sexta-feira, 27 de junho de 2008

O nascimento de um best seller

Em recente encontro com a diretora editorial da Nova Fronteira, Isabel Aleixo, tive a dádiva de ouvi-la contar a história da descoberta (por ela mesma) de um dos maiores best sellers de todos os tempos, O caçador de pipas.

Por volta de 2002, um amigo comentou com Isabel que sua avó, que lia muito bem em inglês, havia lido um livro do qual gostara muito e não se cansava de elogiá-lo. Isabel pediu o nome do livro e, sempre em busca de novidades, entrou em contato com a editora nos Estados Unidos, a fim de pedir um exemplar para avaliação.

"A gente que trabalha com edição não tem tempo de ler os livros inteiros. A maior parte das vezes, lê em diagonal. Mas The Kite Runner, eu li inteiro. Rapidinho. Não dava para ler só algumas partes", conta ela.

O livro constava na lista de mais vendidos do The New York Times, porém em trigésimo e tal lugar. Isso, porque nos Estados Unidos existem muitos clubes de leitura. Alguém de um desses clubes leu e divulgou entre os colegas. Assim, começou o boca a boca – fenômeno que dá à luz os best sellers.

Na primeira reunião com a presidência da editora, após a leitura, Isabel Aleixo apresentou sua aposta. Todos torceram o nariz. Havia motivos para isso: cerca de um ano atrás, extremistas islâmicos haviam derrubado as torres gêmeas; a trama se passava no Afeganistão; o autor era um médico afegão, naturalizado americano, estreante, nunca havia publicado nada antes. Mas ela insistiu e conseguiu um pequeno montante para oferecer ao agente literário responsável pela obra: 2 mil dólares. Quantia irrisória comparando com os dias de hoje, quando os lances começam com 20 a 30 mil dólares.

Para surpresa de todos, ao fazerem a oferta, souberam que havia outra editora brasileira no páreo. Oferecendo 3 mil. A concorrência aumentou o apetite da Nova Fronteira. "Ok, ofereça 4 mil". Isabel foi em frente e a outra editora lançou 5 mil. Enquanto isso, o livro ia galgando posições na lista do The New York Times: em poucos meses estava em nono lugar.

No fim das contas, a Nova Fronteira levou O caçador de pipas por 12 mil dólares. Nas reuniões pós-compra, quando se discutia campanha de marketing e imprensa, perguntaram quantos exemplares Isabel achava que seriam vendidos. Chutou, otimista: "uns 40 a 50 mil". Só no Brasil, 1.250.000 exemplares foram vendidos até hoje. E o livro continua nas listas de mais vendidos.

Dois anos depois, Khaled Husseini lança A Thousand Spledid Suns, seu segundo romance. A Nova Fronteira desembolsa uma baba para comprar os direitos. O livro começa a ser traduzido mas os sites das livrarias brasileiras recebem centenas de pedidos do original em inglês. Cai a ficha: é preciso acelerar a produção da versão em português ou quando o livro sair no Brasil todo mundo já terá lido em inglês! Pressão na tradutora (a mesma de O caçador, Maria Helena Rouanet, excelente!) e o texto chega à editora numa noite de meio de semana. Toda a equipe do editorial se reúne, dividem os capítulos entre si e viram a noite juntos, terminando a edição quase à meia-noite do dia seguinte. O livro foi preparado em 24 horas!!!

Ainda não li A cidade do sol, mas a avó dos meus filhos leu e diz que é ainda melhor do que O caçador de pipas.

Isabel Aleixo deve ter contado essa história uma centena de vezes, para variados tipos de público. Mas ao contá-la novamente, seus olhos brilham, seu tom de voz se eleva, ela treme de emoção e entusiasmo, e contagia os ouvintes. Foi realmente uma dádiva ouvir a história do nascimento de um best seller. Contada pela própria mãe – a brasileira, no caso.










Vocês leram o livro? Sabem do que eu estou falando? Olha que eu demorei a ler, pois tinha preconceito justamente por ser best seller. Me rendi na primeira página. Sou a maior fã do Dr. Khaled Husseini: http://www.khaledhosseini.com/. (Quem tiver preguiça de ler pode pegar o filme no DVD, é bem legal).

4 comentários:

Pablo Lima disse...

esse eu li em uma semana; impressionante a narrativa leve do hosseini, brilhante mesmo! por pouco nao entrou na minha listinha dos melhores do século XXI!

Márcia Régis disse...

li e amei, tanto que escrevi um post sobre a obra lá no meu blog De Passagem. Me impactou muito aquele pai tão singular... mas não gostei do filme, que assisti em DVD e me fez adormecer no meio.

bjs

Denise Egito disse...

Eu só vi o filme, apesar de ter me emocionado, não gostei muito do formato. Ganhou roupagem dos estúdios de Hollywood, onde até a sujeira era limpinha... Mas tenho curiosidade em ler o livro, sim.
Bjs

Anônimo disse...

Já pensei em ler esse livro várias vezes ou ver o filme e nunca acaba acontecendo.
Depois dessa dica é leitura na certa.
Agora ver o filme, pelos comentários, vou descartar.
bj