Em Londres, tive a oportunidade de ver três exposições sobre temas correlatos, que me deram uma visão bastante abrangente de uma das vertentes da arte – o design – no início do século XX. Foram elas: "Breaking the rules", na British Library; "USSR in construction", na Tate Modern; e "Alexander Rodchenko – Revolution in Photography", na The Hayward, Southbank Centre.
"Breaking the rules", British Library
Esta é um painel super-completo dos movimentos que sacudiram as artes nas quatro primeiras décadas do século XX: Expressionismo, Futurismo, Dadaísmo, Cubismo, Construtivismo e Surrealismo. Mas a maneira de mostrar esses movimentos é que é original: através dos "manifestos" (materiais impressos com design e formato arrojados) que circulavam entre os países. Por serem peças baratas e fáceis de imprimir, divulgavam as idéias revolucionárias de seus autores em vários lugares ao mesmo tempo, formando uma espécie de rede numa época bem distante da internet.
O propósito desses movimentos – chamados de modo geral de "Avant Garde" – era romper com os padrões de arte impostos até então e buscar novas formas de expressão. Valia tudo: poemas sonoros (onde o som devia triunfar sobre os sentidos), poesia visual (onde a forma contribui para a compreensão dos versos), fotomontagens e outros recursos.
Uma amostra de cada uma dessas vertentes pode ser vista na British Library. Ao longo de sequências de vitrines, vemos livros, folhetos, folders e uma variedade enorme de materiais impressos, assim como fotos de seus autores, divididos por cidades nas quais viveram ou desenvolveram suas idéias.
Curiosíssima a vida do poeta alemão Hugo Ball (1886-1927), dadaísta que viveu em Zurich (Suíça), retratado na famosa foto com um chapéu pontudo na cabeça. Diz o verbete que após "quebrar tudo" no dadaísmo, enveredou pelo misticismo e terminou seus dias vivendo como ermitão. Mais adiante, num balcão com vários fones de ouvido, somos convidados a ouvir um de seus poemas – "Gadji beri bimba" (!!!) – musicado pelo grupo norte-americano Talking Heads (Fear of Music, 1979).
Um balcão dedicado à literatura mostra um exemplar da primeira edição de "Ulysses", de James Joyce, publicado pela publisher norte-americana (mas que morava em Paris) Sylvia Beach, também fundadora da livraria Shakespeare and Company, na capital francesa, dedicada a livros em idioma inglês. Detalhe: ela foi a única a apostar na obra, que já havia circulado por editoras de vários países e sido rejeitada por todas.
Assim, as referências vão se cruzando, nos inundando com uma quantidade de informações fascinantes, de uma época efervescente sobre a qual pouco sabemos (pelo menos eu!).
A seguir, "USSR in construction".
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