sábado, 23 de maio de 2009

À Deus, Zé!

Uma das coisas mais chocantes que há é ver uma pessoa viva e com saúde ser colhida de repente pela morte.

No dia 6 de maio, eu estive na Livraria Argumento, no Rio de Janeiro, assistindo à showlestra do Z. Rodrix. Sentadinho em frente uma grande mesa, com um teclado ao alcance das mãos, ele contou como compôs o clássico Eu quero uma casa no campo, que depois ganhou o mundo na voz de Elis Regina.

Era o ano de 1972 e ele viajava de ônibus até Goiânia, acompanhado da Gal Costa, para uma série de shows. No caminho, árvores de macela enfeitavam a estrada com suas flores amarelas, e ele começou a rabiscar a letra: “Eu quero uma casa no campo/ Onde eu possa compor muitos rocks rurais/ E tenha somente a certeza/ Dos amigos do peito e nada mais/ Eu quero uma casa no campo/ Onde eu possa ficar do tamanho da Paz”. Em cima dessa poesia, o compositor e parceiro Tavito criou a melodia.

Zé disse outras coisas bonitas nessa noite, que anotei em um caderninho que costumo levar sempre na bolsa. “O artista faz um mergulho dentro de si e trás de lá seja o que for. Isso tem o poder de desfazer enigmas dentro das pessoas. Daí muita gente diz: puxa, parece que o cara escreveu essa música para mim!

E uma definição bem simples e pragmática do que é Arte: “Arte é o que te toca. O que não te toca não é arte”.

Zé é autor da Trilogia do Templo - três volumes sobre a História da Maçonaria - publicada pela Editora Record, onde trabalhei por quase três anos. Não era uma pessoa fácil, mas nossa relação sempre foi muito cordial e respeitosa. No dia 6 de maio, cheguei à Argumento com a showlestra já começada e fui embora antes de terminar. Acabei não o cumprimentando. Que lástima!

Mas hoje ao meio-dia, horário da cremação em São Paulo, coloquei minha música favorita dele - Mestre Jonas - para tocar no máximo volume e dancei, dancei, prestando minha última homenagem a esse grande e maravilhoso artista.


12 comentários:

Carolina disse...

É a vida sendo vivida ....
bjos meus

Babi Mello disse...

Ai Valéria, se soubessemos o que poderá acontecer com aqueles que gostamos, com certeza fariamos muita coisa diferente.
E se vai mais um grande artista. Gostei do que vc falou sobre arte, se ela te toca é porque é arte.
Bj!

figbatera disse...

Mais um que se vai, e muito cedo...

Halime disse...

O que me deixou mais chocado foi tê-lo visto tão falante naquele dia, lá na Argumento, e, semanas depois, receber uma notícia tão repentina. Impossível não pensar em todas aquelas questões sobre a vida e morte... Bjs

Uma mãe em apuros! disse...

Linda homenagem. O texto lá no meu blog não é sobre mim, só um conto dramático de mais..rs
Bj

Paloma Flores disse...

Que Deus o tenha.
É triste isso. Por isso que sempre dizem 'viva cada dia como se fosse o último' e 'diga eu te amo hoje, porque amanhã pode ser tarde demais' e por aí vai.
Você prestou sua homenagem, pelo menos.
Abraço apertado. =)

Érico Cordeiro disse...

Cara Valéria,

Uma emocionante homenagem a um grande (embora nos últimos tempos pouco visto/ouvido) músico.

Além do trabalho solo, o Zé desenvolveu uma parceria muito bacana no trio Sá, Rodrix e Guarabyra, que produziu alguns bons discos nos anos 70.
Lamentável perda, sobretudo pelas circunstâncias. O ciclo da vida, embora inexorável, muitas vezes se manifesta de forma dolorosa para nós.
Mas, pelo menos, você haverá de guardar a lembrança dele como todo artista merece ser lembrado: produzindo e encantando as pessoas.

Forte abraço e uma ótima semana.

Moda Trash disse...

A morte dele ninguém esperava. Sei q não se espera isto de ninguém, mas a dele foi de repente.
Infarto é algo cruel na vida de um ser humano.
bjokassssssssssss

Myself disse...

Amei: “Arte é o que te toca. O que não te toca não é arte”!!

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Valéria,
Achei seu post muito lindo e delicado. Gosto muito da "Casa no campo" , mas sua música preferida tem muita vida, e foi muito bem escolhida para a homenagem.
Beijos

Lisa Nunes disse...

Valéria, simplesmente emocionante a sua homenagem. Assim como você, todos nós sentimos essa grande perda, e não só pelo cantor e compositor que ele representou, mas pela pessoa amável e sensível que ele foi, e a todos nós tocou de diferentes formas.
Tenho um selinho especial pra você, lá na minha segunda casa.
Um grande abraço

Mônica disse...

Minha mocidade tem o gosto , o sabor e a melodia de Zé Rodrix. Suas musicas são poemas que vivi.
Estava feliz em araxá e me entristeci com sua morte.
Perdemos um poeta para o céu.
com carinho Monica