Ao ver os letreiros na estação através da janela do trem, vogais com acentos diferentes e grupos de consoantes, pensei: "Tô ferrada". Se na Alemanha a comunicação já tinha sido difícil, na República Tcheca seria pior. Mas que nada. Praga me acolheu como uma senhora gorda e afetuosa que gosta de dar risadas.
Na estação de metrô, eu não tinha moedas para o bilhete que me levaria perto do hotel. Perguntei a uma funcionária e ela balbuciou com gestos: "McDonalds. McDonalds". Entendi que deveria ir ao McDonalds ao lado e comprar algo para trocar o dinheiro - coroas tchecas. Fiz o que ela mandou e deu tudo certo. Pronto. Eu estava em casa. Em Praga, saberia me virar, como se viram os brasileiros em todos os lugares.
Praga é linda, lembra um pouco Paris. O centro histórico é lotado de turistas, e aí lembra um pouco Florença. Mas o mais legal são as histórias. Tudo tem uma história, uma lenda.
Por exemplo, a igreja onde pende, até hoje, em uma cordinha, o braço mumificado do ladrão que tentou roubar o colar de ouro e brilhantes de uma estátua monumental de Santa Ana, toda em madeira, que continua lá. Conta-se que a santa acordou na hora do roubo e segurou o braço do homem. E não houve jeito de soltar, a não ser serrando o braço - do pecador, não da santa. Então, o ladrão se tornou devoto e cuidou da igreja até morrer de velho.
Outra lenda presente em todo lugar é a do Golem de Praga. Conta-se que o rabino criou um golem - criatura de força descomunal - a partir do barro da beira do rio Moldava. Durante muito tempo o Golem ajudou nas colheitas, na construção das casas. Mas quando sua fama ultrapassou as fronteiras e homens poderosos começaram a cortejá-lo, para ajudar nas guerras, o rabino o trancou na torre da sinagoga mais antiga de Praga, onde está até hoje.
Ao me lembrar dos dias que passei na capital Tcheca, sorrio sem querer. Um afago, um descanso, dias alegres e ensolarados na companhia da senhora gorda e afetuosa que gosta de dar risadas.
Um comentário:
Com lenda fica sempre melhor.
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