As frases soltas
Faz algum tempo, elas apareceram nos muros do Rio de Janeiro, soltas, descontextualizadas, mas dizem muito e fazem refletir. Algumas são acompanhadas de imagens, mas a maioria não. A palavra basta.
Deixa ela em paz vem acompanhada da imagem de uma vagina aberta como se fosse uma flor. Está colorida, cheia de pequenas folhas e flores, toda enfeitada. Deixem-na em paz para que seja livre e feliz sem culpa, sem assédios de qualquer natureza. Porém, como o ódio e a ignorância ainda correm soltos por aí, tenho visto esse cartaz rasgado, rabiscado, pichado. Ainda há um longo caminho a percorrer para as mulheres.
Não fui eu aparece só – e basta. As imagens, nós vemos todos os dias nos jornais, nas revistas, na TV. Políticos de qualquer partido roubam, corrompem, se digladiam pelo poder e a justificativa é sempre não fui eu. É a fala da criança quando a mãe a surpreende fazendo algo errado. O vaso quebrou, você não deveria ter mexido e agora os cacos jazem no chão. A criança diz, como se a fala pudesse ocultar o resultado de sua transgressão: Não fui eu.
Quando nosso país irá crescer e amadurecer? Para que isso aconteça é necessário aprender com os erros. Tenho esperança de que esse aprendizado já esteja em curso. Será?
Outra frase apareceu esses dias: Eu dei pra ele. Mais uma vez as mulheres se pronunciam, ousam. É meu, eu dou para quem quiser, com gosto e propriedade. Dei pra ele e pronto.
As frases nos muros não estão soltas. Para bom entendedor, uma simples frase basta.
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