A internet está repleta de promoções de viagens baratíssimas fora de temporada. Basta um clique para adquirir a pechincha. Não dá para pensar muito, é pegar ou largar. Mas como vou saber como estará minha vida daqui a quatro, cinco meses?
Aprendo com o Flavio a viajar sem muito compromisso ou planejamento. Ele é dono de pousada e vive entrando nos sites de viagem, checando promoções. Estou no meio do trabalho, as demandas despencando sobre a minha cabeça e lá vem ele: ‘Veja esta promoção... Vamos?’ Naquele momento eu não posso pensar em tirar os olhos do computador, quanto mais viajar... Mas que bom que ele me faz ver que é justamente aí que eu devo parar e olhar junto com ele a bendita promoção.
Assim, quando mal tinha chegado da Europa em novembro do ano passado, compramos uma viagem para as Cataratas do Iguaçu. O Flavio é argentino e adora aquela região. Diz que, quando morrer, as cinzas dele devem ser jogadas na Garganta do Diabo, a maior queda, que fica do lado argentino – o mais bonito, diga-se de passagem. Assim ele chegará ao mar, depois vai evaporar e virar nuvem e chover e voltar ao rio e chegar novamente a Garganta.
No início de março eu estava em um momento especialmente complicado. 2014 trouxe mudanças e exigência de decisões que eu não esperava. Muitos problemas, muita preocupação, muito aborrecimento. Mas, de repente, sou literalmente alçada no ar e aterrisso na natureza selvagem, um reino de água – matéria prima da criação – e abundância capaz de eclipsar qualquer coisa que desvie nossa atenção do aqui e agora.
Durante seis dias eu passeei em meio a florestas, vi animais soltos na natureza – jacaré, tucano, cobra, tartaruga –, respirei ar puríssimo, me exercitei subindo e descendo trilhas, tomei banhos de gotículas de água, dormi, descansei, ri, namorei, comi bem...
Essa é a mágica do relacionamento: aprender com o outro o que nos falta, nos deixar levar, completar, misturar, combinar...
A próxima viagem já foi comprada.
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