domingo, 19 de outubro de 2008

Quem tem medo de cavernas?

Quando eu falo em cavernas, o que vem à cabeça de vocês?

O que vinha pra mim, antes de eu entrar em uma era: medo. Medo do escuro, medo do que pudesse estar escondido nelas, medo do desconhecido. Mas quando entrei na primeira caverna de verdade, na Chapada Diamantina, Bahia, o que senti foi acolhimento, descanso, sossego. Entendi porque, quando uma pessoa morre e é enterrada, os outros dizem: foi descansar.

A sensação boa ficou na lembrança e por isso, me inspirei a conhecer as cavernas do PETAR – Parque Estadual Turístico do Alto da Ribeira, em São Paulo, encostadinho no Paraná. Longe pra caramba! Não me perguntem por que escolhi esse roteiro. Não sei. Alguma coisa eu tinha que fazer lá. E fiz: enfrentei os meus medos, que resolveram aparecer todos de uma vez. Buuuu!!!

O PETAR é a maior reserva de mata atlântica contínua do país. Ultra bem preservada. Em cima, abundância de água, bichos e natureza exuberante. Embaixo, um queijo suíço. São mais de 300 cavernas, a maioria delas inexplorada. Abertas ao público (trechos), são sete. Fui em todas.

Mas como o momento de vida é outro, bem diferente daquele em que estive na Chapada, logo na primeira caverna, a do Morro Preto (foto1), me bateu uma paúra...






– Mas medo de que? Eu conheço essa caverna como a palma da minha mão... – argumentava o guia.
– Não sei. É algo bem abstrato – eu tentava explicar. Só sosseguei depois que estava do lado de fora, vendo a luz do sol.

Continuamos. Três cavernas no primeiro dia; cada uma, uma emoção. A Santana (foto 2) é considerada a mais ornamentada do país.






No segundo dia, após uma trilha lindíssima no fundo de um cânion margeando o rio Bethary, fomos na Cafezal – e houve nova crise de medo. Isso sem falar que na noite anterior, todos os medos haviam desfilado na minha cabeça: medo de me machucar, de adoecer, de morrer, de perder o emprego, de envelhecer sozinha, de não conseguir realizar os meus sonhos. Mesmo com toda a natureza em volta, dormi mal pacas.

Tudo finalmente mudou dentro da Caverna Água Suja (foto 3, a entrada), que visitamos logo após a Cafezal. São 800 metros de caminhada dentro d´água, em direção ao centro da Terra. Bocarra enorme e um riozinho de água límpida escorrendo lá de dentro. Após a primeira curva, desapareceu a luz do dia e a pequena lâmpada que levamos encarapitada no capacete (obrigatório) mal dava para iluminar os limites do salão aonde estávamos. Brrrr...







Seguimos caminhando, escalando pilhas de enormes pedregulhos, passando através de labirintos de estalactites, túneis de vento geladíssimo, até chegar à passagem para o coração da caverna, onde existe uma pequena cachoeira. Para alcançá-la é necessário atravessar metro e meio de teto baixo, quase rente à água. Temos que nos abaixar e posicionar o rosto exatamente nesse espaço de cerca de um palmo onde dá para respirar. Reclamei, bati pé, disse que não ia, mas todos foram e eu fui também...

A travessia é rápida, mas foi suficiente para promover uma mudança em meu interior. De repente, era como se eu não precisasse fazer força, estava sendo puxada, atraída. E me deparei com a cachoeira, dois metros de queda d´água, uma jóia encrustrada no interior na caverna. Entrei de cabeça, com roupa e tudo. Nada de frio ou paralisia: ação! Fiz minhas preces silenciosas, pedi que me libertasse do medo e pronto. Estava nova em folha.

Voltamos andando muito rápido, para gerara calor, e logo eu estava vendo a luz do sol. Daí em diante, a viagem foi tranquila. (Foto 4, saída da Água Suja)




11 comentários:

Adriana Calábria disse...

Seja bem vinda!
Abração!

Denise Egito disse...

Val, as fotos estão lindas! Ô mulher das cavernas, precisamos combinar uma aventura dessa juntas. Mas acho que a gente ia falar o tempo todo. Hehehe
Beijocas e uma excelente semana (sem fantasmas)

Pablo Lima disse...

que imagens, espetaculares!
quando falam em caverna", eu sempre lembro da alegoria da caverna, de platão! que bom que v.c me ajuda a relativizar tal idéia!

Valéria Martins disse...

Pois é, essa história de alegoria da caverna é séria mesmo...
E Deni, eu bem que gostaria de ter vc por perto para falar bastante e ajudar a espantar o medo.
Beijosssssssssssss

Ana Carolina disse...

Amiga, vc sempre surpreendente. Que louco essa viagem das cavernas! heheh! sempre me instiga com suas histórias :)

Adivinha só? Estou com conjuntivite, rinite e sinusite. Resumindo: fodida! mas li seu email, vamos nos falar mesmo que não dê para nos encontrarmos...

Beijos!

Rosane Queiroz disse...

Valéria

deve ter sido o máximo. eu também quero conhecer o PETAR

para mim, engraçado, é um medo que atrai

mas só chegando lá pra sentir, não?

seus filhos jamais vão esquecer essa viagem com a mãe

beijos

Pâmela disse...

Nossa, que lindo!
Muito espiritual!
É estranho como, às vezes, alguns obstáculos físicos que ultrapassamos nos ajudam a vencer obstáculos da mente também.
Aliás, as fotos são lindas. Você que tirou? Esse passeio já valia a pena só pelas paisagens, eim.
Ótima semana para você!

Anônimo disse...

Parabens!
Não é qualquer pessoa que enfrenta seus medos assim com tanta vontade e coragem. Adorei!
Acho que a liberdade que acamos sentindo não tem descrição.
Ps: As fotos estão lindas!

Beijos
Pat.

Valéria Martins disse...

Queridas amigas, obrigada pelos elogios, mas estas fotos foram retiradas do site da empresa com que acertamos o serviço de guia. Entrem lá e vejam mais. Tem até um maluco que levou um bebê pra dentro das cavernas!
http://www.ecocave.com.br/petar-iporanga-agencia-cavernas/default.asp

Carolina disse...

Nossa, Valério, que divisor de águas que deve ser, hein?
Meio catarse esta sua viagem.
E nos contou de uma forma que dá vontade de ir lá!
bjos meus

Carolina disse...

Em tempo, Valéria...
as fotos são maravilhosas!