Acabo de voltar da clínica/lar para idosos onde minha mãe mora há 3 anos. Ela teve alta hoje e foi uma longa operação transportá-la do hospital até lá. Graças a Deus, correu tudo bem e eu a deixei no seu quarto, decorado com suas coisinhas, repleto de retratos do Johnny Depp. Ela é louca por ele, então, sempre que viajo tragou souvenirs: um conjunto de copos adesivados com uma foto dele em Piratas do Caribe, um poster com ele fantasiado de Jack Sparrow, um calendário cujos meses mudam à revelia do tempo, só para variar o rostinho dele com barba, bigode, chapéu, óculos escuros... Minha mãe sempre teve bom gosto.
É um pouco triste levá-la de volta para um lugar que não é a sua casa. Quer dizer, de certa forma é. E tem as vantagens de ser relativamente perto de onde eu moro e de ser limpo e decente, apesar de muito simples. Tem um jardim lindo na entrada, sempre florido. E eu acredito que o jardim de uma casa diz muito sobre quem mora ou é responsável por ela.
Hoje em dia, eu não me desespero mais. Pelo contrário, fiquei admirada com a serenidade com que enfrentei essa internação. Uma amiga me disse que são os frutos que colhemos da maturidade. Só tenho uma certeza: atualmente, minha mãe me obriga ao exercício do amor incondicional, o amor apesar de. Entre muitas outras coisas.
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Em recente viagem com uma autora da Record, ela me contou que nos longos anos em que sua mãe morou em uma clínica em Porto Alegre, pois tinha Alzheimer, seu único irmão (o filho)poucas vezes foi visitá-la. Ela, por sua vez, era responsável por tudo, desde o ônus financeiro até o emocional. Quando questionado sobre porque visitava pouco a mãe, justificava: "Não me faz bem, fico deprimido".
Sabendo que o irmão sempre fora o preferido da mamãe, meio que para se torturar (palavras dela) fazia questão de perguntar sempre que estavam juntas: "mãe, e o fulano, o que acha dele?" A mãe desfiava elogios: "Ah, aquele guri tão querido! Meu rico filhinho!..." Ela emendava, já sabendo a resposta: "E a fulana (ela mesma)?" "Ah, aquela... Está cada dia mais louca!"
Assim foi indo até o dia em que a mãe morreu. O corpo foi cremado. No fim da cerimônia, ela entregou ao irmão a caixa com as cinzas. "Toma. Eu cuidei de tudo até hoje. Agora é sua vez. Você vai decidir o que fazer com as cinzas". Parece que, a partir desse momento, todas as fichas caíram. Durante um ano, o homem foi incapaz de se livrar da caixa e de seu mórbido conteúdo. Alojou-a sobre a mesa do escritório e ele passava longas horas mirando-a e chorando. Até que um dia, a cunhada (esposa dele) telefonou e disse: "Olha, mandei seu irmão dar um fim naquela caixa. Dessa semana, não passa. Chega de loucura!"
E assim, as cinzas da mãe voaram ao vento da cidade onde ela nasceu, no interior do Rio Grande do Sul.
3 comentários:
Ai é tão dificil mesmo...acho q é só isso que consigo dizer aqui.
Mais um aprendizado...
Um dia poderemos ser nós.
Bjs
confesso que não consigo escrever a respeito...
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