Observar a pausa do tempo nos momentos dolorosos da vida é um dos exercícios mais difíceis. Quando estamos sofrendo, queremos que o tempo passe rápido, para que passe rápido o sofrimento também. Então, tratamos de ocupar nosso tempo com todo tipo de paliativos que temos à mão, desde os mais inofensivos – a companhia de amigos, ler (se a dor permitir), assistir a um bom (ou mau) filme no DVD, praticar esportes – até os mais nocivos, como o entorpecimento com drogas diversas. Mas tenho a impressão de que se não nos deixamos submergir no sofrimento e vivenciá-lo, o efeito é contrário: ele se prolonga.
Creio que não há alternativa a não ser viver a dor, alternando com paliativos, mas preservando a consciência de que ela está lá, os motivos que a provocaram precisam se examinados, esclarecidos, arquivados nos anais da nossa existência (a parte proveitosa), assim como o refugo deve ser despachado pra bem longe, deixado pra trás, para seguirmos leves em frente, sabendo novos sofrimentos podem surgir, e com certeza vão surgir, em alguma esquina próxima da vida.
"Viver é muito perigoso", escreveu Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas. Pois é: coragem!
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