A exposição USSR in construction, no Room 11 da Tate Modern, mostra as capas e o conteúdo da revista com este nome, publicada em Moscou de 1930 a 1941, nos idiomas russo, inglês, francês, alemão e espanhol (a partir de 1938). A revista era um veículo de publicidade dos feitos do governo stalinista e, curiosamente, apesar desse governo pregar que a arte deveria adotar uma estética realista (para ser acessível a todos), é considerada até hoje uma das publicações com design mais criativo e inovador do século XX.
USSR in construction tinha em seu cast artistas como Alexander Rodchenko (sobre quem vcs vão ler na parte III), que exercitava suas fotomontagens em suas páginas. Estas também incluíam tipologias incomuns, imagens captadas de ângulos até então nunca vistos, e dobraduras sofisticadas e espetaculares – como uma página dupla, vertical, que mostra a foto de um pára-quedista e, ao desdobrar seu topo, vemos o pára-quedas inteiro, redondo e plissado!
Cada edição enfocava um tema: a aviação soviética, o exército vermelho, projetos de eletrificação de regiões distantes etc. Fotógrafos eram enviados aos rincões mais longínquos do país a fim de fotografar essas obras e, principalmente, os trabalhadores, sempre clicados em posições que os alçava à condição de heróis.
A exposição mostra as reportagens em quadros envidraçados e, realmente, causa choque e admiração ver como algo tão moderno e surpreendente pode ter surgido e sido incentivado num país cujo novo governo era tão duro e repressor. Infelizmente, essa repressão logo afetou os membros da redação. O escritor Isaak Babel, responsável pela edição de vários números, foi um dos que caíram sob suspeita de subversão, tendo sido torturado e morto em 1941.
À medida que a Europa e outros países foram ficando desiludidos com o governo de Stálin, a revista foi perdendo popularidade, até que finalmente acabou. Foi ressuscitada em 1949, mas era uma pálida cópia do que fora um dia.
Deslizando em frente às páginas abertas, pensei em todos os meus amigos que são designers – Ana Soares, Luiz de França (vulgo ZOD), Adriana Teixeira e Guto Lins, Beatriz Alves Pinto, Diana Cordeiro (minha colega na Record) – e desejei que estivessem ali comigo, tendo a oportunidade de ver essa magnífica exposição. De alguma forma, eles estiveram.
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