sábado, 20 de março de 2010

Lembranças do Brasil - 2º parte

"De volta a Manaus, fomos morar na fazenda de um tio em uma ilha fluvial no meio do Rio Amazonas. Ficamos três, quase quatro anos lá, sem estudar. Passávamos os dias correndo no meio das árvores, brincando de pegar e de esconder. Comíamos mangas e goiabas tiradas do pé, desenterrávamos ovos de tartaruga da beira-rio para comer batidos com açúcar".

(Nesse ponto da conversa, a alegria e a nostalgia dessa infância passada no Brasil transpareciam nos olhos e no sorriso do homem, e contagiou a todos).

"Emborcávamos grandes panelas de cobre nas águas barrentas do Rio Amazonas, para que servissem como bóias, e saíamos batendo os pés. É claro que tinha perigo: cobras d´água, piranhas, mas a gente não pensava nisso e não havia adultos por perto para nos impedir.

Enquanto isso, meu pai, em Portugal, aliado a um tio, tramava a nossa volta para Póvoa de Varzim. Certa noite, meu tio apareceu na casa e anunciou que tinha ido nos buscar. Mandou que fizéssemos a mala para partir com ele. Chegamos a ir ao aeroporto, mas na hora do embarque, minha mãe apareceu e impediu. Foi uma confusão, mas o fato é que nós não viajamos: voltamos para a fazenda!

Alguns meses se passaram e houve uma nova investida do meu pai. Munido de um mandato judicial, meu tio reapareceu. Dessa vez, não houve jeito: fomos embora com ele deixando minha mãe, a fazenda e o Rio Amazonas. No fundo, eu sabia que aquilo era o correto. Mas a tristeza dentro de mim era enorme.

Nunca mais voltei ao Brasil. Hoje, olhando para trás, vejo como tudo isso marcou profundamente a minha vida. Eu poderia ter me tornado um desastre, um revoltado. Mas, por algum motivo, escolhi o caminho do Bem.

E as lembranças da Amazônia são como uma jóia preciosa que eu guardo dentro de mim".


9 comentários:

Paloma Flores disse...

Mas que coisa mais linda! Tão sensível, delicada!
Amei!

Saudades, também. Imensas.
Planejo ir pro Rio ainda neste ano, ainda nessa vida.
Mas é melhor não combinar nada antes de comprar as passagens dessa vez, que é pra não gerar falsas esperanças! Hehehehehehe!

Beijos!

Gerana Damulakis disse...

Veja só que história. É tão bom ouvir, conhecer histórias, compartilhar. Foi bacana.

Babi Mello disse...

Valeria que história. Li o post anterior para me interar e a cada dia que passa, penso muito mesmo que nossas escolhas são determinantes para o que vamos ser, mesmo que tudo pareça não ter solução, sempre há afinal temos muito exemplos por ai. Você assistiu Quem quer ser um Milionário? Me fez lembrar desse filme ao ler este post e sobre a escolha do bem.
bj!

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Valéria,
A história vai ter continuação?
Fiquei curiosa para saber se o contato com a mãe terminou ali.
Beijo.

Neide disse...

Val,

Não é crítica, sou eu que quero mais, não me contento com pouco. Linda história, mas pra mim ficou um sabor de incompleto. Compactuo com a Heloísa: ele não voltou a ver a mãe? E hoje quem é ele, o que ele faz?

Bjuuuuuuuuuu

Adriana Calábria disse...

Olá Valéria!

Tô amando a estória, espero que tenha continuação.

Ando com a vida muito corrida, por conta disso tenho deixado o blog meio de lado, mas sempre visito os blogs amigos.

Ainda estou me acostumando com São Paulo. Tudo é longe, a rotina é puxada. Mas eu vou dar conta!

Bjssss

Valéria Martins disse...

Pois é, a história para aí porque ele é um homem público em Póvoa de Varzim e me pediu que não divulgasse o seu nome. Não posso contrariá-lo.

Para finalizar, não sei se ele voltou a ver a mãe, mas pelo que entendi, não. Infelizmente.

Beijos, queridas e fiéis leitoras! Tem mais histórias, vcs vão ver!

figbatera disse...

A estória é mesmo comovente; pelo menos não teve um final tão ruim...
A vida nos mostra que sempre há uma saída, seja qual for a situação.
Abração!

Anônimo disse...

e a mãe? Qual é "No fundo, eu sabia que aquilo era o correto."?