Hoje o tempo parou dentro da Igreja São José, na Lagoa. Era mais de sete da noite de uma sexta-feira, todo mundo cansado, com fome, voltando do trabalho ou da escola. Mas todos queriam dar seu último adeus a Margô, Margarida Nunes Rosado, que partiu desse mundo no fim de semana passado mas deixou uma legião de amigos, fãs e a família mais bonita que eu já conheci.
Margô era assim: uma mulher com mais de 60 e menos de 70, lindísssima. Cabelos negros, olhos verdes, orelhas cobertas de mini-brinquinhos de ouro, corpo malhado pelo balé clássico, ia e voltava da academia pedalando pelo Leblon. No aniversário de 60, deu a si mesma de presente uma tatuagem de borboleta entre os seios. Casadíssima com o Joaquim, homem muito interessante também!
Conheci os dois na piscina da casa de meu amigo M., que na época era casado com uma das afilhadas de Margô. Foram apenas algumas horas, mas as histórias que Margô e Joaquim me contaram sobre como foi dar à luz e criar quarto meninas, uma atrás da outra, numa época em que ele ainda não estava bem de grana, me encantaram.
"Nós morávamos num prédio sem elevador, no quarto andar. Então, cada vez que a gente saía e voltava pra casa, eu tinha que subir, primeiro, com as bolsas, depois com as três meninas pequenas, e por último com a Margô no colo, porque ela estava grávida da quarta e não podia fazer esforço. Mas, naquela época, eu era um atleta!"
Lembro também da Margô me dizendo meio ao pé do ouvido: "Nós começamos a namorar aos 17 anos e, desde o início, foi muito forte! Eu ficava um pouco assustada, porque não conhecia aquela energia..." Ou seja, desde o início, esse casal se amou e se apaixonou e sempre houve muito amor e paixão entre eles. Sempre.
Hoje, na igreja, cada uma das filhas, netos, afilhados, genros (!) e o próprio Joaquim teceram palavras de amor e saudade a sua querida Margô. Papéizinhos amarrotados nas mãos, poesias, canções. O padre, velhinho, saiu detrás do altar e foi olhar as duas fotos que as filhas arrumaram na frente, em duas cadeiras: uma da Margô abraçada ao Joaquim; outra dela jovem, muito jovem. Queria ver o rosto daquela mulher de quem eles tanto falavam, choravam e riam ao mesmo tempo!
A melhor coisa que eu aprendi na pouca convivência que tive com Margô foi o valor de uma família bem construída – construída com Amor. Nunca tive família e sempre admirei as famílias de amigos, das quais fazia parte por breves momentos. Dizem que a família é a fonte de todos os males e que só nos faz ter problemas quando mais velhos. Mas é mentira. Quando há Amor, a família é a melhor invenção dos céus para construir seres humanos saudáveis, justos e felizes.
Mas nada é perfeito. E a Margô se foi. O Amor continua através de seus descendentes, e eu tenho a graça de conviver com alguns deles. Trago esse exemplo para minha vida e procuro construir a minha pequena família – eu e meus dois filhos, principalmente – com todo Amor, todos os dias.
Agradeço à querida Margô por me fazer refletir tão profundamente sobre o Amor e o valor da família. Viva a Margô!
3 comentários:
Valéria, vc sabe que sempre venho aqui, leio e saio quietinha. Hoje terminei a leitura com um nó na garganta e os olhos marejados. Não podia deixar de agradecer. Bem-aventrados os que convivem com a felicidade. Obrigada pela beleza. Beijo, C.
Vavá, vc me contou a história no sábado, e aqui repito: inspiradora a figura que vc retrata. Faz a gente repensar o modo de viver. Assim como você faz com a gente, a cada post que publica aqui. Bjs!!
Lindo texto. Lindo mesmo!
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