi, grudado ao cemitério. Pânico. O choro deu lugar a gritos: "Abaixem-se!" "Corram!"
Me senti meio ridícula, andando abaixada entre os túmulos. Vi que um dos coveiros caminhava normalmente ao meu lado e perguntei: "o senhor, que trabalha aqui, me diga: é preciso mesmo se abaixar?" E ele, calmamente: "Eu não me abaixo, não. Tá longe!" Retornei à postura normal e tentei tranquilizar os outros: "Calma, pessoal! O moço que trabalha aqui disse que não tem perigo..." Mas os tiros continuavam e não havia como deter as pessoas. Acabamos correndo todos juntos até a porta do cemitério. O curioso é que, no caminho, eu olhava o conjunto de três blocos de edifício bem próximos do morro e as janelas estavam cheias de gente. Ninguém se esconde, todos querem ver o que se passa, deve ser uma diversão para a vizinhança (e também alvos fáceis para balas perdidas).
Houve quem dissesse: "Eles (os traficantes) devem fazer isso todo dia, só pra nos espantar e depois rir da nossa cara." "Isso é que viver no Rio de Janeiro!" "Eles não respeitam nem os mortos..."
De fato.
A correria e o inusitado da situação, por incrível que pareça desanuviaram a tristeza. Fomos todos para a casa do falecido conversando animadamente, preparamos café e comemos o último alimento que nos restava: pão de forma com manteiga torrado no forno. Logo estávamos sorrindo e lembrando com ternura as particularidades do nosso querido vovô Régis, que nos deixou numa quinta-feira, dia 17 de janeiro de 2008, e cujo funeral dificilmente será esquecido.
Um comentário:
Oi Valerinha
Andei me atualizando no seu blog. Lamento o fato da perda do se vô Régis.
Gostei de saber um pouco sobre Willian Gordon e Isaberl Allende.
Enfim, de voltar a ler seus textos. Isso mesmo, vá em frente!
beijocas
Vania Azamor
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