Minha amiga Adriana, que vive na Espanha, veio ao Rio de Janeiro visitar a família e tirou uma história do fundo do baú, que eu não conhecia: da alma penada.
No final da década de 80, morávamos na região que hoje se chama Baixo Lagoa. Os edifícios de frente para a Lagoa Rodrigo de Freitas, a maioria tem duas entradas: uma pela Rua Alexandre Ferreira e outra pela Borges de Medeiros. Adriana morava em um desses prédios e o porteiro se chamava seu Januário, o Seu Janu.
Certo dia, voltando de uma caminhada, minha amiga resolveu entrar pela portaria da Lagoa, que era menos usada e por isso vivia fechada. Tocou o interfone e esperou o Seu Janu. Lá vem ele, mas pára, estático, e fica olhando para ela.
Toc, toc, toc (no vidro).
- Seu Janu! Abre a porta!
Seu Janu feito estátua.
Nessa hora, Adriana olha para o lado e vê: a alma penada.
- Mas como assim uma alma penada? Como ela era? – pergunto.
- Não dá para explicar...
- Mas como você sabia que era uma alma penada?
- ... A gente simplesmente sabe.
Toc, toc, toc, toc, toc! Adriana esmurra o vidro da portaria fazendo-o balançar. Grita:
- Seu Janu, abre essa porta!
Olha para o lado novamente e ... pluft! Sumiu.
Seu Januário sai do transe e destranca a fechadura. Nenhum dos dois fala nada, Adriana toma a direção da escada e sobe esbaforida.
Até hoje, quando vem ao Rio, dá de cara com Seu Januário, que ainda trabalha no bairro. Outro dia, ele parou para falar com ela.
- Adriana, que bom te ver, há quanto tempo!
Conversa vai, conversa vem, minha amiga não perde a oportunidade:
- E aquele dia em que o senhor me deixou presa na rua junto com a alma penada?
Seu Janu finge que não entende, se despedem, cada um segue seu caminho.
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