O post da Catharina, com a poesia do Drummond, me faz ir mais adiante e relembrar uma crônica do nosso mineiro magrinho, feinho, mas que sabia amar com intensidade só revelada após sua morte, com o desvendar da história da amante que manteve durante muitos anos, as poesias eróticas publicadas postumamente no livro "O amor natural" (Editora Record) e outros indícios, como uma crônica pinçada pelo jornalista Joaquim Ferreira dos Santos e publicada na coletânea organizada por ele, "As cem melhores crônicas brasileira do século" (Editora Objetiva).
Na crônica, um casal de amantes encontra-se enclausurado em um apartamento mas, de início, não entendemos direito o que acontece; pode ser uma guerra e os dois buscam maneiras de sobreviver se escondendo, mas com poucos víveres, e isso é uma questão, pois volta e meia é mencionada a necessidade de sair, ir em busca de alimento, e com isso se expor ao mundo. O texto avança e compreendemos que não existe guerra, os amantes simplesmente estão em fusão de corpo e alma, e qualquer influência que ameace afastá-los desse estado – TV, jornais, telefone etc – é rechaçada. Nesse ponto, fica claro, claríssimo, que Drummond deve ter experimentado esse que é o verdadeiro êxtase do amor – corpo e alma juntos, unidos, fundidos, fora do tempo.
Porém, a história avança mais um pouco e o homem é obrigado a sair, pois já não há um único grão de arroz na casa e o corpo precisa de alimento, pois não existe separado da alma (pelo menos em vida). Ele vai à rua como um fugitivo, volta correndo, mas quando chega encontra sua amada parada na porta, entre atônita e desamparada, atendendo a um porteiro ou técnico qualquer...
Não me recordo exatamente dos detalhes (li o livro emprestado), mas sei que nesse momento vem a constatação terrível: o mundo os alcançou. O encanto se quebrou. Mesmo que eles voltem para dentro de casa e tentem recomeçar e alcançar o que tiveram antes, não será possível. O tempo passou.
Essa crônica é lindíssima, intensa e faz lembrar que é preciso estar presente e entregue em cada momento da vida, vivê-lo ao máximo, pois rapidadamente passará, como tudo passa, até a vida da gente.
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O TEMPO QUE O TEMPO LEVA
Uma das coisas que mais me angustiam – essa sensação tem se tornado mais nítida ultimamente – é o tempo que as coisas levam para acontecer. Principalmente aquelas ações que não dependem de seu próprio esforço. Existe uma frase que diz: “O atraso é amigo e os obstáculos propulsores para subir mais alto”. Reflito, mas esta frase não me convence. Eu rebato: “É, mas tudo que demora muito a acontecer acaba perdendo a graça e os obstáculos nem sempre nos levam à vitória”. Na verdade não gosto dessa frase. Definitivamente. Essa reflexão me remete à crônica do Joaquim, ao título do seu blog, à poesia do poeta, aos tempos corridos de hoje em dia. Mas o tempo reina ali, absoluto. Nada é capaz de acelerá-lo.
Outro dia, você me falou que “se não chegou é porque você não está pronta”. Discordo. Eu estou prontíssima para o que desejo que aconteça. Não quero aqui me lamuriar dizendo: “ah, comigo tudo é mais difícil”. Nada disso. Mas me custa esperar o tempo passar. Se pudesse, tomaria uma pílula e dormiria seis meses, pra poder fazer o que tanto quero. Mas, não. Só me resta esperar. Esperar para ver o que vai acontecer. “Deus é quem sabe” “Tudo tem seu tempo certo” “Descansa no Senhor e espera com paciência. Confia nele e fará passar” “Ficai quietos e vedes a salvação que o Senhor vos dará” só para citar alguns ditos populares e referências bíblicas em relação ao tempo. Dizem que os capricornianos, embora teimosos, ficam melhores com o tempo. Sei não...Um dia, um amigo me perguntou: Você acredita que Deus possa dar o que você pede? “Sim”, respondi prontamente. Ele logo retrucou: “Mas a resposta nem sempre chega no momento que você precisa”. Realmente, Deus também tem seu próprio tempo.
Não me vejo como uma mulher muito ansiosa, mas um ser que quer viver a vida. Um dia perdido é valioso. E se a felicidade demora meses pra vir então, quantos meses valiosos que se foram! Ah, já sei que todo dirão. Tenho de me distrair fazendo outras coisas, lendo um livro, escrevendo no blog da Valéria, assistindo a um bom filme. Mas isso tudo é nada diante da indefinição, do desconhecido que só o tempo trará. Uma gravidez leva nove meses. É muito tempo, mas é um período teoricamente certo. Alguns nascimentos são até datados. Que delícia! Confesso aqui sem nenhuma vergonha: meu desejo mesmo era dar uma rasteira no tempo e ir lá pra frente, rumo ao que busco. O que busco intensamente há, pelo menos, 10 anos. Acho que vocês agora me entendem.
Querida Denise, já vi que vc detesta os ditados – bíblicos ou não. Mas vou mandar mais um assim mesmo: "A viagem é mais importante do que a chegada". Não existem dias perdidos. Cada dia é uma surpresa! Não acho que vc tenha que se distrair, não, para esperar o tempo passar. Acho que vc tem que ficar mais atenta, isso sim, a cada dia, cada momento. Esse aprendizado passo-a-passo é que nos faz "prontos" para os acontecimentos que aguardamos. Os sonhos que desejamos realizar são uma construção. Cada dia é uma etapa. Beijos!
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