Na chegada a João Pessoa, vi no aeroporto fotos de atrações turísticas da Paraíba, dentre elas, uma pedra com inscrições lindíssimas, lembrando a arte de Tarsila do Amaral. Dizia a legenda: Itacoatiaras do Ingá. Comentei com minha anfitriã, a escritora paraibana Marília Arnaud – que assina a apresentação do livro que reúne textos deste blog – e ela imediatamente tratou de se informar para realizar o meu desejo de conhecer a ‘pedra pintada’ (significado de Itacoatiara, termo indígena).
Ao final da jornada em Campina Grande, partimos para Ingá, cidade às bordas do sertão. Chegando lá, encontramos o parque fechado – muito embora a internet dissesse que estaria aberto de oito da manhã às quatro da tarde, aos domingos. Era perto do meio dia. Uma casa de família, a cerca de 200 metros, funcionava como restaurante a todo vapor. Fomos até lá e informaram que o secretário de turismo, Vavá da Luz, tinha ido almoçar na cidade e mandara fechar o parque. Pedi o telefone da autoridade e toca a ligar, ligar, e nada. Vavá não atendia. Na falta de alternativa – e tendo que embarcar de volta para casa dentro de algumas horas –, encontramos o jeitinho brasileiro de entrar: por um buraco na grade do parque. Lá fomos nós, Marília na frente. Parahyba é terra de mulher valente, sô!
A Itacoatiara fica em meio ao leito de um rio muito bonito, onde pastam cavalos e bois. É uma pedra larga com a forma de um lagarto. As inscrições tomam toda uma encosta plana e vertical, como se fosse um mural. O incrível é que não se trata de pinturas rupestres, como na maioria dos sítios arqueológicos, mas de gravações em baixo relevo na pedra. Sulcos arredondados, suaves. Formas tão modernas quanto a arte da Tarsila. Vislumbro um lagarto, um abacaxi, um sol. Junto de nossos pés, estrelas. A constelação de Orion, explicam mais tarde.
Nisso vem chegando Ana Bela, amiga da Marília, com um casal.
- Olha aqui, esse moço é da polícia, agora vocês expliquem como conseguiram entrar...
Brincadeirinha...
Um rapaz autorizado por Vavá veio e abriu o portão do parque. Nem se incomodou com a nossa invasão, deu risada – Ó meu Brasil! Contou que arqueólogos do mundo inteiro já estiveram ali estudando as inscrições. Alguém disse que datam de 5 mil antes de Cristo. Ninguém sabe com que técnica ou instrumentos foram feitas. Um museu fechado – esse ninguém tinha a chave – continha ossos de tatu e preguiça gigantes e de toxodonte (espécie de anta pré-histórica), além de pedaços de artefatos antigos, provavelmente das pessoas que ali viveram. O guardião do parque conta ainda sobre a ‘pedra do sino’:
- Uma pedra comprida e achatada, que a gente batia nela e fazia barulho igual a um sino.
- Cadê ela?
- A enchente levou...
Em 2004 e 2006 o rio subiu – algo que não acontece mais – e levou a pedra sonora. Procuraram, procuraram e não encontraram. Cheia de mistérios essa Itacoatiara do Ingá.
O passeio terminou no tal restaurante familiar, degustando galinha de capoeira (galinha caipira) e carne de sol com farofa e cerveja. A conta: R$ 20 reais.
Fui embora com dó no coração, porque a festa já ia começar, sanfoneiros se arrumando para tocar um forró. Convite do dono:
- Voltem na quinta feira (dia de São João).
Voltarei sim, em breve.
Abaixo, eu Anabela (esq.) e Marília em frente à Itacoatiara do Ingá.
Um comentário:
Oi Valéria
Eu sou doida pra conhecer a Paraíba!
Adorei o post e seu blog :)
Adoro posts de viagens, viajo junto. E o valor desta conta?! Por aqui pago um café e um salgado...
Bjs
www.maeliteratura.com
Postar um comentário